segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

"Quem tem medo de ir ao Teatro???"

Obra-prima da dramaturgia contemporânea (Edward Albee, 1962),
o texto de "Quem tem medo de Virgínia Woolf "é considerado a quinta-essência do teatro "realista"  - celebrizado num filme de Mike Nichols (com Elizabeth Taylor e Richard Burton), que alcançou um feito único na história de Hollywood, sendo nomeado para todas as categorias dos Óscares, e que ganhou quatro entre os quais os das melhores interpretações femininas - principal (Liz Taylor) e secundária (Sandy Dennis).
Em "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?", o público é convidado para a sala de estar de George e Martha,onde, numa proximidade perturbante, assiste a um intenso ritual de mortificação mútua e de desagregação progressiva das convenções matrimoniais - "O inferno pode ser uma sala de estar confortável e um casal insatisfeito", disse Albee sobre este texto aterrador e comovente, onde as personagens vão "descascando", impiedosamente e até à medula, as múltiplas camadas de mentira e ilusão que envolvem as suas vidas conjugais.
Apresenta-nos a relação de amor-ódio de um casal de meia idade, numa noite de agressões, jogos perigosos e revelações.
É esta a peça em exibição no Teatro Nacional D. Maria II, com Maria João Luís e Virgílio Castelo na pele de um dos casais mais memoráveis da dramaturgia do século XX, numa encenação de Ana Luísa Guimarães.
A açção desenrola-se na sala de estar de George, e Martha - ele, professor do departamento de História de uma universidade, e ela, a filha do reitor - que, regressados de uma festa, esperam visitas: um casal mais novo, Nick (Romeu Costa), professor de Biologia recém-chegado à mesma universidade, e Honey (Sandra Faleiro), a sua mulher.
Ana Luísa Guimarães disse que "Quem tem medo de Virginia Woolf?" é uma peça "sobre os medos, sobre acabar com os medos, exorcizar os medos", sendo essa uma das razões porque decidiu encená-la, apesar da responsabilidade que é trabalhar um texto que integra o património dramático internacional.
Sucedeu comigo algo incrível, durante quase toda a representação: ao ver representar Maria João Luís e Virgílio Castelo, parecia que estava a ver a Elizabeth Taylor e o Richard Burton, e claro que isto é um enorme elogio.
Eu já tinha visto a peça, em 1972, no Monumental, numa encenação de João Vieira e interpretações de Glória de Matos, Jacinto Ramos, Elisa Lisboa e Mário Pereira, e tinha gostado muito. Mas este versão supera-a em muitos aspectos, a começar na interpretação. Se já esperava um bom desempenho de Maria João Luís, uma das melhores actrizes portuguesas, a surpresa maior foi Virgílio Castelo, simplesmente fabuloso. O casal novo também esteve à altura, principalmente Sandra Faleiro.
A encenação cumpre, o cenário, de F.Ribeiro é muito interessante e o jogo de luzes, de Nuno Meira, muito conseguido.
Ao intervalo dei comigo a pensar como é possível numa peça tão densa, violenta no diálogo, e dramática, haver lugar a risos, mas eles são completamente normais, pois o texto está repleto de tiradas de autêntico humor negro, que curiosamente vão diminuindo, quanto mais se vai avançando no desenrolar da acção que vai num crescendo de violência.
Apenas no final, se consegue vislumbrar que no meio de tanto ódio, também há amor naquele casal…


Em dois domingos seguidos fui ver teatro, bom teatro e senti que devo ir mais, que tenho perdido excelentes peças, por inércia e algumas vezes por desconhecimento, pois há peças que estão em cartaz meia dúzia de dias e nada mais.
Faço um apelo: vão ao teatro! Vale a pena ver aquelas actrizes e actores a darem o seu melhor ali, em cena, tão perto de nós, a dar-nos a nós, espectadores, a sua Arte.
Afinal, quem tem medo de ir ao teatro???

20 comentários:

  1. Ainda não vi, mas também está nos meus planos. Principalmente por Maria João Luís e pela peça em si, e agora também por Virgílio Castelo.
    Obrigado por deixares aqui a tua opinião.

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  2. Paulo
    conheces decerto o texto de Albee, e no último acto, quando George propõe jogar o último "jogo", V.Castelo está brilhante, verdadeiramente brilhante.
    Abraço amigo.

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  3. O título do post está muito bem posto. Acredito sinceramente que a maioria das pessoas não vai ao teatro por nunca ter experimentado, não sei porquê mas criou-se a ideia que o teatro não está aberto às massas, como o cinema. E é uma pena, porque apesar de muitas vezes com parcos recursos há entre nós coisas muito boas.

