terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Normal ou A primeira vez


Li há dias algo, num blog(?), sobre a célebre “primeira vez”, um assunto que todos nós, independentemente da sua orientação sexual, nunca esquecemos e guardamos geralmente no rol das nossas coisa intimas.
Sucede que eu sou um bocado partidário de se partilharem coisas nossas e vai daí resolvi lançar aqui um desafio, para o qual, e devo ser sincero, não conto com uma grande adesão; mas porque não tentar?
Falar da nossa primeira vez!
E, como a ideia é minha, devo dar o exemplo. A minha primeira vez aconteceu sob a forma de algo há muito desejado e sempre reprimido: ter sexo com outro homem! Era isso que me despertava a libido, que eu usava nas minhas deambulações mentais que conduziam ao sexo único até então experimentado – a masturbação.
Estava no meu primeiro ano em Lisboa a estudar Economia, tinha 18 anos e alguns complexos acerca do meu órgão sexual (uma fimose, que resolvi mais tarde com uma circuncisão) e tinha medo, muito medo…Uma noite, ao passar no Príncipe Real (eu morava perto), vi um jovem como eu, a olhar fixamente para mim e dirigiu-se para falar comigo. Era estudante universitário, como eu (Agronomia) e talvez por ser um estranho, não me senti tão intimidado. O convite surgiu da sua parte como algo natural: se queria ir ao seu apartamento, perto da Av.Roma? Não falou em sexo, nem foi preciso, estava implícito…Aceitei, sabendo que finalmente iria descobrir o que sempre tive vontade de descobrir: como era sentir um corpo (masculino) junto ao meu e ter sexo. Não lhe disse que era virgem. Chegados lá, e como não sabia o que fazer, resolvi fazer o que ele fazia; beijou-me e eu correspondi com muita satisfação; e quando se começou a despir eu fiz o mesmo, peça a peça, como ele fazia. Ficamos em sleeps e fomos para a cama. Senti então o seu corpo e fiquei num estado de excitação difícil de descrever. Aconteceu então o improvável: nem passados cinco minutos, só com a troca de carícias, tive um orgasmo, mesmo com os sleeps vestidos. Fiquei sem saber o que fazer, e só então ele me perguntou se era a minha primeira vez. Sim, respondi e pedi desculpa do que aconteceu. Ele foi muito amável, fui tomar um duche e depois conversámos bastante sobre o assunto.
Foi frustrante por um lado, pois foi sexo sem sequer expor o sexo, o meu ou dele, mas tinha dado um primeiro passo… Nada a partir daí, seria igual. O medo continuou e até uma segunda vez demorou muito, mas muito tempo, mas nunca posso esquecer aquela noite, nem a cor dos seus sleeps – eram pretos!
E pronto, já está!
E porque nas últimas postagens tenho andado a falar destas coisas – são fases – aqueles dois vídeos sobre as vidas duplas, o post das tentações, e principalmente porque se enquadra muito bem nesta postagem, deixo aqui um vídeo maravilhoso, que já conhecia e que tenho na minha colecção, mas que me foi recordado ao vê-lo no blog “Ser Gay”.

Fala-nos de uma primeira vez também, mas para ambos e fala acima de tudo de algo muito mais importante: a normalidade de se ser homossexual, não no aspecto de que seja a mais comum das orientações sexuais, mas sim porque na intimidade, nada é anormal e porque um homossexual é um ser humano perfeitamente normal.
O filme faz pensar muito e reflecte uma velha máxima minha: todos somos potencialmente homossexuais; não o concretizamos a maior parte das vezes por medo ou por falta de oportunidade!
Agora fico à espera de quem tem a coragem de contar a sua primeira vez…


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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Tentações

Em virtude da passagem da televisão analógica à TDT, o nosso televisor da cozinha precisava de uma solução, já que quando se instalou a TV por cabo, estupidamente, decidiu-se pôr uma só tomada, na sala.
Agora, era mais fácil e útil pôr mais uma tomada na cozinha do que um simples adaptador e ficamos com um leque de canais alargado também na cozinha.
Contactada a Zon, ficou combinada a vinda cá a casa de um técnico, hoje, segunda feira, para fazer essa instalação. Extremamente simpático e muito interessante fisicamente, pelo menos para o meu gosto: trintão, cheiinho sem ser gordo, com um começo de barriguinha prometedor, cara bonita e uma pêra muito atractiva.

Combinado o sítio por onde o fio iria passar, o senhor começou a trabalhar, para o que foi necessário afastar móveis e outras coisas. Sempre que ele se agachava para mudar a tomada, ficava à vista aquele “bocadinho” que todos conhecemos e que é o começo de algo que gostaríamos conhecer melhor. E eu não conseguia tirar os olhos “daquilo”…

Depois quando foi ao quarto onde está a instalação da net, teve que se esticar todo para descobrir que tipo de instalação era, e mais uma vez mostrou algo muito, mas mesmo muito interessante, pois subiu-se-lhe a parte de cima da roupa e ficou à mostra o umbigo e esse tal pedaço prometedor de barriguinha.

Definitivamente estava a ser muito tentador, e ainda por cima, o senhor era uma simpatia. Quando começou a colar o fio por cima da porta de comunicação da cozinha com o hall de entrada, disse-me que tinha de fechar a porta e portanto disse-me que era melhor eu entrar…
Antes que mais tentações chegassem, respondi-lhe que tinha que fazer na sala e ele que fechasse a porta.

