sexta-feira, 28 de junho de 2013

Viagens 10 - Espanha aqui tão perto - (Andaluzia)

Em Outubro de 1976, fui colocado em Serpa, para dar aulas na Escola Preparatória local e aí permaneci até final do primeiro período escolar de 1979/80, até ao Natal de 1979, ou seja cerca de três anos, um pouco mais naquela linda vila (hoje cidade) alentejana.
Foram anos de fácil integração pois aquela gente sabe bem receber e em pouco tempo me familiarizei com a terra e com as gentes. Morava numa zona especialmente adaptada para receber professores, na residência de uma Senhora que dava aulas na mesma escola que eu e que tinha  três quartos duplos, uma casa de banho e uma pequena cozinha onde podíamos cozinhar e comer.
Situava-se no Largo do Corro 
local central, logo ali perto do Hospital, de quem era director um médico de quem me tornei amigo e que possuía a mais bela casa de Serpa.
Era um homem culto, rico e mulherengo, com quem eu geralmente apanhava boleia quase todos os fins de semana, saindo sexta feira ao fim da tarde e regressando cedinho na segunda, para iniciar as aulas semanais.
Serpa está situada na região raiana, distando da fronteira de Ficalho, apenas pouco mais de 20 kms, e daí, por uma estrada manhosa, é certo, era um “saltinho” até Sevilha.
Daí que durante a minha estadia foram várias as idas a esta bela cidade, quase sempre no carro da minha maior amiga, a Manuela, que era um delicioso 2 CV, vermelho, conhecido por “BU” devido às letras da sua matrícula.
Sevilha é uma cidade linda, cheia de coisas para ver, desde monumentos, a casas maravilhosas, com o Guadalquivir a meio, muito calor e uma gente que recebia bem, mas também roubava melhor: não me lembro de encontrar alguém que não fosse roubado em Sevilha.
Uma vez fomos numa excursão, um grupo alargado de professores das duas escolas, até Sevilha, parando nas grutas de Aracena, que mereciam uma visita
e daí ainda seguimos até Algeciras, visitando Gibraltar
e atravessando o estreito demos um salto a Marrocos, para visitar a cidade espanhola de Ceuta.
Claro, que enquanto andávamos a visitar Sevilha, a camioneta estacionada bem perto da polícia, foi assaltada e feita uma “limpeza geral” aos bens que estavam no seu interior.
Em Ceuta andei pela primeira e única vez, de camelo, o que achei curioso e porco ao mesmo tempo, pois saí de lá a cheirar a bedum, que fartava.
Mas foram várias as incursões a Espanha nesse tempo, tendo conhecido Huelva
Cádiz e Jerez de la Frontera e também a Isla Cristina a poucos quilómetros de Vila Real de Santo António, onde passámos um Carnaval deveras divertido.
Tive pena de nunca ter assistido às festas da Virgen del Rossio, perto de Huelva, a maior concentração cigana de toda a Espanha e uma das maiores do mundo, e que curiosamente era simultaneamente uma festa muito gay, com uma grande concentração nessa festa anual, realizada num dos primeiros fins de semana de Pentecostes.
Mas das muitas e variadas viagens feitas à Andaluzia, quando estive em Serpa, recordo duas em especial: a primeira, quando no célebre BU, vínhamos de regresso para a fronteira eu, o Zé (esteve presente neste último jantar de blogs, como meu convidado), a Manuela e a Ana Cristina e porque nos atrasámos demos com a fronteira fechada.
Sim, porque naquela altura a fronteira fechava penso que à meia noite, e assim tivemos que procurar local para dormir em Rosal de la Frontera, uma aldeia fronteiriça que não tem qualquer hotel ou pensão; mas lá arranjámos um quarto com duas camas numa casa qualquer e dormimos eu e o Zé numa cama e elas noutra; não, não aconteceu nada do que pensam pois o Zé sempre foi hétero e embora sabendo de mim, pois compartilhávamos o mesmo quarto na referida casa em Serpa, nunca houve nada entre nós.
Mas naquela noite deu-nos para a barracada e começámos a fazer uma chinfrinada a imitar sons de orgasmos, nós e elas e aquilo deu uma barracada das antigas pois os donos da casa quiseram expulsar-nos, chamando-nos nomes muito feios, como podem imaginar.
 Lá os convencemos que tinha sido um brincadeira e conseguimos descansar umas horas.

