É uma curiosa coincidência, e afirmo-o em absoluto, que no dia de ontem, me chegaram "às mãos" duas curtas metragens, que não sendo umas obras primas, são muito interessantes e principalmente apareceram no momento certo, pois elas "documentam" de alguma forma o que foi dito no vídeo da postagem anterior, sobre o sexo anal.
Não estou a fazer aqui no blog uma dissecação sobre o assunto, apenas pus aquele vídeo por me ter parecido de certa forma "didáctico". Agora caem-me do céu estes dois vídeos que peço interpretem apenas como referi de início, uma feliz coincidência.
É curioso também uma outra questão e que não foi uma opção: ambas as curtas se passam na esfera heterossexual...
Apreciem e digam da vossa justiça.
segunda-feira, 22 de abril de 2013
sexta-feira, 19 de abril de 2013
Anal Sex
Não, não é engano, é mesmo este o título do post
E também o título do vídeo que aqui deixo.
Desengane-se contudo quem julgue vir a encontrar nesta postagem conteúdo menos próprio.
É tão só um vídeo que pretende mostrar que muitas vezes se fazem conexões indevidas e que aquilo que parece ser um "vício homossexual" é afinal apenas sexo! Exactamente como tantas outras formas de o fazer, e de dar prazer a quem o pratica,
Afinal, é para reflectir...
“John Corvino addresses those who seem to think there’s nothing more to gay sex than anal sex and explains how squeamish visceral reactions can sometimes masquerade as moral judgments.
Dr. John Corvino, also known as the “Gay Moralist,” is a writer, speaker, and philosophy professor at Wayne State University in Detroit. He is the author of What’s Wrong with Homosexuality? and the co-author (with Maggie Gallagher) of Debating Same-Sex Marriage, both from Oxford University Press
E também o título do vídeo que aqui deixo.
Desengane-se contudo quem julgue vir a encontrar nesta postagem conteúdo menos próprio.
É tão só um vídeo que pretende mostrar que muitas vezes se fazem conexões indevidas e que aquilo que parece ser um "vício homossexual" é afinal apenas sexo! Exactamente como tantas outras formas de o fazer, e de dar prazer a quem o pratica,
Afinal, é para reflectir...
“John Corvino addresses those who seem to think there’s nothing more to gay sex than anal sex and explains how squeamish visceral reactions can sometimes masquerade as moral judgments.
Dr. John Corvino, also known as the “Gay Moralist,” is a writer, speaker, and philosophy professor at Wayne State University in Detroit. He is the author of What’s Wrong with Homosexuality? and the co-author (with Maggie Gallagher) of Debating Same-Sex Marriage, both from Oxford University Press
terça-feira, 16 de abril de 2013
6º. Jantar de Bloggers
O 6ª. Jantar de bloggers já tem data marcada.
Vai realizar-se no último sábado de Maio, ou seja dia 25 do próximo mês.
Estamos conscientes que a data não será eventualmente do agrado de duas ou três pessoas, mas qualquer outra data, o seria também.
É a um sábado para quem se queira deslocar, sendo de fora de Lisboa, e o convívio terá lugar nessa data, pelas 20 horas, no mesmo local onde se realizaram os jantares de 2010 e 2011, pois o ano passado não se efectuou.
Será pois no Restaurante Guilho, situado à entrada da Amadora, logo no final da N117, mais conhecida como a recta dos hipermercados; quando essa estrada termina, vêm-se um pouco à direita, dois bancos seguidos, o Millenium e o Banco Popular e é ai junto a essas agências que há um parque automóvel e o restarante fica numa ruazinha sem trânsito que desemboca nesse parque de estacionamento, mesmo em frente a um Centro de Saúde (isto para quem vem de carro); quem vem de comboio, sai para o lado contrário da C.M.Amadora, passa o Centro Cultural e está a 100 metros do restaurante.
Mas indicaremos mais perto da data, com mais detalhe, a sua localização.
A razão de mantermos o local é simples: fomos muito bem recebidos as duas vezes que ali fizemos o nosso convívio; é um restaurante pequeno e optámos, como das outras vezes por um jantar volante de forma a que todos nos possamos conhecer uns aos outros. O “buffet” fica numas mesas ao fundo, haverá umas mesas de apoio junto de duas paredes e o resto do local tem cadeiras para as pessoas se sentarem.
A porta está aberta, e dá para uma rua sem trânsito e sem muita gente a passar, pelo que o convívio se faz também na rua ao pé da porta.
Quanto ao menú, só o prato principal varia: este ano é um prato consensualmente do agrado de todos – Rojões à Guilho, com condimentos especiais, acompanhados de batata frita, arroz e salada.
Este prato tem uma particularidade que o aconselha para jantares volantes, pois os pedaços da carne são bastante pequenos o que evita o uso da faca para trinchá-la.
Além deste prato, há as habituais entradas, que consistem em pão, manteigas, azeitonas, o (bom) paté da casa, queijo e chourição temperado com azeite de orégãos.
Haverá um conjunto de sobremesas que fogem ao habitual sendo realmente muito boas.
Como bebidas haverá vinho tinto à descrição (da casta Aragonês), jarros de sumo, águas e cerveja (com stock limitado). E claro, café.
As bebidas pedidas antes ou após o serviço do jantar serão pagas à parte na altura do seu consumo.
O preço, com tudo incluído, é de 15 euros por pessoa, o que não se pode considerar caro.
Avisa-se que não há cartão de crédito, mas há três caixas de multibanco a 30 metros do restaurante.
O espaço é só nosso e podemos estar ali em convívio até à hora de fecho – duas da manhã…
Temos a certeza que a Lia e a Ana, proprietárias do restaurante nos servirão tão bem e com tanto gosto como nos dois anos em que lá fizemos o nosso jantar.
Claro que as pessoas podem levar acompanhantes, bastando para o efeito que digam no acto da inscrição quantas pessoas são; e também todos aquel@s que não tendo blog, comentam ou nos seguem, serão benvindos.
As inscrições podem ser feitas aqui no meu blog, no blog da Margarida, ou pelo meu e-mail pessoal (jcroque@zonmail.pt).
Apenas agradeço, mas agradeço mesmo, que não aconteça o mesmo que nos outros anos em que nas últimas 48 horas antes do jantar, “adoeceram” várias pessoas, apareceram mil e um problemas que “afinal” impediam a vinda ao jantar, a ponto de eu chegar a ter receio de atender o telemóvel…
É preferível um não, e só eu sei quanto me alegra a presença de tod@s, do que uma desistência à última hora, embora possa sempre haver imponderáveis, como é evidente...mas aceito-os como excepções e não como desculpa de que afinal resolveram não comparecer.
E mais uma vez, reafirmo que não se trata de um jantar de convívio de blogs gay, mas sim e tão só um jantar de amig@s, em que alguns blogs são de pessoas gay, mas muitos também não o são.
No cimo deste post está o “banner” deste jantar de 2013, que como os dos anos anteriores tem a autoria do Paulo Simões Mendes, o qual felicitamos e agradecemos.
Qualquer esclarecimento sobre este evento pode ser pedido à Margarida ou a mim próprio.
Ficamos à espera das vossas inscrições e aproveito para informar que mesmo sem data marcada estão já confirmadas 16 pessoas e 4 apenas estavam à espera da data para se inscreverem.
Estou convencido que não deixaremos de ser entre 35 a 40 pessoas, pelo menos assim o espero.
Vai realizar-se no último sábado de Maio, ou seja dia 25 do próximo mês.
Estamos conscientes que a data não será eventualmente do agrado de duas ou três pessoas, mas qualquer outra data, o seria também.
É a um sábado para quem se queira deslocar, sendo de fora de Lisboa, e o convívio terá lugar nessa data, pelas 20 horas, no mesmo local onde se realizaram os jantares de 2010 e 2011, pois o ano passado não se efectuou.
Será pois no Restaurante Guilho, situado à entrada da Amadora, logo no final da N117, mais conhecida como a recta dos hipermercados; quando essa estrada termina, vêm-se um pouco à direita, dois bancos seguidos, o Millenium e o Banco Popular e é ai junto a essas agências que há um parque automóvel e o restarante fica numa ruazinha sem trânsito que desemboca nesse parque de estacionamento, mesmo em frente a um Centro de Saúde (isto para quem vem de carro); quem vem de comboio, sai para o lado contrário da C.M.Amadora, passa o Centro Cultural e está a 100 metros do restaurante.
Mas indicaremos mais perto da data, com mais detalhe, a sua localização.
A razão de mantermos o local é simples: fomos muito bem recebidos as duas vezes que ali fizemos o nosso convívio; é um restaurante pequeno e optámos, como das outras vezes por um jantar volante de forma a que todos nos possamos conhecer uns aos outros. O “buffet” fica numas mesas ao fundo, haverá umas mesas de apoio junto de duas paredes e o resto do local tem cadeiras para as pessoas se sentarem.
A porta está aberta, e dá para uma rua sem trânsito e sem muita gente a passar, pelo que o convívio se faz também na rua ao pé da porta.
