João Villaret, foi um dos maiores actores que passaram por palcos portugueses. Villaret obteve extraordinário sucesso com os seus recitativos que, editados em disco, fizeram grande sucesso entre nós, e não sem motivo.
Natural de Lisboa, onde nasceu em 1913, Villaret dedicou-se ao teatro depois de terminar o liceu e durante os anos trinta e quarenta teve uma ascensão vertiginosa que o levou a triunfar nos palcos do teatro declamado e ligeiro e no cinema - onde assinou interpretações memoráveis em “Três Espelhos”, de 1947, e “Frei Luís de Sousa”, de 1950.
No teatro declamado teve uma interpretação fabulosa na peça “Esta Noite Choveu Prata”, no Teatro Avenida, em 1954. O seu amor pela poesia levou-a a tornar-se num dos recitadores mais extraordinários que Portugal conheceu, tendo inclusivamente deslumbrado o público da RTP com uma série de programas que aí apresentou com o seu nome “João Villaret” e em que era acompanhado ao piano pelo seu irmão Carlos Villaret.
Uma conversa, um diálogo, confissões, poesia declamada como poucos conseguiram, biografias de grandes escritores, homenagens a artistas lusos, música e até mesmo cultura popular…tudo fazia parte deste programa que tornava mágico o tempo em que o televisor estava ligado.
E o registo do seu recital no São Luiz, lançado em álbum, ainda hoje se mantém disponível.
Mas Villaret tinha também um especial apreço pela revista, onde se estreou em 1941 para escândalo daqueles que não gostavam de ver misturas. Em 1947, Aníbal Nazaré, António Porto e Nelson de Barros escrevem-lhe o Fado Falado, que criou na revista 'Tá Bem ou Não 'Tá?, verdadeira peça de antologia da história da música e do teatro popular portugueses. Um recitativo sobre uma melodia de fado onde a letra, que jogava habilmente com a mitologia do género, era não cantada mas verdadeiramente "representada" por Villaret. Outros êxitos, como A Vida é um Corridinho de 1952, ou a célebre Procissão de 1955, se lhe juntariam, mas o Fado Falado ficou marcante.
Declamava de uma maneira inigualável Fernando Pessoa, António Botto e ficou célebre a sua declamação do “Cântico Negro” de José Régio.
João Villaret morreu em Fevereiro de 1961, vítima de doença prolongada.
sexta-feira, 4 de maio de 2012
João Villaret
Publicada por
João Roque
à(s)
08:54
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Etiquetas:
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bonita homenagem, João. no meu canto, por ocasião da visita à exposição sobre o Fernando Pessoa, na Gulbenkian, coloquei o poema "Tabacaria".
ResponderEliminarainda pensei em ir à homenagem que lhe fizeram, nos dias 10 e 17 de Abril, no Teatro D. Maria II (até imprimi a pequena notícia que saiu no DN), mas acabei por não ir.
bjs.
eu só acrescentaria, a benefício dos teus leitores eventualmente interessados em saber mais acerca do JV, que foi publicada uma biografia sobre ele (embora de qualidade sofrível), da autoria de António Carlos Carvalho (e acerca da qual eu falei, neste link: http://innersmile.livejournal.com/524104.html).
ResponderEliminarabração
Vilaret.
ResponderEliminarMuito bem escolhido, João.
Qualquer um dos vídeos é bom!
Mas, de José Régio, para além do Cântico Negro, também gosto muito da "Toada de Portalegre" dita por Vilaret.
Grande abraço.
É um prazer visitar este teu canto :)
ResponderEliminarAbraço amigo
Margarida
ResponderEliminaressa homenagem foi aquela do actor Carlos Paulo, se não estou em erro; só soube á posteriori...
Beijinho.
Miguel
ResponderEliminare que eu comentei na altura falando essencialmente do seu "Cântico Negro"...
Abraço amigo.
Pedro
ResponderEliminartens toda a razão, mas tendo escolhido "O Cântico Negro", não quis "monopolizar" o José Régio.
Abraço amigo.
Um grande post a um grande senhor! ^^
ResponderEliminarParabéns! :3
Abraço :)
Francisco
ResponderEliminarcomo toda a gente sabe, Villaret era homossexual e foi amigo de António Botto; pode sentir-se no poema "Página de Folclore", todo o entusiasmo na descrição do campino...
E este belo poema nem era dos mais explícitos de Botto.
Abraço amigo.
