Tomei conhecimento com o Catatau, como comentador do meu blog, logo no início do mesmo, no final de 2006. Conheci finalmente o João Manuel no jantar do ano passado, no final de Abril, tendo ficado bem na minha frente, para podermos finalmente conversar, cara a cara, tanta coisa que tinha ficado pendente nos nossos comentários; voltei a encontrá-lo num simpático almoço, com o Paulo e Zé, a Keratina e o Tong, em Alvalade.
Depois foi a enorme surpresa de o ter à minha espera e do Déjan, quando chegámos ao Porto, em Junho e convivemos num maravilhoso jantar no cais de Gaia; finalmente, quem diria encontrámo-nos no inesquecível pic-nic das Caldas, em Julho.
Pouco tempo depois, numa das nossas habituais conversas telefónicas foi curto e duro:
“João, tenho um tumor”. Fiz um post sobre o assunto sem revelar o assunto…
Comecei a contactar os seus amigos mais íntimos, o Tong, o Paulo e o Zé, a Keratina, o Lampejo, a Duxa, e fomos acompanhando a sua doença com telefonemas de apoio, sabe-se lá as vezes em que tivemos de ser fortes para não trair o nosso pessimismo.
Desde o seu último internamento, fiquei perfeitamente ciente que o João nos iria deixar em breve, mas nunca tão cedo; no entanto, liguei-lhe na véspera da minha recente viagem a despedir-me e tive que finalizar apressadamente a conversa, pois ele estava tão cansado após falar 2 minutos, que não conseguia dizer mais nada.
Desde o meu regresso, na terça feira que tinha andado a adiar o telefonema a comunicar que já cá estava; mas hoje(ontem), falando com o Paulo à hora do almoço, ele comunicou-me que tinha falado com ele na véspera e que ele quase não podia falar e estava a receber oxigénio; resolvi ligar-lhe de imediato e mal percebi o que me disse, apenas percebi “beijo, adeus”. Quando desliguei, segundos depois, não contive as lágrimas e procurei o conforto do Paulo, da Keratina e do Tong, e a todos comuniquei que me tinha soado a despedida esse telefonema; tentei, em vão contactar o seu companheiro, J., mas ele ligou-me perto das oito da noite, lavado em lágrimas a comunicar-me que tinha vindo do I.P.O. e que o João o não tinha reconhecido, e que o seu estado se agravara nas últimas horas, irremediavelmente; procurei incutir-lhe ânimo e pedi para me ir pondo ao corrente da situação; não demorou um quarto de hora quando me voltou a ligar dizendo apenas: “O João partiu!”
Liguei aos amigos de sempre a comunicar o que não queria ter comunicado…
Que mais posso dizer do Catatau? Apenas que era um Amigo, um Amigo muito querido; uma pessoa com uma cultura muito acima da média, eclético, que era sem sombra de dúvida o mais completo comentador que conheci na blogosfera; tinha um coração doce e uma energia contagiante, era também um Homem que acreditava na vida e tinha o condão de o saber mostrar.
Sofreu muito, mesmo muito, e apenas o fim desse martírio me alivia minimamente a dor que sinto.
Deixo aqui algumas passagens por ele deixadas nos comentários feitos neste blog e deixo esta foto, que hesitei em pôr aqui e foi tirada na última vez que o vi, no jantar do cais de Gaia; mas ele está tão bem, tão feliz, que é esta imagem que eu quero recordar dele.
Descansa em paz, João!!!
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“Sabes? Não tenho medo de envelhecer fisicamente (acho que estou melhor agora do que aos vinte), tenho é muito medo da velhice incapacitante, seja motora ou psicológica. Da velhice que me envergonhe, que dê trabalho aos outros, que faça de mim um imprestável.”
“Os amigos, tenham eles a cara e o corpo que tenham, são sempre o nosso tesouro privado. E principalmente são significantes!”
“ Vai, rapaz, vai nas asas do vento ter com o ar que respiras!”
“Faz sentido a tua análise da comunidade blogueira. Já cá ando há tempo suficiente para perceber de que são feitos os blogs. Acima de tudo são uma intenção aberta a um outro que é plural. E como de pluralidade se trata, é natural que se formem "públicos", que se estabeleçam afinidades, cumplicidades e (lá vou eu escrever uma palavra que cada vez gosto menos de usar pela desbragada parolice com que a usam) afectos.
Assim, para todos os que navegam, há os imprescindíveis, os imperdíveis, os habituais, os de corpo presente, os que despertam curiosidade, os pet hate (para masoquistas), enfim, dependendo do tempo e da paciência, há-os para todas as ocasiões, gostos, áreas, pró menino, prá menina e para tod@s.
Mas sabes o que sempre me seduziu na blogosfera? Imaginar uma pessoa do lado de lá que quer partilhar com quem desconhece um mundo real ou fictício. Saber que através dos comentários ela tem feed-back. Ela dá-me (o que quer que seja), mas eu também lhe dou (o que me vier aos dedos). Os dois desobrigados, num laço virtual que pode evoluir ou não. Que pode quebrar, fossilizar, seduzir ou tornar-se parte integrante do quotidiano dos dois. Um laço familiar, portanto.”
“Tenho amor, não tenho palavras (era só o que me apetecia agora dizer).
Mas digo mais: tenho um amor agarrado ao coração vai para 14 anos. Deus queira que me não falhem os batimentos por muito tempo. E se falharem, que ele possa ficar ali - abrigado - à espera de o viver mais um segundo. À espera de o viver mais um momento.”
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