Por vezes, custa muito, não responder a impulsos, e eu sempre fui muito bem sucedido com esses impulsos, mas hoje resisti

sábado, 14 de janeiro de 2012

Almas perdidas

Dando seguimento ao assunto da última postagem, em que mostrei uma curta com uma evidente vida dupla, continuo no mesmo tema.
Desta vez a vida dupla é de outro sentido, talvez tão comum ou mais do que o do vídeo anterior.
Quem não está dentro do meio, não imagina a quantidade de casos como este, de homens casados, com família, muito respeitados, mas com uma secreta vida dupla e não necessariamente com pessoas de outro sexo; curiosamente, a sociedade tolera muito melhor a vida dupla heterossexual, a qual é quase aceite como normal (principalmente se é feita pelo marido), do que a homossexual, a qual é ciosamente guardada, com medo de escândalos.
Esta curta está apresentada em duas partes.


quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

306

Esta curta é um dos muitos exemplos das vidas duplas que tanta gente enfrenta; e não só com o intuito de aumentar proventos, como neste caso, mas noutros, por  razões diferentes.
E se neste caso, entramos no mundo da homossexualidade, no mundo heterossexual acontece o mesmo; e quem pode afirmar que o protagonista deste filme seja homossexual?

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Já cheira a Revolução????


Não é meu hábito plagiar postagens de outros blogs, portanto sinto-me perfeitamente à vontade para transcrever aqui uma entrada de Luís Moreira, habitual colaborador do excelente blog "Pegada", que aproveito para recomendar vivamente e que não sendo da sua autoria também ele transcreve; aliás segundo consta no final do texto, ele repassa-o de um autor desconhecido.
Mas, e porque acho este texto magnífico, não só pela análise bastante exaustiva dos factores que levaram o mundo à encruzilhada em que hoje se encontra, mas também pelo final, simultâneamente radical e redentor,
aqui fica, à vossa apreciação.


