domingo, 8 de janeiro de 2012

Viagens - 3

Retomo hoje a rubrica das minhas viagens, falando de uma viagem que foi extraordinariamente importante para mim, e por várias razões: foi uma das mais longas, sendo mesmo a de mais tempo de permanência num só país – a Bélgica;
aprendi muito sobre vários aspectos da vida e foi um começo importante para um descobrimento mais aprofundado da minha sexualidade.
Deixo este último tema para outra ocasião, e que será exposto fora desta rubrica sobre viagens, e para uma ocasião em que me sinta mais à vontade para abrir certas páginas intimas, mas importantes da minha vida, e que são verdadeiramente fundamentais para a formação do ser que sou hoje.
Quando cheguei ao meu primeiro ano em Económicas (1963) tomei conhecimento que a minha Faculdade fazia parte de uma organização internacional chamada AIESEC, e que reunia as principais faculdades de economia do mundo, tendo como objectivo, nos períodos de férias, a troca de estágios em empresas de todo o mundo para os estudantes dessas faculdades.
A coisa funcionava assim: o núcleo da AIESEC de cada escola de economia, abria inscrições para os estudantes que queriam fazer esses estágios, indicando eles as suas preferências quer no tipo de empresas quer na localização das mesmas; claro que os alunos dos anos mais adiantados tinham prioridade e nestes funcionava ainda o critério das melhores classificações.
Por outro lado esse mesmo núcleo, procurava junto das grandes empresas nacionais, quem estava disposto a receber um estagiário de outro país.
Todos os anos, havia uma reunião, numa cidade escolhida no ano anterior, e onde esses núcleos iriam promover as trocas: se o núcleo da minha Faculdade tivesse conseguido “x” empresas dispostas a receber um estagiário, poderia arranjar o mesmo número “x” de estágios para estudantes dessa Faculdade; depois era uma questão de ver se  podiam satisfazer-se  todos os pedidos feitos, quer em número, quer na escolha do tipo de empresa, quer no local.
Sei que a AIESEC ainda existe, mas parece que está bastante diferente nos seus objectivos, sendo hoje essencialmente e de uma forma mais geral e não específica, uma organização de intercâmbio de jovens.
Estando eu no final do 1º.ano, claro que seria difícil conseguir um estágio, mas consegui-o e foi para a Bélgica, para a cidadezinha de Mons, na Valónia (parte sul e de língua francesa deste pequeno país bilingue), quase junto da fronteira francesa.
Curiosamente esta pequena cidade é a única em todo o país em que a denominação francesa e flamenga são totalmente distintas, sem uma raiz comum; Mons, em flamengo é Bergen, tal qual a cidade norueguesa de mesmo nome.
E fui para ali, para estagiar na maior cimenteira da Bélgica, que estava situada (e está) nos seus arredores – Ciments D’Ouburg!
Claro que eu ia e fui, estagiar para a parte administrativa da empresa e não para a parte do trabalho da cimenteira; mas tive uma visita privilegiada da fábrica, com explicações pormenorizadas de tudo, tendo inclusivamente estado dentro de um dos fornos, quando por motivo de uma avaria, ele esteve inactivo três dias.
A empresa tinha um plano elaborado para um mês, de toda a actividade administrativa que era obviamente complexa e não tinha nada a ver com as actuais tecnologias, como se pode depreender.
Foi muito interessante e importante em função do meu eventual futuro como economista.
Também me arranjaram um local para ficar, numa residência universitária, que por estar em período de férias estava por assim dizer vazia, havendo apenas meia dúzia de alunos de países distantes, que não tinham dinheiro para ir passar férias aos seus países. Todos os quartos, eram individuais e tinham uma pequena cozinha onde podíamos confeccionar as refeições; fiz amizade com um vietnamita que me convidou variadas vezes a partilhar os seus cozinhados, estranhos mas muito apetitosos.
Ali bem perto de Mons, fica o quartel general da NATO, o S.H.A.P.E., que é assim uma espécie de Pentágono americano, mas em ponto pequeno, e por isso havia sempre na cidade muitas famílias estrangeiras.
Deu para conhecer bastante bem a maneira de viver do povo belga daquela região, não tão rica ou desenvolvida como a região flamenga e estranhei muito a forma deles viverem: durante a semana, não faziam qualquer extravagância, antes pelo contrário, poupavam o mais possível, deitavam-se cedo, mas ao fim de semana, era a “desbunda”: reuniam-se em grandes festas familiares, e o álcool era o rei – não faltavam enormes bebedeiras, deles e delas.
Fraco gozo, para tanta poupança, mas era assim que eles se divertiam.
Apesar de tudo eu nunca ficava em Mons no final da semana.
Havia um alemão a estagiar numa empresa em Charleroi, quase ali ao lado e que conheci por acaso na residência universitária e que tinha um carro giríssimo, um velho Carocha cor de rosa e então íamos sempre passar o fim de semana fora: um a Bruxelas, outro a Gand e outro a Brugges.
Deixo Bruxelas para o fim e falo das outras duas cidades;
Brugges é uma das cidades mais belas que conheço – muito bem preservado o seu centro histórico que é maravilhoso, os seus canais, é uma cidade de sonho. Curioso ter lá voltado 40 anos depois e a cidade permanece na mesma. Verdadeiramente um encanto.
Também cheia de canais, também muito bela e maior que Brugges, é Gand.
Ali assisti a duas coisas memoráveis, pois tive a sorte de a visitar durante o seu Festival de Verão. Um concerto na Catedral, com uma acústica óptima e que uma orquestra muito boa interpretou as “Quatro Estações” de Vivaldi; e assisti a uma exibição ao longo dos canais, de cenas históricas, as quais permaneciam nos mesmos sítios, sendo as pessoas que se deslocavam ao longo dos canais para assistir a essas cenas – algo de muito bom e inesquecível.
Houve também um passeio com todos os estagiários que estavam na Bélgica a diversos locais, incluindo Waterloo, onde se realizou a célebre batalha e a um incrível local de sistema de “elevação” de canais (tipo como há no Panamá), em Nivelles.
Bruxelas mereceu duas visitas, a primeira com o alemão e outra sem ele, pois queria descobrir certas coisas sozinho, e fiz muito bem.
Bruxelas tem aquela que possivelmente é a mais bela praça do mundo, La Grande Place,
e tem um restaurante que é toda uma instituição, o “Chez Léon”, conjunto de salas e mais salas onde se comem os melhores mexilhões do planeta – os famosos “moules”. Visitei o Atomyum e visitei o menino que faz chi-chi, o célebre Manneken Pis, que é uma grande desilusão .Visitei La Bourse, que me proporcionou uma “certa história" (das tais para contar mais tarde) e outros sítios nocturnos que tinha vontade de conhecer…
No final do estágio, fui remunerado com uma quantia de dinheiro suficiente, para durante uma semana ter ido conhecer algo da Holanda, mas isso já é outra viagem.

