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sábado, 25 de junho de 2011

A experiência


A redacção que se segue foi escrita por um candidato numa selecção de Pessoal na Volkswagen. A pessoa foi aceite e o seu texto está a fazer furor na Internet, pela sua criatividade e sensibilidade.


"Já fiz cócegas à minha irmã só para que deixasse de chorar, ja me queimei a brincar com uma vela, ja fiz um balão com a pastilha que se me colou na cara toda, ja falei com o espelho, ja fingi ser bruxo.

Já quis ser astronauta, violinista, mago, caçador e trapezista; ja me escondi atrás da cortina e deixei esquecidos os pés de fora; ja estive sob o chuveiro até fazer chichi.


Já roubei um beijo, confundi os sentimentos, tomei um caminho errado e ainda sigo caminhando pelo desconhecido.

Já raspei o fundo da panela onde se cozinhou o creme, ja me cortei ao barbear-me muito apressado e chorei ao escutar determinada música no autocarro.

Já tentei esquecer algumas pessoas e descobri que são as mais difíceis de esquecer.

Já subi às escondidas até ao terraço para agarrar estrelas, já subi a uma árvore para roubar fruta, já caí por uma escada.
Já fiz juramentos eternos, escrevi no muro da escola e chorei sozinho na casa de banho por algo que me aconteceu; já fugi de minha casa para sempre e voltei no instante seguinte.

Já corri para não deixar alguém a chorar, já fiquei só no meio de mil pessoas sentindo a falta de uma única.

Já vi o pôr-do-sol mudar do rosado ao alaranjado, já mergulhei na piscina e não quis sair mais, já tomei whisky até sentir os lábios dormentes, já olhei a cidade de cima e nem mesmo assim encontrei o meu lugar.

Já senti medo da escuridão, já tremi de nervos, já quase morri de amor e renasci novamente para ver o sorriso de alguém especial.

Já acordei no meio da noite e senti medo de me levantar.

Já apostei a correr descalço pela rua, gritei de felicidade, roubei rosas num enorme jardim, já me apaixonei e pensei que era para sempre, mas era um 'para sempre' pela metade.

Já me deitei na relva até de madrugada e vi o sol substituir a lua; já chorei por ver amigos partir e depois descobri que chegaram outros novos e que a vida é um ir e vir permanente.

Foram tantas as coisas que fiz, tantos os momentos fotografados pela lente da emoção e guardados nesse baú chamado coração...

Agora, um questionário pergunta-me, grita-me desde o papel:

- Qual é a sua experiência?

Essa pergunta fez eco no meu cérebro. Experiência....
Experiência... Será que cultivar sorrisos é experiência?

Agora... agradar-me-ia perguntar a quem redigiu:
- Experiência?! Quem a tem, se a cada momento tudo se renova???"

segunda-feira, 21 de março de 2011

A explicação do "porquê"

E que tal "perder" 14 minutos do seu tempo e ver este vídeo? Eu sei que quando aparece na blogosfera um vídeo longo, e aparentemente "chato", a tendência é ignorá-lo e passá-lo à frente.
Não importa; se houver meia dúzia de pessoas que o vejam, já fico satisfeito. E mesmo que as não haja, fico bem comigo mesmo em deixar esta mensagem aqui no meu blog.
Este vídeo explica muita coisa e mostra-nos que os problemas que hoje enfrentamos aqui em Portugal têm uma explicação, uma raiz que será muito difícil erradicar.
Entrámos numa espiral diabólica, de que é difícil sair e isto ultrapassa as políticas e os políticos portugueses, que apenas fazem parte de toda a engrenagem.
Peço desculpa, não estou a dizer que Sócrates tem razão; ele é apenas uma peça, como o será amanhã Passos Coelho e que não se resolve com protestos de rua ou com políticas de descontentamento defendendo os trabalhadores. Trabalhadores e reformados, estudantes e desempregados somos todos os que sofremos.
Por culpa de quem?
Talvez o vídeo ajude a explicar...

terça-feira, 15 de março de 2011

Mais uma do Sr. Silva


O sr. Silva continua a ser "brilhante" nos seus discursos recentes.
Hoje, na comemoração dos 50 anos do início da Guerra Colonial:

«Importa que os jovens deste tempo se empenhem em missões e causas essenciais ao futuro do país com a mesma coragem, o mesmo desprendimento e a mesma determinação com que os jovens de há 50 anos assumiram a sua participação na guerra do Ultramar.»