"Há cerca de 3 ou 4 meses começaram a dar-se alterações profundas, e de nível global, em 10 dos principais factores que sustentam a sociedade actual. Num processo rápido e radical, que resultará em algo novo, diferente e porventura traumático, com resultados visíveis dentro de 6 a 12 meses... E que irá mudar as nossas sociedades e a nossa forma de vida nos próximos 15 ou 25 anos!
Tal como ocorreu noutros períodos da história recente, no status político-industrial saído da Europa do pós-guerra, nas alterações induzidas pelo Vietname/ Woodstock/ Maio de 68 (além e aquém Atlântico), ou na crise do petróleo de 73.
Façamos um rápido balanço da mudança, e do que está a acontecer aos "10 factores":
1º- A Crise Financeira Mundial : desde há 8 meses que o Sistema Financeiro Mundial está à beira do colapso (leia-se "bancarrota") e só se tem aguentado porque os 4 grandes Bancos Centrais mundiais - a FED, o BCE, o Banco do Japão e o Tesouro Britânico - têm injectado (eufemismo que quer dizer: "emprestado virtualmente à taxa zero") montantes astronómicos e inimagináveis no Sistema Bancário Mundial, sem o qual este já teria ruído como um castelo de cartas. Ainda ninguém sabe o que virá, ou como irá acabar esta história !...
2º- A Crise do Petróleo : Há 6 meses que o petróleo entrou na espiral de preços. Não há a mínima ideia/teoria de como irá terminar. Duas coisas são porém claras: primeiro, o petróleo jamais voltará aos níveis de 2007 (ou seja, a alta de preço é adquirida e definitiva, devido à visão estratégica da China e da Índia que o compram e amealham!) e começarão rapidamente a fazer sentir-se os efeitos dos custos de energia, de transportes, de serviços. Por exemplo, quem utiliza frequentemente o avião, assistiu há semanas, a uma subida no preço dos bilhetes de... 50% (leu bem: cinquenta por cento). É escusado referir as enormes implicações sociais deste factor: basta lembrar que por exemplo toda a indústria de férias e turismo de massas para as classes médias (que, por exemplo, em Portugal ou Espanha representa 15% do PIB) irá virtualmente desaparecer em 12 meses! Acabaram as viagens de avião baratas (...e as férias massivas!), a inflação controlada, etc...
3º- A Contracção da Mobilidade : fortemente afectados pelos preços do petróleo, os transportes de mercadorias irão sofrer contracção profunda e as trocas físicas comerciais que implicam transporte irão sofrer fortíssima retracção, com as óbvias consequências nas indústrias a montante e na interpenetração económica mundial.
4º- A Imigração : a Europa absorveu nos últimos 4 anos cerca de 40 milhões de imigrantes, que buscam melhores condições de vida e formação, num movimento incessante e anacrónico (os imigrantes são precisos para fazer os trabalhos não rentáveis, mas mudam radicalmente a composição social de países-chave como a Alemanha, a Espanha, a Inglaterra ou a Itália). Este movimento irá previsivelmente manter-se nos próximos 5 ou 6 anos! A Europa terá em breve mais de 85 milhões de imigrantes que lutarão pelo poder e melhor estatuto sócio-económico (até agora, vivemos nós em ascensão e com direitos à custa das matérias-primas e da pobreza deles)!
5º- A Destruição da Classe Média : quem tem oportunidade de circular um pouco pela Europa apercebe-se que o movimento de destruição das classes médias (que julgávamos estar apenas a acontecer em Portugal e à custa deste governo) está de facto a "varrer" o Velho Continente! Em Espanha, na Holanda, na Inglaterra ou mesmo em França os problemas das classes médias são comuns e (descontados alguns matizes e diferente gradação) as pessoas estão endividadas, a perder rendimentos, a perder força social e capacidade de intervenção.
6º- A Europa Morreu : embora ainda estejam projectar o cerimonial do enterro, todos os Euro-Políticos perceberam que a Europa moribunda já não tem projecto, já não tem razão de ser, que já não tem liderança e que já não consegue definir quaisquer objectivos num "caldo" de 27 países com poucos ou nenhuns traços comuns!... Já nenhum Cidadão Europeu acredita na "Europa", nem dela espera coisa importante para a sua vida ou o seu futuro! O "Requiem" pela Europa e dos "seus valores" foi chão que deu uvas: deu-se há dias na Irlanda!
7º- A China ao assalto! A construção naval ao nível mundial comunicou aos interessados a incapacidade em satisfazer entregas de barcos nos próximos 2 anos, porque TODOS os estaleiros navais do Mundo têm TODA a sua capacidade de construção ocupada por encomendas de navios.... da China. O gigante asiático vai agora "atacar" o coração da Indústria europeia e americana (até aqui foi just a joke...). Foram apresentados há dias no mais importante Salão Automóvel mundial os novos carros chineses. Desenhados por notáveis gabinetes europeus e americanos, Giuggiaro e Pininfarina incluídos, os novos carros chineses são soberbos, réplicas perfeitas de BMWs e de Mercedes e vão chegar à Europa entre os 8.000 e os 19.000 euros! E quando falamos de Indústria Automóvel ou Aeroespacial europeia... Estamos a falar de centenas de milhar de postos de trabalhos e do maior motor económico, financeiro e tecnológico da nossa sociedade. À beira desta ameaça, a crise do têxtil foi uma brincadeira de crianças! Os chineses estão estrategicamente em todos os cantos do mundo a escoar todo o tipo de produtos da China, que está a qualificá-los cada vez mais.
8º- A Crise do Edifício Social : As sociedades ocidentais terminaram com o paradigma da sociedade baseada na célula familiar! As pessoas já não se casam, as famílias tradicionais desfazem-se a um ritmo alucinante, as novas gerações não querem laços de projecto comum, os jovens não querem compromissos, dificultando a criação de um espírito de estratégias e actuação comum...
9º- O Ressurgir da Rússia/Índia : para os menos atentos: a Rússia e a Índia estão a evoluir tecnológica, social e economicamente a uma velocidade estonteante! Com fortes lideranças e ambições estratégicas, em 5 anos ultrapassarão a Alemanha!
10º- A Revolução Tecnológica : nos últimos meses o salto dado pela revolução tecnológica (incluindo a biotecnologia, a energia, as comunicações, a nano tecnologia e a integração tecnológica) suplantou tudo o previsto e processou-se a um ritmo 9 vezes superior à média dos últimos 5 anos!
Eis pois, a Revolução!
Tal como numa conta de multiplicar, estes dez factores estão ligados por um sinal de "vezes" e, no fim, têm um sinal de "igual". Mas o resultado é ainda desconhecido e imprevisível. Uma coisa é certa: as nossas vidas vão mudar radicalmente nos próximos 12 meses e as mudanças marcar-nos-ão (permanecerão) nos próximos 10 ou 20 anos, forçando-nos a ter carreiras profissionais instáveis, com muito menos promoções e apoios financeiros, a ter estilos de vida mais modestos, recreativos e ecológicos.
Espera-nos o Novo! Como em todas as Revoluções!
Um conselho final: é importante estar aberto e dentro do Novo, visionando e desfrutando das suas potencialidades! Da Revolução! Ir em frente! Sem medo!
Afinal, depois de cada Revolução, o Mundo sempre mudou para melhor!..."