©Todos os direitos reservados A utilização dos textos deste blogue, qualquer que seja o seu fim, em parte ou no seu todo, requer prévio consentimento do seu autor.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Os 3 "gays" magos



É pena o vídeo ser de má qualidade, (ainda é do tempo dos "Gato Fedorento" na SIC Radical) e o Pedro Granger (ele está tão "à vontade" a fazer aquele boneco) acaba por ser o elo mais fraco.
É sempre aquele Betinho da Linha, apoiante incondicional do sr. Silva e cabeça de série dos laranjinhas...

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Pintura homo-erótica

Desde sempre, o homo-erotismo esteve presente na Arte, exceptuando talvez o período obscuro da Idade Média.
Deixo aqui alguns exemplos (muitos mais haveria e de diversa procedências) e procuro fazer um percurso desde a Antiguidade aos nossos dias
No que respeita aos tempos mais remotos escolhi esta
que representa uma imagem de Aquiles cuidando dos ferimentos de Patrócolo (séc. V A.C.)
e também uma pintura oriental que desconheço a sua época, mas que é extremamente explícita

Passando ao Renascimento duas representações de grandes mestres
Uma obra de Caravaggio - "Os músicos"
E a estátua de David, de Miguel Ângelo, a sua obra prima no campo da escultura.

Já no século XIX, podemos encontrar
de William Adolphe Bouguerau - "Dante e Virgílio no Inferno"
e de Édouard Henri Avril - "Ancient Times Plate XVIII from "De Figuris Veneris"

Já no século XX, a escolha recaiu em
Salvador Dali
Frida Kahlo - "Dois nus num bosque"
Francis Bacon - "Study from the human body"
e Andy Wharol - "Auto retrato"

Finalmente num tipo de arte mais modernista, dois exemplos
Um trabalho fotográfico de Aymeric Giraudel - "The Profecy"
e uma tela de Steve Walker

Não podia deixar de referir um caso muito especial de homo erotismo, já no campo da desproporção das formas, de modo a aumentar a carga erótica
Trata-se como é óbvio de um desenho de Tom of Finland (contive-me e não escolhi um dos mais ousados).

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Moscovo e S.Petersburgo

Dois vídeos sobre as duas maiores cidades russas.
Se por um lado, Moscovo, a capital, com a famosa Praça Vermelha -com o Kremlin, sempre esteve nos meus planos de viagem, por outro é S.Petersburgo uma das cidades do mundo que mais ambiciono conhecer. Cidade imperial, cheia de História, repleta de palácios deslumbrantes, a presença forte do Rio Neva e um dos melhores museus do planeta, o Ermitage, faz-me sonhar...
Estes dois vídeos ajudam.
Vamos então visitar a Rússia monumental...

domingo, 1 de janeiro de 2012

That's all Folks!!!

Que melhor postagem poderia eu escolher para celebrar o início de um novo ano?
Nada mais que uma curta metragem de animação (sim eu também gosto de "cartoons"), datada de 1946, e que nesse ano ganhou o Óscar dessa categoria.
Trata-se como não poderia deixar de ser uma produção de Walt Disney, da famosa parelha "Tom & Jerry".
Que me perdoem os amantes dos grandes filmes de animação de agora, com todos os seus aprimores técnicos, dobragens com as vozes de actores famosos, orçamentos brutais e toda uma imensa panóplia de efeitos visuais, sonoros e de toda a espécie, que naquele tempo, nem sequer eram sonhados, mas eu prefiro mil vezes estes maravilhosos "cartoons", de que a longa metragem "Fantasia" é o expoente máximo.
E se agora há belas canções nos filmes de animação, boa música não falta nesta curta, onde entre outras se pode ouvir a "Rapsódia Húngara nº.2, de Liszt".
That's all Folks!!!