Senti-me, visado, e de uma maneira totalmente contrária; nem coragem, nem desprendimento e muito menos determinação. Era um jovem completamente "à rasca", como agora se diz.

Intersecções

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Mulheres # 1


Estou a ler um interessante livro, cujo autor é uma mulher, Agnès Michaux, e que consiste numa interessantíssima compilação de frases sobre a Mulher.
Não me considero minimamente misógino, e portanto estou à vontade para aqui iniciar uma nova rubrica deste blog, com algumas dessas frases e a que chamarei “Mulheres”.
Já agora aproveito para deixar o nome do livro: “Dicionário de Misoginia”!

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"A amizade entre duas mulheres é semelhante à de dois merceeiros estabelecidos em frente um do outro."
Alphonse Karr

"Os homens ouvem-se uns aos outros; as mulheres espiam-se entre si."
Mme de Maintenont

"Existe um elo secreto entre as mulheres: apoiam-se como padres de uma mesma religião, odeiam-se, mas protegem-se."
Marquesa de Lambert

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

"Shortbus"

Só hoje vi este tão aclamado filme  do realizador John Cameron Mitchell, datado já de 2006.
Deste realizador já tinha visto há tempos um outro interessante filme sobre um transsexual, realizado em 2001 e cujo nome era "Hedwig - A Origem do Amor".

Situado na cidade de Nova York, um grupo heterogéneo de heteros, gays e transsexuais encontra um terreno comum no Shortbus, um salão subterrâneo onde as pessoas são livres para explorar os seus mais carnais desejos sexuais com conexões aleatórias e orgias ao longo da noite - às vezes até encontrar pedaços de sabedoria ao longo do caminho.

O excelente elenco de personagens de "Shortbus" atrai poderosamente o espectador em cada uma das vidas dos personagens e problemas. Sofia (Sook-Yin Lee), uma terapeuta sexual que nunca teve um orgasmo, busca maneiras de superar o seu "pré-orgástico" dilema, que afecta profundamente o seu casamento. James (Paul Dawson), tem uma depressão antiga e vai ao extremo da tentativa de suicídio quando não consegue sentir a felicidade com o seu parceiro amoroso e dedicado, Jamie (PJ DeBoy); foram monogâmicos durante os cinco anos da sua relação, mas resolvem trazer um terceiro elemento para compartilhar o sexo com eles.E há um voyeur do outro lado da rua que vai registando todas estas fases da sua vida.Há também  Severin (Lindsay Beamish), que ganha a vida a trabalhar como “dominadora”, mas que pretende ter um relacionamento significativo com alguém - qualquer um.

Sim, o sexo na tela é real. E há muito. Mas em vez de exibir cenas sexualmente explícitas para o bem da excitação barata, "Shortbus" é provocativo com um propósito real. Nós não estamos  em Hollywood.

Enquanto o sexo é um ponto de foco principal no filme, não é o único. "Shortbus" lida com todas as formas de relações humanas.
Não salientando uma forma sobre outra, mostra como a amizade, sexo e amor sempre se misturam.
Numa conversa interessantíssima, um homem velho que se identificou como o ex-prefeito de Nova York, diz ao jovem e ingénuo Ceth (Jay Brannan): "As pessoas vêm a Nova York para fazer sexo mas as pessoas também vêm a Nova York para ser perdoadas ". Isto também pode ser válido para quem optar por ver este filme.
"Shortbus" permite-nos saber que gays, heterossexuais, transexuais, bissexuais, qualquer que seja a nossa orientação sexual, nós todos só queremos é sentirmo-nos aceites.
É "Shortbus" provocador? Sim. É explícito? Sim! Mas isso é extremamente positivo e libertador nos tempos “politicamente correctos” que hoje vivemos.
Eu chamaria a este filme, numa imagem adequada à temática dele, um orgasmo de Vida!
Aqui está o trailer do filme
E também um vídeo da magnífica cena final do filme

Além deste trailer, há um outro, não censurado, com cenas explícitas, e que por razões óbvias aqui não publico. Deixo no entanto o link em que o podem visionar, caso queiram e claro, a responsabilidade desse visionamento é vossa...

