sábado, 26 de março de 2011

Dimitris Yeros


Dimitris Yeros nasceu na Grécia em 1948. Ele foi um dos primeiros artistas a apresentar performances, Body Art, Vídeo Arte e Arte Postal, na Grécia.


Teve 52 exposições individuais na Grécia e no estrangeiro, e também tem participado em inúmeras exposições colectivas internacionais, Bienais e Trienais em muitas partes do mundo.

Colabora com a John Stevenson Gallery, e a Throckmorton Fine Arts em Nova Iorque, Holden Galery Luntz em Palm Beach, Martin Vance Belas Artes de San Francisco e Fine Art Kapopoulos em Atenas.


Numerosas obras de Dimitris Yeros podem ser encontrados em muitas colecções particulares, galerias e museus nacionais em todo o mundo: a Tate Britain, gety-LA, International Center of Photography, Nova Iorque, National Portrait Gallery, Londres, o British Museum, Londres, Museu Bochum- Alemanha, Musée des Beaux-Arts de Monreal-Canadá e em outros lugares.

Além de fotógrafo, é também pintor e autor de vários livros dedicados à fotografia, sendo o mais recente "Shames of Love".

Tem vários temas nas suas obras fotográficas, nos quais se destacam: "Portraits", "Photos On Cavafi", "Theory Of The Nude" e "For A Definition Of The Nude", sendo deste tema as fotos aqui apresentadas.






quarta-feira, 23 de março de 2011

Hoje...


Hoje comemoro mais um aniversário; já são muitos e devo confessar que neste dia, me afloram à memória tantas lembranças de tantos momentos e de tanta gente…
E, não sei porquê, comovo-me, ao olhar para trás e ver, como apesar dos dias maus que todos temos, tenho sido feliz.
Este ano e mais uma vez estou longe de quem amo, embora tenha sido a primeira pessoa a enviar-me um beijo. Quando será que poderemos viver juntos?
Por outro lado, há momentos, nas minhas voltas pela blogo, detive-me num post muito belo de um dos melhores blogs que sigo, o Innersmile - Um voo cego a nada, do meu bom Amigo Miguel.
E comovi-me por uma questão mínima, mas que me tocou muito. A postagem dele é sobre a resposta nos Censos à pergunta sobre religião; ele respondeu que não tem religião, mas que admira a fé de quem a tem, e conta certas coisas lindas sobre esse assunto e com as quais eu concordo quase em absoluto, à excepção fundamental de que me considero religioso e tenho fé. Mas é uma religião muito minha, muito directa com Deus, sem intermediários.
A uma certa altura ele fala num cântico religioso de que se lembra desde criança e de que muito gosta: “Miraculosa Rainha dos Céus”! Também eu ainda sei de cor o refrão e gosto muito desse hino. Não sabia que a Isabel Silvestre tinha gravado na sua maravilhosa voz e fiquei agradavelmente surpreendido ao saber que está no You Tube um vídeo dessa interpretação da IS e que o Miguel lá colocou, tendo juntado no clip, imagens de cerimónias religiosas a que assistiu, na Guatemala.
Pode não ter nada a ver com o meu aniversário, mas acho que esta postagem do Miguel foi uma bela prenda e por isso aqui a deixo
.

segunda-feira, 21 de março de 2011

A explicação do "porquê"

E que tal "perder" 14 minutos do seu tempo e ver este vídeo? Eu sei que quando aparece na blogosfera um vídeo longo, e aparentemente "chato", a tendência é ignorá-lo e passá-lo à frente.
Não importa; se houver meia dúzia de pessoas que o vejam, já fico satisfeito. E mesmo que as não haja, fico bem comigo mesmo em deixar esta mensagem aqui no meu blog.
Este vídeo explica muita coisa e mostra-nos que os problemas que hoje enfrentamos aqui em Portugal têm uma explicação, uma raiz que será muito difícil erradicar.
Entrámos numa espiral diabólica, de que é difícil sair e isto ultrapassa as políticas e os políticos portugueses, que apenas fazem parte de toda a engrenagem.
Peço desculpa, não estou a dizer que Sócrates tem razão; ele é apenas uma peça, como o será amanhã Passos Coelho e que não se resolve com protestos de rua ou com políticas de descontentamento defendendo os trabalhadores. Trabalhadores e reformados, estudantes e desempregados somos todos os que sofremos.
Por culpa de quem?
Talvez o vídeo ajude a explicar...

sábado, 19 de março de 2011

Tan Hong Ming


Lindo!
Para quem tem medo de amar! Para quem pensa que nunca será amado! Para quem não tem vergonha de amar!
Deliciem-se com a pureza deste vídeo e aproveitem o simbolismo e gritem o vosso amor!

(visto aqui)

quinta-feira, 17 de março de 2011

"Shame"



Gosto muito desta música e principalmente gosto muito deste vídeo (tem algo de "Brokeback Mountain").
Como vão longe os tempos dos "Take That"!
É caso para dizer que isto me faz lembrar o vinho do Porto: Robbie Williams e Gary Barlow estão mais velhos e muito mais sedutores.

terça-feira, 15 de março de 2011

Mais uma do Sr. Silva


O sr. Silva continua a ser "brilhante" nos seus discursos recentes.
Hoje, na comemoração dos 50 anos do início da Guerra Colonial:

«Importa que os jovens deste tempo se empenhem em missões e causas essenciais ao futuro do país com a mesma coragem, o mesmo desprendimento e a mesma determinação com que os jovens de há 50 anos assumiram a sua participação na guerra do Ultramar.»

Senti-me, visado, e de uma maneira totalmente contrária; nem coragem, nem desprendimento e muito menos determinação. Era um jovem completamente "à rasca", como agora se diz.

