sábado, 29 de setembro de 2007

A tropa cá do João 9 - Moçambique 4


De entre os diversos textos já publicados sobre a minha vida militar, tenho seguido uma certa cronologia; mas porque não há factos relevantes todos os dias durante a minha estadia em Moçambique, gostaria hoje de falar sobre um assunto mais geral, mas sobre o qual tenho uma opinião formada, filha da observação, e também de alguma experiência. Refiro-me à homossexualidade nas forças armadas portuguesas, principalmente no teatro da guerra colonial.

Recuando um pouco, e como nota introdutória, devo dizer que, quando iniciei a vida militar, já tinha plena consciência dos meus gostos sexuais, e já tinha tido experiências práticas; no entanto, estava ainda numa fase de não total aceitação intima, desse facto. Durante os tempos de Mafra e até durante os quatro meses de Guiné, não houve qualquer desejo acerca deste assunto, tendo eu passado ao lado.

Já o mesmo não sucedeu em Moçambique, onde permaneci tempo mais que suficiente para que o tema não viesse ao de cima; no entanto, e devido à minha posição de capitão a comandar 200 homens numa zona de guerra, havia um natural medo de me expor, pois achava que deveria ser um imperativo para mim, não permitir que um assunto tão intimo e dificil de compreender, pudesse vir, por qualquer motivo, a interferir, mais tarde e causar situações embaraçosas.

Assim, e hoje acho alguma piada ao caso, nunca tive tantas relações sexuais com o outro sexo, como nesses primeiros tempos, não porque tivesse necessidade de me afirmar como tal, mas normalmente, quando acompanhava alguns companheiros em noites de devaneio, e isso abrandava-me, de certo modo, os ímpetos, sempre presentes do desejo de ter sexo com homens.

Fui observando os homens da minha Companhia, e se por um lado, na sua grande maioria, eram de raça negra, a qual é habitualmente muito púdica, mesmo no simples facto de mostrarem os seus orgãos sexuais, por outro, nos poucos brancos que havia, sempre notei conversas e comportamentos, não óbvios, claro, mas que me deixavam adivinhar certas coisas...Pois, havia um soldado que, esse sim era demasiado óbvio e por tal facto era muito mais útil a servir à mesa na messe de oficiais e sargentos, do que no mato, onde decerto estragaria a pintura das unhas, sempre muito cuidadas no seu verniz pérola; curiosamente não era alvo de comentários de censuras jocosas.

Até que um dia, um furriel que há muito “marcava” surgiu na messe com um livro forrado por papel de embrulho, e que não permitia saber de que obra se tratava; tendo deixado ali o livro, por descuido (?), não resisti e fui ver o título: “As amizades particulares” do Roger Peyrefitte, e curiosamente com as partes mais significativas, sublinhadas...

O rapaz voltou, para buscar o livro e ficou naturalmente embaraçado ao ver-me a folheá-lo; perguntei-lhe se o livro era dele, e ele corando, disse que sim; retorqui-lhe muito calmamente que conhecia bem o livro, tinha gostado de o ler e particularmente das partes que ele sublinhara. Ele não sabia como reagir, estava simultâneamente feliz e assustado, e eu expliquei-lhe que deveria estar à vontade comigo, pois decerto teríamos gostos similares sobre esse tema. Ele mais à vontade, perguntou-me abertamente se eu era homossexual, e obteve como resposta, um convite para passar na minha “cabana”, durante a próxima noite que estivesse de ronda, num dos intervalos das suas visitas às sentinelas.

E assim começou um relacionamento, apenas e só, sexual, que muito me reconfortava; o rapaz, no dia a dia tinha comigo um relacionamento absolutamente normal, mas quando estava comigo, soltava a sua língua, que não era pequena e foi-me contando o que se passava na intimidade entre a quase totalidade daqueles 20/30 homens brancos da Companhia, encontros e relações, sempre no segredo, mas quase todos o faziam, mesmo aqueles com ar de machões e que eram casados e pais de filhos; não só experimentavam, como repetiam, segundo ele dizia...Havia um alferes que também tinha essas experiências, e que curiosamente, tempos mais tarde vim encontrar num seu espaço agradável no Bairro Alto, e com total abertura falámos no assunto e ele tudo confirmou; só desconhecia o meu caso (pelos vistos, o furriel não contou a outros, esta sua aventura).

