domingo, 13 de dezembro de 2009

Prémio Pessoa 2009

O Prémio Pessoa é um prémio concedido anualmente à pessoa de nacionalidade portuguesa que durante esse período - e na sequência de uma actividade anterior - tiver sido protagonista de uma intervenção particularmente relevante e inovadora na vida artística, literária ou científica do país.

Não é por acaso que o prémio se chama Pessoa e não Fernando Pessoa. A Unisys e o Expresso criaram, intencionalmente, uma certa ambiguidade entre a figura do grande poeta - que, aliás, nunca foi premiado em vida - e a pessoa, a personalidade portuguesa que, no ano relativo ao prémio, tenha assumido um papel importante para a sociedade em geral.

O Prémio Pessoa pretende, assim, ir contra a corrente de uma velha tradição nacional, segundo a qual o reconhecimento da importância da obra de algumas pessoas só foi verdadeiramente feito postumamente - tendo sido esse, precisamente, o caso de Fernando Pessoa - pelo que este Prémio não poderá ser concedido a título póstumo.

Acreditando cada vez mais na necessidade de intervenção da sociedade civil na regulação do futuro do nosso País, a organização pretende com este Prémio contribuir anualmente para o alargamento e o aprofundamento da obra de tantas pessoas portuguesas, umas mais conhecidas outras menos, que necessitam e merecem ser encorajadas para fazer mais e melhor.(*)

Foi entregue pela primeira vez em 1987 ao escritor e historiador José Mattoso, e no ano de 2008 ao arquitecto Carrilho da Graça, tendo distinguido ao longo destes cerca de vinte anos ilustres personalidades, como os escritores Manuel Alegre, Cardoso Pires e Herberto Hélder (que o recusou), Maria João Pires, João Lobo Antunes , Souto de Moura, Luís Miguel Cintra, entre outros.

O júri, bastante diversificado e constituído por personalidades conhecidas da vida nacional tem procurado distinguir pessoas de várias áreas, e nunca tinha distinguido alguém da área religiosa; isso aconteceu este ano, recaindo a escolha na figura do Bispo do Porto, D.Manuel Clemente, tendo o júri considerado que "a sua intervenção cívica tem-se destacado por uma postura humanística de defesa do diálogo e da tolerância, de combate à exclusão e da intervenção social da Igreja". O júri realça que além da missão pastoral, o bispo do Porto"desenvolve uma intensa actividade cultural de estudo e debate público. Em tempos difíceis como os que vivemos actualmente D. Manuel Clemente é uma referência ética para a sociedade portuguesa no seu todo”.

No seu currículo consta que D.Manuel Clemente foi o primeiro bispo português a usar o You Tube para difundir a sua mensagem de natal do ano passado.

Não ponho em causa os valores culturais, sociais e humanos do premiado, mas e até porque a sua posição na questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo é conhecida e segue a posição da Igreja, como é óbvio, parece-me algo inoportuna esta distinção; aliás não é costume os membros do júri virem a público, a defender a razão da atribuição do prémio, como aconteceu, entre outros com Mário Soares; se o fizeram é porque sabem que haveria contestação a este prémio.

(*) - da articulação do regulamento do Prémio Pessoa

22 comentários:

  1. D. Manuel Clemente é conhecido como o bispo da cultura, e de facto nota-se que é uma pessoa inteligente e culta. Porém, há que ter em conta o seguinte: é um clérigo. Logo, intelectualmente está condicionado...

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  2. Maldonado
    não nego que o seja; aliás no texto, englobo a sua posição no assunto dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo, na posição geral da Igreja.
    A minha contestação refere-se a que, a não ser em casos muito especiais, caso do antigo Bispo do Porto, D.António Ferreira Gomes ou ao Bispo resignatário de Setúbal, D.Manuel Martins, este prémio não devia abranger personalidades religiosas.
    Pessoas com enormes referências culturais, em diversas obras, há várias, em Portugal. E falar em tolerância, neste caso de D. Manuel Clemente, parece-me verdadeiramente exagerado, pelo menos no aspecto focado.
    Abraço amigo.

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  3. Se a D. Manuel Clemente foi atribuído o Prémio Pessoa, pela mesma lógica e importância deveria ser criado o Prémio Genet e atribuído ao Santo Padre...

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  4. Pinguim,
    também fiquei espantada com a atribuição do prémio mas estou como o maldonado...
    Bjocas

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  5. Luís
    só tu para me fazeres rir num domingo chato pra burro...
    Abração.

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  6. Pois eu também 'tou com o Maldonado.

    Mas o que eu não compreendo é o prémio em si. 60.000€ ? Dar a um bispo 60.000€ é o mesmo que dar a um Papa umas meninas da vida =/

    Devia ser uma estatueta bonitinha e voilá, usar o dinheiro para outras coisas, nomeadamente acção social.

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  7. Violeta
    que o presidente do júri, Pinto Balsemão, Miguel Veiga e outros membros mais conservadores tenham apoiado este nome, tudo bem; mas Mário Soares, António Barreto e Ruy Vieira Nery, já custa um pouco perceber...
    Beijinho.

