e, umas centenas de anos depois, transferido para a Accademia através de carris de uma momentânea via férrea. A Rainha Vitória atravessou esta piazza numa carruagem. Aqui ocorreram tumultos, foi derramado sangue em quantidade e, na varanda do Palazzo Vecchio, em 1938, Hitler apertou a mão a Mussolini enquanto os Camisas Negras cantavam.
Hoje, algas verdes cobrem a barriga das pernas de Neptuno. As algas são o pé de atleta da história. A piazza é o chuveiro dos tempos, onde deuses e heróis se expõem nus, ostentam genitais de dimensões excessivas, se gabam de conquistas e exibem troféus. Não é um lugar para mulheres. As mulheres ocultas na estatuária figuram ali como fantasmas da histeria ou do desejo masculinos. Polixena e as Sabinas, sendo violadas, calcificam a fanfarronice sexual. Judite, agarrando Holoferne para lhe cortar a cabeça, calcifica o terror sexual. Tal como os avisos das mães, uma fila de Virtudes reduz-se à sombra da Loggia, ignorada. Uma Hermes, metade humana, metade árvore é a menina bonita da piazza. A sua folha de figueira preta atrai a si todas as atenções, qual ponto de fuga, a sua evasão à luxúria incitando aquilo que procura repelir.
À noite a impressão é ainda mais forte. Tochas assinalando o friso recortado do Palazzo Vecchio conferem às pedras um esplendor brilhante, como se a luz as fizesse derreter. A esta hora, a vista de Neptuno, a sua humidade escorregadia e branca bastam para fazer crescer água na boca. Olhando para ele, percebemos enfim por que os escultores lutavam por blocos de mármore branco de Carrara. Apetece-nos tirar os sapatos, patinhar pela fonte e raspar as algas verdes nos seus flancos com as unhas."
Este é um texto inserido no livro de David Leavitt - “Florença, Um Caso Delicado”, em que o autor descreve com minúcia o conjunto escultórico de uma das mais belas praças do mundo: a Piazza della Signoria, coração da mais bela das cidades italianas – Florença. O livro consagra muitas das suas páginas, não só à descrição dos principais locais da cidade, como o Duomo, a ponte sobre o Arno, a igreja de Santa Maria Novella, a Accademia, o Palácio Pitti e os Jardins de Boboli, como também a vida de tantos artistas e principalmente escritores ingleses que escolheram Florença para viver entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX.
Sendo Florença uma cidade que já visitei várias vezes, e sempre com crescente admiração, cabe-lhe a honra de inaugurar uma nova rubrica neste blog, sobre cidades que me fascinaram.
É fantástica, não é? Eu fui lá quando o nosso Maestro lá jogava. Quando dizia que era portuguesa eram só elogios ao menino. Que orgulho senti.
ResponderEliminarFernanda
ResponderEliminarpois esse foi mais um atractivo desta cidade que me encanta em cada local.
Entre tantas belas cidade italianas esta ocupa o primeiro lugar na minha preferência.
Beijinhos e que a "noite" nos corra bem, a nós e ao "maestro"...
Por acaso, tive oportunidade de apenas ver Florença de noite, infelizmente... há cerca de vinte anos... mas de noite, percorremos a cidade inteira... linda!
ResponderEliminarUma curiosidade já agora,em resposta à Fernanda, quando diziamos que eramos de Portugal, referiam imediatamente o FCP...:)juro que é verdade!
Também AMO Florenca!!!!! Bem, eu iria até Togo para rever David :-))
ResponderEliminarNão conheço! Conheço bem a Sicília, mas da Itália (continente) conheço muito pouco quase nada mesmo.
ResponderEliminarPenso ainda ir a tempo...
Abracinho
Fantástica cidade, estive lá a trabalhar 3 meses no ano passado. Pequena mas afável, com história em cada canto, e sempre inundada de turistas americanos.
ResponderEliminarSendo eu português e partilhando o primeiro nome com o nosso maestro, o nosso Principe de Florença, "Il Gran Mago", nem queiram saber a festa que era sempre que alguém me era apresentado e eu dizia o meu nome! Um povo caloroso como poucos... adorei.
