Agora que os membros estão rígidos
e o sangue se faz pedra nas veias.
Agora que o encéfalo se esboroa
e destaca das secas meninges
esverdeadas.
Agora que a carne balofa
visita a dureza
do basalto
e os intestinos dilatam
ao inchaço azul de não expelidos
excrementos.
Agora que a necessária morte exacta
o invadiu
desde o cerne das unhas
pesa mais
em nossos ombros dobrados,
já cadáver.
Pesa
em nós sua elefantíase
de cadáver gordo
tornado inúteis pirâmedes
de Gizeh,
enquanto
ácidos ventos do deserto
anunciam
a chegada dos bichos da terra.
(Notícia 1, in “Memória Consentida”, de Rui Knopfli)
Depois de um ano de 2009 terrível, com o desaparecimento de pessoas, familiares e amigas, que me trouxeram dor e tristeza, esperaria com alguma legitimidade um ano mais calmo, nesses aspectos. Mas a realidade tem sido diferente, desde a calamidade que varreu quase um país do mapa, até à inesperada notícia desta manhã, crua e dura: o Alfredo, meu companheiro de infância na Covilhã, meu colega de estudos e divertimento na Lisboa universitária, meu Amigo de sempre, faleceu esta madrugada de súbita paragem cardíaca: tinha um ano mais que eu...
Pergunto a mim próprio se entrei já no ciclo dos anos consecutivamente maus e se não serei eu a partir um dia destes...
Para ti, Amigo Alfredo, onde quer que estejas um abraço já saudoso.
João,
ResponderEliminarA vida é feita de momentos, uns bons e que nos enchem de alegria e outros como o que estás a passar. É a lei da vida, nada podemos fazer. Claro que, com o avançar da idade, a probabilidade de falecerem pessoas da "nossa geração" aumenta; novamente a lei da vida.
Um dia seremos nós...
Mas enquanto esse dia não chega há que aproveitar!!!
Abraço
Tong
ResponderEliminareu sei disso, e sei que todos passamos por isso; mas custa muito ter um choque assim, e só é atenuado por se supor que foi uma morte não sofrida, a não ser para quem o perdeu, principalmente a mulher e os filhos.
E também sei que essa probabilidade de que falas é lógica.
Só uma achega: a mãe do Alfredo ainda é viva, tem mais de 90 anos...
Abraço grande.
Meus sentimentos, querido.
ResponderEliminarEm 2008, faleceu um dos irmãos do meu pai. No final do ano passado, outro. Por este eu fiquei muito triste, pois tinha bastante proximidade. Há certas pessoas que fazem muita, muita falta.
Nãaaao, você não pode ir tão cedo! Temos que nos conhecer, primeiro! LOL... Se bem que vai demorar um tempão até eu poder ir a Portugal :-(
Fica bem, tá?
Beijos!
Olá Gigi
ResponderEliminarobrigado pelas tuas palavras; a morte, apesar de certa é sempre um passo que nos custa compreender e quando parte alguém que nos diz muito, é inevitável o sentimento de revolta e injustiça.
Beijinho.
Parece que 2009 foi um ano mau para a maioria, estando eu incluído, mesmo no sentido da perda. Ainda que a morte seja a única coisa que temos como garantida desde que nascemos, não podes pensar assim. É que para pessimista já basto eu! :)
ResponderEliminarO meu pesar, João
Forte abraço
Como te compreendo, os meus amigos de sempre começaram a diminuir, e não foi porque deixassemos de ser amigo...
ResponderEliminarAbracinho
Caro, meus pêsames.
ResponderEliminarEu sei que nesses momentos nenhuma palavra te conforta.
Mais infelizmente na vida há momentos de tristeza.
Não fique triste por achar que logo será você , apenas viva !
beijos.
Sei que o que vou dizer é fácil de dizer mas:
ResponderEliminar1- Não chores porque partiu, sorri porque o conheceste.
2- Alguém está livre de partir um dia destes?!
Abraço e força :)
pois é... Tem a Gigi e eu ainda pra te conhecer pessoalmente, te abraçar e te dar um beijinho. Fica bem, João querido.
ResponderEliminarQuerido,
ResponderEliminara verdade é que, como já dizia Vinícius de Moraes, "a gente não nasce, começa a morrer".
Estamos todos na fila.
E esse poeta/ compositor cantava também:
" e a coisa mais bonita que há no mundo, é viver cada segundo
como nunca mais..."
É o que nos cabe: sorver cada gota de felicidade como se o "copo" estivesse prestes a acabar.
bjs e fica bem, em paz e com calma.
Luís
ResponderEliminarna véspera de receber esta notícia, acordei de um pesadelo terrível, o qual só relatei ao Déjan; dado o que ontem aconteceu foi fácil associar os dois factos e pensar em conclusões algo pessimistas.
