Mas, em proporção vou mais ao teatro, porque gosto muito de ver teatro. Há uma comunhão entre os actores e o espectador que é maravilhosa.
Não vejo tantas peças como quereria, mais por inércia, mas apesar de tudo, nos últimos três meses vi três peças: "Design for Lovers", na Comuna, "Quem tem medo de Virginia Wolf", no D.Maria, e "As Bacantes", no S.Luiz.
E ontem voltei a ver outra; há muito que não via uma peça dos "Artistas Unidos", a companhia que tem à frente um dos maiores lutadores pelo Teatro em Portugal - Jorge Silva Melo.
E que prazer foi ter encontrado um sítio tão acolhedor, finalmente, para esta Companhia, o Teatro da Politécnica, mesmo ali onde era a cantina da antiga Faculdade de Ciências e onde tantas vezes comi...
O Teatro chama-se "Paulo Claro" em homenagem ao jovem actor da Companhia falecido em 2001 por acidente, tão novo.
E esta peça, uma das duas que a Companhia apresente neste momento (a outra é "A Morte de Danton", no D.Maria- Sala Garrett), chama-se "O Rapaz da Última fila", do dramaturgo Juan Mayorga e numa encenação colectiva.
A leitura de um (aparente) simples exercício de escrita sobre o fim de semana deixa Gérman (António Filipe), professor de Línguas e Literaturas, desiludido com a sua missão enquanto educador. Tentar orientar jovens de ensino secundário na arte da escrita parece um duelo de titãs. Composições desinteressantes, sem conexão, repetitivas… Até que surge a composição d’ O Rapaz da Última Fila.
Cláudio (Pedro Gabriel Marques) surpreende o seu professor ao trazer uma descrição rigorosa do seu fim de semana em casa do colega Rafael Marquez (Marc Xavier), cujas dificuldades em matemática servem de pretexto para que o protagonista consiga entrar na moradia daquela família de classe média e conseguir perceber o seu quotidiano. A primeira composição (e todas as restantes) recebem uma marca particular no final: (continua.)
À partida, o trabalho de Cláudio é como que reprovado pelas questões éticas e morais que levanta, já que se intromete na vida privada de um colega seu e a divulga. Juana (Maria João Falcão), mulher de Gérman, aconselha o professor a reprovar a atitude do jovem escritor, contudo o marido não quer desperdiçar a oportunidade de ajudar o rapaz que lhe parece ser a grande promessa da literatura.
Os textos seguem-se diariamente, os conselhos de melhoria e as sugestões de leitura também. Cláudio vai-se integrando na família e percebendo quais os seus pontos fracos e problemas, que relata de forma minuciosa.Gérman e Juana tornam-se leitores compulsivos e vão conhecendo também a família Marquez através das descrições que o recatado rapaz (pelo menos nas aulas) faz.
A posição da última fila, aquele sítio onde “ninguém nos vê, mas nós vemos toda a gente”, tomada por Cláudio alastra-se à moradia dos Marquez. Os estratagemas são muitos para conseguir tornar uma história desinteressante à partida num autêntico sucesso literário. O jovem escritor é também ele uma personagem que altera aquele que seria o percurso normal dos acontecimentos.
No mesmo cenário, cruzam-se espaços tão diferentes numa simbiose bem conseguida. Navegamos entre a sala do professor e da sua mulher, pela casa dos Marquez e pela sala de aula uma forma natural, embora os adereços nunca mudem de sítio. As várias histórias cruzam-se nas páginas do mesmo livro, construindo um todo perfeitamente consolidado.
As personagens são credíveis, cheias de valor humano e densidade. A isto se junta um bom humor proveniente dos próprios escritos de Cláudio que nos trazem uma descrição pura e dura da vida dos Marquez e que puxa pelo nosso lado mais voyeur.
A música do espetáculo é-nos dada pelo simples fluxo das palavras, num ritmo que nos prende do princípio ao fim. Também nós queremos saber o que vem a seguir ao tão misterioso “continua” de cada texto.
O próprio final nos surpreende. Cláudio é confrontado a encontrar ele mesmo um final para a sua história. O seu mestre ensina-o que o final deve ser cativante, surpreendente, inesperado. Como tal, a própria peça também nos traz um final que à partida não estaríamos à espera. Os esquemas complexificam-se e a ação toma um rumo inesperado.