Nas minhas visitas à Beira ou a Nampula, no aninomato de um traje civil, nunca foi difícil encontrar companheiro sexual, de enter os muitos militares, de várias patentes que circulavam por essas cidades; e curiosamente, eram paraquedistas, fuzileiros ou comandos os que mais abundavam, e eram donos de apetecíveis físicos.

Como conclusão, e sei que não é senão uma teoria minha, penso que uma grande, mas mesmo muito grande maioria do pessoal que esteve na guerra colonial, experimentou a homossexualidade, o que não é necessàriamente a mesma coisa de afirmar, que se tornou homossexual...

Há, no entanto, algo de muito positivo que devo, neste campo, à minha estadia em África; tive tempo mais do que suficiente para pensar nas minhas opções sexuais e decidir finalmente em aceitá-las em pleno.

Quando cheguei, cheguei outro Homem!

32 comentários:

  1. A sexualidade, tal como os afectos, é complexa, e acho que podemos levar a vida inteira a defini-la. Acho que todas as experiências nos constroem e só são negativas quando as negamos. É sinal que não as incorporamos, que não aceitamos as suas consequências. E isso ultrapassa limites e caixas de sexualidade, pode negar-se igualmente uma experiência heterosexual e os seus efeitos na nossa descoberta pessoal. Essa negação vai para além da visão dos outros (que nos pode inibir em aceitar certos comportamentos) começa em nós e nas amarras que colocamos a nós mesmos.
    Acho que devemos encarar tudo como construtivo, como parte de nós. Sem censuras ou rótulos.Se acontece, é porque faz de alguma forma sentido.
    E no teu caso, essa experiência teve a consequência positiva de te fazer estar melhor na tua pele, o que só pode ser bom :)e esse conforto é sem dúvida parte da pessoa aberta e carinhosa que és hoje. Só os inseguros se sentem realizados ao denegrir os outros, a julgar os outros, a sair do seu caminho para o fazer. Quem está bem consigo, segue a sua estrada e olha feliz para quem segue ao lado, mesmo que o percurso seja diferente.

    Beijoquitas

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  2. Querida Cris
    claro que a aprendizagem de nós próprios não é nem nunca será linear, e muito menos nos complexos meandros do sexo; é evidente, que o próprio evoluir do tempo tem contribuído de uma forma positiva, para que tod@s os que se sintam diferentes tenham essa tarefa facilitada.
    No que a mim diz respeito, e de uma maneira global, costumo dizer que os tempos da minha vida militar, que nunca foram assumidos como positivos, muito longe disso, vistos agora à distância, e com a característica especial das funções de comando que exerci, me deu condições, em diversas formas, de encarar a vida de uma maneira mais positiva. Claro que não vim de lá diferente, mas sim mais forte, mais "apetrechado" para o combate que a vida é, a todo o momento; e é óbvio que os aspectos do sexo, não poderiam ter escapado a esse "apetrachamento" e a essa fase final da formação da minha personalidade, que me levou ao Homem que hoje sou.
    Beijoquitas grandes, e ...até amanhã!

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  3. Gostei de ler este teu texto, não me surpreende o que nele contas...
    O ser humano é algo complexo, e a sexualidade faz parte dessa complexidade (digo eu).

    Abraço!

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  4. São teorias baseadas num viver muito intenso, amigo Lampejo.
    O problema é que as pessoas misturam muito os conceitos, e o facto de muita gente ter experimentado a homossexualidade, não implica senão que a bissexualidade está presente, de diversas formas, em todos nós. Eu já experimentei a relação heterosexual, e não fiquei "cliente".
    Abraço.

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  5. meu amigo, experiências de tropa não tive porque não fui á tropa. As melhores que eu tenho são mesmo dos meus tempos de escola.
    Sabia que houvia homossexualidade no exército português durante a guerra colonial não esperava era que fosse tanto.
    Ainda assim é muito natural, eram homens que estavam longe de casa a viver com outros homens num quartel, muitas vezes no meio do mato sem ver mulheres. Nada mais natural que se sucedam várias experiências.
    Um abraço.