domingo, 8 de janeiro de 2012

Viagens - 3

Retomo hoje a rubrica das minhas viagens, falando de uma viagem que foi extraordinariamente importante para mim, e por várias razões: foi uma das mais longas, sendo mesmo a de mais tempo de permanência num só país – a Bélgica;
aprendi muito sobre vários aspectos da vida e foi um começo importante para um descobrimento mais aprofundado da minha sexualidade.
Deixo este último tema para outra ocasião, e que será exposto fora desta rubrica sobre viagens, e para uma ocasião em que me sinta mais à vontade para abrir certas páginas intimas, mas importantes da minha vida, e que são verdadeiramente fundamentais para a formação do ser que sou hoje.
Quando cheguei ao meu primeiro ano em Económicas (1963) tomei conhecimento que a minha Faculdade fazia parte de uma organização internacional chamada AIESEC, e que reunia as principais faculdades de economia do mundo, tendo como objectivo, nos períodos de férias, a troca de estágios em empresas de todo o mundo para os estudantes dessas faculdades.
A coisa funcionava assim: o núcleo da AIESEC de cada escola de economia, abria inscrições para os estudantes que queriam fazer esses estágios, indicando eles as suas preferências quer no tipo de empresas quer na localização das mesmas; claro que os alunos dos anos mais adiantados tinham prioridade e nestes funcionava ainda o critério das melhores classificações.
Por outro lado esse mesmo núcleo, procurava junto das grandes empresas nacionais, quem estava disposto a receber um estagiário de outro país.
Todos os anos, havia uma reunião, numa cidade escolhida no ano anterior, e onde esses núcleos iriam promover as trocas: se o núcleo da minha Faculdade tivesse conseguido “x” empresas dispostas a receber um estagiário, poderia arranjar o mesmo número “x” de estágios para estudantes dessa Faculdade; depois era uma questão de ver se  podiam satisfazer-se  todos os pedidos feitos, quer em número, quer na escolha do tipo de empresa, quer no local.
Sei que a AIESEC ainda existe, mas parece que está bastante diferente nos seus objectivos, sendo hoje essencialmente e de uma forma mais geral e não específica, uma organização de intercâmbio de jovens.
Estando eu no final do 1º.ano, claro que seria difícil conseguir um estágio, mas consegui-o e foi para a Bélgica, para a cidadezinha de Mons, na Valónia (parte sul e de língua francesa deste pequeno país bilingue), quase junto da fronteira francesa.
Curiosamente esta pequena cidade é a única em todo o país em que a denominação francesa e flamenga são totalmente distintas, sem uma raiz comum; Mons, em flamengo é Bergen, tal qual a cidade norueguesa de mesmo nome.
E fui para ali, para estagiar na maior cimenteira da Bélgica, que estava situada (e está) nos seus arredores – Ciments D’Ouburg!
Claro que eu ia e fui, estagiar para a parte administrativa da empresa e não para a parte do trabalho da cimenteira; mas tive uma visita privilegiada da fábrica, com explicações pormenorizadas de tudo, tendo inclusivamente estado dentro de um dos fornos, quando por motivo de uma avaria, ele esteve inactivo três dias.
A empresa tinha um plano elaborado para um mês, de toda a actividade administrativa que era obviamente complexa e não tinha nada a ver com as actuais tecnologias, como se pode depreender.
Foi muito interessante e importante em função do meu eventual futuro como economista.
Também me arranjaram um local para ficar, numa residência universitária, que por estar em período de férias estava por assim dizer vazia, havendo apenas meia dúzia de alunos de países distantes, que não tinham dinheiro para ir passar férias aos seus países. Todos os quartos, eram individuais e tinham uma pequena cozinha onde podíamos confeccionar as refeições; fiz amizade com um vietnamita que me convidou variadas vezes a partilhar os seus cozinhados, estranhos mas muito apetitosos.
Ali bem perto de Mons, fica o quartel general da NATO, o S.H.A.P.E., que é assim uma espécie de Pentágono americano, mas em ponto pequeno, e por isso havia sempre na cidade muitas famílias estrangeiras.
Deu para conhecer bastante bem a maneira de viver do povo belga daquela região, não tão rica ou desenvolvida como a região flamenga e estranhei muito a forma deles viverem: durante a semana, não faziam qualquer extravagância, antes pelo contrário, poupavam o mais possível, deitavam-se cedo, mas ao fim de semana, era a “desbunda”: reuniam-se em grandes festas familiares, e o álcool era o rei – não faltavam enormes bebedeiras, deles e delas.
Fraco gozo, para tanta poupança, mas era assim que eles se divertiam.
Apesar de tudo eu nunca ficava em Mons no final da semana.
Havia um alemão a estagiar numa empresa em Charleroi, quase ali ao lado e que conheci por acaso na residência universitária e que tinha um carro giríssimo, um velho Carocha cor de rosa e então íamos sempre passar o fim de semana fora: um a Bruxelas, outro a Gand e outro a Brugges.
Deixo Bruxelas para o fim e falo das outras duas cidades;
Brugges é uma das cidades mais belas que conheço – muito bem preservado o seu centro histórico que é maravilhoso, os seus canais, é uma cidade de sonho. Curioso ter lá voltado 40 anos depois e a cidade permanece na mesma. Verdadeiramente um encanto.
Também cheia de canais, também muito bela e maior que Brugges, é Gand.
Ali assisti a duas coisas memoráveis, pois tive a sorte de a visitar durante o seu Festival de Verão. Um concerto na Catedral, com uma acústica óptima e que uma orquestra muito boa interpretou as “Quatro Estações” de Vivaldi; e assisti a uma exibição ao longo dos canais, de cenas históricas, as quais permaneciam nos mesmos sítios, sendo as pessoas que se deslocavam ao longo dos canais para assistir a essas cenas – algo de muito bom e inesquecível.
Houve também um passeio com todos os estagiários que estavam na Bélgica a diversos locais, incluindo Waterloo, onde se realizou a célebre batalha e a um incrível local de sistema de “elevação” de canais (tipo como há no Panamá), em Nivelles.
Bruxelas mereceu duas visitas, a primeira com o alemão e outra sem ele, pois queria descobrir certas coisas sozinho, e fiz muito bem.
Bruxelas tem aquela que possivelmente é a mais bela praça do mundo, La Grande Place,
e tem um restaurante que é toda uma instituição, o “Chez Léon”, conjunto de salas e mais salas onde se comem os melhores mexilhões do planeta – os famosos “moules”. Visitei o Atomyum e visitei o menino que faz chi-chi, o célebre Manneken Pis, que é uma grande desilusão .Visitei La Bourse, que me proporcionou uma “certa história" (das tais para contar mais tarde) e outros sítios nocturnos que tinha vontade de conhecer…
No final do estágio, fui remunerado com uma quantia de dinheiro suficiente, para durante uma semana ter ido conhecer algo da Holanda, mas isso já é outra viagem.