Intersecções

segunda-feira, 14 de março de 2011

Homossexuais no Estado Novo (1)


Acabei há dias de ler um livro muito interessante e que nos mostra como era difícil ser-se homossexual em Portugal nos últimos 100 anos, sendo um bom ponto de partida para a história dos movimentos LGBT no nosso país.
Trata-se de “Homossexuais no Estado Novo”, da autoria de São José Almeida, que cumprimento pelo seu trabalho de pesquisa e divulgação. Neste livro, colaboraram muitas pessoas, indirectamente, através dos seus testemunhos e documentação, entre os quais me permito destacar duas, sempre muito ligadas à história da homossexualidade em Portugal: o jornalista Fernando Dacosta e principalmente o Professor Universitário António Fernando Cascais.
Eu dividiria este livro em duas partes, muito subjectivamente: os anos que medeiam o início do Estado Novo e os meados da década de sessenta, e os posteriores, até ao 25 de Abril (embora no livro haja algumas referências ao imediato pós 25/4).
E isto porque foi nesse meio tempo que eu vim estudar e viver para Lisboa e comecei a viver a minha homossexualidade.
Dos tempos passados, se há figuras bem conhecidas, como António Botto, João Villaret e outros, também há nomes e histórias que eu não conhecia, principalmente no campo lésbico.
E há um muito apurado estudo de todo um processo legislativo da homossexualidade, ainda quando era considerada um crime e depois quando passou a ser considerada uma patologia. A documentação é grande e trabalhosa.
Há a descrição de episódios pessoais, que só por si valeriam a leitura; e há uma conclusão imediata: durante esses tempos a homossexualidade era vista de diferente maneira, conforme ela era passada numa elite burguesa e intocável, ou se era praticada pela sociedade em geral, o povo.
A partir de 1963, comecei a ver e a entender, enfim a “viver” as coisas de uma forma directa e portanto o livro tornou-se quase um álbum de recordações, de pessoas e lugares. Por isso e em próximas postagens irei dedicar alguma prosa a certas pessoas e locais desta Lisboa que eu conheci razoavelmente bem.

sexta-feira, 11 de março de 2011

You are so hot !!! *

* Se tiver algum problema com linguagem algo "quente", é melhor não ver o vídeo ou vê-lo sem som, embora o diálogo seja em inglês.
Trata-se de um jogo entre Dave Franco, irmão de outro Franco famoso, ou seja irmão de James Franco, e também actor, com um outro rapaz, não tão atractivo (mas isso não vem para o caso), em que ambos vão dizendo um ao outro frases de forte intensidade sexual, e tentando não rir.
O que não se sabe (e não se vê - queriam?), é que ambos estão nus da cintura para baixo e o vencedor é...Dave Franco!
(malditas sombras finais)...

quinta-feira, 10 de março de 2011

I miss you

I miss you, so much...
And I miss too Beograd, your town, one of our two towns, my love.

terça-feira, 8 de março de 2011

E viva o megafone

Parece que a moda veio para pegar; agora o que está a dar é o megafone.
Pega-se num megafone e aí vão os deolindos por uma reunião partidária adentro "chamar a atenção" para a "geração à rasca" e ao mesmo tempo promover a célebre manifestação do dia 12. E como, numa qualquer reunião partidária de qualquer partido, foram normalmente expulsos!
Pois que não, foram barbaramente agredidos, até invocaram o Dia da Mulher (ena valentes) e pois então foi uma atitude antidemocrática, porque não puderam ler o seu manifesto.
Não eram jovens carenciados e pouco evidenciavam ser partidários de partidos de esquerda; mais parecem aqueles betinhos que aparecem nos comícios do PSD ou do CDS.
É que esta manifestação dá para todos e dá para tudo...
Mas enfim, deixo aqui um extracto do telejornal da SIC, com declarações do novo ídolo português, Jel, o homem que vai desafiar a chanceler alemã a Dusseldorf, pois então; e também de Miguel Sousa Tavares com uma apreciação à vitória dos "cómicos" no Festival da Canção e o aproveitamento político disso para a manifestação do dia 12.
Numa coisa, pelo menos, estou de acordo com ele: não quero voltar a viver numa ditadura, pois ao contrário da grande maioria dos que estarão na manifestação, já vivi sob uma.


segunda-feira, 7 de março de 2011

O PREC na Eurovisão


Eu estou-me completamente borrifando no Festival da Eurovisão e na canção que ali nos representa.
Já foi tempo em que tanto o Eurofestival, como a escolha da canção representante do nosso país eram espectáculos de grande audiência e de enorme disputa; hoje, interessam a muito pouca gente.
Mas, vai-se repetindo a rotina e lá se escolheu no passado sábado a lusa representação.
Não vi o programa e não tenho qualquer opinião sobre as canções em disputa. Apenas conheço a que ganhou e com espanto vejo que foi escolhida uma canção que se tivéssemos mandado em 1975, durante o governo daquele tipo, o Vasco Gonçalves, teria algum cabimento.
Mas agora, com uma democracia estabelecida, pretender transformar uma canção de um grupo de imbecis numa bandeira do protesto de toda uma geração à rasca, é perfeitamente absurdo.
Esta é a minha opinião; e por concordar em absoluto com a opinião do cronista Ferreira Fernandes, do DN, aqui deixo a transcrição da sua última crónica, e que versa sobre este tema.
"A arma do povo é o televoto. Para o maior dos portugueses, elegeu Salazar; para os maiores do cançonetismo, os Homens da Luta. É um conservador este povo de valor acrescentado: se não são botas são boinas, é para aí que lhes foge o chinelo do voto. Mas foge-lhes só a eles? O povo votante deste Festival da Canção esteve ao nível das escolhas de tantos júris anteriores: o gel do Jel vale o mesmo que gelatinosas canções outrora vencedoras, o espanto fingido na cara pitosga do Falâncio é igual ao fingimento geral de outras divas que "nos" representaram. E, no entanto, este 47.º Festival foi especial. O duo disparatado que o ganhou vai dar o seu próximo recital na manifestação do dia 12 - aquela contra todos os partidos e todos os políticos, mas que já teve apoio expresso de alguns partidos e alguns políticos. Jel e Falâncio vão com aquele enxoval que os cunhou (como a carapinha loura ao Abel Xavier): a boina e as calças à boca de sino, o "pá" e o "camarada", mais a procissão que agora os acompanha, a ceifeira, o operário da Lisnave, o furriel de camuflado... Os saudosos do Verão Quente de 75 deveriam aborrecer-se, porque gozados pelo duo idiota, mas, ao que parece, estão encantados. Estes Homens da Luta são instrumento de uma tenebrosa vontade conspirativa? Antes fosse. Estes Homens da Luta são só a expressão vazia (mas vasta) de quem pensa, mesmo, que isto vai lá de megafone".