Abraço amigo.
Maria Teresa
ResponderEliminarclaro, quando se começa a "descer o monte", é muito mais fácil verificar o desaparecimento quer de familiares quer de amigos.
Beijinho.
Bea
ResponderEliminarpor vezes, mais que a tristeza há a revolta, principalmente quando acontecem assim as coisas, de uma forma fulminante.
Obrigado pelo apoio.
Beijinho.
Ruy
ResponderEliminaré evidente que estou de acordo, mas ainda custa a acreditar, está tudo ainda demasiado a "quente"...
Daqui a uns dias quero continuar a acreditar na alegria de viver.
Abraço grande.
Edu
ResponderEliminarespero bem que sim, que haja tempo para isso.
Obrigado pelo teu ânimo.
Beijito.
Gentil carioca
ResponderEliminaré reconfortante ouvir essas palavras tão acertadas desse grande homem que foi Vinícius...
Obrigado.
Beijinho.
Amigo João
ResponderEliminarUm abraço muito sentido pela perda desse teu grande amigo. Nada de pessimismos, e quando tivermos de partir, bem, partiremos, é o que temos de mais certo. Já te adicionei...Amigo.
Abração.
Força e um beijinho grande.
ResponderEliminarFicam sempre juntos... porque o amor e a memória são mais fortes.
Não penses nisso porque não vale a pena. A morte é sempre inesperada e desde que nascemos que estamos sujeitos a ela.
ResponderEliminarJoão,
ResponderEliminarSinto muito pela morte do teu amigo. Estes momentos fazem-nos sempre questionar o nossa própria longevidade, principalmente quando as mortes, são inesperadas. Os que sobrevivem, vão sempre vendo as outras pétalas caírem prematuramente... Um grande beijinho para ti neste dia necessariamente triste
A relatividade das coisas, a efemeridade da vida sempre esteve aí, no entanto a juventude leva-nos a encarar com leveza e comentários de circunstância, e ainda bem, essa inevitabilidade. A idade vai-nos aproximando vertiginosamente da verdade, e depois já é quase palpável, porque estamos demasiado alerta para tudo o que acontece à nossa volta, os nossos avós, os nossos pais, os nossos amigos até ao dia que seremos nós. Sinto-me muito como tu perante tudo isto. Impotente, expectante..
ResponderEliminarBeijos
Carlos
ResponderEliminarHá um ano atrás, estava a viver, por estes dias um imenso drama, com uma irmã, em coma, sem a mínima esperança de vida, a aguardar que os orgãos vitais parassem e esse drama durou três longas semanas, em que eu e os restantes familiares tivemos tempo mais que suficiente, para nos prepararmos, e quando o falecimento se deu, houve dor pela perda, mas a dor maior foi quando me foi comunicada a mim, no hospital que nada mais havia a fazer; portanto foi dor, mas também alívio, por terminar um dia a dia insustentável.
Agora, foi a surpresa, o choque, e a sensação de que qualquer pessoa pode estar sujeita a este fulminante fim, principalmente se há pequenos indícios na sua história clínica que são nestas alturas relembrados. E eu também os tenho, razão pela qual formulo a minha dúvida final.
Obrigado pelas tuas palavras.
Abraço grande.
Izzie
ResponderEliminareu sei que a morte física não é senão o fim de uma convivência; quando há laços fortes, de família ou de sentimentos electivos, a convivência mantém-se de outra forma, através das recordações dos muitos e bons momentos passados juntos.
Beijinho.
Brown Eyes
ResponderEliminarclaro que isso acontece, é uma inevitabilidade, mas por vezes esquecemos o facto, por motivos vários; e então lá surgem estes casos para nos fazerem recordar,com amargura, que assim é, de facto.
Beijinho.
Eva
ResponderEliminarobrigado pelo teu apontamento.
Perante a minha estupefacção, imagino a dor de quem com ele partilhou uma vida de tanta felicidade; há quase sempre, nestas alturas, a tendência de recorrer ao cliché: "tive muita pena" , "coitadinh@", "já não sofre"...
Mas nestes momentos, quem sofre é quem fica...
Beijinho.
Caro amigo
ResponderEliminarPercebo bem esse teu estado de espírito, face a um acontecimento destes o que temos mais é que ficar tristes, sentirmos dor e raiva e com esses sentimentos fazermos o nosso luto, para continuarmos uma vida que é feita de tudo isto, momentos bons, momentos maus e às vezes de momentos em que se nos depara diante dos olhos uma evidência, que todos conhecemos, mas que todos fingimos ignorar: Somos todos mortais!