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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Os 3 "gays" magos



É pena o vídeo ser de má qualidade, (ainda é do tempo dos "Gato Fedorento" na SIC Radical) e o Pedro Granger (ele está tão "à vontade" a fazer aquele boneco) acaba por ser o elo mais fraco.
É sempre aquele Betinho da Linha, apoiante incondicional do sr. Silva e cabeça de série dos laranjinhas...

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Pintura homo-erótica

Desde sempre, o homo-erotismo esteve presente na Arte, exceptuando talvez o período obscuro da Idade Média.
Deixo aqui alguns exemplos (muitos mais haveria e de diversa procedências) e procuro fazer um percurso desde a Antiguidade aos nossos dias
No que respeita aos tempos mais remotos escolhi esta
que representa uma imagem de Aquiles cuidando dos ferimentos de Patrócolo (séc. V A.C.)
e também uma pintura oriental que desconheço a sua época, mas que é extremamente explícita

Passando ao Renascimento duas representações de grandes mestres
Uma obra de Caravaggio - "Os músicos"
E a estátua de David, de Miguel Ângelo, a sua obra prima no campo da escultura.

Já no século XIX, podemos encontrar
de William Adolphe Bouguerau - "Dante e Virgílio no Inferno"
e de Édouard Henri Avril - "Ancient Times Plate XVIII from "De Figuris Veneris"

Já no século XX, a escolha recaiu em
Salvador Dali
Frida Kahlo - "Dois nus num bosque"
Francis Bacon - "Study from the human body"
e Andy Wharol - "Auto retrato"

Finalmente num tipo de arte mais modernista, dois exemplos
Um trabalho fotográfico de Aymeric Giraudel - "The Profecy"
e uma tela de Steve Walker

Não podia deixar de referir um caso muito especial de homo erotismo, já no campo da desproporção das formas, de modo a aumentar a carga erótica
Trata-se como é óbvio de um desenho de Tom of Finland (contive-me e não escolhi um dos mais ousados).

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Moscovo e S.Petersburgo

Dois vídeos sobre as duas maiores cidades russas.
Se por um lado, Moscovo, a capital, com a famosa Praça Vermelha -com o Kremlin, sempre esteve nos meus planos de viagem, por outro é S.Petersburgo uma das cidades do mundo que mais ambiciono conhecer. Cidade imperial, cheia de História, repleta de palácios deslumbrantes, a presença forte do Rio Neva e um dos melhores museus do planeta, o Ermitage, faz-me sonhar...
Estes dois vídeos ajudam.
Vamos então visitar a Rússia monumental...

domingo, 1 de janeiro de 2012

That's all Folks!!!

Que melhor postagem poderia eu escolher para celebrar o início de um novo ano?
Nada mais que uma curta metragem de animação (sim eu também gosto de "cartoons"), datada de 1946, e que nesse ano ganhou o Óscar dessa categoria.
Trata-se como não poderia deixar de ser uma produção de Walt Disney, da famosa parelha "Tom & Jerry".
Que me perdoem os amantes dos grandes filmes de animação de agora, com todos os seus aprimores técnicos, dobragens com as vozes de actores famosos, orçamentos brutais e toda uma imensa panóplia de efeitos visuais, sonoros e de toda a espécie, que naquele tempo, nem sequer eram sonhados, mas eu prefiro mil vezes estes maravilhosos "cartoons", de que a longa metragem "Fantasia" é o expoente máximo.
E se agora há belas canções nos filmes de animação, boa música não falta nesta curta, onde entre outras se pode ouvir a "Rapsódia Húngara nº.2, de Liszt".
That's all Folks!!!

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

2011 - Balanço

Este ano, que não deixa saudades está a finar-se.
E em jeito de balanço, aqui deixo as minhas escolhas, quer a nível de personalidades, quer a nível de acontecimentos, tanto em Portugal, como no Mundo.
Se tivesse que escolher a personalidade do ano, assim estilo "capa da Time", escolheria não uma pessoa, mas algo mais abrangente: o Euro!
Já no aspecto mais restrito, de personalidades, vou distinguir duas personagens nacionais e duas internacionais, uma negativa e outra positiva, em cada caso.
Para personalidade negativa portuguesa, não tive hesitação, só podia ser uma: Vítor Gaspar.
No campo positivo,não havia e infelizmente muitas hipóteses, mas acabei por me decidir por Eunice Munoz, uma grande actriz e que este ano comemorou 70 anos de carreira - é obra!
Internacionalmente, tocam-se os opostos - imensos no campo negativo e muito poucos, no campo positivo.
De qualquer forma não hesitei muito na escolha da chanceler alemã Angela Merckl, para a personalidade negativa
Já no campo positivo, a minha escolha recai numa homenagem póstuma a um homem que revolucionou o mundo das comunicações e da informática nos últimos anos, Steve Jobs
Passando depois aos acontecimentos, procedi da mesma forma: um positivo e outro negativo, quer nacional, quer internacional.
O acontecimento negativo nacional escolhido não podia ser outro senão as severas medidas de austeridade, que ultrapassam o exigido pelos acordos estabelecidos e nos arrastam para uma recessão que não sei quando terminará