Assisti a um dos seus tão falados espectáculos no S.Luís, e ainda me recordo vagamente dalguns dos seus programas televisivos, que eram dos mais vistos, tendo assim ele prestado um enorme serviço à Cultura, pois fez chegar a poesia ao povo.
ResponderEliminarAbraço amigo.
Sou um nascido pós Villaret, mas sempre gostei das récitas desse grande senhor.
ResponderEliminarRibatejano
ResponderEliminarfoi além de um bom actor, o melhor declamador de sempre em Portugal.
Abraço amigo.
Uma saudade imensa ao recordar Villaret.
ResponderEliminarAquela voz e aquele tom de declamar foram únicos.
Uma boa homenagem.
Recordar é viver.
Luís
ResponderEliminarhavia três programas muito bons na velhinha RTP a preto e branco: "João Villaret", "Charlas Linguísticas", do Padre Raul Machado, e "Se Bem Me Lembro", do Vitorino Nemésio...
Abraço amigo.
Muito bonito, tens sempre tanto para ensinar, e eu que cheguei ao fim do post com vontade de ler mais um bocadinho.
ResponderEliminarObrigado pela partilha, gostei muito, pois não conhecia e o saber nunca ocupa lugar.
Abraço doce e continuação de belas partilhas.
Sairaf
ResponderEliminareu por minha vontade punha muitos mais vídeos, mas não gosto de cansar ninguém...
Mas vais ao You Tube e encontras tanta coisa dele...
Beijinho.
João
ResponderEliminarPermite-me discordar contigo (mais uma vez). A par do João Villaret não podemos esquecer o Mário Viegas. Em gerações diferentes e no entanto dois dos maiores declamadores.
Não podemos esquecer também o Vitor de Sousa, mas felizmente esse ainda se encontra entre nós.
Abraço
Ribatejano
ResponderEliminarMário Viegas era muito bom, mas tinha outro estilo escolhia poesia mais apropriada para esse estilo: a sátira, o gozo...
Mas o próprio Mário Viegas considerava Villaret o melhor.
Vítor de Sousa não é mau, mas declama sempre da mesma maneira...
Gosto mais do João Grosso....
Aqui fico na minha e que é por assim dizer, consensual - Villaret foi o maior declamador português de sempre!
Experimenta ouvir o "Cântico Negro" pelo Villaret e pelo M.Viegas e logo vês a diferença...
Abraço amigo.
João:
ResponderEliminarGosto muito destes posts teus onde aprendo da Cultura portuguesa tudo aquilo que desconheço do meu Portugal querido e que, de outra forma, não poderia aprender por circunstâncias várias.
E foi um prazer imenso desfrutar do Fado Falado.
Um abraço
Leo
Caro João
ResponderEliminarAvaliei no geral e não em relação ao estilo de cada um, mas as nossas avaliações são igualmente válidas.
Deixo aqui dois videos do Mário Viegas a recitar Álvaro de Campos.
http://www.youtube.com/watch?v=VnQSA-Kcbno&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=5yHNy49dl7M&feature=relmfu
Leonardo
ResponderEliminarfico satisfeito de poder proporcionar esse prazer.
O "Fado Falado" só gosto mesmo dele, na voz cantada de Villaret ou então pela saudosa Hermínia.
Abraço amigo.
Ribatejano
ResponderEliminarnunca ouviste Villaret ao vivo, duvido que alguma vez tenhas visto os seus programas da RTP; eu vi e assisti, como vi ao vivo e assisti na TV ao Mário Viegas, que é fabuloso, repito.
Mas tenta lá ouvir o Viegas a "recitar" o Fado Falado????
É precisamente no geral que Villaret é único.
E mais não digo.
Não preciso de ver os vídeos, pois conheço completamente tudo o que Mário Viegas declamou e interpretou. Já o contrário, em relação a ti e a Villaret não será assim tão claro.
E ficamos por aqui, ok?
Abraço amigo.
Tal como não vi o Mário Viegas ao vivo e tenho muita pena.Tal como não vi a Amália, a Hermínia Silva e tantos artistas da bela época artística que tu tiveste a sorte de acompanhar ainda.
ResponderEliminarO Fado Falado assenta tão bem no Villaret como a maioria dos fados interpretados pela Amália. E não é por isso que não goste de ver outros artista a interpretarem "às suas próprias maneiras" os sucessos de outros.
Recordo os UHF que pegaram em "O vento levou" e "Menina estás à janela", transformando músicas populares em sucessos de rock.