Ainda não conhecemos Florença... por agora! Um dia destes, talvez. Abc,
ResponderEliminarNunca saí do Brasil e pouco viajo, infelizmente (embora queira mudar isso futuramente, eheheheh). Por isso, fico mais e mais na vontade!
ResponderEliminarA Itália é um país que desejo conhecer devido a um motivo único: minha ascendência. Pelo fato de meu avô paterno ter vindo de lá, especificamente de Pádua, desejaria muito conhecer o lugar, o qual parece muito bonito.
Adorei a nova rubrica, ótima ideia!
:-**
Estás a ver que esta noite foi feliz!!!! Sem espinhas!
ResponderEliminarNão conheço, mas, pelas fotos que partilhas e pela escrita do David, que também ando a ler, já decidi que visitarei quando tiver oportunidade.
ResponderEliminarDa Itália só conheço Palermo, na Sicília, e é uma cidade muito bonita, onde, a cada canto, se sente a História e a Cultura.
Abraço e votos de Boas Festas!:)
Caro Amigo
ResponderEliminarUm belo post à altura da beleza da magnifica cidade de Florença onde apenas estive uma vez.
Uma delícia ler este post acompanhado pela voz de Milva...
Um grande abraço!
Eva
ResponderEliminarFlorença é bela de dia e de noite; mas de noite não podes visitar monumentos e principalmente deliciar-te com o David original.
Acredito que seja verdade isso do FCP, mas é "original", pois onde quer que eu vá toda a gente fala é do Benfica, e estando o Rui Costa em Florença, e o Nuno Gomes, é natural que o Benfica fosse referenciado; hoje também é, mas aqui em Portugal, pelo "banho" que deu ao FCP, eheheheh...
Clubites à parte, um beijinho amigo.
Ricardo
ResponderEliminareu já vi o David três vezes: a primeira, fiquei com pele de galinha, a segunda (já não eram permitidas fotos, ai os japoneses...) e pude observá-lo melhor.
A terceira, o ano passado estive uma hora a observá-lo, sentado, de pé, de todos os ângulos e realmente é ABSOLUTAMENTE FANTÁSTICO!!!!!
Quero voltar lá, claro...
Abraço amigo.
Maria Teresa
ResponderEliminara Itália, no seu conjunto é todo um álbum de maravilhas: Florença é apenas uma das suas jóias; só conheço até Roma, mas o que vi é maravilhoso.
E não são só as cidades: a Toscânia em Outubro, não há palavras que a descrevam; os lagos de Como e Maggiore são lindíssimos; e a costa adriática deliciosa.
Depois há Veneza, Roma, Sienna, Lucca e tantos outros sítios. ~
Imperdìvel, minha Amiga.
Beijinhos.
Caro Rui (acho que posso chamar-te assim...)
ResponderEliminarobrigado pela tua visita; viver três meses nessa cidade deve ter dado para ver coisas que o turista habitual não vê...e o povo sim é simpático e deve ser terrível viver todo o ano com aquela horda de turistas!
O nosso "maestro" hoje está feliz, bem como mais 6 milhões de portugueses, eheheh...
Dei uma volta pelo teu blog e vou passar por lá daqui em diante.
Abraço.
Luís
ResponderEliminaré das tais cidades que tem que visitar-se e ficar dois ou três dias, embora pequena (nunca usei lá um meio de transporte); só a Galeria dos Uffizzi leva um dia a ver...
Abraço grande.
Gigi
ResponderEliminarquando vieres à Europa, e depois de passar por aqui, claro, deves visitar a Itália e incluir nessa visita Florença, como é óbvio.
Beijinho.
Fernanda
ResponderEliminare não foi necessário Aimar, Di Maria, Coentrão, ou Rúben Amorim; na primeira parte, o FCP esteve 45 minutos sem rematar à baliza...
Beijinho.
Caro Kapitão
ResponderEliminarserá repetir-me nos elegios a esta bela cidade: merece uma demorada visita.
Não conheço a Sicília nem a península, abaixo de Roma...mas tenho vontade de conhecer.
Abraço amigo.
Com senso
ResponderEliminarMilva é tão genuinamente italiana, como Florença é renascentista.