sábado, 5 de março de 2011

Uma data...uma frase



Foi nesta data que nos disseste adeus. E embora já tenham passado 22 anos, a saudade permanece inalterada e a tua imagem continua presente.
De ti recebi muito, principalmente valores que não se quantificam, mas que são incalculáveis.
A tua verticalidade era a tua imagem de marca e a Família estava para ti, acima de tudo.
De ti, entre muitas outras coisas recordo uma frase que me disseste, uns três anos antes de partires, num momento particularmente importante da minha vida, quando, olhos nos olhos, te disse que era homossexual; embora sofrendo, eu sei, afirmaste-me: “dá-me um abraço, pois se eu, que sou o teu Pai, o teu maior Amigo, não te compreender, ninguém mais te compreenderá.”
Obrigado pela Vida, e por tudo o que me deste.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Dalida

Dos meus tempos jovens, houve variadíssimos cantores de que fui ídolo.
Dentre eles havia uma senhora que eu sabia de ascendência egípcia, mas que exerceu quase sempre a sua actividade em França. Chamava-se Dalida, e embora não tivesse uma voz "do outro mundo" ouvia-se muito bem, e eu achava-lhe um piadão por causa do seu modo de usar a língua francesa, com um acento muito próprio. Morreu nova, tendo-se suicidado; já o havia tentado anos antes de uma forma dramática, pois ocorreu essa tentativa após ter interpretado no então muito popular Festival de San Remo uma canção com o seu amor, o cantor Luigi Tenco. O júri viria a desclassificá-los e Tenco matou-se como forma de protesto; Dalida tentou o mesmo fim, mas não o conseguiu e após estes acontecimentos a sua vida pessoal nunca mais foi a mesma, com vários romances e acabou por não suportar mais a vida.
Cantou em variados idiomas e aqui deixo dois exemplos: um em castelhano, de um dos seus maiores êxitos "Gigi, l'amoroso" e outro em hebreu, de uma popular canção israelita.
Há muito andava com vontade de prestar uma homenagem a Dalida e o empurrão foi-me dado quando vi o primeiro vídeo aqui.

quarta-feira, 2 de março de 2011

HOMENS


Um pouco de erotismo não fica mal...
E estas fotos são daquelas que eu gosto, não há aqui depilados, gente novinha, mas sim HOMENS!
Não agradam a toda a gente, eu sei, mas agradam-me a mim.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Pormenores dos Óscares

E pronto! Foram distribuídas as estatuetas; algumas previsíveis, principalmente ao nível interpretativo, quer dos papéis principais, a fabulosa Natalie Portman e o maravilhoso Colin Firth (que já o tinha merecido o ano passado e ele homenageou Tom Ford no seu discurso), como os secundários que deram a "The Fighter" as suas estatuetas: Christian Bale e Melissa Leo, que fez o discurso mais "delicioso"

Os critérios para a escolha do melhor realizador e do melhor filme são sempre pouco perceptíveis antes da cerimónia. Muitas vezes um filme cai nas graças da Academia e ganha quase tudo; foi o caso de "The King's Speach", o que pessoalmente não me desagradou, embora julgasse que seria "The Social Network" o escolhido, e afinal apenas ganhou prémios secundários, à excepção do Óscar do argumento adaptado.
Reside na realização a maior surpresa, pois é esse efeito de filme "bem recebido" que fez o Óscar ir para Tom Hooper, um realizador que já nos havia dado um interessante "Maldito United", mas uns pontos a baixo de David Fincher.
De realçar que uma vez mais o filme estrangeiro mais credenciado não ganhou e os prémios técnicos de "Inception" e os decorativos de "Alice no País das Maravilhas".
Gostaria de ter visto o Óscar da melhor canção para "127 Horas" e não para uma canção tão "dejá vu" como a de "Toy Story 3".
Uma chamada de atenção para um dos galardoados com um Óscar honorário: aquele "malvado" e tão bom actor que foi Elli wallach, agora tão velhinho...
E a ausência nos nomeados do último filme de Polanski "The Ghost Writter" (coisas de alguém que é considerado proscrito).
E, tendo já mostrado um dos momentos dos Óscares (o discurso de Melissa e a aparição de um Senhor, que se chama Kirk Douglas), resta-me falar de outros dois.
O primeiro foi a referência no discurso do produtor do melhor filme, Iain Canning ao seu namorado.
Uma palavra final para a apresentação: James Franco e Anne Hathaway deram-nos uma deliciosa apresentação dos filmes nomeados e depois faltou-lhes um pouco de chama; ela melhor que ele, embora eu o prefira a ela (...)
A aparição de Bill Crystal mostrou a diferença...
Neste vídeo está essa maravilhosa apresentação dos filmes e reparem no James Franco, lá por volta do minuto 1,49, hummmmmmmmm!


Até para o ano.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

É esta noite...



E aqui ficam os meus vaticínios (ainda não vi nenhum destes filmes, mas é uma questão de feeling):

Melhor filme - A Rede Social
Melhor realização - 127 horas
Melhor actriz - Natalie Portman
Melhor actor - Colin Firth (este devia receber um duplo, por este ano e pelo ano passado)

E que nos reservará uma apresentação tão jovem e tão "apelativa" - Anne Hathaway e James Franco?

Eu ficarei acordado...

