Depois do sucedido e que teve o seu epílogo em Belgrado, e
em virtude do dinheiro que a embaixada me disponibilizou para chegar a casa ser
muito limitado, era avisado que fizesse o trajecto de volta, o mais directo possível e
também o mais rápido.
Mas, nos meus planos iniciais estavam duas paragens mais
programadas para o regresso: a adiada visita a Marselha e a mais que ansiada
deslocação a Veneza.
Se me foi fácil prescindir de Marselha
até pela fraca
impressão que fiquei durante as poucas horas que ali estive à vinda e que não
passei das cercanias da estação, já a Veneza era difícil resistir
E assim, lá vou eu, confiando que o dinheiro esticaria…
E assim, lá vou eu, confiando que o dinheiro esticaria…
Aluguei
um quarto em Mestre, do outro lado da grande ponte que liga Veneza ao
continente e fui conhecer a cidade; claro que fiquei rendido e com pena de não
poder estar mais que um tempo reduzido.
Calhou que quando estava a gastar umas
moedas numa sandoca e num sumo, num barzito, ouvisse falar português – era uma
família de Coimbra, pai, mãe e dois filhos menores e claro que fui falar com
eles. Conversa aqui, conversa ali, falou-se do sucedido comigo, do roubo, blá
blá blá e quando me despedi deles só sabia que tinha mais uns cobres para as
despesas, e não foi uma ajuda pequenina…
Como sou meio maluco e um Carneiro
retinto, não consigo resistir a certos impulsos e até de gôndola andei!
Enfim, Veneza ficou razoavelmente vista e lá segui destino, sempre viajando de noite.
Enfim, Veneza ficou razoavelmente vista e lá segui destino, sempre viajando de noite.
Desta vez fui mesmo sem mais paragens além das
necessárias para ir apanhando os comboios devidos.
E foi já em Madrid, numa estação ferroviária, que salvo erro
era a do Padre Pio, quando estava numa grande seca (de horas), à espera do
comboio a que o bilhete dava direito, reparei que havia um outro em direcção à
fronteira portuguesa que partiria dali a 40 minutos.
Mas o problema é que era
um comboio que se eu o utilizasse teria de pagar uma taxa suplementar pois era
muito mais rápido (ainda não havia TGV’s, mas já havia comboios com taxas de
velocidade).
Assim, lá vou eu, (que vergonha…) de mão estendida para a fila da bilheteira com aquele velho cliché do “dê-me lá uma ajuda para poder apanhar este comboio…”
Assim, lá vou eu, (que vergonha…) de mão estendida para a fila da bilheteira com aquele velho cliché do “dê-me lá uma ajuda para poder apanhar este comboio…”
Claro que consegui o dinheiro e lá venho eu na direcção de Portugal.
Quis o destino (?) que no meu compartimento viajasse uma senhora um pouco
mais idosa que eu - vá lá, uma “balzaquiana", pronto - e lá desbobinei mais uma
vez a minha “história do desgraçadinho”, e eu a ver que a senhora me comia com
os olhos…
A dita balzaquiana ia para Salamanca e lá arranjou maneira de me
chamar ao corredor e com um sorriso do tamanho da boca da Manuela Moura Guedes,
me passou dissimuladamente para a mão, quinhentas (…) pesetas, dizendo que tinha
de se despedir de mim ali, pois o marido a esperava na estação e dando-me um
cartão de visita com o telefone, para numa eventual próxima visita minha a
Salamanca, cidade onde ia com frequência pois dista apenas 200 quilómetros da
Covilhã, a visitar...
Conclusão cheguei à Guarda onde os meus Pais me esperavam com algum dinheirito, ainda…
Bem, quando lhes contei os episódios desta última parte da viagem, os meus Pais ficaram envergonhados pelas minhas figuras, e com aquelas coisas “não foi esta a educação que te demos", etc. e tal.
Conclusão cheguei à Guarda onde os meus Pais me esperavam com algum dinheirito, ainda…
Bem, quando lhes contei os episódios desta última parte da viagem, os meus Pais ficaram envergonhados pelas minhas figuras, e com aquelas coisas “não foi esta a educação que te demos", etc. e tal.
Mas, ao fim e ao cabo, eu não enganei ninguém, que diabo, só
fiz render o meu peixe.
Vergonha disso?
Muito ligeira e uma enorme satisfação
de concluir que afinal tinha e mantenho uma enorme capacidade de desenrascanço.
Foi realmente uma viagem em que vi muita coisa, conheci
muita gente, me aconteceram coisas bastante “esquisitas”, mas com a qual aprendi
muitíssimo.
Só tu, João... muito divertido este episódio (quase!) final.