A outra viagem foi bem mais especial.
O tal médico meu amigo, convidou-me no final do ano lectivo a ir com ele e com a sua namorada de então, uma moça muito bonita de Lisboa, a passar duas semanas a Torremolinos, perto de Málaga e que era (ainda é) uma estância de férias muito famosa.
Sabendo que eu não tinha dinheiro para umas férias assim, disse-me que eu ficava no mesmo quarto deles, que era uma suite num dos melhores hotéis da cidade, havendo uma privacidade garantida, pois era tão grande a suite que era como que houvesse dois quartos num só.
O hotel, bem central, tinha praia privativa, almoçávamos sempre no hotel, pois era regime de meia pensão e ao jantar quase sempre ia jantar com eles, sem nunca pagar um tostão…
Claro que depois de jantar, eu ia à minha vida e eles iam todas as noites para uma famosa discoteca, que a mim não me dizia rigorosamente nada.
Preferia outro género de discotecas, e muitas havia em Torremolinos, e divertia-me muito e bem, todas as noites, chegando ao hotel às tantas, já eles estavam recolhidos.
Claro que eles não sabiam que eu era gay e assim não lhes dizia por onde andava realmente nem com quem, mas passado pouco tempo conheci um jugoslavo (é minha sina, está visto), o Ivica, lindo de morrer e com quem comecei a encontrar-me todas as noites.
O pior é que não tínhamos sítio para “estar”, pois era impensável levá-lo ao meu hotel e ele estava com a família num outro hotel, também.
Nada que a praia não resolvesse, às tantas da manhã…
Arranjei uma peta para os meus amigos, o médico e a namorada, dizendo que tinha conhecido uma jugoslava, para me esquivar a ir com eles para aquela discoteca onde eles iam todas as noites (penso que se chamava “Rolls Royce”), mas eles diziam para trazer a jugoslava comigo, pois seria divertido estarmos os quatro na discoteca a conversar e dançar.
Havia de ser bonito…
Quando nos viemos embora houve choro na despedida, entre mim e o Ivica, promessas de amor eterno, como em todas as paixonetas de Verão.
Claro que durante uns tempos trocámos postais, que foram escasseando até tudo ficar na poeira do tempo.
O Déjan acha imensa piada a esta história, que se passou quando ele tinha para aí uns 5 anos…
Mais tarde, vim a conhecer muito melhor toda a Costa do Sol andaluza, tendo inclusive passado duas semanas de férias, já com o Duarte, em Marbella
e visitámos nessa altura, de novo Torremolinos mas tinha perdido algum encanto. Foi também nessas férias que visitámos Málaga
Córdova
e Granada, entre outros sítios.
Curiosamente ainda tenho uma foto do hotel onde ficámos em Córdova, que era óptimo e eu era um bocadinho mais novo e mais magro…