Mas tu caro amigo ainda estás muito longe disso!!! Com a lucidez e a vontade de viver que te acompanham tens ainda muitos e bons motivos para andar por cá muitos anos! Depois é só seguir a velha máxima: Cuida do corpo como se fosses viver para sempre e cuida da tua alma como se tivesses que morrer amanhã! E isso eu sei que tu fazes!
Um forte abraço amigo e solidário.
Os padrões de vida que nos afectam não se confinam a anos civis.
ResponderEliminarAs coisas têm um tempo e um percurso aos quais é forçoso obedecer.
Carpe Diem!
Abraço de conforto
Manel
Meldevespas
ResponderEliminarisso é uma verdade total; há uma tendência para resguardar os mais novos do "contacto" com a morte; esse contacto vai surgir por si próprio, com o decorrer da idade.
Recordo ouvi falar da morte de bisavós que cheguei a conhecer, e que nada me disse...
Mesmo os Avós, embora nalgum caso de relacionamento mais chegado, nos afectam, mas é um facto de que nos libertamos algo rapidamente.
Quando é o caso de Pai ou Mãe, aí sim, somos postos perante não só a dor, como naquela sensação de que a próxima geração é a nossa.
E então quando a morte atinge a nossa própria geração, não podemos evitar de pensar em nós próprios...
Beijinho.
Com senso
ResponderEliminarquando penso que é tu a dirigir-me tais palavras, fico a pensar se tenho o direito de me revoltar, e sabes bem porque razão afirmo isto...
No que respeita a mim pessoalmente, tenho a ideia de que não faço o suficiente no cuidado do corpo, para adiar muito essa inevitabilidade, e isso por vezes paga-se caro...
Abraço grande.
Manel
ResponderEliminarclaro que não, e bastam dois exemplos recentes para o provar: a minha Mãe revoltou-se por aos 86 anos ter perdido uma filha e agora, neste caso, o mesmo deve estar a acontecer com a sua Mãe, que já ultrapassou os 90.
E não falo das mortes por acidentes e casos fortuitos, onde a idade nada conta, como é evidente.
Mas é ver chegar demasiadas vezes a "sombra" da morte àqueles que pertencem à nossa faixa etária que me põe a pensar...talvez demasiado.
Eu sei que "amanhã" e talvez por isso mesmo, me vou agarrar ainda mais à vida e fruí-la com prazer redobrado.
Abraço grande.
Olá Pinguim
ResponderEliminarÉ sempre doloroso perder alguém que nos é querido e não vale a pena fazer comentários estafados. A morte é terrível, porque é a coisa mais definitiva que existe.
Nós também iremos, claro, mas sobre isso não vale a pena pensar porque não alteramos nada.
Bjs
(Também gosto de Rui Knopfli)
Olá Teresa
ResponderEliminarfinalmente alguém referiu o poema, embora indirectamente.
Rui Knopfli é um grande e quase desconhecido poeta português e este poema sobre a morte talvez seja de uma realidade que até pode ferir sensibilidades menos fortes...
Beijinho.
A morte é que é obrigatoriamente consentida...a bem ou a mal...ventos ácidos...que anuncia o medo...nos vivos! Estar aqui e ver este parte...aquele parte...como dizia outro poeta...
ResponderEliminarUm beijo e que o resto do ano seja de menos partidas...
Free_ soul
ResponderEliminarassim o desejo, pois preciso de "viver"a VIDA!
Beijinho.
Jonao, lamento suas perdas irrevogáveis. As mortes das pessoas queridas são, na minha opinião, pequenas mortes de nós mesmos. Com as pessoas, se vão pedaços também irrevogáveis de nós mesmos. Te peço como um favor particular que não entre nos pensamentos pelos quais divaga no post. Por mais que às perdas se siga um estado natural de descrença e desânimo, sempre há os ganhos. Se as mortes representam pequenas mortes, as vidas que o cercam, amigas, também representam, de forma correspondente, pequenas vidas suas - de de nós mesmos, em geral. Deixo-te um abraço!
ResponderEliminarSérgio
ResponderEliminaras tuas palavras vão ser, e devem ser escutadas; afinal "acima de tudo, o que importa é a VIDA!".
Abraço grande.
Oh meu Deus, "a vida é tão rara" ... Muita força e um beijinho bem grande*
ResponderEliminare desculpa nao te dizer nada mais, mas sabes que "morte" ainda é um assunto um bocado complicado para mim de falar, e sei que as palavras de pouco ou nada valem, mas ao menos aquecem o coraçao nao é? entao deixo-te um abraço bem forte
Sandrinha
ResponderEliminarsim, eu recordo-me de teres dito isso quando do falecimento do teu avô...
Eu já não posso dizer o mesmo, pois infelizmente já me fez sofrer muito, essa "foice"...
Beijinho.
Pinguim, os meus sinceros pêsames por esta triste noticia. Quantas vezes chega não se chega a estas horas e embatemos de frente com estas injustiças da vida...
