sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Conto - 1

P tinha 27 anos e apenas perdera a sua virgindade aos 23 e com um homem; estava ainda em luta consigo próprio para aceitar a sua condição de homossexual, pelo que não frequentava bares, saunas ou outros locais de fáceis encontros e a internet, com todas as suas possibilidades virtuais, não existia ainda. No entanto, era um rapaz perspicaz e “farejava” os seus iguais muito facilmente, com um simples olhar…e não perdia uma oportunidade, desde que isso lhe parecesse seguro e apetecível.

Claro que fora do seu habitat normal, as coisas fluíam de outra forma e assim quando viajava, surgiam por vezes, situações curiosas.

Certa noite estival, algures numa capital europeia, P dirigia-se calmamente para o seu hotel, em busca de um descanso para as muitas visitas do dia; era cerca da meia-noite e na zona mais próxima do hotel, não havia grande movimento. Não foi difícil, pois, e devido ao tal instinto para “adivinhar” o não óbvio, que ao cruzar-se com G, um jovem bonito, um pouco mais jovem que ele se tivesse dado o tal curto-circuito visual que era infalível. E assim começa o "jogo" do andar e parar, repetidas vezes, e quando tudo indicaria que um contacto oral seria o lógico passo a ser dado, P decidiu continuar o “jogo”, arriscando-se a perdê-lo, mas afinal era um jogo…

Continuou o seu caminho até ao hotel, sempre seguido a pouca distância por G; entrou e dirigiu-se à recepção a pedir a chave do quarto; não precisou de olhar para trás para saber que G esperava no átrio; dirigiu-se ao elevador, agora já com a presença de G a seu lado, mas sem uma troca de palavra, apenas o esboço de um sorriso mútuo. À porta do quarto, um compasso de espera e P quebra o silêncio: “do you want come in?”, a idiota pergunta que só teve como resposta a efectiva entrada de G no quarto.

P inquiriu o que já suspeitava: G não falava inglês e o entendimento oral iria ser nulo.

Pois o que sucedeu depois, não será difícil de ser adivinhado e apenas se poderá dizer que foi bom, muito bom mesmo, para ambos; há coisas que não precisam de palavras, nem para serem descritas nem para explicar o prazer que dão.

Estranhamente, G após p prazer saciado, começou a vestir-se, sem sequer tomar um duche e P, nu, na cama, assistia com alguma estranheza a isso; qual o espanto quando viu G, já completamente vestido dirigir-se à mesa do quarto, já perto da porta, tirar uma nota do bolso e colocá-la na mesa; perante isso, levantou-se repentinamente, mas só teve tempo de reparar que G havia saído a correr da habitação. Não iria correr nu atrás do rapaz…

A nota permaneceu, intocada na mesa e P foi tomar um duche; nem queria acreditar no que se tinha passado; vestiu umas boxers e deitou-se à espera do sono.

Passado cerca de uma hora, P foi despertado por umas leves pancadas na porta; foi abrir e deparou-se com um jovem, belíssimo, de sorriso aberto e com uma nota na mão…Estaria a sonhar? Mas não, pois desta vez ouviu num inglês aceitável: “o meu amigo gostou muito e eu também queria…”

Inacreditável!!!!! Sem perder a compostura que costuma ter nos “grandes momentos”, P disse ao rapaz para entrar, para guardar a sua nota, a do seu amigo G para lhe devolver, e para se despir…

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46 comentários:

  1. Eh, eh , eh! Surpreendente... gostei muito d ler. Nem me atrevo a pensar que haverá um fundo auto-biográfico...LOL. P deve ser um alter ego teu, que tem umas fantasias no mínimo interessantes.
    Adorei o teu conto. Beijinh@s (estou quase a regressar ao "activo")

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  2. Olá S.M.
    porque ficaste surpresa? De um carneiro tudo se pode esperar...se tiver "pachorra", mais haverá (daí o "1" do título.
    Quanto ao resto, a querer tirar nabos da púcara, a menina, hein????
    Beijinhos.

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  3. Gostei muito. O final que poderia ser trágico não deixa de cómico e a personagem mostra que sabe aproveitar o que de melhor a vida nos dá. Uma boa concretização da ideia: "Se a vida nos dá limões...
    Abraço

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  4. Caro X
    no aproveitar é que está o ganho...
    Abraço grande.