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Política e políticos portugueses


" Foram tomadas medidas draconianas esta semana em Portugal pelo Governo liberal de José Sócrates, um caso de um outro governo de centro-direita pedindo ao povo Português a fazer sacrifícios, um apelo repetido vezes sem fim a esta nação trabalhadora, sofredora, historicamente deslizando cada vez mais no atoleiro da miséria.

E não é por eles serem portugueses.
Vá ao Luxemburgo, que lidera todos os indicadores socioeconómicos, e você vai descobrir que doze por cento da população é portuguesa, o povo que construiu um império que se estendia por quatro continentes e que controlava o litoral desde Ceuta, na costa atlântica, percorrendo a costa africana até ao Cabo da Boa Esperança, a costa oriental da África, no Oceano Índico, o Mar Arábico, o Golfo da Pérsia, a costa ocidental da Índia e Sri Lanka. E foi o primeiro povo europeu a chegar ao Japão....e Austrália.
Esta semana, o Primeiro Ministro José Sócrates lançou uma nova onda dos seus pacotes de austeridade, corte de salários e aumento do IVA, mais medidas cosméticas tomadas num clima de política de laboratório por académicos arrogantes e altivos desprovidos de qualquer contacto com o mundo real, um esteio na classe política elitista portuguesa, no Partido Social Democrata e no Partido Socialista, baloiços de má gestão política que têm assolado o país desde anos 80.
O objectivo? Para reduzir o défice. Por quê?
Porque a União Europeia assim o diz. Mas é só a UE?
Não, não é. O maravilhoso sistema em que a União Europeia se deixou levar é aquele em que as agências de Ratings, Fitch, Moody's e Standard and Poor's, todas elas estabelecidas nos Estados Unidos da América (onde havia de ser?) virtualmente controlam as políticas fiscais, económicas e sociais dos Estados Membros da União Europeia através da atribuição das notações de crédito.
Com amigos como estes organismos, quem precisa de inimigos? Sejamos honestos. A União Europeia é o resultado de um pacto forjado por uma França tremente e com medo, apavorada com a Alemanha depois que as suas tropas invadiram o seu território três vezes em setenta anos, tomando Paris com facilidade, não só uma vez mas duas vezes, e por uma astuta Alemanha ansiosa para se reinventar após os anos de pesadelo de Hitler. França tem a agricultura, a Alemanha ficou com os mercados para sua indústria.
E Portugal? Olhem para as marcas de automóveis novos conduzidos por motoristas particulares para transportar exércitos de "assessores" (estes parecem ser imunes a cortes de gastos) e adivinhem de que país eles vêm? Não, eles não são Peugeot e Citroen ou Renault. Eles são Mercedes e BMWs. Topo-de-gama, é claro.
Os sucessivos governos formados pelos dois principais partidos, PSD (Partido Social Democrata, direita) e PS (Socialista, de centro), têm sistematicamente jogado os interesses de Portugal e dos portugueses pelo esgoto abaixo, destruindo a sua agricultura (agricultores portugueses são pagos para não produzir) e sua indústria (desapareceu) e sua pesca (arrastões espanhóis em águas lusas), a troco de quê?
O que é que as contra-partidas renderam, a não ser a aniquilação total de qualquer possibilidade de criar emprego e riqueza em uma base sustentável?
Aníbal Cavaco Silva, agora Presidente, mas primeiro-ministro durante uma década, entre 1985 e 1995, anos em que estavam despejando biliões através das suas mãos a partir dos fundos estruturais e do desenvolvimento da UE, é um excelente exemplo de um dos melhores políticos de Portugal. Eleito fundamentalmente porque ele é considerado "sério" e "honesto" (em terra de cegos, quem tem olho é rei), como se isso fosse um motivo para eleger um líder (que só em Portugal, é) e como se a maioria dos restantes políticos (PSD/PS) fossem um bando de sanguessugas e parasitas inúteis (que são), ele é o pai do défice público em Portugal e o campeão de gastos públicos.
A sua "política de betão" foi bem concebida, mas como sempre, mal planeada, o resultado de uma inepta, descoordenada e, às vezes inexistente localização no modelo governativo do departamento do Ordenamento do Território, vergado, como habitualmente, a interesses investidos que sugam o país e o seu povo.
Uma grande parte dos fundos da UE foram canalizadas para a construção de pontes e auto-estradas para abrir o país a Lisboa, facilitando o transporte interno e fomentando a construção de parques industriais nas cidades do interior para atrair a grande parte da população que assentava no litoral.
O resultado concreto, foi que as pessoas agora tinham os meios para fugirem do interior e chegar ao litoral ainda mais rápido. Os parques industriais nunca ficaram repletos e as indústrias que foram criadas, em muitos casos já fecharam
Uma grande percentagem do dinheiro dos contribuintes da UE vaporizou-se em empresas e esquemas fantasmas. Foram comprados Ferraris. Foram encomendados Lamborghinis e Maseratis. Foram organizadas caçadas de javali em Espanha. Foram remodeladas casas particulares. O Governo de Aníbal Silva ficou a observar, no seu primeiro mandato, enquanto o dinheiro foi desperdiçado. No seu segundo mandato, Aníbal Silva ficou a observar os membros do seu governo a perderem o controlo e a participarem. Então, ele tentou desesperadamente distanciar-se do seu próprio partido político. E nisso ele é um dos melhores.
Depois de Aníbal Silva veio o bem-intencionado e humanitário, António Guterres (PS), um excelente Alto Comissário para os Refugiados e um candidato perfeito para Secretário-Geral da ONU, mas um buraco negro em termos de (má) gestão financeira. Ele foi seguido pelo diplomata excelente, mas abominável primeiro-ministro José Barroso (PSD) (agora Presidente da Comissão da EU, "Eu vou ser primeiro-ministro, só que não sei quando") que criou mais problemas com o seu discurso do que o resolveu, e passou a batata quente para Pedro Lopes (PSD), que não tinha qualquer hipótese ou capacidade para governar e não viu a armadilha. Resultando em dois mandatos de José Sócrates; um Ministro do Ambiente competente, que até formou um bom governo de maioria e tentou corajosamente corrigir erros anteriores. Mas foi rapidamente asfixiado por interesses instalados.
Agora, as medidas de austeridade apresentadas por este primeiro-ministro, são o resultado da sua própria inépcia para enfrentar esses interesses, no período que antecedeu a última crise mundial do capitalismo (aquela em que os líderes financeiros do mundo foram buscar três triliões de dólares de um dia para o outro para salvar uma mão cheia de banqueiros irresponsáveis, enquanto nada foi produzido para pagar pensões dignas, programas de saúde ou projectos de educação).
E, assim como seus antecessores, José Sócrates, agora com minoria, demonstra falta de inteligência emocional, permitindo que os seus ministros pratiquem e implementem políticas de laboratório, que obviamente serão contra producentes. A Pravda entrevistou 100 funcionários, cujos salários vão ser reduzidos. Aqui estão os resultados:
Eles vão cortar o meu salário em 5%, por isso vou trabalhar menos (94%). Eles vão cortar o meu salário em 5%, por isso vou fazer o meu melhor para me aposentar cedo, mudar de emprego ou abandonar o país (5%). Concordo com o sacrifício (1%) um por cento. Quanto ao aumento dos impostos, a reacção imediata será que a economia encolhe ainda mais enquanto as pessoas começam a fazer reduções simbólicas, que multiplicado pela população de Portugal, 10 milhões, afectará a criação de postos de trabalho, implicando a obrigatoriedade do Estado a intervir e evidentemente enviará a economia para uma segunda (e no caso de Portugal, contínua) recessão. Não é preciso ser cientista de física quântica para perceber isso. O idiota e avançado mental que sonhou com esses esquemas, tem resultados num pedaço de papel, onde eles vão ficar. É verdade, as medidas são um sinal claro para as agências de ratings que o Governo de Portugal está disposto a tomar medidas fortes, mas à custa, como sempre, do povo português. Quanto ao futuro, as pesquisas de opinião providenciam uma previsão de um retorno para o PSD, enquanto os partidos de esquerda (Bloco de Esquerda e Partido Comunista Português) não conseguem convencer o eleitorado com as suas ideias e propostas.
Só em Portugal, a classe elitista dos políticos PSD/PS seria capaz de punir o povo por se atrever a ser independente. Essa classe, enviou os interesses de Portugal no ralo, pediu sacrifícios ao longo de décadas, não produziu nada e continuou a massacrar o povo com mais castigos. Esses traidores estão levando cada vez mais portugueses a questionarem se deveriam ter sido assimilados há séculos, pela Espanha. Que convidativo, o ditado português "Quem não está bem, que se mude". Certo, bem longe de Portugal, como todos os que podem, estão a fazer. Bons estudantes a jorrarem pelas fronteiras fora. Que comentário lamentável para um país maravilhoso, um povo fantástico, e uma classe política abominável.