Quanto ao menú, só o prato principal varia: este ano é um prato consensualmente do agrado de todos – Rojões à Guilho, com condimentos especiais, acompanhados de batata frita, arroz e salada.
Este prato tem uma particularidade que o aconselha para jantares volantes, pois os pedaços da carne são bastante pequenos o que evita o uso da faca para trinchá-la.
Além deste prato, há as habituais entradas, que consistem em pão, manteigas, azeitonas, o (bom) paté da casa, queijo e chourição temperado com azeite de orégãos.
Haverá um conjunto de sobremesas que fogem ao habitual sendo realmente muito boas.
Como bebidas haverá vinho tinto à descrição (da casta Aragonês), jarros de sumo, águas e cerveja (com stock limitado). E claro, café.
As bebidas pedidas antes ou após o serviço do jantar serão pagas à parte na altura do seu consumo.
O preço, com tudo incluído, é de 15 euros por pessoa, o que não se pode considerar caro.
Avisa-se que não há cartão de crédito, mas há três caixas de multibanco a 30 metros do restaurante.
O espaço é só nosso e podemos estar ali em convívio até à hora de fecho – duas da manhã…
Temos a certeza que a Lia e a Ana, proprietárias do restaurante nos servirão tão bem e com tanto gosto como nos dois anos em que lá fizemos o nosso jantar.
Claro que as pessoas podem levar acompanhantes, bastando para o efeito que digam no acto da inscrição quantas pessoas são; e também todos aquel@s que não tendo blog, comentam ou nos seguem, serão benvindos.
As inscrições podem ser feitas aqui no meu blog, no blog da Margarida, ou pelo meu e-mail pessoal (jcroque@zonmail.pt).
Apenas agradeço, mas agradeço mesmo, que não aconteça o mesmo que nos outros anos em que nas últimas 48 horas antes do jantar, “adoeceram” várias pessoas, apareceram mil e um problemas que “afinal” impediam a vinda ao jantar, a ponto de eu chegar a ter receio de atender o telemóvel…
É preferível um não, e só eu sei quanto me alegra a presença de tod@s, do que uma desistência à última hora, embora possa sempre haver imponderáveis, como é evidente...mas aceito-os como excepções e não como desculpa de que afinal resolveram não comparecer.
E mais uma vez, reafirmo que não se trata de um jantar de convívio de blogs gay, mas sim e tão só um jantar de amig@s, em que alguns blogs são de pessoas gay, mas muitos também não o são.
No cimo deste post está o “banner” deste jantar de 2013, que como os dos anos anteriores tem a autoria do Paulo Simões Mendes, o qual felicitamos e agradecemos.
Qualquer esclarecimento sobre este evento pode ser pedido à Margarida ou a mim próprio.
Ficamos à espera das vossas inscrições e aproveito para informar que mesmo sem data marcada estão já confirmadas 16 pessoas e 4 apenas estavam à espera da data para se inscreverem.
Estou convencido que não deixaremos de ser entre 35 a 40 pessoas, pelo menos assim o espero.
sexta-feira, 12 de abril de 2013
Kalizma*
“Corta!”, disse Mankiewicz.
Richard Burton, vestido de Marco António, beijava Elizabeth Taylor, despida de Cleópatra, há mais de um minuto.
Estava calor – a rodagem do épico sobre a mais famosa egípcia da Antiguidade era nos estúdios da Cinecittà, nos arredores de Roma. Os holofotes, postados acima do décor, derretiam as pedras de gelo no bourbon de Mankiewicz.
Mas Burton e Taylor não desgrudavam.
“Corta!”, repetiu o realizador.
“Importam-se que eu termine a cena?”.
Nada. Continuavam a beijar-se.
Mankiewicz insistiu: “Interessa-vos que já seja hora de almoço?”
Desde esse dia, Richard Burton, o grande actor clássico, e Elizabeth Taylor, a grande estrela de Hollywood, nunca mais pararam de se amar. E de se odiar.
Ele já a tinha visto uma vez. Fora há nove anos, na piscina de Stewart Granger e Jean Simmons, em Beverly Hills.
Ela só tinha vinte e um, estava de biquini azul claro, tirou os óculos escuros e fitou-o por um segundo, naquela explosão violeta que era o olhar de Liz Taylor.
Ele ficou de queixo tão caído que quase desatou à gargalhada.
Não foi só o olhar que o impressionou: “Ela era extraordinária. Os seios eram apocalípticos, podiam derrubar impérios”.
Conteve-se.
Nessa tarde, fez de Richard Burton, o galês com voz de tempestade, o declamador de memória dos sonetos de Shakespeare, a criança nascida na miséria das minas de carvão do País de Gales, o filho de alcoólico, o décimo segundo de treze irmãos. O “angry young man” prestes a conquistar a América.
Ela não lhe ligou nenhuma.
Richard Burton, vestido de Marco António, beijava Elizabeth Taylor, despida de Cleópatra, há mais de um minuto.
Estava calor – a rodagem do épico sobre a mais famosa egípcia da Antiguidade era nos estúdios da Cinecittà, nos arredores de Roma. Os holofotes, postados acima do décor, derretiam as pedras de gelo no bourbon de Mankiewicz.
Mas Burton e Taylor não desgrudavam.
“Corta!”, repetiu o realizador.
“Importam-se que eu termine a cena?”.
Nada. Continuavam a beijar-se.
Mankiewicz insistiu: “Interessa-vos que já seja hora de almoço?”
Desde esse dia, Richard Burton, o grande actor clássico, e Elizabeth Taylor, a grande estrela de Hollywood, nunca mais pararam de se amar. E de se odiar.
Ele já a tinha visto uma vez. Fora há nove anos, na piscina de Stewart Granger e Jean Simmons, em Beverly Hills.
Ela só tinha vinte e um, estava de biquini azul claro, tirou os óculos escuros e fitou-o por um segundo, naquela explosão violeta que era o olhar de Liz Taylor.
Ele ficou de queixo tão caído que quase desatou à gargalhada.
Não foi só o olhar que o impressionou: “Ela era extraordinária. Os seios eram apocalípticos, podiam derrubar impérios”.
Conteve-se.
Nessa tarde, fez de Richard Burton, o galês com voz de tempestade, o declamador de memória dos sonetos de Shakespeare, a criança nascida na miséria das minas de carvão do País de Gales, o filho de alcoólico, o décimo segundo de treze irmãos. O “angry young man” prestes a conquistar a América.
Ela não lhe ligou nenhuma.
Em 1963, depois do primeiro beijo que incendiou um
filme prestes a consumir um dos grandes estúdios, aMGM (o
orçamento descontrolou-se tanto que gerou uma factura equivalente a dois
“Titanic”), fizeram amor “como coelhos”, em todo o lado: iates emprestados,
hotéis da Via Venetto, o camarim dele.
Os paparazzi, que Fellini inventara
no seu “La Dolce Vita”, ganhavam a razão de existir.
Elizabeth Taylor
estava casada (era o quarto matrimónio) há pouco tempo com o cantor Eddie
Fisher. Roubara-o à amiga Debbie Reynolds.
Richard Burton estava casado há
catorze anos com a também galesa Sybil, a sua âncora emocional. Mas Burton
já estava solto em mar alto.
Ainda fez uma tentativa: “Não me posso separar de
Sybil e dos miúdos”, disse a Taylor.
Ela tentou suicidar-se – enfiada numa
camisa de noite Dior, claro — com uma overdose de barbitúricos. Acordou
com Eddie Fisher à cabeceira da cama, com uma arma apontada à cabeça: “Não te
preocupes, que nunca dispararia sobre uma cara tão bonita”.
A 5
de Março de 1964, dois dias depois de Taylor obter o divórcio de Fisher,
meteu-se com Burton num charter para Montreal e casaram. Ela ia de amarelo.
Ele ia feliz.
Na mais intensa e pormenorizada biografia do
casal, “Furious Love – Richard Burton, Elizabeth Taylor and the Marriage
of the Century”, editada em 2011 pela Harper & Collins,
o amor colérico, caótico, contraditório de Liz/Burton atingiu a plenitude
quando Richard ofereceu a Elizabeth um iate exausto mas supremamente elegante
– como eles -, veterano da Primeira e Segunda Guerra Mundiais, chamado
“Minona” na primeira encarnação, agora pronto para um segundo período de
beligerância.
“Kalizma”, assim foi baptizado o barco pelo casal, em homenagem
aos filhos Kate (de Burton com Sybil), Liza (de Liz com Michael Todd, o produtor
morto num desastre de aviação) e Maria, uma menina alemã adoptada por ambos
– para desgosto do casal, Taylor nunca poderia ter filhos de Burton após
uma histerectomia.
Richard sonhava com Liz mesmo antes de a conhecer.
Com doze anos e “Lassie Come Home” ou “National Velvet”, ela já era um
ídolo das matinés. Fazia parte da primeira aristocracia do cinema sonoro.