terça-feira, 25 de junho de 2013

O livro do Miguel

Não sei exactamente por onde começar…
São cinco e meia da manhã e acabei agora mesmo de fazer algo impensável apenas algumas horas atrás – ler pela primeira vez na vida um e-book!
Tudo aconteceu quando ontem à noite, ao dar uma vista de olhos pelos blogs que sigo, deparei com a postagem acabada de ver no blog da Margarida, e dei comigo a escrever-lhe um comentário lacónico “estou quase tentado a ler um e-book pela primeira vez na vida…”.
Estava a fechar o PC quando reparei que um filme do qual estou a fazer o download no e-Mule estava a receber muito bem e portanto não quis fechar logo o computador; mas porque já tinha fechado tudo da net, excepto o e-Mule, e para preencher o tempo fui à área de trabalho e abri o atalho do Adobe Digital Editions, onde tinha posto durante a tarde o e-book que o João Máximo me tinha enviado (como sempre) do livro do Miguel, ontem mesmo editado, mesmo sabendo ele que eu iria comprar o livro na Bubock para o ler fisicamente, como gosto e sempre faço (até tínhamos falado nisso, ao telefone).
E dei comigo a começar a ler um livro, cujo título é um bocado estranho – “Elvis sobre a baía de Guanabara e outras histórias”, de um autor que eu conheço muito bem, e que faz o favor de ser meu amigo – o Miguel. Li a primeira história – “Furadouro”, e li mais duas, tendo a terceira um título deveras interessante para mim,  “Rua de S.Marçal”, porque foi nessa rua que eu vivi os meus primeiros quatro anos lisboetas.
E quando a terminei, dei por mim a pensar em tudo o que eu vivi nessa rua e adjacentes, e pensei que ainda um dia iria escrever sobre essa rua, também…
Talvez porque esses pensamentos me tivessem ocupado a mente, talvez por ser tarde, verifiquei que as fontes do download, tinham secado, e assim sendo, fechei o computador e fui dormir.
Como é meu hábito, o sono para mim é completamente irregular e assim acordei pelas 4 e 20 da madrugada e de imediato fui abrir o PC, não para ver algo dos blogs, do correio electrónico, ou repor o e-Mule a fazer downloads; fui deliberadamente continuar a leitura do livro do Miguel.
E não consegui parar!!!
Li tudo, tudinho e como Carneiro que sou aqui estou a dizer isto tudo e que se resume em poucas palavras: acabei de ler um dos mais belos livros que já li em toda a minha vida.
 Não, não digo isto porque o Miguel é meu amigo, digo-o convictamente porque o livro é para mim, absolutamente maravilhoso.
Eu não sou um grande crítico literário e até tenho alguma inveja em ler belíssimas criticas na bloga a livros lidos, nomeadamente do Miguel.
Tenho dificuldade em dizer porque gosto ou não gosto, tenho alguma inércia de procurar trechos que evidenciem o valor de um livro, enfim, aprecio muito e fico com uma ideia precisa daquilo que vou lendo, mas sem o expressar, sem desenvolver as ideias com que fiquei.
Neste caso, estes contos são de tal maneira intensos por um lado, e tão maravilhosamente descritivos por outra, que fiquei rendido, total e inequivocamente rendido.
Seria maravilhoso deixar aqui uma impressão de cada um, mas não o farei e a obra vale pelo todo, porque não há contos melhores ou piores, são todos bons e devem ser lidos como um todo, uma laranja sumarenta e doce, com os seus gomos apetecíveis.
No entanto há dois contos que realço, e por razões diversas.
Um é “Chez Toi” por aquilo que ele representa para o Miguel; é um conto muito pessoal, o mais pessoal de todos eles, atrever-me-ia mesmo a dizer.
O outro é o último – “Quatro Canções”, subjectivamente o meu preferido e objectivamente um conto memorável. Além do mais, não no desfecho, mas no seu início, tem muito a ver com vivências minhas… Para finalizar faço um apelo: por favor leiam este livro!
É imprescindível para qualquer pessoa que goste de ler, para quem tiver sensibilidade, para quem goste de sentimentos e de formas diversas de os viver.
E lanço desde já aqui um desafio, ao João e ao Luís, que em boa hora “deram à luz” este livro, para num futuro próximo, numa data a combinar com o Miguel, (e depois de eu e mais algumas pessoas terem adquirido o livro físico), de fazer um jantar de apresentação formal deste livro.
Não será um jantar de blogs, de forma alguma, mas sim um encontro que tem como objectivo único reunir pessoas que tenham lido e gostado deste livro e também , é óbvio daquelas pessoas que estejam interessadas em lê-lo.
Contem comigo, e decerto com a Margarida para pormos esta iniciativa de pé.

sábado, 22 de junho de 2013

"Dead Dreams of Monochrome Men"

Assassinatos homossexuais e necrofilia podem não ser os assuntos mais apropriados para uma coreografia, mas em Dead Dreams of Monochrome Men (1990), a companhia de dança DV8* produziu um trabalho poderoso em que explora estes aterradores aspectos da psique humana.
O ponto de partida é um importante estudo de Brian Master sobre o serial killer Dennis Nilsen “Killing for Company”, embora não seja uma adaptação rígida desse estudo.
Esta peça encontrou uma linguagem de movimentos que explora e expõe uma sequência de estados emocionais…

Como se pode adivinhar é um vídeo forte, carregado de homo-erotismo, mas nunca pornográfico, e que embora longo, não posso deixar de recomendar vivamente a sua visão (a cópia, não sendo actual, não será a ideal, mas a maior parte dos seus vídeos não estão disponíveis).