Timothy Bancroft-Hinchey (director do jornal russo Pravda para a língua inglesa e portuguesa.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O Encontro


O homem está diante do espelho. Acaba de fazer a barba e tomar duche. Com uma mão agarra o pequeno michelin da cintura, olha-o no espelho e faz estalar a língua.

Hesita quanto ao que vestir. Como hesita, pensa que adiantará serviço se vestir a camisola interior e os slips. Procura uns brancos, com riscas azuis. Comprova que
não têm nenhum buraco. Veste-os. Por outro lado, quando tem a camisola interior na mão parece-lhe que talvez seja melhor não a usar, e guarda-a na gaveta. Abre outra porta do armário e contempla as camisas. Há uma branca, italiana, de algodão, que comprou há umas semanas e que lhe agrada especialmente. Pega no cabide pelo gancho e observa a camisa; o tacto agrada-lhe. Mas o branco fá-lo mais gordo. Devolve-a ao seu lugar. Com os dedos, como quem passa as páginas de um livro, acaricia as mangas de todas as camisas. Decididamente, as que lhe assentam melhor são a cinzenta e a preta. Mas ultimamente usou-as tão frequentemente que está farto delas. Se no fim se decidir por uma dessas duas camisas, poderia vestir as calças cinzentas, ou os jeans pretos.

À hesitação já tradicional de não saber como vestir-se para ficar mais favorecido, acresce que não tem a mínima ideia de como irá ela. Virá com um vestido especialmente ostensivo, ou de um modo simples? Se, suponhamos, viesse vestida desportivamente, ele, com os jeans pretos e a camisa cinzenta ou preta, estaria bem. Porque o casaco é outra das dúvidas: usará o blazer cinzento, o mais clássico, ou o de quadradinhos esverdeados? Se escolhesse a camisa preta, o blazer de quadradinhos serviria para quebrar um pouco a seriedade da camisa e das calças, que poderá ser excessiva. Claro que, com uma gravata, também se pode quebrar a austeridade cinzenta e negra da camisa e das calças. Usará gravata ou não? Com a mão aparta as camisas e tira o cabide das gravatas. Qual colocará? Uma lisa, de riscas, aos quadradinhos? Com o blazer de quadrinhos, a gravata de padrão idêntico poderá ficar de mau gosto. Ou, precisamente, pôr quadradinhos sobre quadradinhos resultará num choque interessante, brutal.

Claro que também poderia não usar gravata. Mas se não a põe e ela se apresenta muito bem vestida, não ficará demasiado reles? A mescla de gravata e jeans dar-lhe-á um ar ambíguo, que talvez lhe permita resolver a situação, vá ela como for. O problema é se essa combinação de gravata de quadradinhos, jeans e blazer de quadradinhos não resultará demasiado irónica, dependendo do que ela vestir. E se usar as calças de cheviote? Com as calças de cheviote, a força da camisa escura e a ironia do choque dos quadradinhos da gravata e dos do blazer não arrastaria, além disso, o toque burlesco dos jeans; um toque burlesco que a ele lhe parecia bem, mas que, como já se disse repetidamente, tem medo que choque com a vestimenta dela.