De pais norte-americanos e abastados, educada em Inglaterra, em Hampstead,
Liz frequentara o mesmo colégio da princesa Isabel. Não conhecia dificuldades,
só adulação.
Já Richard vinha de Pontrhydyfen, terra pobre e impronunciável.
Nunca conhecera a mãe, o pai desaparecia durante semanas em odisseias de
jogo e whiskey, fora educado pela irmã mais velha e a sua pátria eram os
livros. Liz e Richard não podiam ser mais diferentes.
Mas havia pontos comuns: ambos precisavam de
analgésicos (sofriam dos ossos e da coluna); ambos sentiam o vazio da fama;
ambos bebiam, muito.
Ele, para minorar os sentimentos de culpa – de ter deixado
Sybil, de o pai achar que ele era um inútil com uma profissão de maricas,
de ter optado pelo estrelato no lugar de uma respeitável carreira teatral, de o irmão mais velho ter caído uma noite no chalet
do casal em Céligny, na Suiça, pelo final dos anos 60, após uma tremenda sessão
de copos com Richard e batido com o pescoço num parapeito, ficando paralisado.
Ela
emborcava para aguentar o peso da celebridade e para dissipar a tensão
dos dias de rodagem com catorze horas.
Quando se conheceram, passaram a
beber mais, bebendo-se um ao outro.
Após o impacto do affair – os franceses chamaram
ao caso Le Scandale e o
Vaticano emitiu um comunicado a censurar a vida dissoluta dos adúlteros
– Elizabeth e Richard decidiram pisar terra apenas quando as câmaras estivessem
prontas a rodar: o “Kalizma” tornou-se o lar flutuante do clã Liz/Burton.
Em meados dos anos sessenta, os Burton possuíam
uma quinta com cavalos no condado de Wicklow, na Irlanda, a Casa Kimberley,
uma vivenda junto ao mar na costa oeste mexicana (foram eles que puseram
Puerto Vallarta no mapa), o De Havilland, um jacto privado que custou um
milhão (chamava-se “Elizabeth”), casas em Gstaad, 685 hectares nas Canárias,
apartamentos em Londres e Paris.
Mas a garantia do seu estilo de vida itinerante
era o “Kalizma”.
Além disso, o iate permitia-lhes fugir aos impostos
sobre as centenas de milhões de dólares que amealharam nessa década.
Gastaram-nos bem – tornou-se célebre a expressão “spending money like the Burtons”.
Afinal, nada fazia Liz sorrir mais do que uma jóia. E Richard sabia-o. Começou
por oferecer-lhe o Krupp, um diamante do tamanho de uma uva (pagou o equivalente
a dois milhões de dólares pela pedra).
Tinham especial prazer em atracar o
iate de 50 metros nos portos em que Onassis procurava seduzir Jacqueline
Kennedy.
Quando Burton conseguiu superar a oferta de Onassis no leilão
pelo maior diamante do mundo à época, o Cartier, escreveu no seu diário que
“esta pedra tem que ser usada pelo mais bela mulher da Terra. Teria um ataque
se ela fosse para Jackie Kennedy”.
Valendo cerca de 6 milhões de dólares ao
câmbio actual, o diamante foi rebaptizado “Taylor-Burton”. Liz só estava
autorizado a usá-lo trinta dias por ano, sempre na presença de seguranças.
Claro que ela se divertia a exibi-lo no “Kalizma”. Só para os dois, em alto
mar. Era a única roupa que usava.
Mas a melhor prenda de Richard a Liz foi o “Kalizma”.
O pai de Liz era um reputado marchand, e
ela herdou o instinto paterno.
Os Monet, Picasso e Van Gogh do casal foram
direitinhos para o iate, distribuídos pelos sete quartos (apesar de Liz
passar horas nas três casas de banho da embarcação, não chegaram a pendurar
uma tela em qualquer delas).
A tripulação era de oito pessoas, incluindo
uma criada e um mordomo. Entre maquilhadoras para Liz, amas e preceptoras
para os filhos de ambos e consultores de marketing para o casal, Richard e
Elizabeth chegaram a ter quarenta e duas pessoas na sua folha de pagamentos
(Richard também sustentava quase todos os seus doze irmãos). John Gielgud,
o actor shakespereano amigo do casal, passou uma temporada com eles no
“Kalizma” e ficou impressionado com os “14 marinheiros portugueses” da
embarcação (talvez Gielgud, homosexual assumido, alucinasse).
Sendo o
par mais glamoroso da sua época, eram recebidos como realeza cada vez que
punham os pés em terra firme – reinventaram a fama, e o casal Brangelina
seria um duo de pobres missionários a seu lado.
Percorriam o Mediterrâneo
como piratas ao largo da civilização, bebendo três garrafas de vodka por
dia (só ele despachava duas), fazendo amor todas as noites. Se não bebiam,
não conseguiam.
A única alternativa era uma discussão feroz. A luta era o
motor da sua líbido: nada lhes dava mais tesão do que vinte shots ou uma magnífica
sequência de insultos.
Depois, a cama era inevitável.
Como diz Liz, “imaginem
ter a voz de Richard Burton no vosso ouvido enquanto fazem amor. Todos os problemas
desaparecem”. Burton responde: “Ela é uma amante loucamente excitante,
bela para além dos sonhos da pornografia. Irei amá-la até morrer”.
Quando não estavam entretidos um com o outro, apareciam
convidados: Grace Kelly, a princesa Margarida, Wallis Simpson, ou a
mulher de Rex Harrison que, certa noite, bêbada, resolveu masturbar o seu
cão no deck do “Kalizma”.
Depois de “Reflexos Num Olho Dourado”, a fita de
John Huston em que contracenara com Liz, Marlon Brando começou a frequentar
o iate. Richard tinha ciúmes dele e, de acordo com a biografia da ex-mulher
de Brando, Anna Kashfi, houve uma cena de pugilato entre os dois a bordo. Acabaram
sorridentes, nos copos.
Após dez anos de amor furioso, Elizabeth Taylor e
Richard Burton divorciaram-se em 1974. Não aguentaram muito tempo: voltaram
a casar-se no ano seguinte. Durou sete meses. A separação foi, dessa vez,
definitiva, e o “Kalizma” foi vendido por mútuo acordo.
O barco que sobrevivera
a duas guerras mundiais não resistiu ao vendaval Liz/Burton.
Com destino vago nas duas décadas seguintes, o
Kalizma salvou-se do esquecimento em 1995 graças a Vijay Mallia, um milionário
da distribuição de bebidas alcoólicas – pelo álcool houve alguma justiça
poética. Mallia gastou mais de três milhões de dólares a restaurar o
velho itinerante num estaleiro de Bombaim.
Hoje, o “Kalizma” tem um novo
motor, bombas, ar condicionado e casco. Os quartos, assim como a sala de
jantar, mantêm-se (há agora um jacuzzi no deck), e os Monet, Van Gogh e
Picasso ainda habitam o barco.
Mais importante do que tudo, a suite dos Burton,
com a sua cama de dossel, sobreviveu. “Sempre tive a impressão de que nos
íamos casar uma terceira vez”, disse Elizabeth um ano antes de morrer.
Se
calhar casaram. E ainda fazem amor como coelhos.
*Texto escrito por Pedro Marta Santos, no blog "Escrever é triste". Agradeço ao Pedro a autorização para esta publicação e recomendo vivamente o blog em referência.
A primeira e quarta fotos constam da postagem original. As restantes tirei-as da net.
A primeira e quarta fotos constam da postagem original. As restantes tirei-as da net.
quarta-feira, 10 de abril de 2013
Sarita
Se eu quisesse fazer uma postagem normal sobre Sara Montiel seguiria os passos normais para o efeito: consultaria a Wikipedia, onde encontraria os principais dados pessoais, profissionais e afectivos dela.
Faria uma pesquisa cuidada na net sobre a actriz, e naturalmente que iria encontrar bastantes postagens em variadíssimos blogs, de onde possivelmente retiraria algumas curiosidades sobre a sua vida, a sua carreira e a sua personalidade.
E com certeza iria ver a sua página no IBDM, a bíblia do cinema mundial, onde teria tudo à disposição sobre a sua carreira cinematográfica.
Mas eu quero aqui dar uma visão intimista do que foi para mim esta mulher, que muito mais que uma mera actriz, uma boa cantora ou uma bela mulher, foi sobretudo para mim, um mito!
A partir de então, vi apaixonadamente todos os seus filmes, mesmo aqueles que no final da sua carreira foram pouco apreciados.
A nível musical ela foi a maior, para mim, num vasto grupo de cantoras espanholas que muito admirava. Foi uma mulher muito bela, muito provocante e talvez das poucas que me fez olhar para o sexo oposto com volúpia e desejo.
Claro que conforme fui crescendo, vi muitos filmes, ouvi inúmeras vozes e disseminei os meus gostos por muitos e variados géneros, mas o meu culto por Sarita nunca foi beliscado.
Curiosamente não me interessei muito pela última parte da sua carreira, e que tem a ver com a sua participação televisiva, talvez porque fugia um pouco à “minha” Sarita.