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  6. Sim,amigo Paulo, e o mesmo sucede em prisões e noutras situações idênticas; o que me surpreendeu foi a quantidade,apenas.
    Abraço e bom domingo.

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  7. Grande confissão ou regresso ao passado. Também nada do que relatas me espanta, nem a quantidade, em parte por causa da obra de Pitta.
    Não conheço o meio militar, mas as colónias eram dadas a devaneios que a metrópole parece que não permitiu. Seria dos trópicos? Seria por ser uma terra distante?
    De facto, não são algumas experiências que definem uma pessoa, com certeza que a tornam diferente e com mais segurança do que são e querem.
    Alegra-me ver-te com tanta segurança e orgulho no passado que te formou e tornou Homem.

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  8. Tocaste num ponto muito importante, caro Paulo
    é que ao longo de toda a vida fui tendo experiências variadas sobre muitas coisas, entre as quais o sexo, naturalmente, algumas boas, outras menos boas, e apesar de, como bom carneiro, por vezes ser demasiado impetuoso, em detrimento de alguma ponderação, poucas ou nenhumas vezes me arrependi da forma como agi.
    À distância, e tirando algumas pequenas coisas, pouco teria feito de modo diferente, e como prezo muito, sem falsa modéstia a pessoa que sou, acho que devo estar orgulhoso, como dizes, em assumir todo esse passado.
    Um abraço e um bom domingo para ti.

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  9. Este texto fez-me recordar uma conversa no final de um jantar há uns anos atrás.
    De entre os convivas, apenas eu nao tinha "feito" tropa. Dos restantes, que tinham passado pelo ultramar, havia duas opiniões. Uns diziam que sim, que a homossexualidade existia nas "tropas" portuguesas em África, mas dois apontavam isso como um mito, tal como o mito da homossexualidade nas prisões e etc.
    Talvez tivesse sido precipitado... mas a primeira conclusão que tirei daquela conversa foi - hummmmm não sou o único sindicalizado nesta mesa!!!!
    Abraço

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  10. Amigo Tongzhi
    ou pelo menos, tenham "pago quotas" durante uns tempos...
    Abraço.

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  11. Não cumpri serviço militar, por isso é uma realidade que apenas acompanhei à distância. Não fico totalmente surpreendido com o teu relato, mas ainda assim dou comigo a pensar se esses homens não se terão permitido ir mais longe na consumação dos seus desejos pelo facto de estarem longe de casa... Pergunto-me: ter-se-iam permitido tal liberdade se tivessem apenas cumprido o serviço militar em Portugal, sujeitos à proximidade dos seus? Não tenho resposta, mas estou inclinado a achar que não...

    Um óptimo domingo, caro Pinguim, e muito obrigado pelas palavras carinhosas que deixaste no meu blogue.
    Abraço.

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  12. Caro Oz
    claro que sou da mesmìssima opinião que tu; não o teriam feito provàvelmente, noutras condições. O que não invalida que não haja uma pré-disposição para o fazer, mas que na maior parte das vezes, ou por medo ou por falta de oportunidade, não se chega a efectivar. Ali, naquelas condições, o medo "social" e familiar diluía-se um pouco, e aoportunidade era flagrante.
    Quanto ao meu comentário, não me agradeças, pois elas são mais que merecidas; apenas tenho pena de não te transmitir essa minha admiração, num caloroso abraço.
    Embora apenas virtual, ele aqui fica.

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  13. interessante e curioso o relato. Isto só prova que não podemos falar de sexualidade, mas sim de sexualidades, e sobre essa matéria não nos encontramos no âmbito das ciências exactas e se calhar ainda bem.

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  14. "...Vem ver a Lua envergonhada
    Tímida junto das estrelas surgir..."

    Boa semana .

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  15. O velhinho Kinsey e o seu relatório... Afinal de contas, partindo do princípio que as conclusões do relatório são cientificamente fiáveis, mais de 90% da população é bissexual, e o resto é conversa... do Exclusivamente Homossexual ao Exclusivamente Heterossexual, algures, estão as nossas "sexualidades"...