Positivamente, e para não fugir à regra, não houve grandes acontecimentos que nos pusessem a sorrir; apesar de tudo penso ser a eleição do Fado, como Património Imaterial da Humanidade, uma boa escolha
Internacionalmente, o acontecimento mais marcante nos seus aspectos negativos, foi, sem dúvida, a crise dos mercados
No aspecto positivo, pela influência que poderá ter, não só na região, mas em todo o mundo islâmico, as revoltas chamadas como "Primaveras árabes"
E agora as minhas escolhas pessoais dos desportistas do ano.
A nível nacional, decerto só poderia ser Cristiano Ronaldo
e a nível internacional o sérvio que alcançou as mais brilhantes vitórias nos principais torneios do ténis mundial e actual e destacado nº.1 do ranking ATP: Novack Djokovic


Finalmente, e muito pessoalmente, o melhor livro que li:
O melhor filme que vi:

A melhor peça de teatro que assisti:

e a música de que mais gostei:


Resta-me desejar a tod@s, apesar de tudo, um Novo Ano, o melhor possível

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Seis anos de Felicidade

Hoje, meu amor, sinto-me feliz!
Paradoxalmente , uma imensa tristeza me invade. Não sei como te sentes hoje, mas conhecendo-te como conheço, penso serem semelhantes os teus sentimentos nesta data.
Faz hoje seis anos que nos contactámos pela primeira vez e eu estaria muito longe de pensar, nesse dia do final de 2005 que passados seis anos estivesse aqui a deixar-te o testemunho daquilo que tu bem sabes: o meu intenso amor por ti!
Neste vídeo que reproduz a “nossa canção”, as palavras escutadas são o exemplo total do que ambos fazemos ao longo de todo este tempo – damo-nos força um ao outro, puxamos para cima aquele que por alguma razão, está mais carenciado.


O nosso amor é extremamente difícil, e de alguma forma quase poderia ser considerado impossível, devido a circunstâncias várias, que são mais do que apenas a distância que nos separa fisicamente, como o facto de tu não poderes no teu país, no teu dia a dia afirmar perante a família e os amigos que amas e és amado (sei quão custoso isso é para ti), como a nossa diferença de idades, que dificulta planos a médio prazo, já que a curto prazo é impossível qualquer vivência em comum, enfim, um somatório de factos que já teriam levado a uma separação a maior parte das pessoas nas nossas circunstâncias.
Só que no nosso caso, essas dificuldades têm um reflexo inverso: tornam o nosso amor cada vez mais forte e impossível de se quebrar. Todos os dias vivemos intensamente o outro, nos contactamos variadas vezes e por vezes, um sorriso chega para afugentar uma lágrima, filha da saudade imensa, do desejo de um abraço, de um beijo ou de uma intimidade mais recatada.
Déjan, eu amo-te muito, preciso muito de ti e fazes-me uma falta por vezes insuportável.
Sei que da tua parte sucede exactamente o mesmo e só te peço que não desanimes, pois em breve, estou certo, nos vamos encontrar de novo.
Em princípio estaríamos aqui a passar juntos este dia, como fizemos o ano passado em Madrid; tal não foi possível, devido ao teu próximo exame e ao facto de estares a passar estes dias junto ao teu Pai, na tua terra natal, Zadar, cuidando dele na convalescença de uma pneumonia e estando presente quando na próxima semana for operado à vista. Tenho muito orgulho em ti, por seres um filho assim e neste momento o teu Pai precisa mais de ti do que eu.
Queria ter escrito tudo isto em inglês, para evitar usares a tradução, mas iria demorar tempo e haveria, muito provavelmente incorrecções.

But I must tell you, repeat to you what you knows better then anybody: I LOVE YOU! I MISS YOU! I NEED YOU!
VOLIM TE, CHAKO PAKO!!!

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terça-feira, 27 de dezembro de 2011

E quem são eles/elas?






Ponha a sua cabeça a trabalhar, tente imaginar rostos mais recentes destes retratos de há uns anos atrás e arrisque dizer que são, estas pessoas.
Prometo, que quer estejam errada ou certas, só no final dos comentários direi quem foi o vencedor.
O Luís Veríssimo está proibido de enviar prognósticos, pois já sabe quem são, pois estivemos a ver isto em conjunto: nem sequer mandar pistas.
O vencedor vai ter uma prenda deliciosa. um almoço aqui em Massamá, mas não comigo. Com quem será?

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Boas Festas


Sim, eu sei que este vídeo não tem qualquer relação com este período natalício. Mas se é hábito oferecer algo no Natal, porque não poderei eu oferecer  a quem me acompanha, algo que na minha maneira de ver é precioso, principalmente para quem gosta de cinema.
Este vídeo é uma pequena obra -prima, que mistura variados filmes, de dois dos maiores realizadores de cinema que conheço: o já falecido Stanley Kubrick e o felizmente ainda vivo Martin Scorsese.
Não vou dizer qual é melhor, porque é impossível fazê-lo, assim como é impossível indicar um só filme destes dois realizadores que não seja bom.

Vi este filme no blog Mélange, que sigo há pouco tempo, mas com crescente agrado e cujo autor, Arrakis, foi o justo vencedor de um prémio de um concurso organizado em boa hora pelo Sad eyes. E gostei tanto desta sua postagem e não a podia comentar, pois este blog, como vários outros que sigo, têm como opção na definição dos comentários uma que não é a mais vulgar e que não traz qualquer problema a quem quer comentar (e não prejudica minimamente o blog) e que é a opção "pop up". Peço a que seja da Blogger e não tenha esta opção, o faça; já pedi particularmente a quase dez bloguistas que mudassem, todos acederam e eu feliz por poder comentar.