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

One Century of Pride


Uma excelente versão musicada que revisita, por assim dizer, todos os acontecimentos e pessoas importantes para o mundo LGBBT, durante um século.

(Este post destina-se à colaboração com o tema deste mês, da Fábrica das Letras, o Preconceito.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Síndrome de Tietz

Desde o princípio da semana que não me sentia bem.
Quem me conhece melhor, sabe que sou um doente cardíaco crónico, desde há muitos anos, pois sofro de uma angina de peito, ou seja tenho uma isquemia numa das quatro partes do coração, o que me provoca por vezes, e por efeito de cansaço, ansiedade ou stress, uma sensação estranha no coração, como que um aperto ou uma pressão anormal, que é rápida e que com algum descanso, a tomada de ar fresco e a ingestão de água, desaparece rapidamente, sem ter que utilizar os pequenos comprimidos que uso sempre comigo, para numa emergência, colocar debaixo da língua. Estes comprimidos têm um efeito vaso-dilatador em todo o corpo, o que provoca terríveis dores de cabeça, devido à dilatação dos vasos aí localizados (só os utilizei uma vez, em toda a vida). Esta lesão que tenho no coração está controlada por exames regulares, tendo mesmo feito há meia dúzia de anos uma angiografia: cateterismo cardíaco que não exigiu a instalação de nenhuma válvula correctora do afluxo sanguíneo e muito menos de um bypass, pois a lesão não é das mais graves.
Mas, o que me aconteceu esta semana foi algo diferente: acontecia todos os dias, em variados períodos do dia, sem qualquer indício justificativo e a localização era um pouco diversa, mais acima do que na outra situação descrita anteriormente.
Devido à manutenção do mal estar, e porque com estas coisas não se brinca, dirigi-me na quarta feira, pelas 17 horas à urgência do Hospital Amadora-Sintra; feito de imediato um eletrocardiograma, que não acusou nada de agudo, o que logo me descansou um pouco. Depois foi a terrível angústia de uma urgência hospitalar: apenas fui visto por uma médica, aliás excelente, cerca das 23 horas, e depois de analisado o caso, ela pôs a hipótese de não ser nada cardíaco, principalmente depois de me ter feito pressão num dado ponto, que me provocou dor. Seria algo diferente, mas para o diagnóstico ser seguro, teria que fazer uma despistagem, com uma análise sanguínea e lá esperei mais uma hora pelos resultados, que felizmente confirmaram estar tudo bem com o coração.
O meu mal chama-se Síndrome de Tietz ( o médico alemão que detectou esta doença), e que é uma inflamação benigna de uma ou mais cartilagens costais; é vulgarmente confundida pelos pacientes com um enfarte do miocárdio, pois os sintomas são semelhantes, mas esta síndrome não progride para causar dano a qualquer órgão (informação da Wikipédia).
E lá regressei a casa eram quase 1 da manhã, aliviado, mas com uma fome de cão!
Já estou a tomar um anti-inflamatório forte até esta crise passar por completo. Perguntada à simpática médica, a causa deste mal a resposta foi: é da idade, meu caro amigo. Da PDI, pensei eu para mim próprio...

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Avante, camaradas...