*Companhia criada em 1985, a DV8 é reconhecida pela sua postura simultaneamente radical e acessível, e questiona a estética e os temas tradicionais da dança, apostando na clareza para transmitir ideias e sentimentos. 
É uma companhia de Teatro Físico, do País de Gales, dirigida por Lloyd Newson, que concebe e desenvolve todos os espectáculos da companhia, e para cada projecto  recruta uma equipa de actores/bailarinos.
O resultado é poesia virtual e auditiva.
Produziu ao longo destes anos, 15 espectáculos que foram aclamados pelo público e têm sido apresentados em vários países, e também  cinco filmes premiados, para televisão, entre os quais este que aqui foi apresentado.

Quem estiver interessado pode consultar o site da companhia DV8 aqui.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

"Os perigos de uma história única"

Já ouviram falar de Chimamanda Amichie? Eu também nunca tinha ouvido falar e desconhecia completamente a existência de uma escritora nigeriana com este nome.
Mas porque a blogo vale a pena, muito mais que todas as redes sociais do mundo, descobri esta brilhante mulher num blog que há muito sigo e que já por várias vezes recomendei aqui no meu blog , as “Tertúlias” do meu bom amigo Ricardo, um brasileiro que habita em Viena há já bastante tempo e que delicia os seus seguidores com as suas incríveis descobertas.
Pois é retirado deste seu blog que aqui tenho o imenso prazer de partilhar este vídeo brilhante com esta fabulosa Senhora, numa dissertação sobre os “perigos de uma história única”.


E, parecendo que nada tem a ver com isto, mas tem tudo a ver com a riqueza desta blogo que não me canso de enaltecer, façam favor de passar pelo blog “Felizes Juntos” e vejam os deliciosos preliminares de mais uma história do “The Book Of Distance”; para já são sete postagens imperdíveis…

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Gatos...

Este é possívelmente o mais extenso post jamais publicado neste post, mas é em termos de texto, perfeitamente minimalista.
Quer gostem ou não de gatos, divirtam-se, e claro que a música ambiente é de um "gato" , o ex Cat Stevens...































































sexta-feira, 14 de junho de 2013

"The Last Fead"

Esta é uma tela de Paula Rego, intitulada "The Last Fead", ou seja, traduzindo à letra "A Última Mamada". Estou à espera da reacção da Presidência da República, com uma eventual abertura de um processo de averiguações ou uma coima de 1300 euros à pintora, por difamação do Chefe de Estado, que não só sugere que o mesmo é um palhaço, mas que até vai mamando aqui e ali (não quero ser má língua, mas esta última mamada terá algo a ver com o BPN?)

terça-feira, 11 de junho de 2013

Cinema e música 6 - "Morte em Veneza"