Morreu agora, aos 85 anos, como qualquer mortal, é óbvio, mas eu continuo a vê-la a cantar uma das maisbelas canções do filme "La Violetera"
Até sempre Sarita.
Faria uma pesquisa cuidada na net sobre a actriz, e naturalmente que iria encontrar bastantes postagens em variadíssimos blogs, de onde possivelmente retiraria algumas curiosidades sobre a sua vida, a sua carreira e a sua personalidade.
E com certeza iria ver a sua página no IBDM, a bíblia do cinema mundial, onde teria tudo à disposição sobre a sua carreira cinematográfica.
Mas eu quero aqui dar uma visão intimista do que foi para mim esta mulher, que muito mais que uma mera actriz, uma boa cantora ou uma bela mulher, foi sobretudo para mim, um mito!
Sara Montiel foi durante alguns anos da minha vida o meu maior ídolo, a minha Sarita.
O meu encontro com Sarita não se dá senão depois de ter visto pela primeira vez “La Violetera”, no final dos anos cinquenta. Foi daqueles filmes que me arrebatou, me fez chorar muitas lágrimas e que posteriormente vi vezes sem conta. Tive os quatros 45 RPM com todas as canções do filme e soletrava-as quase todas, com ênfase natural para o tema musical dominante – “La Violetera”.
Perdi as vezes que revi o filme e só mais tarde vi o seu filme anterior e que afinal foi o que permitiu a rodagem da Violetera – “O Último Couplet” e de donde retirei duas ou três canções dela também muito marcantes.A partir de então, vi apaixonadamente todos os seus filmes, mesmo aqueles que no final da sua carreira foram pouco apreciados.
A nível musical ela foi a maior, para mim, num vasto grupo de cantoras espanholas que muito admirava. Foi uma mulher muito bela, muito provocante e talvez das poucas que me fez olhar para o sexo oposto com volúpia e desejo.
Claro que conforme fui crescendo, vi muitos filmes, ouvi inúmeras vozes e disseminei os meus gostos por muitos e variados géneros, mas o meu culto por Sarita nunca foi beliscado.
Curiosamente não me interessei muito pela última parte da sua carreira, e que tem a ver com a sua participação televisiva, talvez porque fugia um pouco à “minha” Sarita.
Morreu agora, aos 85 anos, como qualquer mortal, é óbvio, mas eu continuo a vê-la a cantar uma das maisbelas canções do filme "La Violetera"
Até sempre Sarita.
segunda-feira, 8 de abril de 2013
Cartazes soviéticos
São inúmeros os cartazes de propaganda comunista quando existia a URSS, principalmente durante o período do pós guerra.
Aliás eram um dos instrumentos mais eficazes, internamente falando, da divulgação das maravilhas do comunismo de então.
O curioso é a descoberta entre eles de alguns com conotações homo eróticas, de uma forma talvez acidental nalguns casos, mas noutros bastante deliberada.
Vejamos alguns exemplos
Aliás eram um dos instrumentos mais eficazes, internamente falando, da divulgação das maravilhas do comunismo de então.
O curioso é a descoberta entre eles de alguns com conotações homo eróticas, de uma forma talvez acidental nalguns casos, mas noutros bastante deliberada.
Vejamos alguns exemplos
sexta-feira, 5 de abril de 2013
Actualização literária
Como já vai sendo hábito, gosto de referir de tempos a tempos, os livros que vou lendo, numa actualização que é também uma espécie de balanço que se faz periodicamente.
Desde que aqui falei nos livros lidos nos últimos tempos, mais alguns consegui tirar da interminável fila de espera da minha sala.
De três deles já falei em posts especiais: o interessante ensaio de Collin Spencer - “Homossexualidade – Uma história”, do livro de poemas que me deu a descobrir Al Berto – “Horto de Incêndio”, e da recente referência ao magnífico “Correr com Tesouras” de Augusten Burroughs.
Mas mais uma série deles li entretanto, desde “O Caderno de Algoz”
um decepcionante livro de Sandro William Junqueira, que aliás mais do que uma decepção foi uma grande desilusão, até a um surpreendente pequeno livro do desconhecido autor brasileiro Alexandre Ribondi, “Da Vida dos Pássaros”
em que fiquei a conhecer além de uma bela história de amor homossexual, um pouco mais da América do Sul (Perú, Bolívia e Argentina), uma muito agradável surpresa.
Entretanto li três livros de autores portugueses, bastante diferenciados entre si: um dos poucos livros que ainda não tinha lido de Guilherme de Melo – “A Porta ao lado”
que não acrescenta muito à obra do autor, mas não desilude; estreei-me a ler um escritor consagrado, dos nomes maiores da literatura portuguesa do século XX, Jorge de Sena, com um muito bom livro de contos – “Os Grão-Capitães"
e finalmente dei continuidade à quadrilogia que lançou definitivamente um dos nomes mais recentes da nova leva de escritores lusos, Valter Hugo Mãe; foi o terceiro da série – “O Apocalipse dos Trabalhadores”
e confesso, que sendo um livro bom (penso ser difícil vir a ler um livro menos conseguido deste autor), estará na minha opinião um pouco abaixo dos dois anteriores (“O Nosso Reino” e “Os Remorsos de Baltazar Serapião”); o que me parece de realçar é que são três livros completamente diferenciados entre si e as expectativas sobre o último que me falta ler são muitas, até porque é dos quatro o que mais edições já tem (“A Máquina de Fazer Espanhóis”).
Finalmente dois excelentes livros de dois óptimos escritores: de Michael Cunningham li um muitíssimo interessante “Ao Cair da Noite”
e principalmente fiquei rendido ao livro do já muito lido (por mim) David Leavitt, com o seu soberbo “Enquanto a Inglaterra dorme”
onde o escritor nos mostra uma Inglaterra num período interessante, o final dos anos 30 do século passado, numa dupla incursão na vida homossexual burguesa e no apogeu do comunismo inglês, que levou muitos ingleses a combater ao lado dos republicanos na Guerra Civil Espanhola.
Desde que aqui falei nos livros lidos nos últimos tempos, mais alguns consegui tirar da interminável fila de espera da minha sala.
De três deles já falei em posts especiais: o interessante ensaio de Collin Spencer - “Homossexualidade – Uma história”, do livro de poemas que me deu a descobrir Al Berto – “Horto de Incêndio”, e da recente referência ao magnífico “Correr com Tesouras” de Augusten Burroughs.
Mas mais uma série deles li entretanto, desde “O Caderno de Algoz”
um decepcionante livro de Sandro William Junqueira, que aliás mais do que uma decepção foi uma grande desilusão, até a um surpreendente pequeno livro do desconhecido autor brasileiro Alexandre Ribondi, “Da Vida dos Pássaros”
em que fiquei a conhecer além de uma bela história de amor homossexual, um pouco mais da América do Sul (Perú, Bolívia e Argentina), uma muito agradável surpresa.
Entretanto li três livros de autores portugueses, bastante diferenciados entre si: um dos poucos livros que ainda não tinha lido de Guilherme de Melo – “A Porta ao lado”
que não acrescenta muito à obra do autor, mas não desilude; estreei-me a ler um escritor consagrado, dos nomes maiores da literatura portuguesa do século XX, Jorge de Sena, com um muito bom livro de contos – “Os Grão-Capitães"
e finalmente dei continuidade à quadrilogia que lançou definitivamente um dos nomes mais recentes da nova leva de escritores lusos, Valter Hugo Mãe; foi o terceiro da série – “O Apocalipse dos Trabalhadores”
e confesso, que sendo um livro bom (penso ser difícil vir a ler um livro menos conseguido deste autor), estará na minha opinião um pouco abaixo dos dois anteriores (“O Nosso Reino” e “Os Remorsos de Baltazar Serapião”); o que me parece de realçar é que são três livros completamente diferenciados entre si e as expectativas sobre o último que me falta ler são muitas, até porque é dos quatro o que mais edições já tem (“A Máquina de Fazer Espanhóis”).
Finalmente dois excelentes livros de dois óptimos escritores: de Michael Cunningham li um muitíssimo interessante “Ao Cair da Noite”
e principalmente fiquei rendido ao livro do já muito lido (por mim) David Leavitt, com o seu soberbo “Enquanto a Inglaterra dorme”
onde o escritor nos mostra uma Inglaterra num período interessante, o final dos anos 30 do século passado, numa dupla incursão na vida homossexual burguesa e no apogeu do comunismo inglês, que levou muitos ingleses a combater ao lado dos republicanos na Guerra Civil Espanhola.
terça-feira, 2 de abril de 2013
A "nona"
No dia 26 de Março de 1827 morreu, em Viena, Ludwig van Beethoven, um célebre alemão, canhoto, surdo, com o rosto marcado pela varíola e a quem chamavam “o espanhol”, devido à sua tez morena e cabelos muito negros.
Tinha nascido em Bona, na Alemanha, no dia 16 de Dezembro de 1770.