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

2011 - Balanço

Este ano, que não deixa saudades está a finar-se.
E em jeito de balanço, aqui deixo as minhas escolhas, quer a nível de personalidades, quer a nível de acontecimentos, tanto em Portugal, como no Mundo.
Se tivesse que escolher a personalidade do ano, assim estilo "capa da Time", escolheria não uma pessoa, mas algo mais abrangente: o Euro!
Já no aspecto mais restrito, de personalidades, vou distinguir duas personagens nacionais e duas internacionais, uma negativa e outra positiva, em cada caso.
Para personalidade negativa portuguesa, não tive hesitação, só podia ser uma: Vítor Gaspar.
No campo positivo,não havia e infelizmente muitas hipóteses, mas acabei por me decidir por Eunice Munoz, uma grande actriz e que este ano comemorou 70 anos de carreira - é obra!
Internacionalmente, tocam-se os opostos - imensos no campo negativo e muito poucos, no campo positivo.
De qualquer forma não hesitei muito na escolha da chanceler alemã Angela Merckl, para a personalidade negativa
Já no campo positivo, a minha escolha recai numa homenagem póstuma a um homem que revolucionou o mundo das comunicações e da informática nos últimos anos, Steve Jobs
Passando depois aos acontecimentos, procedi da mesma forma: um positivo e outro negativo, quer nacional, quer internacional.
O acontecimento negativo nacional escolhido não podia ser outro senão as severas medidas de austeridade, que ultrapassam o exigido pelos acordos estabelecidos e nos arrastam para uma recessão que não sei quando terminará

Positivamente, e para não fugir à regra, não houve grandes acontecimentos que nos pusessem a sorrir; apesar de tudo penso ser a eleição do Fado, como Património Imaterial da Humanidade, uma boa escolha
Internacionalmente, o acontecimento mais marcante nos seus aspectos negativos, foi, sem dúvida, a crise dos mercados
No aspecto positivo, pela influência que poderá ter, não só na região, mas em todo o mundo islâmico, as revoltas chamadas como "Primaveras árabes"
E agora as minhas escolhas pessoais dos desportistas do ano.
A nível nacional, decerto só poderia ser Cristiano Ronaldo
e a nível internacional o sérvio que alcançou as mais brilhantes vitórias nos principais torneios do ténis mundial e actual e destacado nº.1 do ranking ATP: Novack Djokovic


Finalmente, e muito pessoalmente, o melhor livro que li:
O melhor filme que vi:

A melhor peça de teatro que assisti:

e a música de que mais gostei:


Resta-me desejar a tod@s, apesar de tudo, um Novo Ano, o melhor possível

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Seis anos de Felicidade

Hoje, meu amor, sinto-me feliz!
Paradoxalmente , uma imensa tristeza me invade. Não sei como te sentes hoje, mas conhecendo-te como conheço, penso serem semelhantes os teus sentimentos nesta data.
Faz hoje seis anos que nos contactámos pela primeira vez e eu estaria muito longe de pensar, nesse dia do final de 2005 que passados seis anos estivesse aqui a deixar-te o testemunho daquilo que tu bem sabes: o meu intenso amor por ti!
Neste vídeo que reproduz a “nossa canção”, as palavras escutadas são o exemplo total do que ambos fazemos ao longo de todo este tempo – damo-nos força um ao outro, puxamos para cima aquele que por alguma razão, está mais carenciado.


O nosso amor é extremamente difícil, e de alguma forma quase poderia ser considerado impossível, devido a circunstâncias várias, que são mais do que apenas a distância que nos separa fisicamente, como o facto de tu não poderes no teu país, no teu dia a dia afirmar perante a família e os amigos que amas e és amado (sei quão custoso isso é para ti), como a nossa diferença de idades, que dificulta planos a médio prazo, já que a curto prazo é impossível qualquer vivência em comum, enfim, um somatório de factos que já teriam levado a uma separação a maior parte das pessoas nas nossas circunstâncias.
Só que no nosso caso, essas dificuldades têm um reflexo inverso: tornam o nosso amor cada vez mais forte e impossível de se quebrar. Todos os dias vivemos intensamente o outro, nos contactamos variadas vezes e por vezes, um sorriso chega para afugentar uma lágrima, filha da saudade imensa, do desejo de um abraço, de um beijo ou de uma intimidade mais recatada.
Déjan, eu amo-te muito, preciso muito de ti e fazes-me uma falta por vezes insuportável.
Sei que da tua parte sucede exactamente o mesmo e só te peço que não desanimes, pois em breve, estou certo, nos vamos encontrar de novo.
Em princípio estaríamos aqui a passar juntos este dia, como fizemos o ano passado em Madrid; tal não foi possível, devido ao teu próximo exame e ao facto de estares a passar estes dias junto ao teu Pai, na tua terra natal, Zadar, cuidando dele na convalescença de uma pneumonia e estando presente quando na próxima semana for operado à vista. Tenho muito orgulho em ti, por seres um filho assim e neste momento o teu Pai precisa mais de ti do que eu.
Queria ter escrito tudo isto em inglês, para evitar usares a tradução, mas iria demorar tempo e haveria, muito provavelmente incorrecções.