Com a devida vénia transcrevo a entrada do sempre interessante Daniel Oliveira, no seu "Arrastão":

"A televisão trouxe a notícia da libertação de Aung San Suu Kyi, e é claro que fiquei satisfeito. Sou em princípio a favor de todas as libertações, mas talvez desta ainda mais do que é costume. Não por Suu Kyi ser Prémio Nobel da Paz e Prémio Sakarov: na verdade são galardões que pela sua própria história me inspiram alguma desconfiança e dispenso-me de explicar porquê. Mas acontece que Suu Kyi é mulher e que para mais tem aquele arzinho fisicamente frágil que nos dá cuidados quando a imaginamos presa. É certo que na sua própria residência, que é capaz de ser mais confortável que a minha. Mas imagino que deve ser terrível para uma mulher, para mais senhora de boa disponibilidade financeira, não poder sair de casa para ir às compras no hipermercado mais próximo."

Do bem humorado Correia da Fonseca, distinto idiota que escreve no jornal "Avante!"

Nota: só as fotos foram aqui deixadas por mim, tiradas da net, e não constavam da transcrição do texto em causa.

Por aqui se vê que dentro do PCP continua a haver aquela ortodoxia, de que o partido não se consegue, ou não deseja, livrar.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Felinos Selvagens


Animais magníficos, velozes, belos e dominadores, estes predadores de África e da Ásia, independentemente da sua perigosidade, constituem um grupo da fauna selvagem, sempre impressionante.
Quem não se recorda de os ver em diversas cenas da lei natural da selva, nos conhecidos filmes da National Geographic?
Por muito atractivos que sejam os zoos, é sempre triste ver estes nobres animais enjaulados, fora do seu habitat natural; e ainda mais chocante se torna vê-los transformados em atracção circense,amestrados e na negação da sua condição de predadores.
Aliás sou totalmente contra a utilização de quaisquer animais, como forma de divertimento, principalmente nos circos e a lei deveria proibir essa "exploração".

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Para reflectir...




Às vezes, as correntes que nos impedem de sermos livres são mais mentais do que físicas

Permito-me chamar a atenção para a música do dia, com música de Teodorakis e voz da magnífica e tão esquecida Milva.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Vestido Nuevo

Este é um pequeno filme, que pode e deve suscitar variadas interpretações.
Questiona-se muitas vezes, principalmente nos meios homofóbicos, a origem da homossexualidade, querendo fazer acreditar que tal não passa de uma opção sexual, e que é uma patologia; ora este filme, mostra bem que tal não é verdade, e que os sinais de uma diferente orientação sexual se manifestam, desde muito cedo, das mais variadas formas.
Este miúdo, que sem qualquer problema se apresenta na sua escola vestido de uma maneira bem diferente de todos, fá-lo com uma naturalidade desconcertante, criando perplexidade em toda a gente, menos talvez no seu pai.
E também aqui se aflora, embora de uma maneira muito incipiente, pois é uma idade muito jovem, e a escola é apenas um jardim de infância, um fenómeno muito comum nos dias de hoje, em idades um pouco mais avançadas e a que se dá o nome de bullying, ou seja uma reacção contra comportamentos diferentes e que é geralmente manifestada por agressões quase sempre psicológicas, mas muitas vezes também físicas, e que tem levado ao suicídio de vários jovens, como por exemplo na semana passada, nos EUA e provavelmente de um jovem, há meses, aqui mesmo em Portugal.

sábado, 16 de outubro de 2010

Valha-nos Deus...



“A epidemia de sida é uma forma de justiça imanente”, afirma o arcebispo católico de Malines-Bruxelas, monsenhor André-Mutien Léonard, num livro de entrevistas agora publicado pelos jornalistas Louis Mathoux e Dominique Minten


“Quando se maltrata o amor humano, talvez ele acabe por se vingar”, disse aquele filósofo e teólogo de 70 anos, em declarações reproduzidas pelo jornal belga “Le Soir”; e que estão na linha de outras suas tomadas de posição.

Em Abril de 2007, numa entrevista ao semanário belga “Télémoustique”, o então bispo de Namur, que só em Fevereiro último transitou para arcebispo de Malines-Bruxelas, atribuíra a “anormalidade do comportamento homosexual” a “um bloqueio verificado durante o desenvolvimento psicológico normal”.