Irá, pois – repete mentalmente, para ver se o conjunto escolhido o satisfaz –, com camisa cinzenta, gravata de quadradinhos acastanhados, blazer de quadradinhos esverdeados e calças de cheviote, também acastanhadas. Talvez o que lhe faça falta, agora, seja passar de teoria à prática. Assim faz: veste a camisa cinzenta, as calças de cheviote, a gravata de quadradinhos acastanhados e o blazer de quadradinhos esverdeados. Olha-se no espelho. Os pés, ainda por calçar, contrastam escandalosamente. Tem que decidir que sapatos calçar, e toma a determinação de escolhê-los rapidamente, não seja que os sapatos gerem uma nova cadeia de dúvidas. Calça os castanhos, de pele, sem pensar no assunto.

Mas, e se ela comparece ao encontro com um vestido de cheviote de uma cor parecida à das suas calças; parecida mas não exactamente igual, que é quando pior jogam estas combinações? Isto para não falar da possibilidade de que se apresente com um vestido aos quadradinhos. Uma coisa é ele brincar, deliberadamente, a fazer chocar dois tipos de quadradinhos diferentes – os esverdeados do blazer e os acastanhados da gravata –, porque considera que este choque pode ser atraente. Mas se ela também for de quadradinhos, tanto choque tornar-se-á ridículo. Como saber de que modo se vestirá ela? Não lhe disse a que tipo de festa iam. Agora que pensa nisso, ao telefone pareceu-lhe com pouca vontade de atenções. Quando lhe ouviu a voz, opaca e requebrada, e lhe perguntou se estava constipada, ela respondeu com uma evasiva e desligou à pressa. Assim, perante a evidência de que não há forma humana de saber como ela irá, talvez o que tenha que fazer seja jogar com os quadradinhos. Assim, pelo menos, não se aventurará ao perigo de que, se ela se apresentar com alguma peça de quadradinhos – se viesse com um blazer de quadradinhos seria caso para suicidar-se –, se exponham ambos ao ridículo. Mas deixará o blazer ou a gravata? Enquanto pensa no assunto, prepara um café. Serve-o num copinho de vidro e toma-o sem açúcar. Finalmente decide-se: deixará o blazer, já que não só é muito mais provável que ela se apresente com blazer de quadradinhos que com gravata de quadradinhos, como, caso coincidam neste ornamento, uma gravata sempre é muito mais pequena – e muito mais discreta, portanto – que um blazer. Que blazer usará, então? O preto, enrugado? O cinzento, mais clássico? Prova o cinzento e torna-se-lhe evidente que não é o que lhe assenta bem. Tira-o e veste o preto. Mas, apesar de enrugado, parece-lhe que fica demasiado clássico, já não apenas se ela se apresentar vestida de maneira mais simples, mas inclusive por si só, abstracção feita de como possa ela vir. Se se veste com blazer preto, camisa cinzenta, gravata de quadradinhos, calças de cheviote e sapatos de pele, não ficará estranhamente clássico ao lado dela, se ela aparecer vestida, suponhamos, com jeans, um jersey e uma gabardina? Claro que podia usar um ardil: espreitar pelo buraco da porta e, segundo ela se vestisse, decidir no último instante se deixar a gravata posta ou, num segundo, tirá-la para ficar vestido tão informalmente quanto ela.

É todavia tão importante que as vestimentas de ambos, digamos, estejam conjugadas? Não é uma vontade de perfeição desmesurada? Que problema há se ela for de um modo e ele de outro bem diferente? Inclusive pode ter certa graça que um vista de uma maneira e outro de outra. Ou pensa que o facto das indumentárias de um e do outro se sintonizarem é um bom augúrio para a relação? Em vez de queimar os fusíveis meditando como tem que arranjar-se para que o vestido dela não choque com o seu, o que tem que fazer é vestir-se como achar que ficará melhor. Mas, como havia decidido que ficaria melhor?

Recupera a ideia dos jeans e do blazer de quadradinhos. Tira os sapatos, as calças de cheviote e veste os jeans pretos e, outra vez, os sapatos. E troca de blazer. Vê-se ao espelho: agora que repara bem, parece-lhe que ficará melhor de blazer preto. Tira o de quadradinhos e volta a pôr o preto. Mas, os sapatos castanhos, de pele, com os jeans pretos? Fatal. Procura os sapatos pretos com atacadores, mas estão sujos. Os mocassins pretos, por outro lado, estão limpos. Mas desde há dois anos que os acha tão foleiros que nem os toma em consideração. Apressa-se a sentar-se, arregaça a camisa e engraxa os sapatos pretos.

Troca de sapatos e olha-se ao espelho. Está bem, mas há qualquer coisa que não encaixa. E se repudiasse a teoria das camisas escuras e procurasse, por exemplo, a camisa vermelha, que sempre favoreceu a cor da sua cara? Tira o blazer preto e a camisa cinzenta e veste a camisa vermelha e, outra vez, o blazer preto por cima. Contempla-se no espelho. Não. Volta a tirar o blazer e a camisa. Sem tempo para teorizar, experimenta todas as variantes possíveis: a camisa bege com o blazer preto; a camisa verde com o blazer de quadradinhos; a camisa amarela com o blazer preto; a camisa verde com o blazer cinzento; a camisa cinzenta com o blazer cinzento; a camisa branca com o blazer de quadradinhos; a camisa amarela com a gravata verde e o blazer preto; a camisa fúchsia com a gravata de riscas azuis e amarelas e o blazer de quadradinhos; a camisa castanha com o blazer bege – que não tinha considerado antes –; a camisa branca com o blazer cinzento…

Quando soa a campainha está vestido com um anoraque azul, uma camisa branca, um lacinho abominável, umas calças de lã salpicadas de castanho, bege e verde, e meias pretas. Ainda não escolheu os sapatos. Para não se ver afogado num novo mar de dúvidas, no último instante decide abrir a porta sem antes ter olhado pelo ralo. Encontra-a diante dele, vestida com uma simples túnica negra e uma gadanha na mão. O homem olha-a, entre decepcionado e surpreendido.
– Não me digas que é um baile de máscaras – diz.
– Não.