Hans von Bülow refere-se a Beethoven como um dos "três Bs da música" (os outros dois seriam Bach e Brahms), considerando as suas 32 sonatas para piano como o Novo Testamento da música.
Ludwig nunca teve estudos muito aprofundados, mas sempre revelou um talento excepcional para a música. Com apenas oito anos de idade, foi confiado a Christian Gottlob Neefe, o melhor professor de cravo da cidade, que lhe deu uma formação musical sistemática, e lhe deu a conhecer os grandes mestres da música alemã.
Neefe afirmava que o seu aluno, de dez anos, dominava todo o repertório de Johann Sebastian Bach, e apresentava-o, orgulhosamente, como um segundo Mozart.
Existem especulações históricas sobre um provável encontro entre Beethoven e Mozart, mas não existe nenhum facto histórico que o possa comprovar. No entanto, existem histórias do seu encontro, como por exemplo, uma que refere um Mozart absorto no seu trabalho, na composição de Don Giovanni, que não terá tido tempo de lhe prestar a devida atenção. Uma outra, bem mais interessante, refere um encontro em que Mozart terá dito acerca de Beethoven: "Não o percam de vista, um dia há-de dar que falar."
Beethoven demonstrou genialidade em praticamente todas as obras que compôs. E foram muitas, entre sinfonias, concertos, quartetos, trios, sonatas, não esquecendo uma ópera.
No ano em que morreu, ainda conseguiu compor cerca de 44 obras musicais.
A sua influência na história da música foi imensa.
Ao morrer, a 26 de Março de 1827, estava a trabalhar numa nova sinfonia e projectava escrever um Requiem.
Conta-se que cerca de dez mil pessoas compareceram no seu funeral, entre elas,Franz Schubert. Ludwig van Beethoven faleceu de cirrose hepática, após contrair pneumonia.
A sua obra-prima, na opinião de muitos, foi a Sinfonia nº 9 em ré menor, Op.125.
Pela primeira vez é inserido um coral num andamento de uma sinfonia.
O texto é uma adaptação do poema de Friedrich Schiller, "Ode à Alegria", feita pelo próprio Beethoven. Otto Maria Carpeaux, na sua obra “Uma Nova História da Música”, afirma que Beethoven assistiu à primeira apresentação pública da sua 9ª Sinfonia, ao lado de Umlauf, que a regeu, mas abstraído na leitura da partitura e já com uma surdez avançada, não percebeu que estava a ser ovacionado até que Umlauf, tocando-lhe no braço, lhe chamou a atenção para a sala, e então Beethoven inclinou-se diante do público que o aplaudia.
E agora faço uma proposta ousada a quem me lê e que sei não vai ser seguida por quase ninguém; a proposta é que arranjem um bocadinho do vosso tempo e que oiçam esta versão da "nona".
É muito tempo? Sim, é algum, mas é tão arrebatador e ao mesmo tempo tão relaxante que será tudo menos entediante. Vá lá, não custa nada...
Sinfonia nº 9 “Ode à Alegria”, de Beethoven
Soprano: Anna Samuil
Mezzo-soprano: Waltraud Meier
Tenor: Michael König
Baixo: René Pape
Coro Nacional da Juventude da Grã-Bretanha
West-Eastern Divan Orchestra
Maestro: Daniel Barenboim
Tinha nascido em Bona, na Alemanha, no dia 16 de Dezembro de 1770.
Hans von Bülow refere-se a Beethoven como um dos "três Bs da música" (os outros dois seriam Bach e Brahms), considerando as suas 32 sonatas para piano como o Novo Testamento da música.
Ludwig nunca teve estudos muito aprofundados, mas sempre revelou um talento excepcional para a música. Com apenas oito anos de idade, foi confiado a Christian Gottlob Neefe, o melhor professor de cravo da cidade, que lhe deu uma formação musical sistemática, e lhe deu a conhecer os grandes mestres da música alemã.
Neefe afirmava que o seu aluno, de dez anos, dominava todo o repertório de Johann Sebastian Bach, e apresentava-o, orgulhosamente, como um segundo Mozart.
Existem especulações históricas sobre um provável encontro entre Beethoven e Mozart, mas não existe nenhum facto histórico que o possa comprovar. No entanto, existem histórias do seu encontro, como por exemplo, uma que refere um Mozart absorto no seu trabalho, na composição de Don Giovanni, que não terá tido tempo de lhe prestar a devida atenção. Uma outra, bem mais interessante, refere um encontro em que Mozart terá dito acerca de Beethoven: "Não o percam de vista, um dia há-de dar que falar."
Beethoven demonstrou genialidade em praticamente todas as obras que compôs. E foram muitas, entre sinfonias, concertos, quartetos, trios, sonatas, não esquecendo uma ópera.
No ano em que morreu, ainda conseguiu compor cerca de 44 obras musicais.
A sua influência na história da música foi imensa.
Ao morrer, a 26 de Março de 1827, estava a trabalhar numa nova sinfonia e projectava escrever um Requiem.
Conta-se que cerca de dez mil pessoas compareceram no seu funeral, entre elas,Franz Schubert. Ludwig van Beethoven faleceu de cirrose hepática, após contrair pneumonia.
A sua obra-prima, na opinião de muitos, foi a Sinfonia nº 9 em ré menor, Op.125.
Pela primeira vez é inserido um coral num andamento de uma sinfonia.
O texto é uma adaptação do poema de Friedrich Schiller, "Ode à Alegria", feita pelo próprio Beethoven. Otto Maria Carpeaux, na sua obra “Uma Nova História da Música”, afirma que Beethoven assistiu à primeira apresentação pública da sua 9ª Sinfonia, ao lado de Umlauf, que a regeu, mas abstraído na leitura da partitura e já com uma surdez avançada, não percebeu que estava a ser ovacionado até que Umlauf, tocando-lhe no braço, lhe chamou a atenção para a sala, e então Beethoven inclinou-se diante do público que o aplaudia.
E agora faço uma proposta ousada a quem me lê e que sei não vai ser seguida por quase ninguém; a proposta é que arranjem um bocadinho do vosso tempo e que oiçam esta versão da "nona".
É muito tempo? Sim, é algum, mas é tão arrebatador e ao mesmo tempo tão relaxante que será tudo menos entediante. Vá lá, não custa nada...
Sinfonia nº 9 “Ode à Alegria”, de Beethoven
Soprano: Anna Samuil
Mezzo-soprano: Waltraud Meier
Tenor: Michael König
Baixo: René Pape
Coro Nacional da Juventude da Grã-Bretanha
West-Eastern Divan Orchestra
Maestro: Daniel Barenboim
domingo, 31 de março de 2013
Running with Scissors
Baseado nas memórias pessoais de Augusten Burroughs, “Running with Scissors” é uma história mordaz e divertida, corajosa e tocante sobre sobreviver a uma infância absolutamente estranha.
Realizado por Ryan Murphy em 2006, recebeu em Portugal o nome de “Recortes da minha vida” e penso que tenha sido exibido comercialmente.
A mãe de Augusten (Annette Bening) é uma mulher de personalidade bipolar com aspirações frustradas de vir a ser poeta, cujo casamento com o seu pai (Alec Baldwin) está à beira da ruína. Pouco depois ela é acompanhada por um excêntrico psicólogo, o Dr.Finch (Brian Cox), enquanto Augusten (Joseph Cross) é deixado a cargo da peculiar família deste, incluindo uma filha muito reservada (Gwineth Paltrow). Abandonado pelos seus paise adoptado pelos Finch, ele descobrirá grandes afinidades com a filha mais nova, Natalie (Evan Rachel Wood) e uma figura maternal na sofredora mulher de Finch, Agnes (Jill Clayburgh).Registando constantemente os acontecimentos da sua vida no seu diário, como forma de os enfrentar, Augusten dá por si a rejeitar a escola, a aprender o significado do amor com um homem mais velho (Joseph Fiennes) e a ter de tomar grandes decisões apenas com 15 anos.
Apenas vi este filme agora, após ter lido o livro, com o mesmo nome do escritor americano Augusten Burroughs
o qual muito me entusiasmou e quando soube que havia um filme baseado no livro, apressei-me a arranjá-lo e vê-lo, embora soubesse à partida que essa adaptação ficaria como ficou bastante aquém do livro. Para quem não leu o livro, o filme é à mesma bom, mas é muito difícil transpor para imagens toda a trama do livro e o que mais me “incomodou” é que o filme é sempre muito mais “dramático” do que o livro, que tem partes até bastante divertidas; também seria impossível desenvolver mais algumas das personagens, quer das faladas aqui quer de outras que nem menciono. Aceito até que o filme por si só, pareça algo confuso a quem não leu o livro. As interpretações são brilhantes num cast muito equilibrado, e que tem em Annete Bening, Brian Cox e Jill Claybourgh os melhores desempenhos, embora todos os outros estejam muito bem.