    Quanto ao teu texto, não concordo com a frase "experimentou a homossexualidade, o que não é necessariamente a mesma coisa de afirmar, que se tornou homossexual"... Eu diria antes: "experimentou algo que noutra situação talvez não ousasse experimentar, mas que de qualquer maneira quereria experimentar", e não, não se tornou... Já lá estava, e lá continuou!

    Voltando ao Kinsey, numa época de grande puritanismo nos EUA, a masturbação era um tema tabu, "que ninguém praticava", no entanto, - vou falar de memória, que não me apetece ir a procurar os dados aos meus livros - cerca de 98% da amostra utilizada admitiu que já o fizera, e uma grande maioria admitiu fazê-lo regularmente... Julgo que nos Homens a % era ligeiramente superior à das Mulheres... Bem, para dizer que há uma grande diferença entre aquilo que se faz, e aquilo que se admite fazer... Não é por acaso que senadores, governadores, etc, homofóbicos são afinal homossexuais recalcados e egodistónicos...

    Abraço amigo Pinguim.

    P.S. Ousando causar uma certa polémica, numa coisa concordo com os detratores de leis, chamemo-lhes assim, pró-homossexuais: "qualquer dia são todos bissexuais!" No fundo eles têm razão; mas erram quando dizem que é por ser "moda", a não ser que falem em termos estatísticos..., e aí sim, concordo com eles. A bissexualidade foi, é, e será sempre a "moda"... a moda, a média e a mediana...

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  16. Caríssimo,

    Há muito que não visito os blogs que tanto estimo.
    Hoje aproveitei para passar em quase todos eles, deixando um abraço aos bloguistas que me vão acompanhando, ensinando e partilhando tantas histórias, vivências, marcas e memórias...

    Gostei de ler este teu post e, não querendo repetir-me quando escrevo que admiro essa tua forma de escrever na primeira pessoa o que tantos não ousam pensar, felicito-te por ele.

    Grande abraço, amigo Pinguim

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  17. Amigo Will
    bem...marchar não seria bem o caso, digamos mais que se ficava bastantes vezes "em sentido"...
    Abraço.

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  18. Querida Catwoman
    só agora reparei que te chamei inadvertidamente Cris. Peço desculpa às duas, mas o dono a seu dono.
    Beijoquitas, e adorei o jantar.

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  19. Totalmente de acordo, caro Luís e as fronteiras por vezes são ténues...
    Abraço e boa semana.

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  20. Mais uma vez, obrigado pela tua visita, caro Barão e boa semana também para ti.

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  21. Caro André
    é curioso como acabas por ir de encontro ao que diz o Luís Galego, no que se refere às sexualidades.
    Aceito a correcção que apontas, mas é o que dá, escrever ao correr da pena, pois também concordo que ninguém "se torna" homossexual, sendo este um estado latente em cada um de nós, que alguns deixam vir ao de cima, outros não e outros não sabem definir o que sentem.
    Quanto à bissexualidade, e matemàticamente falando, ela tende para infinito...
    Abraço amigo.

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  22. João, meu bom amigo
    tenho ido ao teu blog várias vezes, na esperança de encontrar algo novo, mas há muito não dizes nada e fazes falta, sabes?
    Um abração e boa semana.

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  23. Querido Pinguim, não há problema. Se é para ser inadvertidamente confundida com alguém, a Cris é uma óptima escolha ;)

    Também adorei o jantar, gostei muito de te conhecer pessoalmente. Esperemos que tenha sido o 1º de muitos :)

    Beijoquitas!

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  24. Pois... em tempos de guerra não se limpam armas LOL

    Aquela do soldado escolhido para trabalhar na messe ainda se mantinha no meu tempo de "guerra" lá pelos Açores...

    Talvez um dia conte a história...

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  25. Gostei muito do teu testemunho. Há muita boa gente que nunca ousaria admitir. E que, na actualidade, encerraram um capítulo que, numa altura da vida os enriqueceu. Porque de enriquecimento se trata, uma vez que são experiências acumuladas de relações inter-pessoais. ;)
    Imaginava que fosse assim, como contas. Aliás, um conhecido meu tinha-me já desvendado histórias de "amour fou" descomplexado em climas bem mais tropicais do que a nossa latitude merdosa.

    Acredito que te tenha feito ver mais longe. Abriu-te horizontes. Que ainda hoje se notam bem no que escreves.