Visto aqui.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Human Planet

Com a chancela de qualidade da BBC eis um vídeo imperdível, magnífico.
Aconselho a que o vejam, se possível, em ecrã largo, usando o link que deixo ao fundo.


terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A "nova" Covilhã

A minha cidade mudou muito nos últimos anos. Da velha cidade dos lanifícios, outrora a "Manchester portuguesa", restam alguns edifícios fabris transformados em pólos universitários ou seus apoios (à excepção de uma só grande empresa). A cidade é agora uma das mais conhecidas cidades universitárias, com a UBI (Universidade da Beira Interior), que tem uma nova Faculdade de Medicina e que dá vida à urbe.
As indústrias diversificaram-se e quer no Parque Industrial, quer no Parque Urbis há grande desenvolvimento industrial.
E agora com o recente acordo com a PT, para a instalação na cidade do mais importante Data Center da Península, a cidade vai ainda progredir mais.
E a sua topografia mudou também radicalmente: antes eram as ruas e ruelas distribuídas em anfiteatro, desde o vale até ao início da serra; agora é o vale plano, que, como um milagre, nos últimos 20 anos cresceu exponencialmente.
O velho Pelourinho continua a ser o centro da cidade e a sua sala de visitas; mas a população escasseia mais, como nos grandes centros e pela noite há uma certa nostalgia do passado.
A Covilhã recuperou dois locais importantes, transformou-os e alindou-os: as ribeiras da Carpinteira e da Goldra.
Criou um belíssimo espaço verde, o Jardim do Lago. Construiu uma ponte pietonal unindo a zona do Jardim com o Bairro dos Penedos Altos, que é considerada uma das mais inovadoras arquitecturas na Europa e projecta um teleférico.
A cidade estende-se tanto pelo vale que não admira que daqui a uns curtos anos, constitua com o Tortozendo, já agregado e o Fundão, cada vez mais perto, uma grande urbe do interior do país.
Como filho da terra, é com orgulho que aqui deixo um vídeo da "nova" Covilhã.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

As Gerações


"Quando o FMI chegou pela segunda vez a Portugal, em 1983, eu tinha 26 anos. Num daqueles dias de ambiente pesado, quando havia bandeiras pretas hasteadas nos portões das fábricas da periferia de Lisboa, quando nos admirávamos com ser possível continuar a viver e a trabalhar com meses e meses de salários em atraso, almocei com um incorrigível optimista no Martinho da Arcada. Nunca mais me esqueci de uma sua observação singela: “Já reparaste como, apesar de todos os actuais problemas, a nossa geração vive melhor do que as dos nossos pais? Tenta lembrar-te de como era quando eras miúdo…”
Era verdade: a minha geração viveu e vive muito melhor do que a dos seus pais. E eles já viveram melhor do que os pais deles. Mas quando olho para a geração dos meus filhos, e dos que são mais novos do que eles, sinto, sei, que já não vai ser assim. E não vai ser assim porque nós estragámos tudo – ou ajudámos a estragar tudo. Talvez aqueles que são um bocadinho mais velhos do que eu, os verdadeiros herdeiros da “geração de 60”, os que ocuparam o grosso dos lugares do poder nas últimas três décadas, tenham um bocado mais de responsabilidade. Mas ninguém duvide que o futuro que estamos a deixar aos mais novos é muito pouco apetecível. E que o seu presente já é, em muitos aspectos, insuportável.
Começámos por lhes chamar a “geração 500 euros”, pois eram licenciados e muitos não conseguiam empregos senão no limiar do salário mínimo. Agora é ainda pior. Quase um em cada quatro pura e simplesmente não encontram emprego (mais de 30 por cento se tiverem um curso superior). Dos que encontram, muitos estão em “call centers”, em caixas de supermercados, ao volante de táxis, até com uma esfregona e um balde nas mãos apesar de terem andado pela Universidade e terem um “canudo”. Pagam-lhes contra recibos verdes e, agora, o Estado ainda lhes vai aplicar uma taxa maior sobre esse muito pouco que recebem. Vão ficando por casa dos pais, adiando vidas, saltitando por aqui e por ali com medo de compromissos.
Há 30 anos, quando Rui Veloso fixou um estereótipo da minha geração em “A rapariguinha do Shopping”, a letra do Carlos Tê glosava a vaidade de gente humilde em ascensão social, fosse lá isso o que fosse: “Bem vestida e petulante/Desce pela escada rolante/Com uma revista de bordados/Com um olhar rutilante/E os sovacos perfumados/…/Nos lábios um bom batom/Sempre muito bem penteada/Cheia de rimel e crayon…”
Hoje, quando os Deolinda entusiasmam os Coliseus de Lisboa e do Porto, o registo não podia ser mais diferente: “Sou da geração sem remuneração/E não me incomoda esta condição/Que parva que eu sou/Porque isto está mal e vai continuar/Já é uma sorte eu poder estagiar…” Exacto: “Já é uma sorte eu poder estagiar”, ou mesmo trabalhar só pelo subsídio de refeição, ou tentar a bolsa para o pós-doc depois de ter tido bolsa para o doutoramento e para o mestrado e nenhuma hipótese de emprego. Sim, “Que mundo tão parvo/Onde para ser escravo é preciso estudar…”
É a geração espoliada. A geração que espoliámos.
Sem pieguices, sejamos honestos: na loucura revolucionária do pós-25 de Abril, primeiro, depois na euforia da adesão à CEE, por fim na corrida suicida ao consumo desencadeada pela adesão à moeda única e pelos juros baixos, desbaratámos numa geração o rendimento de duas gerações. Talvez mais. As nossas dívidas, a pública e a privada, já correspondem a três vezes o produto nacional – e não vamos ser nós a pagá-las, vamos deixá-las de herança.
Quisemos tudo: bons salários, sempre a subir, e segurança no emprego; casa própria e casa de férias; um automóvel para todos os membros da família; o telemóvel e o plasma; menos horas de trabalho e a reforma o mais cedo possível. Pensámos que tudo isso era possível e, quando nos avisaram que não era, fizemos como as lapas numa rocha batida pelas ondas: enquistámos nas posições que tínhamos alcançado. Começámos a falar de “direitos adquiridos”. Exigimos cada vez mais o impossível sem muita disposição para darmos qualquer contrapartida. Eram as “conquistas de Abril”.
Veja-se agora o país que deixamos aos mais novos. Se quiserem casa, têm de comprá-la, pois passaram-se décadas sem sermos capazes de ter uma lei das rendas decente: continuamos com os centros das cidades cheios de velhos e atiramos os mais novos para as periferias. Se quiserem emprego, mesmo quando são mais capazes, mesmo quando têm muito mais formação, ficam à porta porque há demasiada gente instalada em empregos que tomaram para a vida. Andaram pelas Universidades mas sabem que, nelas, os quadros estão praticamente fechados. Quando têm oportunidade num instituto de investigação, dão logo nas vistas, mas são poucas as oportunidades para tanta procura. Pensaram ser professores mas foram traídos pela dinâmica demográfica e pela diminuição do número de alunos. Sonharam com um carreira na advocacia, mas agora até a sua Ordem se lhes fecha. Que lhes sobra? As noites de sexta-feira e pensarem que amanhã é outro dia…
E observe-se como lhes roubámos as pensões a que, teoricamente, um dia teriam direito: a reforma Vieira da Silva manteve com poucas alterações o valor das reformas para os que estão quase a reformar-se ao mesmo tempo que estabelecia fórmulas de cálculo que darão aos jovens de hoje reformas que corresponderão, na melhor das hipóteses, a metade daquelas a que a geração mais velha ainda tem direito. Eles nem deram por isso. Afinal como poderia a “geração ‘casinha dos pais’” pensar hoje no que lhe acontecerá daqui a 30 ou 40 anos?
Esta geração nunca se revoltará, como a geração de 60, por estar “aborrecida”, ou “entediada”, com o progresso “burguês”. Esta geração também não se mobilizará porque… “talvez foder”. Mas esta geração, que foi perdendo as ilusões no Estado protector – ela sabe muito bem como está desprotegida no desemprego, por exemplo… –, habituou-se também a mudar, a testar, a arriscar e, sobretudo, a desconfiar dos “instalados”.
Esta geração talvez já tenha percebido que não terá uma vida melhor do que a dos seus pais, pelo menos na escala que eles tiveram relativamente aos seus avós. Por isso esta geração não segue discursos políticos gastos, nem se deixa encantar com retóricas repetitivas, nem acredita nos que há muito prometem o paraíso.
Por isso esta geração pode ser mobilizada para o gigantesco processo de mudança por que Portugal tem de passar – mais do que um processo de mudança, um processo de reinvenção. Portugal tem de deixar de ser uma sociedade fechada e espartilhada por interesses e capelinhas, tem de se abrir aos seus e, entre estes, aos que têm mais ambição, mais imaginação e mais vontade. E esses são os da geração “qualquer coisa” que só quer ser “alguma coisa”. Até porque parvoíce verdadeira é não mudar, e isso eles também já perceberam…"
*Público, 4 Fevereiro 2011