A escolha musical não foi nada difícil, pois adoro a Milva!!!
Abraço forte.
Cada vez tenho mais a certeza que Itália é o país da minha vida, hehe. Quero tanto lá ir ... ** beijinhos
ResponderEliminarSandrinha
ResponderEliminarcom a tua idade, estou certo que lá irás e deslumbras-te com todas estas maravilhas, pois uma coisa é vê-las numa foto ou num filme, e outra é vê-las e senti-las, ao vivo.
Beijinhos.
Eh pá, com esta descrição toda e com estas fotos e outras que se vão vendo, fica-se mesmo com vontade de visitar.
ResponderEliminarHá tempos vi na tv (acho que na 2) um documentário sobre o Museu Arqueológico Nacional de Florença. Muito interessante.
Abraço.
Não conheço mas, deixaste aqui um belo cheirinho
ResponderEliminarMiguel
ResponderEliminarpois olha, esse não conheço eu; com tantas coisas belas para ver, por muito interessante que seja, prefiro ver monumentos e esculturas do que arqueologia; ficará para a próxima vez...
Abraço grande.
Brown Eyes
ResponderEliminarpor vezes o cheiro chega para cativar, não é?
Beijinho.
não conheço a Itália, o que é um bocado estúpido, mas é assim, nunca calhou. só estive na Sicília, em Taormina. mas da Itália, é Florença que mais me fascina. e em parte esse fascínio foi alimentado pelo livro do David Leavitt que referes.
ResponderEliminarabraço
Miguel
ResponderEliminarrealmente para quem viaja com alguma frequência como tu, não deixa de ser uma "falha"; mas eu percebo talvez a razão: é mais fácil ir a Itália numa qualquer altura do que a certos destinos onde já foste e assim, a oportunidade há-de chegar um dia...mais tarde ou mais cedo.
Desconhecia que já tivesses lido o livro; por um lado a descrição da cidade e de todo o seu património é notável; mas torna-se um pouco enfadonha todas aquelas citações dos notáveis que escolheram Florença para se exilarem, por motivos vários...
Abraço grande.
E, também, uma das obras que mais me marcou pela sua própria estrutura e forma, a cúpula de Santa Maria del Fiore, a primeira obra que, pelo seu cunho revolucionário para a época, se considera como verdadeiramente renascentista, e que posicionou Brunelleschi como o arquitecto vanguardista do estilo (confesso que sempre me rendi ao estilo deste arquitecto, mais que ao de qualquer outro deste período).
ResponderEliminarE Leavitt escreve mais para lá das suas novelas gay, que não me agradam lá muito, devo reconhecer.
Mas este teu blog tem sempre um cunho muito informativo que é agradável, abraço
Manel
Manel
ResponderEliminarse fosse a enumerar todas as preciosidades arquitectónicas de Florença quase não acabaria...
Mas tens razão com a igreja de Santa Maria dei Fiori...
Quanto a Leavitt, acho que ainda não li nenhum livro dele antes deste, mas conheço o tema daquele que deu origem a um filme de Ventura Pons sobre um pianista célebre que se apaixona por um jovem que lhe virava as páginas da partitura durante um concerto.
Um bom Natal.
Abraço amigo.
É de facto uma das cidades mais maravilhosas do mundo. A arte e a beleza.
ResponderEliminarDylan
ResponderEliminarobrigado pela visita; é uma cidade onde se volta sempre com agrado redobrado.
Abraço.
Bom Natal.
Sou um bebé em termos de viagens como sabes , mas depois de ainda hoje te ter ouvido a falar com enorme ternura do que é ver David, cresce a vontade de percorrer mais deste mundo e do mais belo que tem para nos oferecer! Roma é sem dúvida uma cidade do top 10, mas primeiro claro está, Noca Iorque, Barcelona e logo depois Tóquio! ;)
ResponderEliminarFélix
ResponderEliminarNova York e Tóquio são as únicas que referes que não conheço. A vontade de conhecer Nova York é imensa, mas Tóquio não me seduz nada, talvez pela dificuldade que sei iria ter com os mapas da cidade (????).
Abração.