Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.
Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.
Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio é tudo o que tem
quem vive na servidão.
Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.
E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.
Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.
Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).
Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.
E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.
Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.
E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.
Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles para quem eu escrevo.
Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
Manuel Alegre
Manuel Alegre
Ena! Hoje o canto de liberdade chegou cedo.;-)
ResponderEliminarAbraços.
Sempre.
ResponderEliminarAmigo Rui
ResponderEliminarhá 34 anos dizíamos que tardou demais...
Abraço.
Caro Paulo
ResponderEliminarhá que tempos que tenho o teu blog na minha lista de "blogs a considerar", e só esta questão do jantar e de tudo o que gerou me impediu de te linkar, o que já fiz, após esta tua agradável visita. Espero que apareças mais vezes, eu farei o mesmo.
Abraço.
Pinguim esta música do Zeca é arrepiante. Pode ser lamechice mas para quem conhece pessoas que perderam os seus na guerra não consigo deixar de soltar umas lágrimas com ela. Também imagino o uqe deves sentir, tu que viveste a guerra.
ResponderEliminarUm abraço.
Caro Paulo
ResponderEliminaré para mim, a mais sentida canção do Zeca; os motivos já os apontaste tu.
Abraço.
Tinha 18 anos quando se deu o 25 de Abril. O meu destino que poderia ter sido a Guerra, foi afinal a Liberdade. Foi possivelmente, para mim a diferença entre a morte e a vida.
ResponderEliminarEste poema e esta canção têm portanto uma relação muito estreita... e suscitam-me gratidão, a Manuel Alegre e José Afonso, por terem lutado, quando a luta era quase humanamente impossível e a si também por hoje nos trazer estas obras belíssimas e esta homenagem a um momento tão importante para a História do País e para a história pessoal de tantos que como eu, possivelmente devem a sua vida ao 25 de Abril.
Obrigado.
Há cada vez menos gente disposta a resistir e a dizer NÃO! Infelizmente.
ResponderEliminarAquele abraço
Amigo Com Senso
ResponderEliminartens toda a razão, pois estavas à beira de cumprir o serviço militar, o que implicava, se não tivesses boas cunhas a uma ida para a guerra, o que é sempre uma lotaria; alguns já me perguntaram porque fui, se eu era, e sou, avesso a tudo o que seja guerra, e principalmente, como neste caso, quando não há a mínima sintonia entre a nossa ideologia e a guerra em causa; sucede que a minha opção de não ir à guerrra passaria pelo exílio, que não suportaria...
Mas, veio a Liberdade, e dela pude, com alguns custos, como tenho contado numa série de posts (A guerra cá do João), usufruir, mais tarde e agora, da total opção de dizer o que quero, pois a liberdade do pensamento, nunca deixei de a ter.
Abraço.
Sabes, amigo Kokas, é que a palavra NÃO, sempre foi muito difícil de dizer, e continua a sê-lo, infelizmente.
ResponderEliminarQuanto a resistir, não quero ser demasiado pessimista, mas as novas gerações não conhecem esse verbo e as outras, essas, estão, por vezes cansadas...
Aquele abraço.
estamos sem dúvida em sintonia com Alegre, e a força das palavras. Que tenhas um excelente dia de Abril...
ResponderEliminarÉ verdade, como já te tinha dito no teu cantinho.
ResponderEliminarMas esta música do Zeca traz-me recordações imensas dos tempos antes do 25 de Abril, quando se cantavam estas músicas, quase na clandestinidade, lá em Moçambique; foi o tempo do célebre "cancioneiro do Niassa"...
Abraço amigo e um bom fim de semana; em princípio até domingo...
Houve uma coisa que disseste ali em cima que subscrevo integralmente: as novas gerações não conhecem assim muito bem o verbo e as outras começam a ficar cansadas. É mesmo! 25 de Abril sempre!
ResponderEliminarAmigo Rato
ResponderEliminarapesar desses "mas", é como dizes: "25 de Abril sempre!"
Abraço.
Esta versão arrepia (Menina dos Olhos Tristes pelo Zeca)... mas a original é qualquer coisa.
ResponderEliminarForte abraço!
Amigo Astor
ResponderEliminartalvez por isso, por arrepiar, eu goste mais dela.
Outro abraço amigo para ti.
em dia de liberdade palavras que não podem ser esquecidas
ResponderEliminarbeijos de Abril
Olá Carla
ResponderEliminarclaro que não podem ser esquecidas, mas na juventude há um alheamento total acerca desta data e do seu significado; talvez porque sempre viveram na liberdade que alguns lhes conquistaram.
Beijinhos.
Trova do vento que passa, um dos poemas do Manuel Alegre que mais gosto.
ResponderEliminarBem escolhido para assinalar a data!
Também é dos meus preferidos, caro Tong, daí o tê-lo escolhido.
ResponderEliminarBom fim de semana, com praia à mistura.
Abraço.
Este dia de 25 de Abril está quase a chegar ao fim e como já é hábito somos bombardeados de notícias dum passado recente. Talvez por não ter vivido os acontecimentos em que a sociedade era outro palco da vida não sinta na pele o que os outros sentem. Talvez o mais importante não é desfrutar de um dia de feriado, dar valor à revolução é um passo bem grande para nos mentalizarmos de que o que vivemos hoje em dia não está tão longe como pensamos do dia de ontem, e refiro-me ao passado.
ResponderEliminar*Hugs n' smiles*
Carlos
Amigo Carlos
ResponderEliminarprimeiro que tudo, obrigado pela tua visita e pelas tuas palavras; o teu comentário daria, como de diz, pano para mangas. Há passado e há" passado" e por muito más que as coisas estejam (e estão), estão sempre melhor do que antes; que poderia ter havido outro rumo e estivessemos melhor? De acordo; mas é vivendo a democracia e aprendendo com erros havidos que podemos e devemos ter alguma esperança no futuro...
Abraço.
Haja um dia por ano em que os mais novos e os que desconhecem possam ouvir estas musicas sem vergonha de um orgulho nacional...
ResponderEliminarCaro Swear
ResponderEliminargostei imenso destas tuas palavras; obrigado.
Abraço.
Recordar é viver. Neste caso para que se valorize o que se obteve a tanto custo e não se o perca por se pensar que é um dado adquirido.
ResponderEliminarAbração
E tanto que custou, amigo Sócrates.
ResponderEliminarAbraço.
Amigo, perante este poema, repito o que disse aqui.
ResponderEliminarAbraços
É uma tristeza, e saber que dentro de poucos anos são estes os homens que irão pegar no país em suas mãos...é preocupante, amigo Paulo.
ResponderEliminarAbraço.
acho que posso dizer que tive a sorte de nascer na liberdade!
ResponderEliminarQuerida Marta
ResponderEliminare nem queiras saber o que isso representa; deves sentir-te feliz.
Beijinhos.
gostei!
ResponderEliminardizer não. é preciso.
Olá, amiga
ResponderEliminarobrigado pela tua visita a este canto pluri-facetado.
É claro que é preciso dizer não...e cada vez mais!!!
Como fui mironar o teu blog e gostei, já o linkei aqui; espero que não te importes.
Bj.