A interpretação é bastante boa, com destaque para António Filipe e do jovem Pedro Gabriel Marques, muito seguro naquela que suponho será a sua estreia como actor.
O final não foge à regra de ouro de um bom final de um livro: inesperado, mas perante o qual, o leitor conclui que não poderia ser outro...
Simplesmente, e numa apreciação muito subjectiva, penso que, e propositadamente, o final é "escondido" pelo fecho das luzes, pois isso pode subentender um "beijo apagado".
Se alguém já viu a peça, que deixe a sua opinião, e quem ainda não viu, aconselho-a vivamente e depois também gostaria de ler o que pensam sobre ela e sobre o final.
Parte deste texto foi tirado do blog "Espalha Factos" e é da autoria de Wilson Ledo
Cláudio (Pedro Gabriel Marques) surpreende o seu professor ao trazer uma descrição rigorosa do seu fim de semana em casa do colega Rafael Marquez (Marc Xavier), cujas dificuldades em matemática servem de pretexto para que o protagonista consiga entrar na moradia daquela família de classe média e conseguir perceber o seu quotidiano. A primeira composição (e todas as restantes) recebem uma marca particular no final: (continua.)
À partida, o trabalho de Cláudio é como que reprovado pelas questões éticas e morais que levanta, já que se intromete na vida privada de um colega seu e a divulga. Juana (Maria João Falcão), mulher de Gérman, aconselha o professor a reprovar a atitude do jovem escritor, contudo o marido não quer desperdiçar a oportunidade de ajudar o rapaz que lhe parece ser a grande promessa da literatura.
Os textos seguem-se diariamente, os conselhos de melhoria e as sugestões de leitura também. Cláudio vai-se integrando na família e percebendo quais os seus pontos fracos e problemas, que relata de forma minuciosa.Gérman e Juana tornam-se leitores compulsivos e vão conhecendo também a família Marquez através das descrições que o recatado rapaz (pelo menos nas aulas) faz.
A posição da última fila, aquele sítio onde “ninguém nos vê, mas nós vemos toda a gente”, tomada por Cláudio alastra-se à moradia dos Marquez. Os estratagemas são muitos para conseguir tornar uma história desinteressante à partida num autêntico sucesso literário. O jovem escritor é também ele uma personagem que altera aquele que seria o percurso normal dos acontecimentos.
No mesmo cenário, cruzam-se espaços tão diferentes numa simbiose bem conseguida. Navegamos entre a sala do professor e da sua mulher, pela casa dos Marquez e pela sala de aula uma forma natural, embora os adereços nunca mudem de sítio. As várias histórias cruzam-se nas páginas do mesmo livro, construindo um todo perfeitamente consolidado.
As personagens são credíveis, cheias de valor humano e densidade. A isto se junta um bom humor proveniente dos próprios escritos de Cláudio que nos trazem uma descrição pura e dura da vida dos Marquez e que puxa pelo nosso lado mais voyeur.
A música do espetáculo é-nos dada pelo simples fluxo das palavras, num ritmo que nos prende do princípio ao fim. Também nós queremos saber o que vem a seguir ao tão misterioso “continua” de cada texto.
O próprio final nos surpreende. Cláudio é confrontado a encontrar ele mesmo um final para a sua história. O seu mestre ensina-o que o final deve ser cativante, surpreendente, inesperado. Como tal, a própria peça também nos traz um final que à partida não estaríamos à espera. Os esquemas complexificam-se e a ação toma um rumo inesperado.
A interpretação é bastante boa, com destaque para António Filipe e do jovem Pedro Gabriel Marques, muito seguro naquela que suponho será a sua estreia como actor.
O final não foge à regra de ouro de um bom final de um livro: inesperado, mas perante o qual, o leitor conclui que não poderia ser outro...
Simplesmente, e numa apreciação muito subjectiva, penso que, e propositadamente, o final é "escondido" pelo fecho das luzes, pois isso pode subentender um "beijo apagado".
Se alguém já viu a peça, que deixe a sua opinião, e quem ainda não viu, aconselho-a vivamente e depois também gostaria de ler o que pensam sobre ela e sobre o final.
Parte deste texto foi tirado do blog "Espalha Factos" e é da autoria de Wilson Ledo