O protagonista deste romance, um dos mais conhecidos e celebrados de entre a vasta obra de Gore Vidal, (de quem li há pouco o fabuloso”Juliano”), é Ciro Spitama, neto do profeta Zaratustra, que foi educado segundo
a disciplina militar da corte persa. Ainda jovem, recebeu o cargo de embaixador, o que o levou, em sucessivas missões oficiais, a transpor as fronteiras do seu reino, que então se estendia do Mediterrâneo até à India.
a disciplina militar da corte persa. Ainda jovem, recebeu o cargo de embaixador, o que o levou, em sucessivas missões oficiais, a transpor as fronteiras do seu reino, que então se estendia do Mediterrâneo até à India.
Fascinado pelas interrogações fundamentais que se colocam ao género humano (como é que foi criado o Universo? Por que motivo é que o aparecimento do mal é simultâneo ao do bem?), Ciro deslocou-se tanto às regiões para onde Buda se retirara, como ao lugar onde Confúcio costumava pescar, como à própria cidade de Atenas, onde chegou a encontrar-se com Sócrates.
O século V a.C. foi decerto um dos mais férteis períodos da história da Humanidade. Nele viveram Dario e Xerxes, reis da Pérsia, Buda, Confúcio, Heródoto, Anaxógoras, Sócrates e Péricles. E foi nessa mesma época que se concebeu todo um conjunto de ideias espirituais, filosóficas e políticas, sobre o qual assenta ainda em parte o mundo que conhecemos. É esse universo fascinante e só aparentemente um pouco longínquo que Gore Vidal nos descreve nas páginas deste livro, considerado um dos exemplos máximos do romance histórico contemporâneo.
Não é, de forma alguma, um livro fácil de ler, dado as várias teorias filosóficas nele insertas; mas, para mim supriu uma enorme lacuna no fascínio que a História sempre me envolveu. Ajudado por dois excelentes professores de História, que me incutiram com o seu entusiasmo, o gosto pela disciplina, sempre me questionei o porquê de na altura, e no que concerna às chamadas civilizações da Antiguidade, termos dado o natural relevo às civilizações grega e romana, termos focado o essencial do Egipto, da Fenícia, da Mesopotâmia e da Pérsia, e termos geograficamente, parado aí. Porquê o vazio sobre as civilizações desse tempo na Índia e na China (Catai era a sua denominação), bem como nada haver sobre os Maias, Incas ou Aztecas…
Agora fiquei mais elucidado sobre essa história dos vários reinos que constituíam a península indiana e a enorme confusão dos ducados e reinos do Catai; mas aprendi não só os factos políticos, as guerras e as intrigas, pois também fiquei com uma ideia bastante interessante sobre a economia e a sociedade daquelas terras nessa época, e posso dizer que fiquei maravilhado com muito do que aprendi.
E ainda por cima é difícil congregar numa só obra muito da doutrina de Buda, Confúcio e Zaratustra; isto para quem só se habitou nos manuais de estudo da Filosofia a saber algo sobre os clássicos filósofos gregos, nomeadamente Sócrates e Platão.
Como “aperitivo” para quem se atrever a ler esta complexa mas brilhante obra de Gore Vidal, aqui deixo, na visão de Confúcio, quais eram as “quatro coisas feias” da sua teoriasobre o ser humano:
Como “aperitivo” para quem se atrever a ler esta complexa mas brilhante obra de Gore Vidal, aqui deixo, na visão de Confúcio, quais eram as “quatro coisas feias” da sua teoriasobre o ser humano:
- Primeira, condenar um homem à morte sem primeiro lhe ensinar o que está certo; esta chama-se selvajaria. Segunda, esperar que uma tarefa esteja pronta numa data determinada, sem primeiro ter dado aviso ao operário; isto é opressão. Terceira, ser vago nas ordens dadas e ao mesmo tempo esperar meticulosidade; isto é ser perseguidor. E última, dar de má vontade a uma pessoa o que é seu de direito; isto é desprezível e mesquinho.
Juro que tinha vontade de ler o livro! Contudo, pela tua descrição e quando percebi que o Ciro tinha conhecido o Sócrates (korror, como o nosso "primeiro" é velho!!!) desisti!!!
ResponderEliminareh eh eh
Antes que me deitem fogo, estou aqui a meter-me com o nosso anfitrião!!! Ele percebe isso!!!!
Falando sério.
Apesar de gostar de História, com tanta filosofia à mistura, deveria ser um peso para mim!!!
Abração!
o nome lembrou-me um filme que vi no outro dia chamado ''Creation'' e que retrata a história de darwin. muito bom, adorei :) beijinhos
ResponderEliminarTong
ResponderEliminarestava a adivinhar um comentário teu, por causa da tua admiração pela "filosofia" socrática.
