Voltando ao tema do post anterior, e seguindo o raciocínio do Tong zhi, no seu comentário, de que as conversas passariam a ser como os “tintins”, recordei-me de uma cena, que se passou com os meus avós paternos, lá para os tempos revolucionários dos anos 70; sucede que tendo uma filha a residir no Porto, eles de quando em vez, iam até à Invicta, e ficavam sempre hospedados no Hotel Batalha.
O meu avô era mesmo intragável, de um conservadorismo ridículo, para desgraça da minha santa avó (santa porque o aturava), que era uma senhora bela, culta e distinta; ora, das pouquíssimas concessões dele, era quando estavam fora, no Porto, no Hotel Batalha e em Lisboa, no Hotel Tivoli, ele permitia-se uma ida ao cinema, com ela claro, e sempre ao Batalha, no Porto, pois era só atravessar a praça, ou ao S.Jorge, aqui em Lisboa, a 50 metros do hotel; eram cinemas bons, que passavam bons filmes e não havia problemas, apenas perguntava qual o nome do filme e mandava comprar os bilhetes.
Estando uma ocasião no Porto, foram ver um filme, ao Batalha claro, cujo nome em português era “As bailarinas”, tradução muito à letra do título original “Les valseuses”, o que era um perfeito disparate, pois “les valseuses”, quer dizer em calão, os ditos “tintins” ou as “cerejas” na minha moderna versão...e com propriedade, pois são muito “mexidos” os ditos cujos; O filme, bem, eu vi-o, era quase sexualmente subversivo, com sexo a três, sexo descarado entre os 2 protagonistas masculinos, nús integrais em grande parte do filme, enfim, um pagode (os intérpretes eram o Dépardieu, a Miou-Miou e o malogrado Patrick Dewaere e o realizador era o Bertrand Blier).
Imagine-se o espanto e a incredibilidade do meu avô ao deparar com aquilo, era um escândalo e trata de sussurrar para minha avó: “isto é uma porcaria, não podes ver isto, fecha os olhos, Eduarda”; a senhora respondeu-lhe e bem, que se estava incomodado deveriam sair, mas isso , para ele era impossível, outro escândalo seria, sair do cinema a meio, com a luzes apagadas, teriam que esperar pelo intervalo, mas ela deveria fechar os olhos(...).
Bem, a risada que eu dei quando a minha avó me contou isto mais tarde, sem ele saber, claro, e juntou um magnífico comentário; “ E eu até estava a achar divertido, filho...”
A propósito, se puderem encontrar o filme, vejam; vão divertir-se e achar ainda mais piada a esta história.
Eu faço ideia da tourada que deve ser o filme. ;)
ResponderEliminar(Se leva o Depardieu, tenho mais uma razão para o procurar, he he.)
E imagino o choque que o puritanismo socialmente aceitável do teu avô deve ter levado: nos 70's o mundo já estava perdido, rsrsrsr.
Olha, se fosse hoje, quando ele exigiu à senhora tua avó que fechasse os olhos, ela era capaz de lhe responder com uma expressão de descrédito bem portuense: "Fechar os olhos?! Vai no Batalha!" :D
Epah o "sketch" é delicioso. Ainda por cima consigo visualizá-lo. Adoro tudo aquilo que deixa os conservadores confrontados com as suas limitações. Bem, tudo, tudo não. :)
ResponderEliminarAquele abraço
Amigo João Manuel
ResponderEliminaraquele homem e eu não tinhamos nada em comum, a não ser o nome (próprio e de família, claro), e eu sempre recusei trabalhar na empresa textil familiar, enquanto ele lá esteve, pois ainda menos o suportaria como patrão.
O episódio diz tudo...
Abraço.
Amigo Kokas
ResponderEliminaré curiosa essa tua observação de conseguires visualizar algo que outrém descreve, pois isso acontece-me também algumas vezes...
Claro que concordo com a tua opinião.
Aquele abraço.
fiquei muito curioso em ver essa obra que despertou na tua avó esses comentários dignos de registo....é uma delicia este post!
ResponderEliminareh eh eh
ResponderEliminarJá viste onde te levaram as cerejas/tintins????
Eu também tinha um avô assim... mas, no meu caso, a avó ainda era pior!!!!
Pinguim, a cena no cinema é de mijar a rir. A estupefacção do avô e a fantástica resposta da avó!
ResponderEliminarObrigado pelo conselho, vou mesmo procurar. Nunca tinha ouvido falar!
Abraços
Amigo Luís
ResponderEliminardeliciosa era a minha Avó, nunca a poderei esquecer...
Quanto ao filme, bem...só visto; e é curioso que nunca dei por que ele tenha passado na Tv ou estivesse à venda em DVD ou mesmo VHS.
Abraço.
Caro Tonghzi
ResponderEliminarainda bem que as semelhanças eram só no sector masculino, pois a minha Avó era uma "porreiraça"; só não percebi nunca o que é que ela "viu" no marido que arranjou, mas enfim, talvez "coisas da época"...
Abraço.
Não deve ser fácil de encontrar, mas talvez na "mula", embora os filmes franceses dessa época, não apareçam muito por lá.
ResponderEliminarAbraço.
Essa cena sim, é digna de um bom filme. Genial. Esse filme não me é estranho e penso que já o terei "espreitado" há muito tempo. Vou averiguar.
ResponderEliminarAbraço.
Amigo Oz
ResponderEliminarinfelizmente há outras cenas com o mesmo protagonista, menos engraçadas, pois era absolutamente medonho, mas enfim, já cá não está para chatear o próximo.
Quanto ao filme, lembro-me de uma cena em que o Depardieu tenta "comer" o Dewaere, enquanto este se barbeia, que é o máximo...
Abraço.
Uma deliciosa história meu amigo. Engraçado que tenho ouvido coisas semelhantes de pessoas que viveram esses dias agitados pós-revolução. Levavam as namoradas ou até os sogros ao cinema e qual não era o espanto quando começavam a surgir cenas bem picantes no ecrã.
ResponderEliminarUm abraço
E que bom que isso foi, acredita!
ResponderEliminarAbraço.