ResponderEliminare se é verdade que não há-de ter sido essa a educação que os teus pais te deram, por outro lado ensinaram-te a desenrascares-te, sem perderes a face nem a dignidade (sim, não foste tu que te aproveitaste da balzaquiana, ela é que se aproveitou de ti para dar em cima... mas que o marido não veja!)
um abraço, e venham de lá mais histórias de viagens, que são sempre uma delícia :)
Miguel
Eliminaro que é curioso é que este meu feitio tem uma faceta curiosa e esquisita e que tem a ver com a calma ou com a impetuosidade com que encaro as situações.
As situações mais rotineiras que não implicam grandes decisões,geralmente pôem-me nervoso; já nas grandes questões, onde geralmenta as pessoas vacilam, consigo ser muito racional e mantenho uma calma da qual eu próprio me admiro.
Abraço amigo.
Lugar lindo :)
ResponderEliminarFrederico
ResponderEliminarse te referes a Veneza, podes estar certo que é mesmo.
Salamanca em Espanha também é uma cidade muito interessante e Marselha tenho que lá voltar para ter uma opinião concreta.
Abraço amigo.
Mas que imaginação fabulosa....e arte...
ResponderEliminarParece-me que a causa justificou o fim ... até a ternura dos teus pais foi encantadora.
Grande abraço e que passes bem as festas da Páscoa.
Luís
Eliminarimaginação, não, talvez instinto...
Os meus Pais ficaram deveras chocados, é verdade, mas por outro lado algo descansados sobre o meu futuro, hehehe...
É que, e isso não lhes contei eu, ainda houve o tal episódio do hotel (estou a fazer suspense, eu sei...)
Abraço amigo.
com uma pequena ajuda destes teus amigos de viagem, chegaste a bom porto :) e que viagem fabulosa!
ResponderEliminarhoje em dia, como seria?
bjs.
Margarida
Eliminarachei que esta era a música certa para esta postagem, além de gostar muito dela, pois marca uma época musical para mim (faz-me lembrar Woodstock).
Sim foi uma viagem fabulosae enriquecedora...em todos os aspectos.
Hoje em dia com todos os avanços tecnológicos os assuntos teriam sido mais facilmente resolvidos, decerto, mas perdia-se todo o lado humano desta aventura; é o lado menos positivo deste "admirável mundo novo".
Beijinho.
Deve ter sido uma aventura e tanto!
ResponderEliminarSe foi, Sérgio...Inesquecível!
EliminarAbraço amigo.
Um final memorável com miséria(que é para aprendermos a olhar os "agarrados" que nos pedem uns trocos nas estações de outra forma!)e sedução à mistura - ficamos a aguardar o episódio mais "picante"...!
ResponderEliminar(E porque é que me surge uma entrada no blog intitulada 'Um - 20'? Acho que te vou fazer uma re_homenagem...)
Boas Primaveras, Pinguim! E um grande abraço!
João
ResponderEliminartive problemas com o aparecimento dos meus posts no Google Reader e tive que fazer um teste, até tudo estar bem.
Sim foi um final em beleza, hehehe...
Abraço amigo.
Gostei muito da tua descrição
ResponderEliminarAbraço amigo
Obrigado, Francisco.
EliminarAbraço amigo.
Sim, senhor, muito me contas, João!
ResponderEliminarCom que então: “dê-me lá uma ajuda para poder apanhar este comboio…”
Gostei! Nas horas de aperto, não pode haver esquisitices. eheheh
E lá te desenrascaste e ficaste com memórias inesquecíveis de uma viagem única, para aquele tempo.
O meu Luís, quando andou a viajar no inter rail, encontrou um gtupo de rapazes e raparigas brasileiros, na antiga Jugoslávia e telefonavam para casa de uma cabine -nessa altura os telemóveis eram uma miragem - quando descobriram que as moedas de vinte e cinco tostões, ou seja, dois escudos e cinquenta centavos, tinham o mesmo peso da moeda de lá. Telefonou várias vezes aqui para casa. Mas, ele é que sabe contar isto bem. Enfim, coisas de uma juventude a que eu não tive acesso, com grande pena minha, que lá espírito aventureiro tinha eu. Outros tempos em que o lugar das meninas era em casa a aprenderem a ser "fadas do lar". Não sei para quê!!
Gostei imenso deste teu relato desprendido e solto, contado com um grande sentido de humor. Viajar, conhecer outros países, outras culturas e outros povos, é das coisas que mais enriquecem o ser humano.
Beijinho, João!
Janita
Eliminaré nos relatos pessoais que me sinto à vontade, pois além de ter tudo muito fresco na memória, apesar dos anos, consigo, modéstia à parte fazer "um filme" que leva as pessoas a "verem" bastante bem as cenas.
Já não me peçam para contar histórias ficcionadas, pois não tenho engenho e arte para tal.
Beijinho.
Tão bom recordar, não é? E é nessas situações difíceis que nós nos vamos conhecendo...o que somos e do que somos capazes!
ResponderEliminarUma viagem que nunca esquecerás, tenho a certeza:))))
Jamais, Justine
ResponderEliminaré impossível esquecer estes momentos e tantos outros.