E sabes que ele é mesmo um grande filósofo, mas não queres reconhecer; és muito mais para o Confúcio, eheheh.
Abraço amigo.
Martinha
ResponderEliminaraqui a criação só na palavra tem a ver com as teorias da evolução de Darwin.
Mas é uma criação cheia de dualidades e muito interessante sob o ponto de vista filosófico.
Mas foi na vertente da descrição histórica e sócio-económica que o livro me interessou verdadeiramente.
Beijinho.
Sim, eu ainda me lemro de me terem aconselhado isto... e sim ainda mantenho interresse em ler.
ResponderEliminarJohnny
ResponderEliminarcomo disse no texto, não é um livro fácil, mas a descrição da vida na Pérsia, na Índia e na China(?) naquele tempo, vale bem a pena.
Outra dificuldade é a multiplicidade de nomes chineses nos diversos reinos e condados, o que confunde de certa forma o leitor.
Definitivamente Gore Vidal é um excelente escritor no que se refere ao romance histórico.
Abraço amigo.
"E última, dar de má vontade a uma pessoa o que é seu de direito; isto é desprezível e mesquinho."...
ResponderEliminarO que não é o caso, pois não quero que fiques sem aquele Abraço-te
e por isso Abraço-te sem te Abraçar
Abraço-te
Abraço-te
ResponderEliminarUm belíssimo aproveitamento dos meus dois últimos posts.
Aqui vai o meu abraço reconhecido e não menos intenso.
não sei se lerei o livro
ResponderEliminarmas os principios de Confucio estão certissimos ...tais como as liçoes de economia que reproduzo lá no meu canto !!
Greentea
ResponderEliminarnão são só estes princípios de Confúcio que estão certos; sem estar a par de toda a sua filosofia, claro, fiquei muito curioso sobre esta personalidade tão marcante e que chegaram até aos nossos dias como válidas.
Irei ver, com certeza, as lições de economia de que falas.
Beijinho.
Tanta coisa ainda para ler, e já tão pouco tempo! A tua sugestão é muito atraente...
ResponderEliminarAbraço de obrigada (a música do 2001, adequadíssima...)
Justine
ResponderEliminarao longo da minha vida, fui "coleccionando" livros e filmes, sempre com a ideia de que "seriam para a reforma"...
E olha que estou a fazer isso, com muito agrado, apesar de ser tanta a oferta que por vezes me baralho na escolha.
Beijinho.
Olá Pinguim, parece-me de facto interessantes e apesar de não ser grande fã da filosofia, história é algo que me interessa muito principalmente a Grécia antiga. Se poder vou dar uma olhada. Um abraço.
ResponderEliminarCaro Psi
ResponderEliminarcuriosamente o livro desenvolve muito pouco a história da Grécia Antiga. Centra-se no Império Persa nos reinados de Dario e Xerxes e da procura de novas rotas para Oriente: Índia e Catai (China); apenas aflora a Grécia na parte final, no que respeita às guerras entre persas e gregos, que levaram à destruição de Atenas.
Mas a civilização persa é fascinante, acredita.
Abraço amigo.
Confesso que nunca tinha ouvido falar desse livro de Gore Vidal, mas a temática seduz-me bastante. Já está na minha lista!
ResponderEliminarGrato pela dica.
PS: Ele tem um livro que satiriza o sensacionalismo dos Media respeitante à Religião, que, salvo erro, se chama "Em directo do Calvário".
Nunca o li, mas um amigo meu que o leu, há uns anos, falava-me dele constantemente.
Maldonado
ResponderEliminarGore Vidal surpreendeu-me imenso. Devo confessar que há uns anos comprei alguns livros dele, que têm estado na prateleira, mais por ser um escritor gay do que por outras razões, embora tanto "Juliano", como este "Criação" me interessassem pelo facto de estarem focados na História, que é para mim sempre aliciante.
Agora vou ler um outro dele, do qual não terei tanto entusiasmo, mas vamos ver; trata-se de "Império" que se situa numa América na transição entre os séculos XIX e XX.
Abraço amigo.
é engraçado, porque sempre li do GV mais a não ficção do que a ficção, com excepção, é claro, das suas obras mais ligadas à temática gay, de que gosto muito. mas um dia destes tenho de o voltar a ler, sobretudo esta vertente mais clássica (quer em termos de temas quer de estilo)
ResponderEliminarMiguel
ResponderEliminareu estou a começar a lê-lo e iniciei-me com duas obras sobre a História e fiquei impressionado com o seu potencial de conhecimento.
Vou agora no terceiro livro, muito no início, que promete muito: "Império", embora de início seja algo confuso, tal a quantidade de personagens, muitas das quais reais...
Abraço grande.