Auguste Burroughs é um autor que me está a agradar sobremaneira. Este é o segundo livro que li dele, sendo o primeiro “Efeitos Secundários”. Deveria ter lido este “Correr com tesouras” em primeiro lugar, pois teria ainda gostado mais de “Efeitos Secundários”, embora não haja uma relação directa entre ambos; mas como este livro é uma colectânea de pequenas e muito divertidas histórias, se eu conhecesse a infância e juventude de Augusten em primeira mão ainda teria gostado mais.
A seguir a “Correr com tesouras”, Burroughs escreveu “ A Seco”
em que fala do seu alcoolismo já em Nova York, ao qual se seguiu “Pensamento
mágico”. Só depois deste escreveu “Efeitos Secundários” e finalmente, apareceu
um dos seus mais celebrados livros “ À mesa com o lobo” que poderá ser
considerado uma prequela de “Correr com Tesouras”, em que ele descreve o seu
relacionamento com o seu problemático pai.
Talvez uma das razões porque me agrada tanto este autor seja
por todos os seus livros o terem a si próprio como centro das histórias, muito
no estilo que eu prefiro nos meus pequenos escritos.
quinta-feira, 28 de março de 2013
Privatize-se
«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno de olhos abertos.
E finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional.
Aí se encontra a salvação do mundo…e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos.»
José Saramago – Cadernos de Lanzarote – Diário III – pag. 148
E finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional.
Aí se encontra a salvação do mundo…e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos.»
José Saramago – Cadernos de Lanzarote – Diário III – pag. 148
quarta-feira, 27 de março de 2013
"A borboleta" ou o reverso da medalha
Cada vez mais fico mais convencido da importância dos comentários; mais uma vez um comentário me trouxe à memória um certo acontecimento e o que é curioso é que apenas relacionei esse acontecimento com o que relatei no post anterior, mas agora num campo oposto. O "intruso" fui eu e apenas não houve qualquer alusão monetária em todo o contexto.
É curioso que eu já publiquei este conto (em 6 de Março de 2009), que escrevi para participar no primeiro concurso que o Sad Eyes promoveu, ainda no seu anterior blog "Uma imensa minoria" e a que ele deu como mote para as participações o tema "blind date". Esse concurso decorreu durante o mês de Janeiro de 2007, teve participações muito interessantes e seria curioso que, se por acaso alguém participou nesse concurso , deixasse essa participação no blog que tem, embora à distância me pareça pouco provável que ainda ande pela blogosfera algum desses participantes.
Mas aqui vai o conto, a que dei o título de "A Borboleta"
Foi numa sauna já desaparecida desta Lisboa que o vi.
Era lindo,sedutor, diferente.
A sauna estava cheia, a fauna habitual, que ao ver "sangue novo", se excita e se prepara para atacar a presa. O homem, trintão, ar estrangeirado, ia deambulando pelos espaços, e um bando de vampiros o seguia, sequioso.
Deixei-me ficar, observando a cena, mas tão excitado como os demais.
Alguns minutos mais tarde, o homem, visivelmente agastado, dirigiu-se ao sítio dos cacifos, para se vestir e sair.
Fui mais rápido, agi prontamente e saí primeiro.
Não o esperei cá fora; uma estranha intuição me dizia que seria de uma companhia de aviação, e provavelmente estaria hospedado no Sheraton (intuição de puta, dirão...).
Para lá me dirigi e não tive que esperar muito tempo para ver parar um táxi que o trazia.
Sorri-lhe, sorriu-me, entrámos, subimos ao seu quarto sem uma palavra e pude ver tatuada na sua nádega direita uma pequeníssima e bela borboleta.
Não sei do que mais gostei, se da borboleta, se do seu habitat.
Era manhã, quando deixei a borboleta voar.
É curioso que eu já publiquei este conto (em 6 de Março de 2009), que escrevi para participar no primeiro concurso que o Sad Eyes promoveu, ainda no seu anterior blog "Uma imensa minoria" e a que ele deu como mote para as participações o tema "blind date". Esse concurso decorreu durante o mês de Janeiro de 2007, teve participações muito interessantes e seria curioso que, se por acaso alguém participou nesse concurso , deixasse essa participação no blog que tem, embora à distância me pareça pouco provável que ainda ande pela blogosfera algum desses participantes.
Mas aqui vai o conto, a que dei o título de "A Borboleta"
Foi numa sauna já desaparecida desta Lisboa que o vi.
Era lindo,sedutor, diferente.
A sauna estava cheia, a fauna habitual, que ao ver "sangue novo", se excita e se prepara para atacar a presa. O homem, trintão, ar estrangeirado, ia deambulando pelos espaços, e um bando de vampiros o seguia, sequioso.
Deixei-me ficar, observando a cena, mas tão excitado como os demais.
Alguns minutos mais tarde, o homem, visivelmente agastado, dirigiu-se ao sítio dos cacifos, para se vestir e sair.
Fui mais rápido, agi prontamente e saí primeiro.
Não o esperei cá fora; uma estranha intuição me dizia que seria de uma companhia de aviação, e provavelmente estaria hospedado no Sheraton (intuição de puta, dirão...).
Para lá me dirigi e não tive que esperar muito tempo para ver parar um táxi que o trazia.
Sorri-lhe, sorriu-me, entrámos, subimos ao seu quarto sem uma palavra e pude ver tatuada na sua nádega direita uma pequeníssima e bela borboleta.
Não sei do que mais gostei, se da borboleta, se do seu habitat.
Era manhã, quando deixei a borboleta voar.
segunda-feira, 25 de março de 2013
Num hotel de Atenas...
Nunca na vida andei obcecado por nada ou por ninguém.
No que diz respeito às pessoas com quem tive relacionamentos, nunca as procurei deliberadamente, embora sempre estivesse receptivo a eventuais encontros que pudessem levar a compromissos futuros duráveis; assim, tive alguns relacionamentos, não muitos e todos eles quando acabaram, foi sem azedume e mantendo relações cordiais com as pessoas em causa.
Também esse tipo de atitude foi marcante nos meus encontros sexuais e embora em certas alturas frequentasse sítios de eventual engate, não ia desesperadamente à procura disso; se acontecia, tudo bem, se não, não acabava o mundo.
Mas o que fui, foi sempre muito directo quando as situações aconteciam: matava-os com os olhos e nunca os deixava com dúvidas, mas gostava muito daquele jogo de sedução que levava ao epílogo…sexual.
O exemplo que agora vou contar, insere-se nesse tipo de jogo, mas teve um desfecho bastante original e faz parte de muitas situações incríveis que me foram acontecendo ao longo da vida; como já disse, quando uma oportunidade surgia, aí sim, eu não a deixava perder e assim tive contactos com gente muito interessante e em circunstâncias variadíssimas.
Mas, vamos à história:
estava eu em Atenas, nesta célebre viagem que acabei de relatar, quando certa noite, não demasiado tarde, e depois de ter andado a deambular pela Plaka (uma espécie de Bairro Alto lá do sítio), resolvi ir dormir; o hotel não era longe e resolvi ir a pé.
A um dado momento reparei que havia um rapaz, bastante interessante que me seguia. Não aparentava qualquer perigo, pelo que me fiz ao jogo: paro aqui, ele para ali, e lá fomos andando, sem uma palavra, ele sempre atrás de mim.
Chegado ao hotel, um hotel pequeno, (mas pelo que se seguiu depreendo que muito liberal), dirigi-me à recepção e pedi a chave do meu quarto e quando me dirigia para o elevador, reparei que o rapaz entrara no hotel e se dirigiu também para os elevadores, tendo, sempre sem uma palavra, subido comigo.
Claro que não havia qualquer dúvida e assim chegado à porta do quarto finalmente lhe perguntei (como se houvesse dúvidas…) se queria entrar?
E claro que entrou e aconteceu aquilo que aqui omito, como é normal, apenas dizendo que foi muito bom… Depois disso, o rapaz começou a vestir-se para se ir embora e eu estva sentado na cama, apenas de sleep, à espera que ele se fosse para tomar um duche e dormir.
,Qual o meu espanto quando o vi sacar da carteira e deixar uma nota em cima de um móvel perto da porta; levantei-me da cama e ia aproximar-me dele, quando ele abriu a porta e começou a correr, corredor fora; não ia com certeza correr atrás dele quase nu, hotel abaixo…
Fiquei a olhar para nota que não era assim tão pequena, e acabei por rir.
Ali a deixei, fui tomar banho e já estava a adormecer quando ouvi alguém a bater à porta.
Fui abrir e era outro rapaz ainda mais interessante que o primeiro, com uma nota na mão!!!
Em inglês disse-me que o amigo tinha gostado muito e ele também queria…
Eu não acreditava que aquilo se estivesse a passar comigo.
Fui buscar a nota que o outro tinha deixado, entreguei-lhe essa nota e disse-lhe para a devolver ao amigo, para guardar a dele, mas disse-lhe também para entrar…é evidente!
O resto deixo à vossa perversa imaginação..........
