Jacques Prévert foi um poeta francês da primeira metade do século XX, que deixou o seu nome ligado ao movimento surrealista. Dento da sua obra, merece destaque o livro "Paroles", de 1946, um dos livros que mais marcou a minha juventude.
Foi também o argumentista de muitos grandes filmes franceses dos anos 30 e 40.
Desse livro "Paroles", retirei este poema, "Cet amour", talvez um dos mais belos que já se escreveram sobre o amor e que aqui deixo na voz inconfundível da fabulosa Jeanne Moreau *
Este amor
Este amor
Tão violento
Frágil
Tão terno
Tão desesperado
Este amor
Tão bonito como o dia
E mau como o tempo
Quando o tempo está ruim
Este amor tão verdadeiro
Este amor tão bonito
Tão feliz
Tão alegre
Tão irônico
Tremendo de medo como uma criança no escuro
Tão confiante
Como um homem tranquilo no meio da noite
Este amor que assusta os outros
Que os faz falar
Que os faz empalidecer
Este amor de espionagem
Porque nós o espiávamos
Perseguidos feridos mortos pisoteados esquecidos negados
Por que temos perseguido ferido matado pisoteado esquecido negado
Este amor um pedaço
No entanto, tão vivo
E tudo ensolarado
E seu
E meu
Ele era o que era
Esta coisa sempre nova
Que nunca mudou
Verdadeiro como uma planta
Esvoaçante como um pássaro
Quente e vivo como o verão
Podemos tanto
Ir e voltar
Esquecermos
E depois dormir de novo
Despertar sofrer envelhecer
Adormecer novamente
Sonhar a morte
Acordar sorrindo e rindo
E rejuvenescer
O nosso amor está lá
Teimoso como um burro
Vivo como o desejo
Cruel como a memória
Seco como o arrependimento
Terno como a memória
Frio como o mármore
Tão bonito como o dia
Frágil como uma criança
que nos olha sorrindo
E nos fala sem dizer nada
E eu tremendo o escuto
E grito
Grito por você
Grito por mim
Eu imploro
Por você, por mim, por todos aqueles que amam
E que são amados
Sim, eu vou gritar
Por você, por mim e por todos os outros
que não conheço
Parado
Onde você está
Onde você esteve em outros momentos
Parado
Não se mova
Não se vá
Nós, que fomos amados
Nós, que fomos esquecidos
Não nos esqueçamos
Não tivemos mais que amor sobre a terra
Não deixemos tornar-nos frios
Embora muito longe ainda
E não importa onde
Dê-me um sinal de vida
Muito mais tarde à margem de uma floresta
Na floresta da memória
Levantemo-nos Agora
Para dar-nos as mãos
E nos salvar. **
É também de Jacques Prévert, outro magnífico poema,"Les Feilles Mortes", que deu origem a variadas versões musicais, de entre as quais gosto particularmente desta de Yves Montand
* Este poema pode ser traduzido em todas as línguas, mas ele é inigualável na sua língua original - o francês!
** I miss you so, so much, Déjan!!!
quinta-feira, 12 de abril de 2012
Cet amour
Publicada por
João Roque
à(s)
08:21
Enviar a mensagem por emailDê a sua opinião!Partilhar no XPartilhar no FacebookPartilhar no Pinterest
Etiquetas:
afectos,
fotos,
literatura,
música,
personalidades,
pessoal,
vídeo
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Amor- que é calma e desespero
ResponderEliminarque são memória e vidas que se concretizam
e na ausência as torna frias e cruéis
E mantém essa chama enquanto esperança de sonhos futuros.
O poema é maravilhoso como o autor e o sentimento que nos alimenta nestes tempos de angústia.
Reforcem-no: assim, em declarações e afirmações, mesmo com todas as dúvidas...
Fora (e uma braço solidário), João
Uma belissima escolha e um poema que toca por dentro de nós.
ResponderEliminarAgradeço por o ter publicado
Viva João.
ResponderEliminarVim visitar o teu espaço.
Tão lindo o poema, tão linda a melodia...
Fico cheio de melancolia... fechei os olhos e ouvi.
Gosto muito da sonoridade desta língua... e lembro-me de alguns cantores, franceses ou não, que a divulgaram tão bem como Jacques Brel ("Ne me quittes pas"), Joe Dassin (Et si tu n' existais pas)... e tantos outros.
Ah, João agora eu sonhei acordado.
Um abraço amigo.
PS: Como te entendo nessa saudade...
fabulosa é a palavra certa.
ResponderEliminaramor tem em si tudo.
bjs.
João
ResponderEliminarainda hoje tenho três ou quatro livros da "Poche" do Jacques Prévert.
É esquisito que foi talvez ele, o primeiro poeta que eu li "a sério" e logo em francês.