Este artigo é da autoria de um jornalista de quem, com toda a sinceridade devo afirmar, não gosto mesmo nada. Chama-se José Manuel Fernandes e foi director do jornal onde agora publica crónicas. Pode dizer-se que nalguns pontos tem razão, mas deve ir-se um pouco além de uma leitura simplista.
Se vamos analisar as “heranças geracionais” do passado, não podemos deixar de prestar muita atenção a este texto escrito por João Pinto e Castro no blog “Jugular
“Quando nasci, a travessia do Tejo mais próxima de Lisboa era em Santarém. Pouco tempo depois, foi inaugurada a de Vila Franca.
A única auto-estrada do país ligava Lisboa ao estádio do Jamor. Em 1962, construíu-se a muito custo um troço de Lisboa a Vila Franca. Da primeira vez que fui de carro a Paris, a primeira auto-estrada que encontrei foi em Bordéus.
O aeroporto do Funchal só foi inaugurado em 1964, o de Faro em 1965, o de Ponta Delgada em 1969.
Um em cada dois portugueses era analfabeto. Havia menos alunos universitários do que hoje há professores.
A taxa de mortalidade infantil era umas 30 vezes superior à de hoje.
Ouve-se hoje muitas queixas sobre a herança que vamos deixar às novas gerações. Porém, mesmo sem falar do progresso dos costumes e das liberdades individuais e colectivas, parece seguro que ela é bem mais invejável que aquela que a minha recebeu."



Ultimamente vi noutros blogs que frequento habitualmente, aqui na blogosfera, debater-se este assunto, que é, concordo, tão aliciante, como complicado.
Sempre houve choques de gerações, mas nunca como agora, em que estamos a viver uma crise aguda e para a qual não se antevêem  soluções a curto prazo, esta discussão se tornou tão fulcral. E será caso para questionar já num plano muito mais restrito, mas também muito mais importante, a questão geracional dos políticos no activo; que me lembre nunca houve no mundo uma tão grande carência de políticos com P grande. Maus ou bons, uns por terem feito grandes obras e serem grandes estrategas económicos ou sociais, outros por manifestas actividades que o Mundo condenou, não deixaram de ser grandes políticos. Hoje, pelo contrário, encontramos pessoas que só estão na política por ambição e por interesse, aprendizes de uma arte que não se estuda, mas que se pratica.
Basta ver em Portugal, e só para referir ao período pós 25 de Abril, onde estão políticos como Mário Soares, Álvaro Cunhal ou Sá Carneiro? Goste-se ou não, eram verdadeiramente políticos.
E o pior, é que não vislumbro, a curto prazo nenhum Messias que venha alterar esta situação.