Por isso vamos parar a discussão, pois nunca disse não gostar do Villaret, só chamei atenção para outros, que como ele, aplicaram todo o talento para transformar pequenas coisas em acontecimentos memoráveis.
Abraço João
Viva Portugal!!!
Ribatejano
ResponderEliminartudo está bem quando acaba em bem.
Abraço amigo.
Caro João,
ResponderEliminarQuando JV faleceu eu ainda não era nascido. E só relativamente tarde ouvi falar dele e o conheci minimamente. Apesar de não ser grande apreciador de poesia, gosto de ouvir um bom declamador e, parece-me que Villaret seria o melhor, até porque a sua própria voz o bafejava. E como devia ser difícil ser um expoente da poesia e da cultura sob o regime cinzentão de Salazar. Já agora uma curiosidade: Villaret era de origem francesa?
Um abraço.
Lear
ResponderEliminarVillaret sempre soube muito bem lidar com a situação de então; nunca se comprometeu demasiado e era uma personalidade muito amada do povo para poder vir a ter problemas.
Penso que os maiores problemas foram causados pela sua homossexualidade que o levava de vez em quando a situações delicada.
Quanto sei, há raízes catalães na sua família paterna, mas numa geração bastante antiga, anterior ao bisavô...
Abraço amigo.
João,
ResponderEliminarPrimeiro, queria agradecer a tua visita e o teu comentário que, verdadeiramente, emocionou-me.
Segundo, por favor, permite-me enviar um grande beijinho à tua mãe. Aproveita-a ao máximo.
E por último (nem de propósito), minha mãe adorava ouvir João Villaret. Assistiu a todas as suas apresentações e ensinou-me a ouvir poesia, através das suas gravações. Meus pais conviveram com João Villaret e, para além, da Figura ímpar no mundo da representação e da declamação, era uma companhia "fora de série". Infelizmente, apenas "ouvi"-o e lembro, particularmente, da sua participação na "Ceia dos Cardeais"; e a declamar o poema "As Mãos".
Obrigada pela partilha.
Rosa
ResponderEliminarobrigado por este comentário tão bonito.
Eu fui um sortudo na minha vida, pois vi e assisti a tanta coisa bela...
Villaret, jamais poderei esquecê-lo.
Não sei se além de muita coisa declamada por ele no You Tube, se poderá encontrar através do Canal Memória, alguns desses memoráveis programas televisivos.
Beijinho.
Também há um tipo que declama (decora) José Régio, mas esse deveria de estar preso, o sacana!...
ResponderEliminarBoa lembrança. Lembro-me de ver reposições na tv. Maravilhoso. Gostei de todos os videos. Tenho a impressão que nem sabia que era homossexual, fiquei a saber... Fazes sempre óptimas escolhas! :) Beijinhos
ResponderEliminarDylan
ResponderEliminarnão sei a quem te referes,mas duvido que estejas a falar do Cântico Negro...
Será algum político?
Abraço amigo.
Eva
ResponderEliminarforam repostos há tempos na RTP Memória alguns ou todos os seus programas...
Beijinho.
João,
ResponderEliminarÉ aquele presidente de um clube de futebol que se acha muito importante em declamar José Régio. O mestre da fina ironia e da imbecilidade. O pacóvio de que gostamos muito...
Dylan
ResponderEliminarahhh, esse filho da puta...ele devia era recitar Fernando Pessoa: "O Mostrengo"!!!
Abraço amigo.
Um excelente declamador, infelizmente com tão pouca abordagem. "O Menino de sua Mãe" é um poema muito conhecido de Fernando Pessoa e, talvez pelo seu realismo e dureza, é dos que mais habita na memória colectiva. A isso ajuda o facto de ser leccionado no 12º ano, com algum ênfase, diga-se. :)
ResponderEliminarMark
ResponderEliminardesconhecia que "O Menino de sua Mãe" fizesse parte do programa do 12º.ano; sabia que se estudava Pessoa, mas não quais as suas obras.
A pouca abordagem à declamação de Villaret é só de agora, pois na altura ele era um ídolo.
Abraço amigo.
Curiosamente a primeira memória que tenho de Villaret é de um filme onde ele não diz uma única palavra... O Pai Tirano.
ResponderEliminarCoelho
ResponderEliminarsim, mas há um outro filme em que ele diz uma palavra que ficou célebre; No "Frei Luís de Sousa", ele era o Romeiro. E quando lhe perguntam: "Romeiro, quem és tu?", ele responde com a sua voz característica, "Ninguém...!Abraço amigo.