Na altura este poema era apenas um dos que gostava, mas não o que gostava mais. Ao reencontrá-lo agora, ao relê-lo pela primeira vez, no papel de amante de outra pessoa, ele ganhou contornos diferentes e acho-o uma obra prima, mas em francês, essa língua que para mim, é fundamental à nossa cultura, pois foi ali que tudo fomos "beber" e não à cultura anglo-saxónica.
Abraço amigo.
Muito bom :)
ResponderEliminarLuís
ResponderEliminaré bom, de vez em quando, falar de nomes menos conhecidos, mas importantes, como Jacques Prévert.
Tenho a certeza que muita gente não conhecia este escritor e esta partilha pode ser importante para alguém.
Abraço amigo.
Pedro
ResponderEliminaradoro música francesa; a juntar a Brel e Dassin há tantos e tantas: Juliette Greco, Barbra, Serge Reggianni, George Brassuns, Aznavour, Dalida, eu sei lá...Piaff, é claro.
Esta melodia, "Les Feilles Mortes", (se fores ao You Tube, verás a quantidade de versões que há), é juntamente com uma outra "La Mer", de Charles Trenet uma das mais belas canções de sempre.
E claro, tudo isto me faz aumentar imenso as saudades que tenho do Déjan...
Abraço amigo.
Margarida
ResponderEliminarcomo posso discordar???
É impossível!
Beijinho.
Frederico
ResponderEliminarsim, é, muito bom, mas não sou eu.
Apenas partilhei, como gosto, coisa que valem bem a pena, como esta.
Abraço amigo.
Excelente. Adoro as tuas partilhas, dão-me o que o tempo me tira. Beijinhos
ResponderEliminarMary
ResponderEliminareste poema é sublime, lido ou escutado em francês.
Sublime é também Ives Montand a interpretar "Les Feilles Mortes", como o é Juliette Grecco, por exemplo.
Fico tão feliz em partilhar coisas belas...
Beijinho.
I just have no words to explain how much I miss you too, chako pako moe...
ResponderEliminarDesperately!!!
My love
ResponderEliminarI hope realy you can come here end of May.
We need it, both of us...
Kisses.
Não paras!... :) Um grande abraço.
ResponderEliminarLuís
ResponderEliminaré impossível; há tanta coisa de que falar...
Tu é que fazes muita falta na blogo, sabias?
Abraço amigo.
Tão bonito! Também gosto em Francês. :)Torcemos todos para que vocês se encontrem em breve! Beijinho
ResponderEliminarCaro João. O poema é belíssimo. A tradução é tua? Se for assim, parabéns.
ResponderEliminarLeo
Como me encantam a boa poesia e música francesas!
ResponderEliminarObrigada por este momento, Pinguim:-))))
Eva
ResponderEliminarem francês tem uma sonoridade única, muito própria da língua francesa que é ir unindo as palavras...
Não imaginas o que não torcemos nós dois; mas se dependesse só da nossa vontade, seria bem mais fácil.
Beijinho.
Leo
ResponderEliminarsim, o poema é maravilhoso.
A tradução encontrei-a na net, pois sei, infelizmente, que a língua francesa nos últimos tempos perdeu muito da sua importância.
Abraço amigo.
Justine
ResponderEliminarse assim é, aqui tens as duas juntas...
Beijinho.
Deixo este link aqui para quem gostar de Fanny Ardant, de Mísia e de poesia:
ResponderEliminarhttp://youtu.be/3vXUUmWWuJA
E aqui a letra original. A canção interpretada por Mísia não a encontrei no Youtube.
ResponderEliminarFogo Preso
(Vasco Graça Moura – Fontes Rocha)
Quando se ateia em nós um fogo preso, / O corpo a corpo em que ele vai girando / Faz o meu corpo arder no teu aceso / E nos calcina e assim nos vai matando / Essa luz repentina / Até perder alento, / E então é quando / A sombra
se ilumina, / E é tudo esquecimento, / Tão violento e brando. / Sacode a luz o nosso ser surpreso / E devastados nós
vamos a seu mando, / Nessa prisão o mundo perde o peso / E em fogo preso à noite as chamas vão pairando / E vão-se
libertando / Fogo e contentamento, / A revoar num bando / De beijos tão sem tento / Que não sabemos quando /
São fogo, ou água, ou vento, / A revoar num bando / De beijos tão sem tento, / Que perdem o comando / Do próprio
esquecimento.
Leo
ResponderEliminarobrigado pela tua partilha.
Gosto muito da Mísia, da Fanny Ardant e gostei muito do poema.
É pena não haver o vídeo da Mísia.
Abraço amigo.
Puxa vida! É que, às vezes, sinto-me uma anormal! Adoro a língua francesa! Abomino a língua inglesa!
ResponderEliminarO poema retrata mesmo como é o Amor: sentimento tão controverso!