Bom Natal para tod@s!!!!

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Os "Mercados" e os seus "agentes...

Talvez que com a leitura deste excelente artigo, se perceba melhor a chamada “Crise dos Mercados”:

«Agora está claro: não existe, no interior da União Europeia, nenhuma vontade política de enfrentar os mercados e resolver a crise. Até há pouco, atribuiu-se a lamentável actuação dos dirigentes europeus à sua desmedida incompetência. Mas esta explicação, ainda que correcta, não basta, sobretudo depois dos recentes “golpes de Estado financeiros” que puseram fim, na Grécia e na Itália, a certa concepção de democracia. É óbvio que não se trata só de mediocridade e incompetência, mas de cumplicidade activa com os mercados.

A que chamamos “mercados”? A este conjunto de bancos de investimento, companhias de seguros, fundos de pensões e fundos especulativos (hedge funds) que compram e vendem essencialmente quatro tipos de activos: moedas, acções, papéis da dívida dos Estados e produtos derivados dos três primeiros.

Para ter ideia da sua força colossal, basta comparar duas cifras: em cada ano, as empresas de bens e serviços criam, em todo o mundo, uma riqueza estimada (se medida pelo PIB) em cerca de 45 biliões (milhões de milhões) de euros. Ao mesmo tempo, em escala planetária, os “mercados” movem capitais avaliados em 3.450 biliões de euros. Ou seja, setenta e cinco vezes o que produz a economia.

Consequência: nenhuma economia nacional, por poderosa que seja (a da Itália é a oitava do mundo), pode resistir aos assaltos dos mercados quando estes decidem atacá-la de forma coordenada, como estão a fazer há mais de um ano contra os países europeus depreciativamente qualificados como PIIGS [porcos, em inglês]: (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha).

O pior é que, ao contrário do que se poderia pensar, estes “mercados” não são unicamente forças exóticas, vindas de algum horizonte distante para agredir as nossas gentis economias locais. Não. Na sua maioria, os “atacantes” são os nossos próprios bancos europeus (estes mesmos que foram salvos, com o nosso dinheiro, pelos Estados, na crise de 2008). Para dizer de outra maneira, não são apenas fundos norte-americanos, chineses, japoneses ou árabes os que estão a atacar maciçamente alguns países da zona euro.

Trata-se essencialmente de uma agressão de dentro, dirigida pelos próprios bancos europeus, as companhias europeias de seguros, os fundos especulativos europeus, os fundos europeus de pensões, as instituições financeiras europeias que administram as poupanças dos europeus. São eles que possuem a parte principal da dívida dos Estados. E que, para defender em teoria os interesses dos seus clientes, especulam e obrigam os Estados a elevar as taxas de juros que pagam, a ponto de levar vários (Irlanda, Portugal, Grécia) à beira da falência. Com o consequente castigo para os cidadãos, que devem suportar medidas “de austeridade” e brutais ajustamentos decididos pelos governos europeus para “acalmar” os mercados-abutres – ou seja, os seus próprios bancos.

Estas instituições, além de tudo, conseguem facilmente dinheiro do Banco Central Europeu a 1,25% de juros, e emprestam-no a países como Espanha ou Itália a… 6,5%. Daí a importância escandalosa das três grandes agências de avaliação de riscos (Fitch Ratings, Moody’s e Standard & Poor’s): da nota que atribuem a um país, depende o nível dos juros que este pagará para obter um crédito dos mercados. Quanto mais baixa a nota, mais altos os juros.

Estas agências não apenas costumam equivocar-se – em particular na sua opinião sobre as hipotecas subprime [de segunda linha] norte-americanas, que deram origem à crise actual – mas desempenham, num contexto como o de hoje, um papel perverso e execrável. Como é óbvio que todos os planos “de austeridade” de cortes de direitos e ataque aos serviços públicos irão traduzir-se em queda do índice de crescimento, as agências baseiam-se nisso para rebaixar a nota do país. Consequência: este deverá reservar mais dinheiro para o pagamento da sua dívida. Dinheiro que precisará obter cortando ainda mais o orçamento. Provocando queda inevitável da actividade económica e das próprias perspectivas de crescimento. E então, de novo, as agências rebaixarão a sua nota.

Este ciclo infernal de “economia de guerra” explica porque a situação da Grécia se foi degradando tão drasticamente, à medida que o seu governo multiplicava os cortes e impunha uma férrea “austeridade”. De nada serviu o sacrifício dos cidadãos. A dívida da Grécia baixou ao nível dos “títulos lixo”.

Deste modo, os mercados obtiveram o que queriam: que os seus próprios representantes cheguem ao poder, sem precisar submeter-se a eleições. Tanto Lucas Papademos, primeiro-ministro da Grécia, quanto Mario Monti, presidente do Conselho de Ministros da Itália, são banqueiros. Os dois, de uma maneira ou de outra, trabalharam para o banco norte-americano Goldman Sachs, especializado em colocar os seus homens nos postos de poder. Ambos são, também, membros da Comissão Trilateral.