ResponderEliminarQuanto a este novo ano, de fazer figas que não se seguiam mais percalços destes. Força.
Abrações
TheMen
ResponderEliminareu faço as figas que forem necessárias; hoje já recuperei um pouco do choque e a vida tem que continuar.
Abraço amigo.
Amigo João,lamento muito a perda do teu amigo.
ResponderEliminarÉ fácil dizer mas..."the show must go on"!
Tenho infelizmente a experiência de perder um amigo quando nada nem ninguém o fazia esperar. É um misto de tristeza e revolta.
Cada um terá a sua maneira de lidar com a situação, mas no meu caso, todos os dias me lembro desse meu amigo e recordo os bons momentos que todos no grupo de amigos tivemos com ele. É assim que vou mantendo viva a memória.
Quanto à 2ª parte... não falemos nisso. Vamos é aproveitar a vida ao máximo e aproveitar as coisas boas que nos proporciona, como sei que o fazes.
Um abraço amigo.
Pinguim,
ResponderEliminarsei o que é perder para a morte os que nos são queridos, por isso sou solidária com a tua dor, mas não te deixes abater.
Brinda aos bons momentos que partilhaste com o teu amigo.
Coragem e força!
Miguel
ResponderEliminaro que escrevi e que não me arrependo de ter escrito foi o resultado de um choque que me afectou muito, depois de um ano anterior pleno de situações de perda, também.
Mas há que reagir e pensar em quem cá fica; a dor permanece, mas atenua-se com as boas recordações dos excelentes momentos vividos em conjunto.
Já adultos, e quando cada um de nós geria a empresa têxtil das respectivas famílias, que eram uma em frente da outra, tanta vez falámos em unir as nossas unidades fabris: afinal, bastava só construir uma ponte por cima da rua, a fazer a junção das mesmas, ríamos nós...
Abraço amigo.
Violeta
ResponderEliminarse leres o comentário que acabei de deixar ao Mike, verás que é isso que estou a procurar fazer...
Beijinho.
meu querido, ontem li este teu post no reader mas não consegui entrar no blog para te dar um abraço (a rede aqui do serviço está cada vez pior). os tempos ultimamente têm sido muito complicados, ou então são as nossas vidas que, por causa da idade, estão a entrar numa nova fase, e nós ainda não passámos do choque à adpatação. tudo o que escreveste toca-me muito, sobretudo porque, embora sem perder o gosto pela vida, ultimamente tenho andado muito sombrio.
ResponderEliminarsó mais uma coisa: fiquei muito comovido ao encontar o poema do Knopfli. é um dos meus poetas preferidos (um dos 4 ou 5 sem os quais não posso passar) e sinto uma certa tristeza por ser tão pouco conhecido e apreciado. bem-hajas também por isto.
e pronto. deixa-me ir ali tentar comentar a foto da Merkl enquanto tenho acesso à rede.
um grande e fraterno abraço
Cruzes canhoto, caríssimo. É tomares cuidado com a tua saúde e estarás por cá ainda muitos anos.
ResponderEliminarSinto muito pela tua perda.
Abraço
Os meus sentidos pesames!
ResponderEliminarSabes, esta vida é tão incoerente que a duração da vida não está entrelaçada nos anos que temos? Sabes com toda a certeza! Mas, a dor da perda é assim.
Abraço forte!
Miguel
ResponderEliminaré isso, as nossas vidas, principalmente a minha, está a entrar numa nova fase, em que estamos muito mais expostos ao contacto com a morte; e parece-me, que no meu caso, que tenho que me adaptar rapidamente, tal a quantidade de vezes a que tive que me confrontar com essa realidade.
Quanto ao Knopfli, é realmente uma pena a sua fraca divulgação, já que é um poeta muito vigoroso na sua escrita, mas com uma imensa sensibilidade.
Abraço grande.
Olá Catsone
ResponderEliminarquando referi o meu caso pessoal, estava precisamente a referir-me ao aspecto que focas; geralmente vamos adiando algumas resoluções importantes sobre os nossos comportamentos e depois,algumas vezes, somos surpreendidos pelo destino...
Que esta perda me faça reflectir bastante sobre este assunto.
Abraço amigo.
Sócrates
ResponderEliminarnão sei se por razões locais ouviste falar na pessoa em causa...era além de um amigo leal, uma pessoa boa, considerada por toda a gente e cuja perda foi sentida por muita gente.
Particularmente, as nossas vidas cruzaram-se em inúmeras ocasiões e realmente, numa situação de morte súbita, o choque é sempre maior.
Mas, conformado com o destino, resta-me recordar o amigo nas nossas vivências e olhar em frente, olhar a vida...
Abraço grande.