No que diz respeito às pessoas com quem tive relacionamentos, nunca as procurei deliberadamente, embora sempre estivesse receptivo a eventuais encontros que pudessem levar a compromissos futuros duráveis; assim, tive alguns relacionamentos, não muitos e todos eles quando acabaram, foi sem azedume e mantendo relações cordiais com as pessoas em causa.
Também esse tipo de atitude foi marcante nos meus encontros sexuais e embora em certas alturas frequentasse sítios de eventual engate, não ia desesperadamente à procura disso; se acontecia, tudo bem, se não, não acabava o mundo.
Mas o que fui, foi sempre muito directo quando as situações aconteciam: matava-os com os olhos e nunca os deixava com dúvidas, mas gostava muito daquele jogo de sedução que levava ao epílogo…sexual.
O exemplo que agora vou contar, insere-se nesse tipo de jogo, mas teve um desfecho bastante original e faz parte de muitas situações incríveis que me foram acontecendo ao longo da vida; como já disse, quando uma oportunidade surgia, aí sim, eu não a deixava perder e assim tive contactos com gente muito interessante e em circunstâncias variadíssimas.
Mas, vamos à história:
estava eu em Atenas, nesta célebre viagem que acabei de relatar, quando certa noite, não demasiado tarde, e depois de ter andado a deambular pela Plaka (uma espécie de Bairro Alto lá do sítio), resolvi ir dormir; o hotel não era longe e resolvi ir a pé.
A um dado momento reparei que havia um rapaz, bastante interessante que me seguia. Não aparentava qualquer perigo, pelo que me fiz ao jogo: paro aqui, ele para ali, e lá fomos andando, sem uma palavra, ele sempre atrás de mim.
Chegado ao hotel, um hotel pequeno, (mas pelo que se seguiu depreendo que muito liberal), dirigi-me à recepção e pedi a chave do meu quarto e quando me dirigia para o elevador, reparei que o rapaz entrara no hotel e se dirigiu também para os elevadores, tendo, sempre sem uma palavra, subido comigo.
Claro que não havia qualquer dúvida e assim chegado à porta do quarto finalmente lhe perguntei (como se houvesse dúvidas…) se queria entrar?
E claro que entrou e aconteceu aquilo que aqui omito, como é normal, apenas dizendo que foi muito bom… Depois disso, o rapaz começou a vestir-se para se ir embora e eu estva sentado na cama, apenas de sleep, à espera que ele se fosse para tomar um duche e dormir.
,Qual o meu espanto quando o vi sacar da carteira e deixar uma nota em cima de um móvel perto da porta; levantei-me da cama e ia aproximar-me dele, quando ele abriu a porta e começou a correr, corredor fora; não ia com certeza correr atrás dele quase nu, hotel abaixo…
Fiquei a olhar para nota que não era assim tão pequena, e acabei por rir.
Ali a deixei, fui tomar banho e já estava a adormecer quando ouvi alguém a bater à porta.
Fui abrir e era outro rapaz ainda mais interessante que o primeiro, com uma nota na mão!!!
Em inglês disse-me que o amigo tinha gostado muito e ele também queria…
Eu não acreditava que aquilo se estivesse a passar comigo.
Fui buscar a nota que o outro tinha deixado, entreguei-lhe essa nota e disse-lhe para a devolver ao amigo, para guardar a dele, mas disse-lhe também para entrar…é evidente!
O resto deixo à vossa perversa imaginação..........
quarta-feira, 20 de março de 2013
Viagens - 7 - (parte 3)
Depois do sucedido e que teve o seu epílogo em Belgrado, e
em virtude do dinheiro que a embaixada me disponibilizou para chegar a casa ser
muito limitado, era avisado que fizesse o trajecto de volta, o mais directo possível e
também o mais rápido.
Mas, nos meus planos iniciais estavam duas paragens mais
programadas para o regresso: a adiada visita a Marselha e a mais que ansiada
deslocação a Veneza.
Se me foi fácil prescindir de Marselha
até pela fraca
impressão que fiquei durante as poucas horas que ali estive à vinda e que não
passei das cercanias da estação, já a Veneza era difícil resistir
E assim, lá vou eu, confiando que o dinheiro esticaria…
E assim, lá vou eu, confiando que o dinheiro esticaria…
Aluguei
um quarto em Mestre, do outro lado da grande ponte que liga Veneza ao
continente e fui conhecer a cidade; claro que fiquei rendido e com pena de não
poder estar mais que um tempo reduzido.
Calhou que quando estava a gastar umas
moedas numa sandoca e num sumo, num barzito, ouvisse falar português – era uma
família de Coimbra, pai, mãe e dois filhos menores e claro que fui falar com
eles. Conversa aqui, conversa ali, falou-se do sucedido comigo, do roubo, blá
blá blá e quando me despedi deles só sabia que tinha mais uns cobres para as
despesas, e não foi uma ajuda pequenina…
Como sou meio maluco e um Carneiro
retinto, não consigo resistir a certos impulsos e até de gôndola andei!
Enfim, Veneza ficou razoavelmente vista e lá segui destino, sempre viajando de noite.
Enfim, Veneza ficou razoavelmente vista e lá segui destino, sempre viajando de noite.
Desta vez fui mesmo sem mais paragens além das
necessárias para ir apanhando os comboios devidos.
E foi já em Madrid, numa estação ferroviária, que salvo erro
era a do Padre Pio, quando estava numa grande seca (de horas), à espera do
comboio a que o bilhete dava direito, reparei que havia um outro em direcção à
fronteira portuguesa que partiria dali a 40 minutos.
Mas o problema é que era
um comboio que se eu o utilizasse teria de pagar uma taxa suplementar pois era
muito mais rápido (ainda não havia TGV’s, mas já havia comboios com taxas de
velocidade).
Assim, lá vou eu, (que vergonha…) de mão estendida para a fila da bilheteira com aquele velho cliché do “dê-me lá uma ajuda para poder apanhar este comboio…”
Assim, lá vou eu, (que vergonha…) de mão estendida para a fila da bilheteira com aquele velho cliché do “dê-me lá uma ajuda para poder apanhar este comboio…”
Claro que consegui o dinheiro e lá venho eu na direcção de Portugal.
Quis o destino (?) que no meu compartimento viajasse uma senhora um pouco
mais idosa que eu - vá lá, uma “balzaquiana", pronto - e lá desbobinei mais uma
vez a minha “história do desgraçadinho”, e eu a ver que a senhora me comia com
os olhos…
A dita balzaquiana ia para Salamanca e lá arranjou maneira de me
chamar ao corredor e com um sorriso do tamanho da boca da Manuela Moura Guedes,
me passou dissimuladamente para a mão, quinhentas (…) pesetas, dizendo que tinha
de se despedir de mim ali, pois o marido a esperava na estação e dando-me um
cartão de visita com o telefone, para numa eventual próxima visita minha a
Salamanca, cidade onde ia com frequência pois dista apenas 200 quilómetros da
Covilhã, a visitar...
Conclusão cheguei à Guarda onde os meus Pais me esperavam com algum dinheirito, ainda…
Bem, quando lhes contei os episódios desta última parte da viagem, os meus Pais ficaram envergonhados pelas minhas figuras, e com aquelas coisas “não foi esta a educação que te demos", etc. e tal.
Conclusão cheguei à Guarda onde os meus Pais me esperavam com algum dinheirito, ainda…
Bem, quando lhes contei os episódios desta última parte da viagem, os meus Pais ficaram envergonhados pelas minhas figuras, e com aquelas coisas “não foi esta a educação que te demos", etc. e tal.
Mas, ao fim e ao cabo, eu não enganei ninguém, que diabo, só
fiz render o meu peixe.
Vergonha disso?
Muito ligeira e uma enorme satisfação
de concluir que afinal tinha e mantenho uma enorme capacidade de desenrascanço.
Foi realmente uma viagem em que vi muita coisa, conheci
muita gente, me aconteceram coisas bastante “esquisitas”, mas com a qual aprendi
muitíssimo.
sábado, 16 de março de 2013
"Un Chant d'Amour"
“Un Chant d’Amour” é o único filme do escritor francês Jean Genet, que o dirigiu em 1950.
Por causa do seu explícito conteúdo homossexual (embora apresentado sob um ponto de vista artístico), este filme de cerca de 25 minutos esteve proibido até 1975.
A história passa-se numa prisão francesa, onde um dos guardas prisionais tem como prazer voyeurístico, observar pelo óculo da porta das celas, os prisioneiros a masturbarem-se.
Em duas celas contíguas, estavam dois prisioneiros; um, jovem e bonito e um outro, argelino, mais velho; este enamorou-se do mais jovem através de sons trocados entre ambos na parede comum ás duas celas e chegavam a partilhar o fumo de cigarros por um pequeno buraco que conseguiram fazer nessa parede.
O guarda, aparentemente ciumento deste relacionamento, entra na cela do prisioneiro mais velho e agride-o e obriga-o a chupar o cano da sua pistola, de uma forma quase sexual, o que o leva a imaginar fantasias entre ambos, mesmo como se estivessem livres.