But I must tell you, repeat to you what you knows better then anybody: I LOVE YOU! I MISS YOU! I NEED YOU!
VOLIM TE, CHAKO PAKO!!!

©Todos os direitos reservados. A utilização dos textos deste blogue, qualquer que seja o seu fim, em parte ou no seu todo, requer prévio consentimento do seu autor.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

E quem são eles/elas?






Ponha a sua cabeça a trabalhar, tente imaginar rostos mais recentes destes retratos de há uns anos atrás e arrisque dizer que são, estas pessoas.
Prometo, que quer estejam errada ou certas, só no final dos comentários direi quem foi o vencedor.
O Luís Veríssimo está proibido de enviar prognósticos, pois já sabe quem são, pois estivemos a ver isto em conjunto: nem sequer mandar pistas.
O vencedor vai ter uma prenda deliciosa. um almoço aqui em Massamá, mas não comigo. Com quem será?

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Boas Festas


Sim, eu sei que este vídeo não tem qualquer relação com este período natalício. Mas se é hábito oferecer algo no Natal, porque não poderei eu oferecer  a quem me acompanha, algo que na minha maneira de ver é precioso, principalmente para quem gosta de cinema.
Este vídeo é uma pequena obra -prima, que mistura variados filmes, de dois dos maiores realizadores de cinema que conheço: o já falecido Stanley Kubrick e o felizmente ainda vivo Martin Scorsese.
Não vou dizer qual é melhor, porque é impossível fazê-lo, assim como é impossível indicar um só filme destes dois realizadores que não seja bom.

Vi este filme no blog Mélange, que sigo há pouco tempo, mas com crescente agrado e cujo autor, Arrakis, foi o justo vencedor de um prémio de um concurso organizado em boa hora pelo Sad eyes. E gostei tanto desta sua postagem e não a podia comentar, pois este blog, como vários outros que sigo, têm como opção na definição dos comentários uma que não é a mais vulgar e que não traz qualquer problema a quem quer comentar (e não prejudica minimamente o blog) e que é a opção "pop up". Peço a que seja da Blogger e não tenha esta opção, o faça; já pedi particularmente a quase dez bloguistas que mudassem, todos acederam e eu feliz por poder comentar.

Bom Natal para tod@s!!!!

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Os "Mercados" e os seus "agentes...

Talvez que com a leitura deste excelente artigo, se perceba melhor a chamada “Crise dos Mercados”:

«Agora está claro: não existe, no interior da União Europeia, nenhuma vontade política de enfrentar os mercados e resolver a crise. Até há pouco, atribuiu-se a lamentável actuação dos dirigentes europeus à sua desmedida incompetência. Mas esta explicação, ainda que correcta, não basta, sobretudo depois dos recentes “golpes de Estado financeiros” que puseram fim, na Grécia e na Itália, a certa concepção de democracia. É óbvio que não se trata só de mediocridade e incompetência, mas de cumplicidade activa com os mercados.

A que chamamos “mercados”? A este conjunto de bancos de investimento, companhias de seguros, fundos de pensões e fundos especulativos (hedge funds) que compram e vendem essencialmente quatro tipos de activos: moedas, acções, papéis da dívida dos Estados e produtos derivados dos três primeiros.

Para ter ideia da sua força colossal, basta comparar duas cifras: em cada ano, as empresas de bens e serviços criam, em todo o mundo, uma riqueza estimada (se medida pelo PIB) em cerca de 45 biliões (milhões de milhões) de euros. Ao mesmo tempo, em escala planetária, os “mercados” movem capitais avaliados em 3.450 biliões de euros. Ou seja, setenta e cinco vezes o que produz a economia.

Consequência: nenhuma economia nacional, por poderosa que seja (a da Itália é a oitava do mundo), pode resistir aos assaltos dos mercados quando estes decidem atacá-la de forma coordenada, como estão a fazer há mais de um ano contra os países europeus depreciativamente qualificados como PIIGS [porcos, em inglês]: (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha).

O pior é que, ao contrário do que se poderia pensar, estes “mercados” não são unicamente forças exóticas, vindas de algum horizonte distante para agredir as nossas gentis economias locais. Não. Na sua maioria, os “atacantes” são os nossos próprios bancos europeus (estes mesmos que foram salvos, com o nosso dinheiro, pelos Estados, na crise de 2008). Para dizer de outra maneira, não são apenas fundos norte-americanos, chineses, japoneses ou árabes os que estão a atacar maciçamente alguns países da zona euro.

Trata-se essencialmente de uma agressão de dentro, dirigida pelos próprios bancos europeus, as companhias europeias de seguros, os fundos especulativos europeus, os fundos europeus de pensões, as instituições financeiras europeias que administram as poupanças dos europeus. São eles que possuem a parte principal da dívida dos Estados. E que, para defender em teoria os interesses dos seus clientes, especulam e obrigam os Estados a elevar as taxas de juros que pagam, a ponto de levar vários (Irlanda, Portugal, Grécia) à beira da falência. Com o consequente castigo para os cidadãos, que devem suportar medidas “de austeridade” e brutais ajustamentos decididos pelos governos europeus para “acalmar” os mercados-abutres – ou seja, os seus próprios bancos.