Conforme vamos avançando no tempo, parece que tudo até fica mais nítido.
Beijinho.
Que viagem "rica"!
ResponderEliminarSão situações como essas que nos fazem "crescer" e até conhecer pessoas "especiais".
Valeu!
Olá Rosa
Eliminarsim, sim, riquíssima, principalmente depois dos meus peditórios, hehege...
E quantas a pessoasespeciais foram várias, tens razão.
Beijinho.
Acho que podemos largar-te na Patagónia e ficar descansados com o teu regresso.
ResponderEliminarAlex
ResponderEliminarsendo eu um "pinguim" acho que também me adaptava com alguma facilidade ao meio ambiente, pelo menos das proximidades - Antártida.
Abraço amigo.
Tenho amado estes relatos sobre as viagens... Gosto MUITO da forma como voce coloca suas memórias, experiencias... um tom de "conversa". Ótimo!!!!!
ResponderEliminarQuando está programada uma viagem para Viena????
Olá Ricardo
Eliminarobrigado pelo teu gentil comentário e pelas tuas palavras elogiosas.
Eu viajei muito pela Europa quando era mais novo e tinha possibildades monetárias para isso.
Agora, até porque a minha pensão de reformado é bastante pequena, só dá mesmo para uma viagem por ano a Belgrado e é porque tenho onde ficar - o apartamento do Déjan.
Desde que estou com ele apenas visitámos duas cidades, Londres e Milão, e foi porque tenho lá amigos, em casade quem ficámos, pois não posso pagar hotel para dois em cidades tão caras.
Viena terá que ficar para mais tarde quando o Déjan já ganhar e possa contribuir para a viagem; eu já estive uma vez em Viena, há uns anos numa viagem onde também fui a Praga e Budapeste. Gostei muito, mas não vi tudo o que eu gostava. Talvez um dia...
Abraço amigo.
Fantástico! É preciso ter coragem e espírito de aventura para conseguir terminar a viagem e ainda assim chegar com dinheiro a casa XD
ResponderEliminarAbraço.
Arrakis
Eliminarmuito à portuguesa, diga-se de passagem. A velha questão do desenrascanso explorada com bastante êxito.
Abraço amigo.
Mas que fim tão apoteótico, João! De facto, a tua capacidade de desenrascanço é notável. Eu acho que se fosse comigo, ficava borradinha de medo. Não sei. E talvez não. Eu também tenho "descaramento" que chegue. O pior seria ninguém falar inglês. A comunicação é que seria o busilis da questão. Mas, não estou aqui para falar de mim. Olha, mantenho o que disse há pouco. Isto está muito bom, muito bem ilustrado e é de fazer inveja!
ResponderEliminarIsabel
ResponderEliminartens razão; foi a primeira e única vez que vivi uma situação de falta de comunicação, o que complica muito as coisas. Agora na Sérvia, o inglês é uma língua falada normakmente , mas não naquela altura. Recordo-me de ir a restaurantes e com o menú totalmente incompreensível para mim, apontava o que uma pessoa estava acomer e pedia isso.
De resto, nada há que não tenha resolução e com maior ou menor facilidade as coisas compõem-se.
O que não se pode é entrar em pânico e tem que se ser prático.
Beijinho.
Conseguiste provar que te desenrascas nos momentos difíceis. Era isso que se pretendia. Beijinhos
ResponderEliminarMary
Eliminarcomo um bom português, hehehe....
Beijinho.
Boa noite.
ResponderEliminarAntes de mais parabéns pelo blog. ( um pouco atrasados que o blog ja tem uns anitos de vida)
Uma vida cheia de peripécias, e uma excelente descrição.
Um dia destes ainda publicas um livro e parceria com o Mark. Material de base não falta ;)
Rapaz blogger
ResponderEliminarprimeiro que tudo, obrigado pela tua visita; é sempre bom conhecer um novo blog. Já fui cuscar o teu blog e voltarei...
Obrigado pelas tuas amáveis palavras, mas isso fe um livro e embora a matéroa prima não falte, fica mais para o Mark, que tem realmente o dom da escrita.
Abraço.
Bem, que peripécias! Aliás, uma azáfama curiosíssima: andaste a pedir para conseguires regressar. Adorei o pormenor da senhora "balzaquiana" a fazer-se a ti e depois a deixar os dados porque tinha o marido à espera. LOL Bom demais. :D
ResponderEliminarVeneza deve ser encantadora. :)
abraço.
Mark
ResponderEliminara aprendizagem da vida não cessa nunca e podes crer que uma viagem deste tipo é uma ajuda preciosa para ela.
Abraço amigo.
Uma viagem assim marca, certamente, para toda a vida! ^^
ResponderEliminarAbraço :)
Kuma
Eliminarabsolutamente; e de que forma...
Abraço amigo.