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  5. rrrsssss.... deliciosa esta tua história(?)...tal como já me escreveste no meu blog, é sempre bom ler as confidências sem complexos, ou neste caso, pudor... claro que este caso, poderia perfeitamente ter sido num contexto hetero...e dependendo do sexo do ocupante do quarto, o desfecho teria sido semelhante, ou não... :)E mais! Se és carneiro, está tudo explicado!!!!!(I've known some...) LOL, adorei esta partilha, se calhar há mais destas por aí no blog, mas ainda não tinha lido. Um beijinho, Pinguim, e bom fim-de-semana.

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  6. Olá Eva
    Há um outro conto, sim, chamado "A Borboleta" e com o qual participei no livro "Partilha-te", o qual foi escrito para participar num concurso de contos promovido por um amigo bloguer sobre "Blind Dates"...e que voltei a publicar em 6/3/2009.
    Beijinho.

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  7. adorei o conto :O)
    em relação ao teu comentario no meu modesto blog é verdade, faço anos 2f, 24 agosto virgem!
    abraço grandeee e votos de um excelente fim d semana!!

    João

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  8. Olá João
    obrigado pela tua apreciação do conto e vamos ver se não me esqueço de segunda feira; com que então "Virgem"???
    Abração.

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  9. Soubeste dar bem a volta amigo, a parte de o G ter deixado uma nota ao P, foi completamente inesperada! Hehe, gostei, gostei! :)

    beijinhos

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  10. Apreciei bastante este conto, pois a história narrada, além de ser tocante, tem um je ne sais quo de ironia.
    Parabéns! Temos escritor. ;)

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  11. Possa, isso é que estava aí um enfardador, lol! Bom, tirando a parte do dinheiro até que lhe correu bem! lol
    Boa história! ;)
    Abraço

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  12. Sandrinha
    afinal P. até podia "estabelecer-se por conta própria", caso quisesse, eheheh...
    Beijinho.

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  13. Maldonado
    a ironia quando não é demasiada e vem no momento certo, acaba por valorizar os assuntos e as situações.
    Abraço amigo.

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  14. Félix
    o rapaz tinha "estaleca", o que é que queres????
    Abraço grande.

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  15. Tenho a sensação de já conhecer este "conto"!!!
    lolol
    Muito bom, sim senhor!!!

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  16. Eu lembro-me de ter ouvido este conto já há uns tempos... ;)
    Dava uma excelente curta e tem um final surpreendente e divertido... seria um sucesso de certeza!

    Abraços!

    PS: Eu acho que era mesmo boa ideia escreveres a história e registá-la na SPA. E escreveres mais!

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  17. Tong
    sim, uma vez, lembro-me de te ter falado nalguns contos que "giravam" na minha cabeça...
    Só agora decidi "refazê-lo"...
    Abraço grande.

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  18. fico expectante quanto ao conto seguinte...afinal a tua alma de contista está tambem a revelar-se...

    um abraço

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  19. Engine, estás vivo, rapaz!!!!!!!!!!!!!!!!!
    é mesmo bom ter-te por aqui, acredita; e o teu blog? Está em "banho-maria" há demasiado tempo; vamos lá saber dessas aventuras "ginasiais"...
    Pois quanto ao meu conto, também a ti devo ter falado do seu "esboço" e recordo mesmo que me entusiasmaste para publicá-lo...
    Se dava uma curta boa ou não, depende de quem a dirigisse e dos intérpretes (não me estás a ver interpretar nenhum dos papéis, pois não????
    Abraço grande.

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  20. Luís
    são simples impetuosidades de "carneiro", como foi o caso de "A borboleta".
    O próximo? Poderá ser em breve ou demorar muito.
    Contista exemplar, sei eu quem é e estou a escrever este comentário para ele, eheheh.
    Abraço grande.

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  21. Hummm..escreva mais pra gente amigo.
    Adorei o final,rsrsr.

    Ah, quanto aos seus comentarios..nada a declarar..fiquei sem graça,kkkkkkkkkkkkk
    E tá bom ,só vou fazer na horizontal mesmo...acho que minha coluna nem aguenta mais aquelas peripércias..srrs..

    abraços e um ótimo fim de semana.

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  22. Olá Glauko
    ainda bem que gostaste do final; mas como poderia terminar de outra forma, diz-me?
    Abração.

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  23. Gosto de contos porque são simples e dizem mais que excessos de palavras e é caso. Quando as ideias dão formas a contas fico com elas e não as partilho, não é por mal, apenas dizem mais do que eu queria. É a força das palavras. são traiçoeiras quando não esquecemos do verdadeiro significado.