Depois das reacções iniciais à sua tomada de posição sobre a sida, o prelado fez distribuir um comunicado em que explica: “Talvez se trate de uma justiça imanente, mas quanto às causas imediatas são os médicos que estarão aptos a dizer onde é que esta doença nasceu, como é que se transmitiu inicialmente, quais é que foram as vias da sua propagação”.

Se se desejar uma consideração mais geral, prossegue mons. Léonard, ao falar da sida como “consequência de uma sexualidade livre entre adultos”, “maltratar a natureza física leva a que ela nos maltrate; e maltratar a natureza profunda do amor humano acaba sempre por gerar catástrofes a todos os níveis”.

A polémica foi levantada nos últimos dias pelo livro “Mgr. Léonard – Gesprekken”, das edições Lannoo, versão actualizada de uma obra que surgira em 2006 em francês e em que o mesmo género de considerações aparece agora em flamengo, a outra língua da Bélgica.

A chefe da bancada parlamentar do Centro Democrata Humanista (CDH), Catherine Fonck, considerou “inaceitável considerar tal doença como uma forma de punição”; e o político socialista Paul Magnette, antigo professor de Ciência Política na Universidade Livre de Bruxelas, referiu-se ao ponto de vista do arcebispo como “ignóbil”.

O ministro presidente da região valã, Rudy Demotte, escreveu na sua página do Facebook: “Possa Deus, se ele existe, punir de maneira iminente aquele que profere semelhantes alarvidades”.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Aiiiiii.....o uso das palavras

Nem sempre podemos expressar num português corrente, aquilo que nos apetece dizer, ou porque estamos na presença de pessoas que respeitamos muito, ou por estarmos em locais mais reservados.

Sendo assim, aqui estão alguns exemplos de como devemos dizer o mesmo com palavras nada ofensivas e que até podem provocar uma admiração pela forma elegante como as usamos:

"Deglutir o batráquio" (Engolir o sapo)

"Colocar o prolongamento caudal no meio dos membros inferiores" (Meter o rabo entre as pernas)

"Sequer considerar a possibilidade de fêmea bovina expirar forte contracções laringo-bucais" (Nem que a vaca tussa)

"Retirar o filhote de equino da perturbação pluviométrica" (Tirar o cavalinho da chuva)


a melhor de todas......aprendam

"Sugiro veementemente a Vossa Excelência que procure receber contribuições inusitadas na cavidade rectal"

(Vá levar no cú)

E porque de palavras falamos que tal deliciar-nos com o inesquecível Mário Viegas numa das suas mais célebres declamações…

sábado, 8 de maio de 2010

De Juliano a Bento XVI

Acabei de ler um livro muito interessante de Gore Vidal, que escolhi mais pelo autor, do qual estou a iniciar a leitura de alguma da sua obra, e pelo facto de se reportar a páginas da História, matéria que nunca deixou de me seduzir. Trata-se de “Juliano”, um imperador romano, que viveu no século IV D.C., e que ficou conhecido como “o Apóstata”, pois foi o primeiro imperador romano, desde que Constantino transformou a religião oficial no Cristianismo, que lutou contra esse facto, tendo restabelecido o culto dos deuses, baseado no Helenismo, e considerando Cristo apenas como mais um deus e não como o Deus único.

O livro e as suas considerações é apaixonante e trouxe-me ao pensamento a minha posição, em relação à religião, ao Cristianismo, e essencialmente ao Catolicismo, no qual fui educado, no seio de uma família profundamente católica e praticante. Quando cheguei à idade de pensar por mim próprio, fui moldando o que me tinha sido transmitido com o que ia conhecendo através da leitura e essencialmente da vida real; passei, como noutras importantes decisões da minha vida, por conflitos pessoais, no que respeita à minha rebeldia com o que convencionalmente era suposto ser e cheguei, como também noutros assuntos a um patamar de paz interior, em que me encontro neste momento: nunca reneguei Cristo, a sua dimensão humana, que me faz, apesar de tudo, acreditar que a revolução cristã foi porventura a maior revolução do mundo, sob um ponto de vista até histórico; mas consegui abstrair-me dos mistérios da Santíssima Trindade, da concepção de Jesus Cristo e das cisões que levaram à génese das diferentes formas de viver e olhar o Cristianismo, conseguindo até pensar que há nessas diferentes formas, algumas razões mais legítimas do que as do Catolicismo comandado por Roma. Continuo a ter fé, a minha fé, mas a minha visão de Deus é baseada, talvez de uma forma demasiado simplista e cómoda, numa relação directa com Cristo, sem obediência a dogmas e principalmente não subjugado a um conjunto de seres humanos, que constituem, no sentido restrito, a Igreja, hierárquicamente constituída, desde a sua base á sua cúpula, o Papa!