Se há filmes que marcam pela sua sensibilidade, um deles é sem dúvida a obra prima de Luchino Visconti, “Morte em Veneza” (1971).
Aliás todos os filmes que têm Veneza como cenário são mágicos, como mágica é aquela cidade do Adriático. Acredito que não haja no mundo uma cidade tão “cinematográfica”.
Neste filme cuja época nos reporta ao princípio do século passado, um compositor passa férias no Lido, a praia em frente da cidade, onde procura refúgio para problemas recentes, profissionais e pessoais, e acaba por se deixar seduzir por Tadzio, um jovem com uma beleza andrógina, que ali passa uma temporada com a família.
Entretanto é focada também a epidemia de cólera que assolou aquela cidade na altura e que as autoridades procuram esconder para não comprometer a estação turística.
A cena final, da morte do protagonista, só, na praia, e com Tadzio a brincar por perto, é de uma beleza ao mesmo tempo terrível e tocante, com Dirk Bogarde a ter uma das suas mais brilhantes interpretações.
De realçar a beleza e o porte senhoril de uma grande dama do cinema europeu, Silvana Mangano, que tantas vezes trabalhou com Visconti.
E também a presença do jovem actor sueco Bjorn Andrésen, que protagoniza Tadzio, e que podemos ver aqui  num curioso vídeo, em que Visconti o testa para este papel.
Claro que a base desta postagem é a relação do cinema com a música e aqui não só por ser um compositor o principal protagonista. E há quem diga que foi em Gustav  Mahler que Thomas Mann, o autor da obra aqui adaptada, se inspirou para dar vida ao personagem.
E é precisamente deste compositor o principal tema musical do filme, o célebre Adagietto da sua 5ª.Sinfonia, e que para mim é das mais belas peças musicais de sempre.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

José António Almeida

Não é fácil escrever um texto, nos moldes clássicos, sobre o poeta português José António Almeida.
Após aturada busca, não encontrei na net uma biografia ou mesmo uma bibliografia completa, muito menos uma foto do poeta.
Apenas a indicação que terá nascido há cerca de 50 anos na vila de Cuba , no Alentejo, e que se tornou mais conhecido depois das reflexões em que participou na Capela do Rato, sobre a tripla condição de poeta, homossexual e católico, aliás referida no seu livro “O casamento sempre foi gay e nunca triste”,
já falado neste blog quando inseri um dos seus textos junto com o abominável vídeo da Drª(?) Madalena Fontoura.
Desse post resultaram variados e interessantes comentários dos quais eu próprio, (e parece que não só eu) adoptei uma palavra sugerida pelo Ophiuchus para substituir o catolicismo, e que é a Espiritualidade, ou seja a minha relação com Alguém, difícil de definir, mas que consubstancia muito daquilo que nos faz acreditar num ser superior e nos permite ter fé.
Esse livro é um dos quatro que li recentemente de José António Almeida, e sobre ele aconselho vivamente a ler uma excelente e completa entrevista dada pelo escritor à revista Pública, em 11 de Abril de 2009 e que pode ser lida aqui.
O primeiro livro que li de José António Almeida foi no entanto “Obsessão”,
um curto livro de poemas, publicado como o referido anteriormente pela “&etc”, que me seduziu pois vi nalguns dos seus poemas algo que o aproxima, com o devido respeito e nalguns aspectos a António Botto.
Vejamos o poema primeiro e que dá o nome à obra:

Numa só coisa porfio:
Outra vez ver o teu corpo
Na minha cama despido,

De livro folhas abertas
Com os dois braços cruzados
Atrás do rosto de efebo

- devorando cada letra
Em meu quarto no segredo.
De noite o membro de nácar

Sempre com donaire erguido,
Acróstico no teu peito
Começado sem ter fim.”

Ainda com a mesma chancela (&etc), um outro seu livro, desta vez em prosa, “A vida de Horácio”,
delicioso apontamento sobre uma personagem que vai alternando a sua homossexualidade com o aparecimento na sua vida de duas mulheres que o marcaram fortemente: a frágil e virginal Miss Savonarola, e a impetuosa e imponente Madame Robespierre. Como se adivinha esta pequena história está descrita com um subtil humor e o autor mostra aqui uma veia até então desconhecida.
Finalmente o último livro que li deste autor é de novo em verso e é excelente: “O rei de Sodoma e algumas palavras em sua homenagem” da Colecção Forma, da Editorial Presença.
Alguns poemas são verdadeiramente admiráveis e permito-me aqui transcrever aquele que mais me seduziu:

Cruzou-se de noite entre as sombras do parque
com outro vulto, como dois desconhecidos
deslizando furtivamente um pelo outro.
Mas o cão que acompanhava o vulto estranho
(um podengo velho, sem pelo, quase cego,
Com menos de metade das forças de outrora)
levantou a cabeça e as orelhas, pôs-se
a farejar-lhe as pernas, abanando a cauda
(o estranho continuou, sem olhar para trás).
O animal reconhecera o cheiro dos membros
despidos com que brincara muitas vezes
numa casa em que o dono e aquele corpo
partilharam quatro paredes, há muito tempo.
E o homem, fugindo, enxugou uma lágrima.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Half-Drag

Half-Drag é o nome do projecto do fotógrafo nova-iorquino Leland Bobbé, que retrata os dois lados de drag queens da cidade.