    Abraço,
    Carlos

    (E obrigado)

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  24. Carlos
    Muito curiosa a tua interpretação genérica de um género literário, que pessoalmente também me agrada muito - o conto.
    Não é que não concorde contigo, mas acho que escrever um conto torna fácil, ou pelo menos facilita quem quer exprimir uma ideia e é infinitamente mais cómodo que escrever um romance; claro que as palavras são sempre traiçoeiras, mas isso até numa só frase se pode notar.
    Ninguém escreve por masoquismo, penso eu...
    Abraço muito amigo.

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  25. Estou sem palavras... Inacreditável! Bonito texto.
    Beijinhos

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  26. Martinha
    pode ser que qualquer dia haja mais; quem sabe?
    Beijinhos.

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  27. Quer-me parecer que o problema foi o inglês. Se calhar na lingua do G, “do you want come in?” soou-lhe a tudo menos o que significa. :-)
    P acabara de descobrir uma forma de ultrapassar a crise.:-)
    Aguardam-se as cenas dos próximos capítulos.
    Abraço.

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  28. Miguel
    isto são capítulos isolados, mas subordinados a um mesmo tema...
    Abraço amigo.

    Mas afinal ele "come" das duas formas, eheheheh (atenção mentes perversas, aqui o "come" é uma palavra inglesa; eu sei lá se ele comeu ou foi comido...)

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  29. Confesso que o dinheiro dá sempre jeito,mas neste caso perde todo o valor,gostei muito da história,dá que pensar...
    Abraço amigo

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  30. Olá Carametade
    pois o dinheiro nestas circunstâncias perde todo o seu valor, mas a história também chama a atenção para esse facto: há gente para quem o dinheiro tudo compra...
    Abração.

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  31. Estive a ler o conto anterior, "borboleta", e também gostei bastante. Mas devo dizer que gosto mais deste, pelo humor subtil... you have to remember I'm half brit, and anything humourous is my thing...
    cont de bom fim-de-semana!

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  32. Quase uma curta do canal Arte :-)

    Parabéns
    Lost

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  33. Conto I implica que vêm aí mais... certo?
    Aguardo.
    bjs

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  34. Olá amigo Pinguim!
    Sempre a surpreender...
    Aguardo por novos "episódios"!

    Ainda bem que gostaste do poema. Sim, é da minha autoria. De vez em quando tenho estes devaneios poéticos. Se vires outras entradas do blogue encontras mais alguns...

    Abraço e resto de bom domingo!

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  35. Excelente este conto meu caro João, fizeste muito bem em partilhá-lo. venham mais.
    Um abraço

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  36. Eva
    são duas variações sobre o mesmo tema; aliás, se houver mais, o tema será o mesmo.
    Beijinho.

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  37. Paulo
    mas que exagero, meu bom amigo...
    Abração.

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  38. Violeta
    "on sait jamais"...(para quebrar o português ou inglês).
    Je t'embrasse.

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  39. Olá Eugénio
    Desculpa eu ter duvidado, mas é belíssimo; tenho que ser mais profundo no teu blog.
    Abraço amigo.

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  40. Papagueno
    vamos ver quando virá a inspiração; apenas há esboços...
    Abração.

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  41. Gostei muito do conto. Claro que ficamos sempre a pensar se é real ou não, mas no fundo não interessa, pois mesmo se foi real, acaba por ser sempre melhorado pela memória, e se não o foi, de alguma fonte de inspiração teve de vir.
    Abraço!

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  42. Aro Swear
    tudo na vida tem conexão com a realidade, mesmo a ficção.
    Abraço amigo.

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  43. Gosto da tua escrita. Fluida, perpassada de sentimento, lê-se de um trago. Quanto ao conteúdo só te posso dizer que o amor é a melhor coisa do mundo. Há que fruí-lo.

    Bem-hajas!

    Beijinhos

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  44. Isabel
    todas as formas que o amor representa...
    Beijinho.

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  45. belo conto, Pinguim. gostei imenso. e também acho que dava uma bela curta-metragem.
    abração

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  46. Miguel
    como já és a segunda pessoa a dizer isso, vou entrar num jogo de que muito gosto; quando leio algo que me agrada, livro, obviamente, tento imaginar actores adaptáveis àqueles papéis...
    Abraço grande.

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Evita ser anónimo, para poderes ser "alguém"!!!