    Apenas não concordo muito com uma coisa. Quando falas em "opção". Será que pudeste optar?! ;)

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  26. Amigo Mrtbear
    apetece-me dizer como a populaça: "conta...conta..."
    Abraço.

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  27. Amigo João Manuel
    tens toda a razão na tua observação, aliás como a teve o André na dele; e a justificação que dou só pode ser a mesma: escrever ao correr da pena, se por um lado faz com que a escrita seja mais genuína e não rebuscada, por outro, faz-nos,por vezes, pôr palavras que são desajustadas e eu reconheço totalmente isso no que referes; nunca foi uma opção, foi sempre ASSIM!
    um abraço.

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  28. João, não me sinto muito à vontade para comentar este tipo de posts, por pura ignorância, mas nada do que diz respeito às pessoas me passa ao lado. E a sexualidade, seja qual for a sua expressão, é um assunto de todos e para todos. Até as escolas, finalmente, perceberam isso. Ou talvez não tanto as escolas mas mais as hierarquias.

    Há algumas considerações que foram surgindo com as quais, pela minha experiência e conhecimento mais alargado, não estou de acordo, mas não posso falar por mais ninguém, apenas por mim. 'Quem está no convento é que sabe o que vai lá dentro', como respondiam os meus pais quando eu ou os meus irmãos comentávamos ingenuamente algum aspecto da vida dos outros.

    De qualquer modo, acho que estás a fazer 'educação sexual' (desculpa a parolice da expressão) quando escreves sobre o teu percurso pessoal. Não tens que o fazer, ninguém tem, mas ainda bem que o exprimes publicamente. Acredita (e nem precisas de acreditar, sabes tão bem como eu), que muita gente ignora tudo o que diz respeito à homossexualide. Preferem ignorar, acham que é um assunto que não lhes diz respeito e seguem. Como se o que diz respeito a um qualquer ser humano não diga respeito a todos.

    bjs

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  29. minha cara amiga
    obrigado pelas tuas palavras, que muito me tocaram. É verdade o que dizes, e se reparares, eu ao expor a minha vida pessoal, faço-o em todos os campos, e porque a sexualidade é parte fundamental da vida do homem, não poderia ficar omissa, naturalmente. E, sendo eu, assumidamente homossexual, mas completamente integrado numa sociedade que pretendo me veja como igual, o que tem acontecido, não posso deixar de focar certos comportamentos que marcaram a minha vida nesse campo, até porque foi numa época em que tudo era mais difícil, e assim, poder dar, quem sabe, alguma ajuda a quem não tenha coragem para o fazer, pois sei o que é a angústia vivida por muita gente nessas condições. Não pretendo "conquistar" ninguém para uma causa, pois aqui não há uma causa, há uma maneira de ser e de estar, apenas pretendo que essa maneira de ser e estar sejam respeitadas, o que infelizmente, aina não é frequente.
    Um beijinho agradecido.

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  30. Tive tempo de ler mais este, pronto! Penso que essa estadia por lá, ajudou a fortalecer a tua sexualidade e a aceitar a orientação sexual, com maior facilidade do que se calhar se tivesses ficado cá (digo eu...). Digo isto, por abertamente dizeres que tinhas dificuldade em te aceitares (apesar de saberes perfeitamente...).E lá, o ambiente talvez tivesse sido menos constrangedor do ponto de vista social. Penso que esses tempos devem ter sido muito importantes na formação do João que és hoje, e não só na aceitação da orientação sexual (até porque escreveste estas "memórias" ... e já vais na segunda reedição :)Muito provavelmente, e compreensivelmente, vieste um outro homem, em mais sentidos! Adoro ler-te assim a contar estas situações que descreves tão bem, sempre de uma forma tão interessante e envolvente, com pitadas de humor aqui e ali, mas com a mesma franqueza e partilha que te caracteriza. :)

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  31. Eva
    foi extremamente positiva, por paradoxal que pareça, este conjunto de vivências; na sexualidade, mas também na forma de relacionamento humano.
    Claro que perdi dois anos de vida e numa idade maravilhosa, ali metido, mas consegui capitalizar esse "investimento"...
    Beijinho.

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Evita ser anónimo, para poderes ser "alguém"!!!