Estas instituições, além de tudo, conseguem facilmente dinheiro do Banco Central Europeu a 1,25% de juros, e emprestam-no a países como Espanha ou Itália a… 6,5%. Daí a importância escandalosa das três grandes agências de avaliação de riscos (Fitch Ratings, Moody’s e Standard & Poor’s): da nota que atribuem a um país, depende o nível dos juros que este pagará para obter um crédito dos mercados. Quanto mais baixa a nota, mais altos os juros.

Estas agências não apenas costumam equivocar-se – em particular na sua opinião sobre as hipotecas subprime [de segunda linha] norte-americanas, que deram origem à crise actual – mas desempenham, num contexto como o de hoje, um papel perverso e execrável. Como é óbvio que todos os planos “de austeridade” de cortes de direitos e ataque aos serviços públicos irão traduzir-se em queda do índice de crescimento, as agências baseiam-se nisso para rebaixar a nota do país. Consequência: este deverá reservar mais dinheiro para o pagamento da sua dívida. Dinheiro que precisará obter cortando ainda mais o orçamento. Provocando queda inevitável da actividade económica e das próprias perspectivas de crescimento. E então, de novo, as agências rebaixarão a sua nota.

Este ciclo infernal de “economia de guerra” explica porque a situação da Grécia se foi degradando tão drasticamente, à medida que o seu governo multiplicava os cortes e impunha uma férrea “austeridade”. De nada serviu o sacrifício dos cidadãos. A dívida da Grécia baixou ao nível dos “títulos lixo”.

Deste modo, os mercados obtiveram o que queriam: que os seus próprios representantes cheguem ao poder, sem precisar submeter-se a eleições. Tanto Lucas Papademos, primeiro-ministro da Grécia, quanto Mario Monti, presidente do Conselho de Ministros da Itália, são banqueiros. Os dois, de uma maneira ou de outra, trabalharam para o banco norte-americano Goldman Sachs, especializado em colocar os seus homens nos postos de poder. Ambos são, também, membros da Comissão Trilateral.

Estes tecnocratas planeiam impor — custe o que custar socialmente e nos marcos de uma “democracia limitada” — as medidas que os mercados exigem (mais privatizações, mais cortes, mais sacrifícios) e que alguns dirigentes políticos não se atreveram a tomar, por temerem a impopularidade que tudo isso provoca.

A União Europeia é o último território no mundo em que a brutalidade do capitalismo é mitigada por políticas de protecção social. Isso que chamamos “estado de bem-estar”, os mercados já não toleram e querem demolir. Esta é a missão estratégica dos tecnocratas que chegam ao centro do governo graças a uma nova forma de tomada de poder: o golpe de Estado financeiro. Apresentado, é claro, como compatível com a democracia…

É pouco provável que os tecnocratas desta “era pós-política” consigam resolver a crise. Se a sua solução fosse técnica, já teria sido adoptada. Que se passará quando os cidadãos europeus constatarem que os seus sacrifícios são em vão e que a recessão se prolonga? Que níveis de violência os protestos alcançarão? Como se manterá a ordem na economia, nas mentes e nas ruas? Haverá uma tripla aliança entre o poder económico, o mediático e o militar? As democracias europeias converter-se-ão em “democracias autoritárias”?»

- Artigo publicado em Le Monde Diplomatique em espanhol, traduzido por António Martins para Outras Palavras, revisto por Carlos Santos para esquerda.net
Esqueceram-se que aqui já temos o "agente" a trabalhar, o Gasparzinho...

Este texto foi enviado, como a minha participação para  o tema mensal da "Fábrica de Letras" - a crise!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

"Quem tem medo de ir ao Teatro???"

Obra-prima da dramaturgia contemporânea (Edward Albee, 1962),
o texto de "Quem tem medo de Virgínia Woolf "é considerado a quinta-essência do teatro "realista"  - celebrizado num filme de Mike Nichols (com Elizabeth Taylor e Richard Burton), que alcançou um feito único na história de Hollywood, sendo nomeado para todas as categorias dos Óscares, e que ganhou quatro entre os quais os das melhores interpretações femininas - principal (Liz Taylor) e secundária (Sandy Dennis).
Em "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?", o público é convidado para a sala de estar de George e Martha,onde, numa proximidade perturbante, assiste a um intenso ritual de mortificação mútua e de desagregação progressiva das convenções matrimoniais - "O inferno pode ser uma sala de estar confortável e um casal insatisfeito", disse Albee sobre este texto aterrador e comovente, onde as personagens vão "descascando", impiedosamente e até à medula, as múltiplas camadas de mentira e ilusão que envolvem as suas vidas conjugais.
Apresenta-nos a relação de amor-ódio de um casal de meia idade, numa noite de agressões, jogos perigosos e revelações.
É esta a peça em exibição no Teatro Nacional D. Maria II, com Maria João Luís e Virgílio Castelo na pele de um dos casais mais memoráveis da dramaturgia do século XX, numa encenação de Ana Luísa Guimarães.
A açção desenrola-se na sala de estar de George, e Martha - ele, professor do departamento de História de uma universidade, e ela, a filha do reitor - que, regressados de uma festa, esperam visitas: um casal mais novo, Nick (Romeu Costa), professor de Biologia recém-chegado à mesma universidade, e Honey (Sandra Faleiro), a sua mulher.
Ana Luísa Guimarães disse que "Quem tem medo de Virginia Woolf?" é uma peça "sobre os medos, sobre acabar com os medos, exorcizar os medos", sendo essa uma das razões porque decidiu encená-la, apesar da responsabilidade que é trabalhar um texto que integra o património dramático internacional.
Sucedeu comigo algo incrível, durante quase toda a representação: ao ver representar Maria João Luís e Virgílio Castelo, parecia que estava a ver a Elizabeth Taylor e o Richard Burton, e claro que isto é um enorme elogio.
Eu já tinha visto a peça, em 1972, no Monumental, numa encenação de João Vieira e interpretações de Glória de Matos, Jacinto Ramos, Elisa Lisboa e Mário Pereira, e tinha gostado muito. Mas este versão supera-a em muitos aspectos, a começar na interpretação. Se já esperava um bom desempenho de Maria João Luís, uma das melhores actrizes portuguesas, a surpresa maior foi Virgílio Castelo, simplesmente fabuloso. O casal novo também esteve à altura, principalmente Sandra Faleiro.
A encenação cumpre, o cenário, de F.Ribeiro é muito interessante e o jogo de luzes, de Nuno Meira, muito conseguido.
Ao intervalo dei comigo a pensar como é possível numa peça tão densa, violenta no diálogo, e dramática, haver lugar a risos, mas eles são completamente normais, pois o texto está repleto de tiradas de autêntico humor negro, que curiosamente vão diminuindo, quanto mais se vai avançando no desenrolar da acção que vai num crescendo de violência.
Apenas no final, se consegue vislumbrar que no meio de tanto ódio, também há amor naquele casal…