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  4. Um coelho
    sabes quanto paguei para ver, no 1º. balcão, a peça do Teatro Nacional?
    Dez euros!
    Na semana passada paguei 7,30 euros para ver a peça da Comuna...
    Portanto, é um mito muitas vezes errado usar a desculpa de que a cultura é inacessível.
    A inércia, sim é um factor que nos impede muita vez de ver coisas interessantíssimos e eu, pecador me confesso, frequentemente caio nela.
    O Teatro é uma Arte muito nobre e muita gente, como bem dizes, desconhece qual o prazer de assistir a uma peça. É reconfortante ver aquele magnífico espaço, quase cheio a aplaudir vibrantemente um espectáculo tão magnífico. Daí eu ter escolhido este título, para "acordar" as pessoas para o Teatro, pois vale a pena.
    Eu adoro cinema, vejo muito cinema, mas hoje em dia, o cinema entra-nos em casa de todas as formas e feitios e com um televisor razoável vê-se um filme em casa de um modo quase tão bom como no cinema.
    Mas o teatro, que antes a televisão nos mostrava, hoje só pode ser mesmo visto "in loco" e só há realmente Teatro se ele é presenciado ao vivo, naquela comunicação de um espaço de tempo em que actores e público compartilham um mesmo espaço.
    Sobre a peça, pouco há a acrescentar: é magnífica e está tudo dito!
    Abraço amigo.

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  5. Para o ano, prometo ser mais assiduo :)

    Já coloquei esses dois nomes na minha agenda para os primeiros fins de semana de Janeiro. :)

    Obrigado pelas sugestões e pela a opinião acerca de cada uma :)

    Abraço

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  6. Também gosto muito de teatro e gosto especialmente desta peça. No fim dos anos 80 vi a versão do extinto Teatro da Graça, encenada pela Fernanda Lapa com a Isabel de Castro e o Mário Jacques que era um portento. Concordo com tudo o que dizes em relação ao teatro e nós que temos excelentes actores e encenadores, devíamos apoiá-lo indo mais vezes. E depois o teatro tem uma magia muitos especial, nenhuma representação é igual à outra e a proximidade com os actores é contagiante.
    Ainda não vi esta versão mas depois do teu post é uma urgência, quero vê-la absolutamente.
    Abraço.

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  7. Francisco
    fazes tu muito bem e decerto não darás por mal empregue o tempo.
    Abraço amigo.

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  8. Arrakis
    eu não falei dessa versão do Teatro da Graça (que saudades desse teatro...), porque não a vi, mas sabia da sua existência e também de uma outra representação, no Porto a cargo do Teatro do Bolhão, que apenas sei ter sido o António Capelo a fazer de George.
    Um bom amigo meu que ontem estava no D.Maria disse-me no final que tinha gostado mais desta representação do que aquela a que tinha assistido na Broadway, com a Kathleen Turner...
    Mas quero ler a tua opinião, mais tarde.
    Abraço amigo.

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  9. Bem haja :) Olha estas a falar de um dos muitos filmes da minha vida :) simplesmente fabuloso!

    A peça decerto que tambem o será. Quando estiver ca no porto irei ve-la concerteza.

    A cultura está acessivel... as pessoas é que não querem sair da sua zona de conforto e ir ao teatro.

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  10. Porcupine
    da tua e da minha; o único defeito do filme é ser, por assim dizer teatro filmado, mas soberbo.
    A peça agora em exibição não lhe fica atrás e como é do Teatro Nacional é natural que vá ao Porto ao Teatro Nacional S.João.
    Não percas.
    Abraço amigo.

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  11. Como adoraria rever "virginia Woolf"... Assisti só uma vez no teatro... e nunca o filme...

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  12. Roger Rabbit, seguramente! :) Abraço,

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  13. E adoro Teatro e não tenho medo nenhum de lá ir, desde que tenha disponibilidade :)

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  14. Ricardo
    mal posso acreditar que não viste esse filme...
    É quase imperdoável.
    Beijo.

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  15. Luís
    coitado do Roger Rabitt; ele até haveria de gostar de contracenar com a bela Jessica...
    Abraço amigo.

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  16. Backpacker
    claro que é um trocadilho, pois ninguém tem medo de ir ao teatro.
    Abraço amigo.

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  17. não vi, mas parece ser um belo espetáculo :)

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  18. Frederico
    belo não será a palavra certa, pois a violência verbal, não física, é brutal, e portanto, esse tipo de violência não será propriamente bela; mas apalavra correcta será um espectáculo bom, pois é uma narrativa com uma densidade imensa e com uma interpretação poderosa.
    Abraço amigo.

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  19. O Teatro Português está de Parabéns. Há 6 anos vi em Nova Iorque Kathleen Turner e Bill Irwin em Who's afraid Virginia Woolf? E gostei. Hoje tive oportunidade de assistir a esta grande peça de teatro da dramaturgia do século XX no Teatro Nacional D. Maria II e gostei ainda mais; saboreei tenso e comovido as notáveis interpretações de Maria João Luís, Romeu Costa, Sandra Faleiro e Virgílio Castelo e não menos agradado face ao belíssimo cenário e ao excelente desenho de luzes.

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  20. Luís
    tive o prazer de te encontrar lá no Teatro, a ti e à L.e tivemos oportunidade de no final conversar sobre o excelente espectáculo a que tínhamos assistido. e a opinião é totalmente coincidente.
    Abraço amigo e beijinho à L.

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