Sou muito crítico a esta Igreja , pois sendo os seus membros , seres humanos, são naturalmente passíveis de errar, de serem pecadores…Que absurdo eu ir confessar os meus pecados (quem os não tem?) a um homem que pode ser mais pecador que eu; e que poderes tem ele para me “absolver”? Os meus pecados “confesso-os” pelo arrependimento, directamente a Cristo. E quantos pecados, ao longo dos séculos, tem tido esta Igreja!!! Basta históricamente pensar na “evangelização” do novo mundo, com o extermínio dos "ímpios" indigenas; na autêntica desgraça que foi a Inquisição, na devassidão dos papados renascentistas e para chegar aos tempos de hoje com os escândalos da pedofilia, da continuidade da não aceitação do uso do preservativo, de tanta coisa que é ocultada, e remetida para um canto de “coisas menores”, para uma ostentação escandalosa num mundo de miséria, eu sei lá…


E assim chegamos ao actual Papa, um cardeal alemão de seu nome Ratzinguer, com obscuras ligações passadas no tempo da guerra e que, com um ar profundamente hipócrita, na sua voz terrivelmente cínica, vai pedindo perdão disto e daquilo sem assumir os seus erros, de omissão de casos de pedofilia, de condenação, no próprio continente africano do uso do preservativo, sabendo que a SIDA dizima milhões de pessoas naqueles lugares e não prescindindo dos luxos do Vaticano. Já conheci vários Papas, desde o Cardeal Pacelli, depois Pio XII, que só a minha tenra idade não deu para perceber que foi um péssimo Papa (lembro-me de em criança, ter medo da sua cara), depois o bondoso Cardeal Roncalli, João XXIII, o único que recordo com sincera saudade, passando pelo astuto e político Cardeal Montini, que conquistou o Papado à custa de uma autêntica campanha eleitoral, tornando-se Paulo VI; depois , qual estrela cadente, pairou no Vaticano uma esperança que foi o Cardeal Luciani, João Paulo I e cuja morte ainda está encoberta em mistério até nos tempos mais modernos termos tido o polaco Woytilla, João Paulo II, que colmatou muito dos seus pragmatismos (preservativo, aborto, homossexualidade), com uma extrema bondade.

De Bento XVI, que agora nos visita, já se falou demais em tão pouco tempo, e por variadas e menos boas razões. Não vou “bater mais no ceguinho” e apenas reafirmo que é um homem que não honra o Papado e que só os católicos completamente dogmáticos aceitam com satisfação. A sua visita é para mim perfeitamente vazia de sentido. Apenas lamento que o Estado português, que é um estado (ou deveria ser) laico, tanto empenho mostre nesta visita, mormente pela parte do PR, que servilmente o acompanhará por onde ele passe.

Que passe muito bem, mas que passe depressa.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Com bolinha...ou talvez não...


Este texto de Millôr Fernandes poderá eventualmente chocar algumas mentes mais conservadoras, mas ele é exemplificativo de um sem número de pessoas que usam estes vernáculos, no seu dia a dia, quer oralmente, quer principalmente em pensamento. E deixemos-nos de questões moralistas, pois estes termos fazem parte da língua portuguesa e quem os emprega de vez em quando, não pode nem deve ser apelidada de grosseira ou mal criada: tudo depende do seu uso devido ou indevido, do contexto e até da região onde ele usado; no Norte do país estas frases são muito mais usadas que nas outras regiões, por exemplo...