Estes tecnocratas planeiam impor — custe o que custar socialmente e nos marcos de uma “democracia limitada” — as medidas que os mercados exigem (mais privatizações, mais cortes, mais sacrifícios) e que alguns dirigentes políticos não se atreveram a tomar, por temerem a impopularidade que tudo isso provoca.

A União Europeia é o último território no mundo em que a brutalidade do capitalismo é mitigada por políticas de protecção social. Isso que chamamos “estado de bem-estar”, os mercados já não toleram e querem demolir. Esta é a missão estratégica dos tecnocratas que chegam ao centro do governo graças a uma nova forma de tomada de poder: o golpe de Estado financeiro. Apresentado, é claro, como compatível com a democracia…

É pouco provável que os tecnocratas desta “era pós-política” consigam resolver a crise. Se a sua solução fosse técnica, já teria sido adoptada. Que se passará quando os cidadãos europeus constatarem que os seus sacrifícios são em vão e que a recessão se prolonga? Que níveis de violência os protestos alcançarão? Como se manterá a ordem na economia, nas mentes e nas ruas? Haverá uma tripla aliança entre o poder económico, o mediático e o militar? As democracias europeias converter-se-ão em “democracias autoritárias”?»

- Artigo publicado em Le Monde Diplomatique em espanhol, traduzido por António Martins para Outras Palavras, revisto por Carlos Santos para esquerda.net
Esqueceram-se que aqui já temos o "agente" a trabalhar, o Gasparzinho...

Este texto foi enviado, como a minha participação para  o tema mensal da "Fábrica de Letras" - a crise!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

"Quem tem medo de ir ao Teatro???"

Obra-prima da dramaturgia contemporânea (Edward Albee, 1962),
o texto de "Quem tem medo de Virgínia Woolf "é considerado a quinta-essência do teatro "realista"  - celebrizado num filme de Mike Nichols (com Elizabeth Taylor e Richard Burton), que alcançou um feito único na história de Hollywood, sendo nomeado para todas as categorias dos Óscares, e que ganhou quatro entre os quais os das melhores interpretações femininas - principal (Liz Taylor) e secundária (Sandy Dennis).
Em "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?", o público é convidado para a sala de estar de George e Martha,onde, numa proximidade perturbante, assiste a um intenso ritual de mortificação mútua e de desagregação progressiva das convenções matrimoniais - "O inferno pode ser uma sala de estar confortável e um casal insatisfeito", disse Albee sobre este texto aterrador e comovente, onde as personagens vão "descascando", impiedosamente e até à medula, as múltiplas camadas de mentira e ilusão que envolvem as suas vidas conjugais.
Apresenta-nos a relação de amor-ódio de um casal de meia idade, numa noite de agressões, jogos perigosos e revelações.
É esta a peça em exibição no Teatro Nacional D. Maria II, com Maria João Luís e Virgílio Castelo na pele de um dos casais mais memoráveis da dramaturgia do século XX, numa encenação de Ana Luísa Guimarães.
A açção desenrola-se na sala de estar de George, e Martha - ele, professor do departamento de História de uma universidade, e ela, a filha do reitor - que, regressados de uma festa, esperam visitas: um casal mais novo, Nick (Romeu Costa), professor de Biologia recém-chegado à mesma universidade, e Honey (Sandra Faleiro), a sua mulher.
Ana Luísa Guimarães disse que "Quem tem medo de Virginia Woolf?" é uma peça "sobre os medos, sobre acabar com os medos, exorcizar os medos", sendo essa uma das razões porque decidiu encená-la, apesar da responsabilidade que é trabalhar um texto que integra o património dramático internacional.
Sucedeu comigo algo incrível, durante quase toda a representação: ao ver representar Maria João Luís e Virgílio Castelo, parecia que estava a ver a Elizabeth Taylor e o Richard Burton, e claro que isto é um enorme elogio.
Eu já tinha visto a peça, em 1972, no Monumental, numa encenação de João Vieira e interpretações de Glória de Matos, Jacinto Ramos, Elisa Lisboa e Mário Pereira, e tinha gostado muito. Mas este versão supera-a em muitos aspectos, a começar na interpretação. Se já esperava um bom desempenho de Maria João Luís, uma das melhores actrizes portuguesas, a surpresa maior foi Virgílio Castelo, simplesmente fabuloso. O casal novo também esteve à altura, principalmente Sandra Faleiro.
A encenação cumpre, o cenário, de F.Ribeiro é muito interessante e o jogo de luzes, de Nuno Meira, muito conseguido.
Ao intervalo dei comigo a pensar como é possível numa peça tão densa, violenta no diálogo, e dramática, haver lugar a risos, mas eles são completamente normais, pois o texto está repleto de tiradas de autêntico humor negro, que curiosamente vão diminuindo, quanto mais se vai avançando no desenrolar da acção que vai num crescendo de violência.
Apenas no final, se consegue vislumbrar que no meio de tanto ódio, também há amor naquele casal…


Em dois domingos seguidos fui ver teatro, bom teatro e senti que devo ir mais, que tenho perdido excelentes peças, por inércia e algumas vezes por desconhecimento, pois há peças que estão em cartaz meia dúzia de dias e nada mais.
Faço um apelo: vão ao teatro! Vale a pena ver aquelas actrizes e actores a darem o seu melhor ali, em cena, tão perto de nós, a dar-nos a nós, espectadores, a sua Arte.
Afinal, quem tem medo de ir ao teatro???