Em dois domingos seguidos fui ver teatro, bom teatro e senti que devo ir mais, que tenho perdido excelentes peças, por inércia e algumas vezes por desconhecimento, pois há peças que estão em cartaz meia dúzia de dias e nada mais.
Faço um apelo: vão ao teatro! Vale a pena ver aquelas actrizes e actores a darem o seu melhor ali, em cena, tão perto de nós, a dar-nos a nós, espectadores, a sua Arte.
Afinal, quem tem medo de ir ao teatro???

sábado, 17 de dezembro de 2011

Aqui D'El Rei...

A mediocridade dos políticos portugueses vai sendo, dia a dia, progressiva.
Na actualidade, temos como primeiro ministro, um individuo que nunca fez nada na vida, a não ser uns "pescados" nos negócios do seu padrinho Ângelo Correia, tarde e às más horas, e que se viu catapultado a chefiar o seu partido, o seu verdadeiro e único fim, que conseguiu contra a vontade da maioria dos barões que por lá pululam; arranjou um governo de medíocres tecnocratas essencialmente teóricos, cujas principais figuras se encarregam das pastas mais sensíveis de um governo qualquer e principalmente de um governo em tempo de crise: Finanças e Economia.
Este governante, Passos Coelho, está a pôr em prática, e no superlativo, tudo o que condenou no anterior governo e de cuja queda foi o principal responsável.
Completamente rendido ao regime autoritário que comanda a UE - essa execrável figura que tem por nome Ângela Merckl e o seu fantoche Sarkozy (curioso e anacrónico, como a economia capitalista da UE está nas mãos de uma pessoa formada nos fundamentos económicos comunistas da extinta RDA), este "nosso" PM está internamente nas mãos do Gasparzinho, que com aquela cara de meter medo, parece ele próprio antecipar a morte.
O Portas, no intervalo de umas passeatas, vai dizendo umas patacoadas e esquece completamente todas as suas campanhas contra a violência, a falta de justiça e outras coisas muito próprias do seu populismo de feira, e lá vamos nós a caminho apressado do abismo, com todos os indicadores económico-financeiros cada vez mais negativos e francamente já chega de invocar a herança de Sócrates, pois já lá vão meses suficientes deste (des)governo, para começar a arcar com as responsabilidades próprias da ineficácia das suas medidas.
Para piorar a situação, o maior partido da oposição escolheu um líder que só me faz lembrar o Passos Coelho, quando estava na oposição; o Seguro é uma péssima escolha para liderar o PS, num período já de si, difícil de gerir, pelo facto de estar comprometido pelo acordo com a troika, e de ao mesmo tempo, combater o governo.
Sim, eu sei que sou suspeito, mas sou coerente: embora reconhecendo bastantes erros na governação de Sócrates, também fez coisas válidas e que agora a pretexto apenas de serem políticas suas, são completamente ignoradas - o exemplo do recente cancelamento do investimento da Nissan é disso exemplo, pois este governo se esteve sempre marimbando para as energias alternativas...
A contestação social vai subir de tom em 2012 e a repressão da mesma, também aumentará com formas ignóbeis como recentemente a infiltração de agentes policiais provocadores junto a S.Bento.
As pessoas estão a ficar mais que cansadas, estão a ficar assustadas com o que se passa nos seus agregados familiares e mais ainda com o que mais aí virá.
Sei que é uma hipotética situação completamente absurda, mas serve como exemplo: se hoje (amanhã com maior razão), houvesse eleições legislativas, com os mesmos líderes das últimas eleições, Sócrates ganharia com bastante facilidade essas mesmas eleições.

O título deste post foi-me sugerido por um post do blog "Troubled Water".

