segunda-feira, 12 de julho de 2010

"An Englishman in New York"

Este filme é a continuação de “A naked civil servant” (1975), filme que é baseado na história real do escritor Quentin Crisp, ícone gay da segunda metade do século XX. Ele escreveu um livro de memórias em 1968, contando o que significava, nos Anos 30, ser gay em Londres e sair - como ele saía - maquilhado às ruas. Ele não saía vestido de mulher. Não. Saía vestido com roupas de homem (ainda que um tanto extravagantes) e maquilhado. Assim se apresentou até o final da sua vida.
Mesmo com todas as lutas que enfrentou, e as decorrentes agressões físicas e morais, Crisp atingiu a fama pela sua visão da homossexualidade; pelo seu exibicionismo e inconformismo.
Trata-se de um filme com mais peso e foco no que Quantin Crisp se tornou para o mundo depois de sua adolescência difícil e dos problemas que enfrentou até escrever sua biografia em 1968.
“An Englishman in New York” (2009) é dirigido por Richard Laxton, outro veterano da TV que, diferente de Jack Gold (realizador do primeiro filme) , não arriscou uma linguagem poética, mas manteve o recurso da narração como um elo entre os dois filmes.
John Hurt está ainda melhor do que no filme anterior. Talvez isso seja a coisa mais interessante deste projecto: ele voltou a interpretar o mesmo papel 34 anos depois e está magnífico. Se antes a sua fisionomia era uma cópia autenticada de Crisp, aqui essa característica eleva-se ainda mais ao assistir ao envelhecimento da seu personagem, numa transformação assustadora.
O filme explica o que aconteceu com Crisp depois da exibição de “A naked civil servant” na tv com cabo inglesa. O sucesso do filme elevou ainda mais as vendas de sua biografia e revelou de vez ao mundo este homem inglês de fino trato feminino. Como resultado, Crisp fez sucesso nos EUA e recebe um convite para uma palestra sobre sua vida, no começo dos anos oitenta. Ele aceita, muda-se para Nova York e começa então a segunda etapa de sua vida, cheia de tributos e desgraças.
O trabalho de Laxton reflete constantemente sobre as batalhas que Quentin enfrentou no passado. Ele é amado pelos gays novaiorquinos e pode andar como quiser na rua, já que todos se vestem sem maiores pudores. Ser admirado e ouvido é como um paraíso, uma recompensa para uma vida tão intensa e mal compreendida quanto a que teve. Mas Quentin decidiu seguir falar o que sente e este mundo não é para aqueles que promovem a lucidez. Graças a um comentário infeliz sobre a SIDA, Quentin passa a ser odiado pelos gays, mas segue firme tentanto sobreviver com o que a vida lhe dá.
Alguns ecos das regras de Quentin aparecem, lembrando o quanto ele estava de facto a frente do tempo em que vivia.
Agora existem dois pêndulos que refletem a figura de Quentin: o primeiro, que fala sobre negação, o quanto Quentin foi menosprezado e discriminado e o segundo que fala sobre sua dedicação com o aprendizado, com o novo. Quentin toma gosto na arte de promover as suas inspirações e, mesmo doente e inválido, segue em frente numa jornada de autoconhecimento, riscos e desafios constantes até os seus 90 anos, claro, sem deixar o baton de lado.


Em jeito de homenagem, acrescento aqui a fabulosa caracterização do próprio Quentin Crisp, quando interpretou a personagem da Rainha Vitória no filme "Orlando", de Sally Potter (1992).

24 comentários:

  1. Um grande senhor. Eu tive conhecimento do Quentin há uns anos e, desde então, fiquei apaixonado pela sua história de vida. Um homem que sofreu e ousou ser diferente, num mundo demasiadamente medíocre. Irreverente como só ele, é uma grande fonte de inspiração para mim. :)

    Abraço.

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  2. Mark
    não sei se viste algum destes dois filmes; se não viste, procura ver.
    O primeiro é baseado no livro que ele escreveu e no qual conta o que passou quando era jovem, em Londres.
    Este é um filme sobre uma passagem real da vida dele, já quase perto do seu fim: maravilhoso!
    E a célebre música que Sting fez para o homenagear não poderia deixar de estar presente.
    Abraço amigo.

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  3. Vimos esse filme durante minhas férias! Bem bacana, eu desconhecia esse senhor totalmente. Muito menos sabia que a música do Stiling era pra ele. De qualquer forma, vale a pena conhecer, pelo fato de que são raras as pessoas que sustentam suas convicções apesar de tudo.

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  4. Edu
    já agora e embora, retroactivamente, vale bem a pena ver "A Naked Civil Servant"...
    Podes assim ver a evolução da construção da personagem, por esse actor soberbo que é o John Hurt.
    Abração.

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  5. Um senhor sempre coerente com a sua forma de ver e viver a vida.
    Abracinho

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  6. Caro Amigo

    Não conhecia esta figura... Para mim foi uma revelação.
    Achei esta amostra de filme muito curiosa e olhando-a do ponto de vista humano acredito que seja muito interessante.
    Tão ou mais interessante ainda me parece a interpretação de John Hurt, que aqui aparece verdadeiramente transfigurado... Mas, a verdade é que este actor já nos habituou a grandes interpretações.
    Um abraço amigo.

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  7. Maria Teresa
    uma personagem única, com uma coerência rara e uma coragem exemplar.
    Beijinho.

