segunda-feira, 15 de setembro de 2008

A Torre de La Défense


Há muito que aprecio o percurso de Luís Castro no panorama teatral português e embora com pouca assiduidade aos seus espectáculos, tenho acompanhado a sua luta em prol de um teatro diferente em Portugal., mormente através da “sua” Companhia KARNAT, fundada em 2001, em associação com outros nomes, que ultrapassam o universo estritamente teatral, pois englobam também fotógrafos, artistas plásticos, designers de moda, produtores e realizadores; recordo um espectáculo que me marcou muito, pois foi uma abordagem muito diferente da habitual versão da conhecida peça de Bernardo Santareno “António Marinheiro”. Ainda sobre esta Companhia, uma palavra para o magnífico espaço que a Karnat tem vindo a melhorar, do edifício da secção de Anatomia da antiga Escola de Medicina Veterinária, junto ao Liceu Camões, e que terá que ser abandonado até ao final do corrente ano, pois ali serão instalados serviços de apoio da Polícia Judiciária.
Ainda antes de abordar a peça, uma palavra para o conceito de perfinst, um neologismo resultante da união das palavras perfomance e instalação, e à qual Luís Castro tem dedicado muito da sua obra, em que o encenador flui entre as artes do palco e as artes visuais, recorrendo ou não a texto.
É aliás um exemplo perfeito de perfinst, esta encenação do texto do dramaturgo argentino Copi (1939-1987), do qual a Karnat já havia apresentado uma dupla abordagem de “L’homosexuel ou la difficulté de s’exprimer”, com 3 actizes, primeiro e depois com 3 actores; uma referência apenas à variada obra deste autor já apresentada em Portugal, com destaque para a peça “Eva Péron”, encenada soberbamente pelo “saudoso” Filipe La Féria da Casa da Comédia, numa interpretação inesquecível de Teresa Roby (considero pessoalmente a trilogia encenada por La Féria na Casa da Comédia, e constituída por esta peça, pelo “Evangelho segundo Pasolini” e pela peça de teatro no estilo japonês Kabuki, como das coisas mais “loucamente conseguidas” do teatro já feito em Portugal).
Mas, falemos da peça “A Torre de la Défense”, com um texto desconcertante à volta das personagens de um casal gay, de uma burguesa em ácido e sua filha, de um travesti, de um árabe e de um americano, numa noite de passagem de ano , num apartamento do bairro parisiense de La Defense; aliás as personagens da filha da burguesa e do americano, nunca chegam a estar presentes. Durante a primeira parte do espectáculo, as personagens vão evoluindo, e vão-se definindo através de diálogos sem concessões de palavras, numa representação quase estática e essencialmente gestual. Após o intervalo, os espectadores seguem para os bastidores, onde lhes são apresentados variados aspectos que documentam alguns aspectos marcantes do texto, bem como da preparação cénica, com referência a adereços e outras coisas; no centro do “palco” numa espécie de caixões repousam os corpos dos intérpretes, expostos na sua total nudez; segue-se depois a audição e não visualização da segunda parte do texto, em que as “falas” são acompanhadas de sonorização adequada.
No cômputo geral, o que mais me agradou foi a abordagem da peça, no tal conceito supracitado de perfinst, pois o texto, embora muito interessante, não tivesse tido uma defesa muito conseguida dos intérpretes, melhor os femininos que os masculinos, nomeadamente Margarida Cardeal, muito bem na burguesa ácida.
Enfim, uma maneira diferente de passar um serão de domingo, dominado nesta Lisboa de ontem quase totalmente, pelo concerto de Madonna; mas desse concerto muita gente amiga irá contar tudo…

22 comentários:

  1. mais de que coisas que vou sentir a falta, ao partir para longe... quando vier em visita irei parecer um buldozzer cultural...



    abração

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  2. adorei passear por este espectáculo que tão bem descreves
    boa semana
    beijos

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  3. Grande post! Adorei!
    Eu gostaria de contar algo sobre o concerto! Tenho pena de o ter perdido...

    Beijinho grande

    ps: vai correr tudo bem. a conversa é hoje e logo decido o que quero fazer - apesar de já saber. Obrigada pelo apoio

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  4. Puxa, eu adoraria assistir a essa peça! Me convida?

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  5. Excelente sugestão, Pinguim. Acho que não vou perder a peça. Obrigada

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  6. Rocket
    embora não aproveite um décimo das ofertas culturais que me são oferecidas, penso que só lhes daria o devido peso se as não pudesse usufruir.
    Abraço.

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  7. Carla
    mas tu chegaste a ver a peça? Ou referes-te apenas à minha descrição?.
    Beijo.