Adenda: ler, por favor, este texto
http://pegada.blogs.sapo.pt/1078940.html


©Todos os direitos reservados. A utilização dos textos deste blogue, qualquer que seja o seu fim, em parte ou no seu todo, requer prévio consentimento do seu autor.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Dois vídeos...

Depois de duas entradas culturais, depois de várias postagens sérias, porque não mostrar aqui, fazendo jus ao meu lema deste blog, que é a diversidade, algo de mais leve (???), mais musical(???), mais calmo(???) ou simplesmente um nadinha mais ousado!!!
Faz bem, nestes tempos de crise, e não só aos ouvidos, mas, e sobretudo aos olhos...
Espero que se divirtam, gulosos...


quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Livros...

Comecei a ler muito cedo, primeiro os habituais na altura, livros próprios para crianças, como os da Condessa de Ségur (adorava o cão Médor); depois os de aventuras, tipo Emílio Salgari, Júlio Verne e quando entrei na idade adolescente comecei verdadeiramente a interessar-me pela leitura; nos dois últimos anos do então Liceu, li avidamente e procurava ler alternadamente ficção, poesia e algum que outro ensaio. Foi a altura em que descobri a literatura francesa: Camus, Sartre, Gide, Peyrefitte, Prévert e outros; lia muito em francês, graças aos "Livres de Poche" e aos da colecção "J'ai Lu"...
Mas não foi só literatura francesa que me interessou, pois li grandes romances de célebres escritores e de uma forma avassaladora.
Curiosamente, quando entrei na Universidade, o meu interesse pelos livros decresceu, na directa relação com a oferta cultural que vim encontrar em Lisboa: cinema, teatro, concertos, bailado e ópera substituíram a leitura.
Curiosamente,sempre fui comprando livros, que eu dizia, por brincadeira que seriam para ler na minha reforma...
É claro que não deixei de ler, mas a queda foi abissal e também por culpa de começar a ler muitos jornais e revistas, que me levavam quase todo o tempo disponível para a leitura.
E passaram-se anos e anos sem voltar à leitura de livros com interesse real.
Só muito recentemente, se reacendeu a chama e tenho vindo a ler muito ultimamente: muitos dos tais livros para ler na reforma têm sido lidos, mas muitos outros também relidos.
Não sei se vou ter tempo para ler tanta coisa que tenho para ler, pois além do que cá tenho desde há anos, tenho comprado mais e mais.
Só para dar um exemplo, este mês comprei já sete livros: "Nova Iorque, cidade fantasma" de Patrick McGrath, de uma interessante colecção da ASA subordinada ao tema "O escritor e a cidade" (tenho os volumes de Paris, Florença, Rio, Praga e só me falta encontrar o de Sidney); finalmente comprei "O Mestre" do Colm Toíbin, "Como me afoguei" do Jim Grimsley, três livros do David Leavitt ("Dança de Família", "O Escruturário Indiano" e "Colcha de Mármore") e finalmente o último do José Luís Peixoto - "Abraço".
Portanto, muito que ler e literatura que sei vou apreciar.

Ainda falando em livros, o André Benjamim iniciou há uns tempos num dos seus blogs uma rubrica a que deu o nome de "Livros que nunca devia(m) ter lido" em que fala dos seus livros preferidos; ora eu prometi-lhe num comentário que numa postagem minha, falaria dos meus livros preferidos. É difícil a escolha, pois já li autênticas obras-primas, mas há livros, que até podem não ser obras-primas, mas que me marcaram muito.
Se eu tivesse que eleger o livro da minha vida, escolheria sem hesitação "Le Petit Prince" do Antoine de Saint-Exupéry,
pelas imensas vezes que já o reli, pelas imensas vezes que já o ofereci e porque conheço bastantes passagens quase de cor - é um livro para ter sempre à mão.
Se  for ver qual o livro que mais vezes li, depois do "Petit Prince", vou encontrar o livrinho mais "estragado" das minhas estantes, pelas muitas vezes que foi manuseado. Li esse livro, pela primeira vez, muito novo, e porque o seu  autor, Kenneth Martin, o escreveu também muito novo (16 anos), ele teve uma importância enorme na descoberta da minha orientação sexual; trata-se de "Alvorecer", da Portugália Editora, que comprei em 1964, e nunca mais encontrei em português; é a tradução do romance "Aubade".
Um tipo de literatura que sempre me entusiasmou foi o romance histórico, quer em biografia, que em ficção. Dos muitos que li, um deles me entusiasmou sobremaneira, não só pelas suas personagens, mas principalmente pela forma como está escrito. Trata-se, quanto a mim, da obra-prima de Marguerite Yourcenar "Memórias de Adriano".
E finalmente não podia deixar de escolher um livro de poesia; que me perdoem Camões, Pessoa, Florbela, Sophia ou Eugénio de Andrade, mas o livro escolhido é da autoria de um dos maiores poetas portugueses de sempre, o poeta maldito - António Botto - e o livro, claro, só poderia ser "As Canções".
E agora, vou ler um bocado, até adormecer...