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  8. Com senso
    confesso que fiquei admirado de não conheceres Quentin Crisp.
    Além de ser "obrigatório" ver estes dois filmes. há ainda o seu livro autobiográfico e uma colectânea de frases suas que ficaram célebres.
    E entre muitas coisas que este Homem incrível fez, foi, mesmo no declínio da sua vida, a interpretação da velha Rainha Vitória, no magnífico "Orlando" de Sally Potter (imperdivel a todos os níveis); por essa razão fiz uma curta adenda ao texto, com a inclusão de uma foto de QC, neste papel.
    Abraço amigo.

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  9. Olá pinguim. Imagino as coisas que ele deve ter suportado nessa altura e mesmo assim não desistiu de ser que era. Na verdade não considero que a maquilhagem, nos dias que correm, se associe à homossexualidade quando usada em homens. Claro que os temos são outros mas eu independentemente da minha orientação sexual nunca me deu vontade ou me preocupei em querer usar maquilhagem e por outro lado existem muitos heterossexuais que o fazem. Mas os tempos são mesmo outros. Um abraço.

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  10. Desconhecia por completo e achei muito interessante. Tenho que ver isso! ;) Abraço

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  11. Caro Psi
    Quentin Crisp foi uma pessoa muito especial; para entender melhor a sua personalidade, nada melhor que o filme "A Naked Civil Servant", pois ali se mostra que QC, talvez para contrariar as muitas provações por que passou na sua juventude, foi progressivamente contrabalançando de uma maneira até provocatória, essa sua maneira de se apresentar.
    Claro que desde sempre, e até morrer, ele era algo afectado nos seus modos, acentuados por aquela postura bem britânica de extrema educação e de bem falante.
    Neste período americano, e com o avançar da idade, tornou-se muito conhecido e também os ambientes de Nova York, que frequentava, pouco se incomodavam com as suas extravagâncias.
    Abraço amigo.

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  12. Félix
    sendo tu um amante de Nova York, é absolutamente imprescindível que vejas este filme.
    Há uma altura, logo no início do filme, em que recordei de ti: quando QC chega e o seu deslumbramento pelo primeiro encontro com a cidade; o seu passeio pelas ruas, a observação que faz das pessoas que passam, e o facto de não o olharem com desdém, mas sim com naturalidade, apenas mais uma pessoa excêntrica, numa cidade plena de excentricidades.
    A letra da música de Sting é também bem interessante e mostra toda admiração que o cantor tinha por Quentin Crisp.
    Abraço grande.

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  13. LOL, até em calçoes de banho andei por NY. Obrigado pela sugestão, tenho que ver de facto! Abração

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  14. Félix
    o filme é recente; porque não vê-lo mesmo "in loco", com o Arthur????
    Abração.

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  15. sou fã do Quentin Crisp, mais do que isso, ele é sem dúvida um dos santos do meu altar. marcou-me muito na fase da minha vida em que pensei mais a sério nestes assuntos queer, e no que eles significavam para mim.
    adorei o naked civil servant, livro e filme, e o resident alien, o livro, que ainda não consegui apanhar o filme.
    o john hurt é sempre um plus, outro tipo que eu adoro, e que veste o QC na perfeição.
    abraço

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  16. Miguel
    falando um pouco mais sobre o John Hurt, penso que é um dos maiores actores que conheço e é sem qualquer sombra de dúvida a escolha ideal para representar QC, quer na juventude (Naked civil servant) quer na velhice, como neste filme.
    Há por vezes algumas nomeações para Óscares que não compreendo bem, e ficam de fora actores deste calibre.
    Abraço amigo.

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  17. Olá, `

    Apenas para te dizer que gosto de ler o teu blog e que já o sigo, já faz algum tempo, sem nunca o ter comentado;

    Continua assim...

    Abraço
    Francisco

    http://umdeuscaidodoolimpo.blogspot.com

    P.S- Se quiseres opinar, terei muito gosto

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  18. Olá Francisco
    obrigado pela tua visita e pelo teu acompanhamento.
    Visitei o teu blog e deixei lá umas palavras.
    Espero ver-te por aqui sempre que queiras, é óbvio.
    Abraço.

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  19. Vi este há uns meses. Adorei. estava com receio porque gosto muito do primeiro. Mas não me decepcionou. E o Hurt continua a fazer aquilo muito bem....

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  20. André
    acho mesmo que quem não viu o primeiro não compreenderá totalmente a personalidade do QC e a sua apresentação neste filme.
    John Hurt continua a surpreender.
    Abraço amigo.

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  21. Ia perguntar se este Senhor não era o que aparecia no clip do Sting, mas já vi pelo scomentários que é o mesmo. Adorei o teu post e os clips. Bjs

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  22. Fernanda
    sim, o Sting quis homenageá-lo com aquela bela canção; aliás era a "música do dia" quando publiquei o post.
    Beijinho.

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  23. é uma personagem curiosa e nunca percebi o que é que ele fez na vida... mas lembro-me bem da interpretação em Orlando!

    obrigado pela sinopse!

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  24. Paulo
    ele foi um "bon vivant" antes de escrever a sua auto biografia e depois viveu de uma certa áurea à sua volta...
    Foi alguém "sui generis"...
    Abraço amigo.

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Evita ser anónimo, para poderes ser "alguém"!!!