"Através do poder de cabelo e maquilhagem, esses homens são capazes de transformar-se completamente e encontrar o seu lado feminino, enquanto, simultâneamente, mostram o seu lado masculino", disse Bobbé ao Huffington Post.

E atenção, de acordo com o mesmo, não se trata de montagens, pois as imagens foram feitas num único clique.

Estas são algumas das imagens




Todas as imagens podem ser vistas aqui

 Esta postagem foi feita através do blog da revista Qüir.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Viagens 9 - Espanha aqui tão perto (região Centro)

Nesta segunda incursão das minhas viagens a terras espanholas, não longe das fronteiras portuguesas, privilegio os tempos em que vivi na Covilhã e a facilidade com que habitualmente dávamos uma “saltada” a Espanha.
Neste mapa se pode ver quão perto distam da Covilhã, as cidades de Salamanca e de Cáceres. 

 Afinal, Salamanca é uma grande cidade, se a comparamos com a minha cidade e muito mais acessível, pelo menos nesses tempos, do que Lisboa ou o Porto; e sempre era ir a um outro país. Da Covilhã a Salamanca, distam cerca de 200 Kms, de uma boa estrada, então e por isso era frequente, quer familiarmente, quer mais tarde sozinho ou com amigos deslocar-me ali. Salamanca é uma linda cidade, universitária com todo o bulício que isso implica, com uma Catedral imponente que se recorta de qualquer ângulo pelo qual se espreite a cidade. Merece uma demorada visita.
Mas o centro atractivo desta cidade castelhana reside na sua Plaza Mayor, considerada como a mais bela de toda a Espanha, suplantando mesmo a de Madrid; é enorme e com todos os pormenores que necessita para ser considerada como tal: monumentalidade, dezenas de esplanadas ao longo das suas arcadas e espaço, muito espaço.
Uma ida a Salamanca a passar um fim de semana era sinal de um tempo óptimo para comprar algumas coisa, visitar outras e também viver aquelas típicas situações de comer umas tapas antes de um jantar tardio e de muita diversão nocturna, naquelas ruas estreitinhas que partem da Plaza Mayor e estão repletas de bares e “bodegas”.

Mas, e quase a meio caminho entre a Covilhã e Salamanca está uma pequena cidade que merece uma paragem; trata-se de Ciudad Rodrigo
uma cidade murada, pequena mas excepcionalmente atractiva com alguns monumentos que justificam umas horas de visita, nomeadamente todo o centro histórico, com destaque para a Catedral.
Fica apenas a 25 kms da fronteira portuguesa.

Já o terceiro destino, deste roteiro fica mais a Sul, já na Estremadura espanhola: é a cidade de Cáceres, para a qual se pode ir pelo mesmo caminho até Ciudad Rodrigo e aí divergir para Sul, ou então entrando em Espanha pela fonteira perto de Penamacor.
Cáceres é o maior município espanhol em extensão e a sua Ciudad Vieja é Património da Humanidade por ser um dos mais importantes conjuntos urbanos da Idade Média e do Renascimento de todo o mundo.
É uma cidade austera e talvez por isso me impressionou muito ter ali assistido às cerimónias religiosas de uma Sexta Feira Santa que ganharam no meio daquela monumentalidade muito própria, um espirito especial. Curioso que tendo já assistido a festividades semelhantes na Andaluzia (Sevilha e Cáceres), me ficaram mais na memória, estas, de Cáceres.

Não falo nestes relatos, de Badajoz, não só porque já dista um pouco da Covilhã. Mas também por ser tão raiana que é quase meio portuguesa e confesso, não é uma cidade que me entusiasme – prefiro Elvas!