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

"Design For Living"

Fui ver à Comuna a peça que estreou no dia 8 e que me chamava particularmente a atenção.
Eu penalizo-me muito, por, apesar de ser um privilegiado na possibilidade de acesso à melhor produção teatral do nosso país, pois habito na região de Lisboa, ficar a dever à minha inércia a perda de produções teatrais importantes, algumas por descuido e outras por desconhecimento; e se eu gosto de teatro!
Mas esta não falhei, e ainda bem, pois gostei imenso. O tema era apelativo, o dramaturgo, excepcional, e na Comuna, não se costumam “enfiar barretes”.
A peça mantém o seu nome original “Design for living” e ainda bem , pois poderia vir a ser escolhido um título em português que fosse menos próprio, como sucedeu ao filme que Ernst Lubitsch, dirigiu em 1933 sobre esta peça e que se chamou entre nós “Uma Mulher para Dois”, e que reuniu , à época um elenco de luxo: Gary Cooper, Frederic March e Miriam Hopkins.
Ao contrário do cinema, de que apenas se realizou esta versão, as produções teatrais foram várias, ao longo dos anos, quer na Broadway, quer em Londres. No entanto, Noel Coward, esse fabuloso dramaturgo inglês, que escreveu a peça em 1932, só teve autorização de a ver exibida em Londres em 1939, proibida até então oficialmente, devido ao tema delicado e complicado.
Devido à 2ª.Grande Guerra, foi cancelada a sua exibição e só voltou a ser reposta em Londres após a morte de Coward, em 1973 e a sua última representação na capital inglesa foi no Old Vic, em 2010. Na Broadway estreou logo em 1933 , mas teve menos reposições que a maior parte das outras peças de Noel Coward.
Se falo tanto de Noel Coward, é porque o êxito da peça está fundamentalmente no texto, fabuloso, escrito como disse em 1932, há 80 anos e de uma actualidade incrível, e passível de uma encenação muito conseguida de Álvaro Correia, que transfere a sua acção perfeitamente para os nossos dias.
Noel Coward foi decerto o mais brilhante dramaturgo inglês do século passado, homossexual assumido e escritor de fino trato, de um humor muito saudável e de uma critica muito acutilante, sempre.
Esta peça fala-nos de um triângulo amoroso formado por três jovens amigos, um dramaturgo, Léo,um artista plástico, Otto e uma designer de interiores, Gilda. Todos se amam uns aos outros, todos lidam melhor ou pior com o sucesso e todos não conseguem passar demasiado tempo sem se amarem “à vez”, mas o outro está sempre “presente” nesses relacionamentos a dois. O espaço está dividido em três cidades: primeiro, Paris, depois Londres e finalmente Nova York. A bissexualidade dos dois intérpretes masculinos está muito bem apresentada, e há ainda um quarto personagem, importante, um amigo de todos, mas que nunca desde o início, deixou de mostrar interesse por Gilda, Ernest.
A encenação é simples, com mudanças de adereços apenas a marcar os três apartamentos, sempre na área social da casa, pois não há cenas intimas,a não ser uma cena muito afectuosa, progressivamente intima entre Otto e Leo.
Na interpretação, eu apenas conhecia Carlos Paulo, claro, como sempre, muito bem, aqui no papel de Ernest, e já tinha visto na televisão o Carlos Vieira, que me agradou (em todos os sentidos), no papel de Otto. João Tempera é uma revelação como Léo,mas os louros vão para a interpretação nervosa, mas conseguida de Rita Calçada Bastos, no papel nevrálgico de Gilda.
Embora não sejam importantes e até funcionem mais como “adereços”, não gostei dos três actores que fazem um pequeno papel na última parte da peça: demasiado artificiais e completamente desfasados do resto do elenco, embora os seus papéis também sejam muito artificiais, valha a verdade.
Enfim, um espectáculo imperdível (está em exibição até 5 de Fevereiro) e que me foi publicitado pelo portal “Dezanove”, que quero aqui felicitar pela actualidade permanente que nos vai fazendo chegar sobre o mundo e as actividades LGBT – muito obrigada!



©Todos os direitos reservados A utilização dos textos deste blogue, qualquer que seja o seu fim, em parte ou no seu todo, requer prévio consentimento do seu autor.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Quem se lembra de...

Inicio hoje mais uma rubrica neste blog. Uma rubrica musical, onde apresento grandes êxitos do passado.
Alguns recordar-se-hão ou das músicas ou dos intérpretes; outros haverá para quem estes temas musicais nada lhes disse,mas pode ser que gostem.
Uma coisa podem ter a certeza: no seu tempo foram enormes êxitos e estiveram nos tops de vendas.
Pat Boone foi dos mais populares cantores e actores norte-americanos, e se interpretou essencialmente musica romântica, talvez o seu maior êxito seja esta música, um popularíssimo rock'n roll.
Brenda Lee não teve, talvez a popularidade dos restantes intérpretes de hoje, mas este seu tema era dos mais tocados naqueles bailes da malta nova de então.
"Diana" foi sem dúvida o tema mais conhecido de Paul Anka; mas eu prefiro este, que também teve um enorme êxito.
Françoise Hardy tornou-se conhecida por esta famosa canção, e foi um pouco por acaso; estava prestes a começar um importante discurso do então PR francês, General de Gaulle, na televisão, mas houve um imprevisto e teve que se esperar uns minutos; então surgiu nos ecrãs televisivos, para "encher" esse tempo, a até então FH a cantar esta canção que pouco tempo depois era cantada não só em França, mas em toda a Europa.