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  8. Filipe
    não está em causa o dinheiro, que neste prémio, nalguns casos até faça jeito, é quase secundário, em relação ao prestígio do mesmo.
    Nesse aspecto, o senhor bispo tem variadas formas de aplicar o dinheiro em obras sociais da sua diocese; ninguém espera que meta o dinheiro ao bolso ou mande restaurar o Paço Episcopal da Invicta.
    Abraço amigo.

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  9. Caro Pinguim,
    Nem tudo na vida se resume a apenas uma opinião sobre um determinado assunto, mesmo que esse assunto nos (te) seja muito caro.
    Talvez conhecer um pouco mais sobre a Pessoa em causa explique o prémio.
    Abraço

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  10. A atribuição deste prémio sempre foi muito peculiar.
    Confesso que não conheço bem a obra do bispo para opinar!
    Mas nada me estranha neste Portugal...

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  11. Caro Teddy
    é evidente que não é apenas a opinião à cerca do assunto em causa que questiono; acho que os membros das igrejas, quaisquer que sejam, deviam à excepção de casos raros, como disse num comentário atrás, ficar de fora destes prémios.
    Recordo que dois religiosos famosos que receberam o Nobel da Paz, D.Ximenes Belo e o Bispo Tutu da África do Sul, o receberam não por serem religiosos, mas sim por contribuição real para a paz nas regiões onde viviam.
    Quanto à vida do senhor D.Manuel Clemente, posso não ser um conhecedor muito atento, mas também não me parece que tenha na sua vida obras ou feitos de um destaque tal que o façam mais merecedor do prémio do que tantas outras pessoas no país.
    É, e disso estou certo, uma escolha que não é consensual no país.
    Volto a referir que a "pessoa" do senhor bispo, não me é de forma alguma antipática, e não há nada de pessoal, no que a ele se refere, nas minhas opiniões.
    Abraço amigo.

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  12. Tong
    sim, sempre o foi, pois pretende ser um prémio "abrangente" dos diversos sectores da vida portuguesa; e não me espantaria que primeiro que a pessoa, tivesse sido escolhida a área, tendo recaído na religiosa, porque nunca tinha sido...e apenas depois se tenha pensado em quem pudesse ser o melhor representante da área, e aí sim, já não contesto que a figura de D.Manuel Clemente se tenha naturalmente imposto.
    Abraço amigo.

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  13. Não sei se foi justo.. hmm
    beijinho

    ps: mas nao gostas?

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  14. Não vejo onde o senhor pode ser uma "referência ética" para a sociedade portuguesa, tanto mais quando representa uma área da sociedade marcada com algumas controvérsias e polémicas.
    Não digo que não pudesse vir a ser premiado, tanto mais que não lhe conheço a "obra", mas a sê-lo que fosse num momento em que já não estivesse em funções.
    Da história dos prémios Pessoa, julgo ser a 1ª vez que isso acontece.
    Também não deixei de estranhar virem a público justificar a atribuição.

    Grande abraço.

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  15. Martinha
    eu também não...

    Para ser franco, gostava mais como estava, era muito bonito; este "fere a vista", eheheheh.

    Beijinho.

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  16. Pois é Miguel, é isso mesmo!
    Não é propriamente por ser uma figura da Igreja, mas pela Igreja em si, que como dizes e bem, está marcada, e de que maneira, por muito conservadorismo e intolerância. E é esta palavra TOLERÂNCIA que é usada como um dos argumentos para a atribuição do prémio...
    Abraço amigo.

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  17. não conheço o trabalho nem o pensamento de D. Manuel Clemente, mas aceito que tenha dimensão à altura do prémio. e o facto de ser da hierarquia da igreja não torna ninguém menos apto a receber um prémio que visa reconhecer pessoas que se destacaram no âmbito da cultura, da ciência, das mentalidades.
    claro que aqui, nas mentalidades, é que a porca torce o rabo, e desgosta-me que receba um prémio destes alguém ligado a uma das mais retrógradas instituições, que não raras vezes alinha pelas dimensões mais conservadoras da cultura.

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  18. Caro Miguel
    acabas, por outra via, de chegar à mesma conclusão que eu: não é o homem que está em causa, mas a instituição a que pertence e cujo pensamento, logicamente seguirá...
    Abraço grande.

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  19. Actualmente o "espírito" deste tipo de prémios foi levdo por uma nuvem soprada pelos lábios do vento. Já disse isto noutro local, e parte da frase li-a em qualquer lado, referente a um outro assunto, mas penso que está adequada neste...
    Abracinho

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  20. Maria Teresa
    absolutamente adequada.
    Beijinho.

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  21. Eu nao acredito que fizeste um poste sobre essa criatura! :x

    "(...) defesa do dialogo e da tolerancia (...)" so se for da tolerancia homofobica!

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  22. Natcho
    leste bem os post? E os meus comentários?
    Parece-me bem que não...o post é sobre a estranheza de se entregar o prémio a uma pessoa da Igreja, precisamente porque não estou de acordo com o enunciado na acta do júri; a frase que aqui pões é do júri e não minha.
    Compreendido?
    Abração.

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Evita ser anónimo, para poderes ser "alguém"!!!