Armando da Silva Carvalho, nasceu, perto de Óbidos, em 28 de Março de 1938.
Frequentou um colégio particular nas Caldas da Rainha e, depois de passar pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, licenciou-se em Direito, na mesma Universidade.
Entretanto exerceu várias profissões: empregado de escritório, tradutor, jornalista, copy-writer numa agência publicitária e, finalmente, a advocacia em Lisboa.
Em 1962 foi-lhe atribuído o Prémio Revelação pela Sociedade Portuguesa de Autores, pelo seu livro “Lírica Consumível”.
Tem várias obras de poesia publicadas, entre elas “Alexandre Bissexto” (1983), “O uso e o abuso” (1976), “Técnicas de engate” (1979) e “Em nome da mãe” (1994).
Publicou também “A vingança de Maria de Noronha” (1988), “O homem que sabia a mar” (2001) e recentemente, em 2006, junto com Maria Velho da Costa, “O livro do meio”.
É um dos melhores poetas portugueses revelados nos anos 60.
Colocas mais palavras
sobre o corpo. Divagas
construindo os pés
de uma retórica
por vezes
fraudulenta.
Por vezes
só.
Sino de músculos
aos meus tão periféricos.
Tão oca. Tão sonora.
Tão perfeita.
Com seu motor erótico
posto em movimento.
Teus lábios
despegam-se
de uma boca harmónica.
Transitam cordiais
num espaço proibido
enriquecido
por límpidos sinais.
Por vezes
tão solene
que os meus olhos
se fundem
liturgidos
na água preciosa
dessa sucinta flor
tão especiosa.
Os meus vocábulos
Dou-tos.
Cruzam c’os teus
no parapeito histórico
em que debruças
o corpo já sem fraude
que mil e uma vezes
pronuncias.
Por vezes
Som.
Subindo na solidão doméstica
com seus talheres de sonho.
Inversa dessa boca transitória
que mastigava a minha
na meiga confusão
dos beijos
e da sesta.
Teu rosto
nesta ilha requintada
onde a chuva choca
os planos pacientes da tristeza
- teu rosto é um turista.
E um voo que se freta
num espaço doente
e a que eu liberto agora
toda a pista.
Por vezes
Sonho
com a matéria
magnífica
dos teus membros,
teus dentes incrustados
numa manha altiva.
E o mar
dá-me esta ilha
todas as manhãs.
Embora prefira (de muito longe) a prosa à poesia, desde que um poeta me toque no mar, toca-me nas entranhas.
ResponderEliminarAmigo João Manuel
ResponderEliminareu sei que não é a Sophia, mas Armando Silva Carvalho é também um grande poeta.
Referi a Sophia pelas suas constantes alusões ao mar...
Abraço.
Como te foste lembrar do Armando? Eu gosto da poesia e gostei do Livro do meio. Nem sempre é linear, mas gosto.
ResponderEliminarNão conhecia! Obrigado pelas descobertas que tens colocado no meu caminho!
ResponderEliminarAquele abraço
Caro Paulo
ResponderEliminarO Armando Silva Carvalho foi uma descoberta que fiz na minha adolescência através dos saudosos "Cadernos de Poesia" da D. Quixote.
Depois..."perdi-o" de vista, durante uns largos tempos, mas também um pouco por culpa dos "media", que nunca lhe deram a devida importância; só há pouco tempo, li uma crítica muito agradável a um livro recente dele, o último, penso, que ele escreveu "a meias" com a Maria Velho da Costa, sua amiga de sempre.
E daí a ideia de tirar um pouco este nome da sombra do esquecimento.
Abraço.
Amigo Kokas
ResponderEliminareu tenho uma visão muito própria da blogosfera; claro que os blogs são o que os seus autores definem, e eu, como digo no meu perfil, decidi aqui contar coisas minhas, sem esconder maneiras de pensar e de estar, mostrar algo sobre o mundo GLBT, sem antolhos, mas como mais uma visão da sociedade actual, escrever sobre coisas que me dizem algo, culturalmente, e de quando em vez, dar um ar mais brejeiro, para tornar o blog mais risonho, pois isso é sempre bom.
Logo, a palavra chave, para mim, aqui é PARTILHA.
Dar a conhecer aos outros coisas que eu gosto e saber deles coisas interessantes e aprender com essas coisas,(tanto tenho aprendido, aqui na blogosfera...).
Outra ideia base é a amizade virtual que por aqui se vai encontrando, e que, não poucas vezes, tem evoluído para uma amizade real; claro que já tive excepções, mas foram poucas (2) e isso só vem a mostrar que a escolha de amigos é das coisas mais importantes da nossa vida, pois essas excepções já estavam no campo real...enfim, acontece.
Desculpa todo este testamento, que vem a propósito deste teu comentário sobre o A.S.Carvalho.
Abraço.
Também sou muito mais de prosa do que poesia, e talvez por isso nunca tenha lido nada deste senhor, mas sempre que a poesia nos toca, não há como lhe ficar indiferente.
ResponderEliminarAbraço, Pinguim!
Amigo Oz
ResponderEliminaruma pessoa sensível, nunca fica indiferente ao belo, mesmo que não seja subjectivamente o seu tema preferido.
Abraço.
Olá
ResponderEliminarConfesso a minha ignorãncia, não conhecia, mas vou pesquisar mais.
Vejo que continuas a não te cansar de ouvir "You raise me up" - Josh Groban... eu é Passion e Noite Lua.
Mas que fazer, sou uma romântica icorregível.
bom fim de dia
Subindo na solidão doméstica
ResponderEliminarcom seus talheres de sonho.
Gostei do poema e gosto deste amigo da maria velho da costa...
Olá Jasmim
ResponderEliminar"You raise me up" é uma espécie de terapia para alguns momentos em que vemos as coisas menos bem; ao ouvir aquela voz, ao entender aquela mensagem, é a mesma coisa que estar a receber um abraço, um sorriso e um beijo. Como poderei cansar-me?
Quanto ao Armando, vais decerto gostar...
Beijinhos.
Amigo Luís
ResponderEliminarparece que o livro deles os dois é deveras interessante, pois há toda uma cumplicidade que os "solta" mutùamente...
Aquele abraço.
As influências caldenses são obvias nos seus poemas!
ResponderEliminarAbraços
Parece que sim, e tu como bom filho da terra, sentes um justificado orgulho. Ainda bem.
ResponderEliminarAbraço.