"O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à

quantidade de "foda-se!" que ela diz.

Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"?

O "foda-se!" aumenta a minha auto-estima, torna-me uma

pessoa melhor.

Reorganiza as coisas. Liberta-me.

"Não quer sair comigo?! - então, foda-se!"

"Vai querer mesmo decidir essa merda sozinho(a)?! - então,

foda-se!"

O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição.

Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos

extremamente válidos e criativos para dotar o nosso vocabulário

de expressões que traduzem com a maior fidelidade os nossos

mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo a fazer a sua

língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que

vingará plenamente um dia.

"Comó caralho", por exemplo. Que expressão traduz melhor a

ideia de muita quantidade que "comó caralho"?

"Comó caralho" tende para o infinito, é quase uma expressão

matemática.

A Via Láctea tem estrelas comó caralho!

O Sol está quente comó caralho!

O universo é antigo comó caralho!

Eu gosto do meu clube comó caralho!

O gajo é parvo comó caralho!

Entendes?

No género do "comó caralho", mas, no caso, expressando a

mais absoluta negação, está o famoso "nem que te fodas!".

Nem o "Não, não e não!" e tão pouco o nada eficaz e já sem

nenhuma credibilidade "Não, nem pensar!" o substituem.

O "nem que te fodas!" é irretorquível e liquida o assunto.

Liberta-te, com a consciência tranquila, para outras actividades

de maior interesse na tua vida.

Aquele filho pintelho de 17 anos atormenta-te pedindo o carro

para ir surfar na praia? Não percas tempo nem paciência.

Solta logo um definitivo:

"Huguinho, presta atenção, filho querido, nem que te fodas!".

O impertinente aprende logo a lição e vai para o Centro

Comercial encontrar-se com os amigos, sem qualquer problema,

e tu fechas os olhos e voltas a curtir o CD (...)

Há outros palavrões igualmente clássicos.

Pense na sonoridade de um "Puta que pariu!", ou o seu

correlativo "Pu-ta-que-o-pa-riu!", falado assim, cadenciadamente,

sílaba por sílaba.

Diante de uma notícia irritante, qualquer "puta-que-o-pariu!", dito

assim, põe-te outra vez nos eixos.

Os teus neurónios têm o devido tempo e clima para se

reorganizarem e encontrarem a atitude que te permitirá dar um

merecido troco ou livrares-te de maiores dores de cabeça.

E o que dizer do nosso famoso "vai levar no cu!"? E a sua

maravilhosa e reforçadora derivação "vai levar no olho do cu!"?

Já imaginaste o bem que alguém faz a si próprio e aos seus

quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de

seu interlocutor e solta:

"Chega! Vai levar no olho do cu!"?

Pronto, tu retomaste as rédeas da tua vida, a tua auto-estima.

Desabotoas a camisa e sais à rua, vento batendo na face, olhar

firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado

amor-íntimo nos lábios.

E seria tremendamente injusto não registar aqui a expressão de

maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu-se!". E a

sua derivação, mais avassaladora ainda: "Já se fodeu!".

Conheces definição mais exacta, pungente e arrasadora para

uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de

ameaçadora complicação?

Expressão, inclusivé, que uma vez proferida insere o seu autor

num providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo

assim como quando estás a sem documentos do carro, sem

carta de condução e ouves uma sirene de polícia atrás de ti a

mandar-te parar. O que dizes? "Já me fodi!"

Ou quando te apercebes que és de um país em que quase nada

funciona, o desemprego não baixa, os impostos são altos, a

saúde, a educação e … a justiça são de baixa qualidade, os

empresários são de pouca qualidade e procuram o lucro fácil e

em pouco tempo, as reformas têm que baixar, o tempo para a

desejada reforma tem que aumentar … tu pensas “Já me fodi!”

Então:

Liberdade,

Igualdade,

Fraternidade

e

foda-se!!!

Mas não desespere:

Este país … ainda vai ser “um país do caralho!”

Atente no que lhe digo

Millôr Fernandes