Excelente homenagem. Aliás as tuas homenagens são únicas, ninguém o faz como tu. Beijinhos
ResponderEliminarMary
ResponderEliminarVillaret merece isto e muito mais. Foi um artista único!
Beijinho.
Recordo, como se hoje fosse, o Café Central do Barreiro; os registos coloquiais em voz alta; um mundo onde todos conheciam todos; a barulheira normal naquele espaço. O soar das das bolas de bilhar, das pedras de dominó, das damas, do gamão, dos comentários misturados com o som rouco do aparelho de televisão, a que ninguém ligava; era o esteorotipo das noites ali vividas. Salvo uma noite, entre todas as noites ... que era quando na pantalha, surgia Villaret, com o seu sublime dom de dizer tantos poemas, citar tantas lembranças, dar a conhecer tantos poetas que, não fora ele, dormiriam para sempre no túmulo livresco ou nas nossas almas, a exemplo da TOADA DE PORTALEGRE e de tantas e tantas outras mensagens que revelou. Valeu-lhes a sua arte mágica para os ressuscitar, para os trazer à vida!... Chegava o momento da magia semanal. Espontâneo, o silêncio ouvia-se, e aqueles rostos, que haviam trabalhado todo o dia nas oficinas, de mãos e roupas sujas, escutavam, qual prece, as palavras que saíam em cascata na voz de ouro daquele ser humano, que em ouro transformava tudo o que dizia, e lhes confortava o coração. Sim, o mágico da palavra, sentia que nasceu para alegrar, com as suas artes, o coração das gentes simples. Sabia-o, por isso era grato às ovações... Por isso, dos olhos lhe rolava uma lágrima, quando nos dizia a vibrar, ALMA MINHA GENTIL QUE TE PARTISTE...
ResponderEliminarQuero, pois, morrer com uma ilusão: - A certeza de que em todos os cafés de língua portuguesa, àquela hora, o silêncio espontâneo do Café Central da minha terra, chegava ainda!...E, então, dava-se o ESPECTÁCULO!
Caro Horta Batista
ResponderEliminarem primeiro lugar um agradecimento pela sua visita a este blog.
Mas mais que um comentário, o seu texto é excelente exemplo dum certo tempo, por um lado, e por outro é um extraordinário testemunho do fenómeno televisivo que foi João Villaret.
Não sendo um assunto daqueles que arrasta multidões, como o futebol, uma telenovela, um filme célebre ou um qualquer festival de canções, Villaret conseguiu a difícil arte de fazer chegar a poesia ao povo português.
Naquele tempo, com uma televisão única, ele, o Vitorino Nemésio, o António Lopes Ribeiro e até o Padre Raúl Machado, com as suas "Charlas Linguísticas", eram autênticos fenómenos da ainda jovem RTP.
Muito obrigado pela sua colaboração e pelo enriquecimento que deu a esta postagem.
Abraço.
Cumpri o meu dever de amante do nosso idioma, e com ele, amante da poesia e, no superlativo absouto, amante dos pouquíssimos génios, que desta matéria prima, criararam gemas vivas da nossa língua, que estão gravadas. Pouquíssimos são estes génios de eleição, em qualquer parte do mundo, por tal devemos estimá-los nas nossas memórias o melhor que soubermos que é recordá-los.
ResponderEliminarQuem o faz, como o autor deste blogue, activamente, o demonstra, merece, evidentemente, um bem haja. Pois que possibilita aos que não tiveram oportunidade de ouvir estas intervenções artisticas, alegrarem, deveras, o coração de um povo, um dos atributos principais da arte "autêntica" e nunca as imitações grosseiras, como desde de todo o sempre se pretendeu fazer passar, tomand o gato por lebre. Mas,isso,são outras contas!...
Os meus cumprimentos de estímulo e um abraço de poetas.
Caro amigo
Eliminarmuito sensibilizado com as suas palavras, gostava de lhe dizer que este espaço é uma forma de de expressar de uma maneira muito pessoal a forma como encaro a vida nos seus múltiplos aspectos, desde o pessoal, passando pelo político, o cultural, o artístico e o social.
Claro que não pretendo veincular ninguém à minha maneira de ser e de ver o mundo, antes prefiro um debate de ideias, mesmo que contrárias, sempre num tom que pode e deve até ser discordante, se essas forem as opiniões de quem comenta, desde que i façam de uma forma correcta e educada.
Quanto à personalidade que foi Villaret já tudo foi dito, por nós, e principalmente por ele...
Abraço.