Lindo!
O tema musical? O que dizer? Ainda escuto os meus discos de vinil de cantores franceses...
Rosa
ResponderEliminarestou a chegar a uma conclusão muito interessante: há muito mais gente do que eu pensava a gostar da língua, da música e da cultura francesa.
Estamos inundados pela cultura anglo-saxónica, principalmente pela globalização do inglês como língua universal e a música, por arrastamento e tudo o resto - cinema, literatura, eu sei lá...
Mas para mim, que a primeira língua que aprendi foi o francês, tendo lido dezenas e dezenas de livros nesta língua e quase todos autores franceses, também aprendi através da História que toda a cultura do nosso país entronca na cultura francesa, é nela que bebemos, é ali que vamos aprender...
Vou continuar a insistir nestes temas que me são muito caros.
Beijinho.
Agora só me vem à cabeça a canção "Paroles, paroles" - Dalila e Alan Delon, faz favor de ir ao yuotube e escutar ;)
ResponderEliminarA língua francesa tem aquele toque erótico e sensual que não consigo explicar...
O poema e lindo e as coisas belas são para partilhar, simmmmmmmm!!!
Bjnhs ao Déjan :)))
Mz
ResponderEliminarnão preciso de ir ao You Tube ouvir a canção, pois a conheço muito bem.
É uma canção especial, cantada por uma cantora com uma pronúncia francesa muito própria (ela era egípcia de nascimento) e por um cantor que era...actor.
Mas resultou muito bem.
E sim, as coisas belas. é um crime, não serem partilhadas.
Beijinho.
Simplesmente Divinal :)
ResponderEliminarAbraço amigo
Francisco
ResponderEliminaré muito gratificante o teu entusiasmo.
Obrigado.
Abraço amigo.
conheço muito mal a poesia do Prévert (talvez por causa do lugar onde cresci, sou muito mais anglo-saxónico). adorei a canção pelo Montand, mas gostei imenso do poema, e não o consigo dissociar da voz da Moreau e da forma maravilhosa como ela o diz.
ResponderEliminarabraço
Miguel
ResponderEliminarpois seria difícil que assim não fosse.
Moçambique era a mais inglesa de todas as nossas colónias e ainda hoje recordo que no Macuti, a zona de praias da Beira, uma vez pedi um batido de leite com groselha e o rapaz negro que estava a servir disse que não havia; eu apontei-lhe uma mesa onde estava um e ele disse que aquilo era um milk-shake...
Mas a realidade é que Prévert é muito bom, o poema dito pela Moreau com aquela voz cavernosa fica magnífico e "Les Feilles Mortes" é lindíssima, seja cantada por Montand, Grecco, Piaff ou outro qualquer...
Abraço amigo.
Gostei imenso dos poemas, João, sobretudo dos vídeos em que pude escutá-los em francês. Nada como a língua original para ouvir a poesia. As traduções pecam sempre por defeito insuperável: há coisas que não são traduzíveis; as emoções...
ResponderEliminarMark
ResponderEliminarcomo soaria a leitura deste poema em português, independentemente da beleza do mesmo?
Perderia metade do seu encanto.
E a sonoridade da língua francesa sempre me encantou.
Abraço amigo.
Era uma das musica favorita do Jorge. Pequena "anedota", uma das primeiras noites que fui sair com o L., fui ver uma colega minha que canta de vez em quando no hotel bairro alto. Ela dedicou me uma musica... e começou a cantar "Les feuilles mortes" por eu gostar de musica francesa e ser a única musica que ela conhece em frances... e eu desatei a chorar... só ouvia os comentários dos tios e tias que lá estavam... "que bonito, ela deve conhece lo bem para lhe fazer um efeito desses com a musica".... sigh... claro que quando começaram os acordes expliquei logo ao L. o que se estava a passar... até me escorrerem as lagrimas :D
ResponderEliminarTUSB
ResponderEliminaré difícil não gostar desta música, seja qual for o intérprete.
Percebo perfeitamente a tua reacção; há coisas que não se podem esquecer, jamais.
Abraço amigo.
A Jeanne Moreau, pese o tabagismo latente no timbre da voz, tem um poder sedutor que poucas mulheres tinham. Parece que 'amor' dito por ela, tem um significado mais pleno.
ResponderEliminarUm Coelho
ResponderEliminaré uma voz ímpar, aquela rouquidão que lhe vem lá de dentro, mas que a torna incomparável.
E é pausada, lenta, forte e violenta mesmo na ternura das palavras que vai dizendo.
Abraço amigo.
Lindo demais... o Amor transforma tudo sempre!
ResponderEliminarBeijinhos
Pat
ResponderEliminaro Amor é a moda real da vida, é alavanca que nos puxa para cima...
Beijinho.