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  8. Martinha
    gentil, como sempre...
    Sobre o encontro, já sei que não és pessoa para indecisões ou decisões de momento; sê apenas tu...
    Beijinhos.

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  9. Edu
    o autor é argentino, quem sabe não haverá alguém que "pegue" no texto, aí no Brasil...
    Abração.

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  10. Justine
    infelizmente penso que irás mesmo perder, pois ontem foi a última apresentação; a não ser que reponham a peça.
    Beijinhos.

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  11. Uma forma cultural de passar um serão de domingo.
    Por estas bandas não há quase teatro nenhum.
    Abração!

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  12. Olá, Pinguim, estou passando para conferir teus últimos posts.
    Um grande abraço

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  13. O 'Eva Péron' foi um dos espectáculos de teatro que mais me encantaram. Acho que a qualidade do La Féria podia ser aferida apenas por aquela peça. Num espaço mínimo conseguiu transmitir o ambiente doentio da corte peronista. Não me esqueço das plataformas transparentes dos sapatos da Eva, uma deusa afinal erguida sobre o nada. E embora não goste do teatro musical que ele actualmente faz, não há dúvida de que nada tem a ver com o que se fazia anteriormente. No gosto dos cenários e guarda-roupa, no modo de estar em palco e dizer as falas, tudo.
    Tenho pena que tenha deixado o teatro declamado ou lá o que lhe queiram chamar. Talvez já não lhe dissesse nada.

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  14. Lampejo
    por aqui a oferta é muita e variada, mas nem sempre me apetece ir; mas os espectáculos do Luís Castro valem sempre a pena.
    Abraço.

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  15. Tarco
    eu ainda não comentei o teu último; vou fazer isso daqui a pouco.
    Abraço.

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  16. Vantagem de se viver na capital :)

    Abraço

    P.S. Depois contas as cusquices lol, não escapas hehe

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  17. Mar_maria
    O começo de "Eva Péron" era esmagador, recordas-te? Uma plataforma estranha ia descendo até ficar ao nível do palco e depois levantava-se o roto da Teresa Roby e exclamava berrando: "C******"!
    Mas apesar de tudo gostei mais do "Evangelho" com um começo ainda mais chocante; o La Féria era um extraordinário encenador e ainda hoje é, mas o musical dá mais "cheta" e ele descobriu isso com o "Passa por mim no Rossio"...
    Beijinhos.

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  18. Teddy
    para contrapor à proximidade de sítios tão belos como a vossa cascata...
    Quanto às cusquices ficam para um encontro ao vivo, eheheh, como já te disse por outro meio.
    Abrações e ...cá continuo à espera da bomba.

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  19. Bom, um "off-topic": adorei seu comentário no meu post de ontem sobre o ciúme e a (in)fidelidade. Sua frase resumiu perfeitamente o que eu penso: fidelidade está na cabeça e no coração, não no meio das pernas. O problema é que mesmo pensando assim o dito cujo, coração, ainda se ressente com essas possibilidades! :-) Mas não é um problema do Mauricio-Bichinho, senão meu mesmo. Grato novamente e um beijãozão! Ah! Espero que você vá pra Dubrovnik com o Déjan um dia e nos traga outra leva de fotos lindas! Caceta, quero ir pra Croácia também!!!

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  20. Edu
    eu digo o mesmo, amigo, o problema não é do Dejan, é apenas meu...e ainda bem que assim é.
    Quanto a Dubrovnik, tudo é possível, pois está nos nossos planos passar 2 semanas do próximo ano, de novo em Zadar.
    Beijão para ti também.

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  21. bem, nesse dia andávamos por outros lados, como sabes... e ainda te devo uma chamada... ainda ponderei irmos ver a peça, mas acabámos por não o fazer. afinal, o tempo não dá mesmo para tudo! e também nunca vi nada da KARNAT. só espero que afinal o programa diferente tenha valido a pena!
    abraço

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  22. Paulinho
    eu sei que andavam, aliás como meio mundo...e parece que nem tudo foram rosas como a esmagadora maioria dos comentários que já li; claro que há os fundamentalistas "Madónnicos" que não permitem uma leitura que não seja a da excelência, mas gostos não se discutem...
    Quanto ao espectáculo que aqui comento, também houve alguns "mas", a nível interpretativo e algum desconforto na segunda parte, a da "instalação", que não agradará muito aos amantes do teatro representado de forma clássica, mas no mundo tudo evolui e acho muito curioso ir acompanhando as novas formas que o teatro nos vai trazendo: saldo bastante positivo.
    Abraços.

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Evita ser anónimo, para poderes ser "alguém"!!!