Na cena final, muito bela, torna-se bem claro que o poder do guarda é insuficiente para contrariar a intensidade da atracção entre os dois prisioneiros, embora eles não cheguem a consumar essa atracção física.
Genet não utilizou qualquer som neste filme, forçando o espectador a focar a sua atenção nos “close up’s” dos rostos, das axila e dos pénis semi erectos.
Considerado de início um filme pornográfico, este filme com uma alta atmosfera sexual, foi mais tarde reconhecido como formativo para posteriores obras cinematográficas, como por exemplo os filmes de Andy Wharol.
Por causa do seu explícito conteúdo homossexual (embora apresentado sob um ponto de vista artístico), este filme de cerca de 25 minutos esteve proibido até 1975.
A história passa-se numa prisão francesa, onde um dos guardas prisionais tem como prazer voyeurístico, observar pelo óculo da porta das celas, os prisioneiros a masturbarem-se.
Em duas celas contíguas, estavam dois prisioneiros; um, jovem e bonito e um outro, argelino, mais velho; este enamorou-se do mais jovem através de sons trocados entre ambos na parede comum ás duas celas e chegavam a partilhar o fumo de cigarros por um pequeno buraco que conseguiram fazer nessa parede.
O guarda, aparentemente ciumento deste relacionamento, entra na cela do prisioneiro mais velho e agride-o e obriga-o a chupar o cano da sua pistola, de uma forma quase sexual, o que o leva a imaginar fantasias entre ambos, mesmo como se estivessem livres.
Na cena final, muito bela, torna-se bem claro que o poder do guarda é insuficiente para contrariar a intensidade da atracção entre os dois prisioneiros, embora eles não cheguem a consumar essa atracção física.
Genet não utilizou qualquer som neste filme, forçando o espectador a focar a sua atenção nos “close up’s” dos rostos, das axila e dos pénis semi erectos.
Considerado de início um filme pornográfico, este filme com uma alta atmosfera sexual, foi mais tarde reconhecido como formativo para posteriores obras cinematográficas, como por exemplo os filmes de Andy Wharol.
quinta-feira, 14 de março de 2013
Viagens - 7 - (parte 2)
Portanto, o regresso, com paragens programadas para
Belgrado, Veneza e Marselha, iniciou-se com uma longa viagem nocturna de Atenas
para Belgrado; era um comboio daqueles com compartimentos para oito pessoas,
quatro de cada lado
e preparamos-mos para dormir, (os bancos deslizavam e
permitiam-nos dormir estendidos, mas com um conforto muito relativo).
Naquela
altura usavam-se as “pochetes”, onde se metiam as coisas mais pequenas e
necessárias, e eu lá tinha a minha, onde guardava os documentos, o bilhete do
comboio, o dinheiro e quaisquer outros objectos fundamentais (ainda não havia
telemóveis, nem cartões de crédito nem outras “modernices”).
Eu viajava com um
saco com roupa, pouca, apenas o essencial e essa pochete, que inadvertidamente
deixei junto ao saco, em cima, na prateleira para as bagagens, em vez de a
guardar comigo, enquanto dormia.
O comboio ia fazendo algumas paragens, e as pessoas abriam a
porta do compartimento para ver se havia algum lugar vago e voltavam a fechar;
claro que dormindo, ouvíamos esse barulho, mas nem ligávamos.
O que é um facto, é que ao chegar a Belgrado, pelas seis da
manhã, o saco estava lá, mas a pochete alguém a tinha levado (estava mesmo à
mão de semear…).
E assim me vi na estação de Belgrado,
indocumentado, teso e sem
bilhete para seguir viagem (o bilhete era Covilhã/Atenas/Covilhã e mencionava
as cidades que eu tinha planeado visitar, e tinha uma duração de cerca de dois
meses).
Recordo-me tão bem de tudo, como se passou, em Belgrado
quando cheguei : um gabinete da Polícia ainda dentro da gare, onde me dirigi,
para lhes pedir que me ficassem com o saco e me ajudassem a procurar a
embaixada portuguesa.
Mas ninguém falava inglês e o diálogo tornou-se
impossível, só os ouvia repetir “Portugália, Portugália” e não acederam a
guardar o saco.
Claro que junto a uma gare principal de uma grande cidade há
sempre algum hotel, e vi logo um, mesmo em frente, um hotel pequeno, mas alguém
devia falar inglês…
Para lá me dirigi e o recepcionista – rapaz novo e falando
mais ou menos inglês, foi de uma imensa simpatia: acedeu a guardar-me o saco,
deu-me uma planta da cidade e mostrou-me onde era a embaixada (longe, longe
dali) e dizia-me que devia tomar o autocarro tal até certo sítio e daí um outro
até lá.
Simplesmente eu não tinha dinheiro e disse-lhe que ia a pé, até porque
tinha muito tempo até a embaixada abrir; que não, era longe, devia apanhar o 83
(agora sei que o primeiro autocarro era esse porque conheço bem a zona) e
depois o outro e não passava disto. E foi quando me estendeu uma nota de alguns
dinares para os bilhetes (ele não me conhecia, mas até lá ficava o saco, pelo
que ele confiava em mim).
Lá apanhei os autocarros e realmente eram uns quilómetros
para lá chegar (Belgrado tem uma avenida com 8 quilómetros).
Enfim cheguei ao
edifício da embaixada, muito pobrezinha, diga-se de passagem, muito cedo e
sentei-me por ali à espera que abrissem no horário estabelecido; quando tal
aconteceu, subi umas escadas e deparou-se uma moça, louraça bem ao estilo
eslavo e eu com um “bom dia” bem português que ela não entendeu; vá lá que
falava inglês, e lá lhe expliquei a minha triste situação.
Levou-me à presença de um senhor, mais ou menos da minha
idade –jovem portanto – português que me pediu para lhe relatar a situação. Eu
sabia que na altura o embaixador português na Jugoslávia era o escritor Álvaro
Guerra, pessoa conhecida e cujo cargo era apenas político, pois não era da
carreira diplomática.
Não estava à espera de ser recebido por ele,
naturalmente, mas o individuo era alguém importante lá na embaixada e ouviu-me
bem e depois começou uma conversa simpática, de onde eu era, onde tinha
estudado, isto e mais aquilo e concluímos que tínhamos frequentado Económicas
(ISCEF) nos mesmos anos, embora não nos conhecêssemos pessoalmente , mas tínhamos
conhecimentos comuns, de algumas pessoas que até ocupavam lugares de destaque
na altura, em Portugal.
Isto para dizer que o homem me pôs completamente à
vontade, me disse que aquela conversa tinha como fim saber se a minha história
era verdadeira ou não e que iria tratar de imediato de me arranjar um novo
passaporte com a validade de 15 dias, mais que suficiente para chegar a
Portugal, um bilhete de comboio até à Covilhã e me disponibilizaria algum
dinheiro para eu aguentar a viagem de regresso.
Claro que o bilhete indicava
Veneza e Marselha como eventuais paragens, mas eu não acreditava que pudesse
visitar essas cidades, naquelas condições. Quando eu, chegado a Portugal
liquidasse o empréstimo do dinheiro emprestado e do preço do bilhete, podia
arranjar um novo passaporte normal aqui.
Entretanto e como aquilo ia demorar
umas horas, o homem, super simpático convidou-me a tomar o pequeno almoço com
ele, num hotel que ainda hoje existe e que no momento era um dos melhores – o Slavia
– no centro da cidade e que na altura era quase só para pessoal diplomático.
Tito tinha morrido havia três meses e a
Jugoslávia era um país comunista, apenas um pouco afastado da ortodoxia soviética.
Foi um dos melhores pequeno almoços que
já tive e a companhia foi excelente.
Enfim, uma horas mais tarde, com documentos, bilhete e algum
dinheiro, regressei ao hotel onde deixara o saco e lá fiquei hospedado duas
noites, pois não quis deixar de visitar Belgrado.
Esta história é para mim muito importante, pois foi o meu
primeiro encontro com uma cidade que tantos anos depois se tornou uma das que
mais amo, por razões que toda a gente conhece.
Na altura, fiquei com uma noção
de uma cidade cheia de contrastes, mesmo a nível do povo, mas não podemos esquecer
o contexto político da época – 1980 e o facto do líder carismático de quase
quarenta anos de poder ter morrido havia três meses.
Pouco mais visitei que a
zona central da cidade, mas recordo perfeitamente alguns locais, que depois
revisitei, como é óbvio.
Pela primeira vez estava num país comunista e em que
era muito difícil a comunicação, já que muito pouca gente falava inglês, já que
a segunda língua depois do servo-croata era o russo e depois o alemão, e eu
dessas não percebia, nem percebo patavina.
Dois dias depois lá estava na velha gare de Belgrado (bem precisa
de reforma urgente) a apanhar o comboio na direcção de Veneza; será que iria
parar lá para visitar um dos sítios mais emblemáticos da minha programação?
É o que vamos saber na terceira e última parte desta viagem
memorável…
E está prometido um episódio à parte para “aquela noite num
hotel de Atenas”…
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