Mas estávamos longe e não era fácil marcar um encontro para tomar um café, ou mesmo combinar um local a “meio caminho”, para passar um fim de semana; uma deslocação de um de nós ao país do outro era necessária, mas também não era fácil; implicava custos, mas mais que isso, algum risco de se não ser a pessoa pensada. Claro que a “fotografia” estava feita há muito, mas há sempre contornos que só o conhecimento real nos pode revelar; seria que “conjugávamos” na convivência diária em todas as suas facetas, incluindo necessariamente a sexual, como parecia acontecer virtualmente?
Depois de muito conversarmos sobre o assunto, ficou assente que eu iria a Belgrado conhecer-te e ficaria em tua casa durante duas semanas; é curioso que este passo se concretizou apenas após nove meses ( o tempo de uma gestação) depois de nos conhecermos virtualmente, o que mostra que não foi algo de impetuoso…
Descrever a sensação do nosso primeiro encontro, no aeroporto, é impossível! Não há palavras, nem houve quase palavras, apenas um enorme sorriso mútuo e um trocar de dedos no táxi que nos transportou à cidade, até tua casa; aí, mal a porta se fechou por de trás de nós, libertámo-nos e pudemos finalmente “encontrarmo-nos um ao outro", como tanto ansiávamos. Foram 15 dias inesquecíveis e em que consolidei definitivamente o amor que já te dedicava. A separação, a primeira de várias, foi dolorosa.
Depois foi o começo dos encontros, sempre demasiado curtos e das separações, sempre muito sofridas; duas vezes aí, duas vezes cá, em Londres e em Itália; apenas algo mitigou sempre a dor do adeus e foi a certeza, com data escolhida, do próximo encontro.
Durante os longos períodos de separação, estás sempre comigo e há rotinas que não quebramos: um telefonema perto da hora do almoço, quando possível um beijo rápido no MSN durante a tarde e o namoro nocturno, chova ou faça sol, e mesmo quando há compromissos, ou espero por ti ou tu por mim; e por vezes as conversas nem são longas, pois há cansaço ou sono, mas basta ver o teu sorriso e trocar aquelas nossas frases, para ser sempre bom o nosso “reencontro” diário; por vezes, (deixemo-nos de ser hipócritas), mas muito raramente, vamos um pouco mais além, naquilo que a webcam permite, o que não poderá ser considerado mal e que me dá muito mais prazer do que se estivesse a viver uma “situação real” com outra pessoa; finalmente não nos deixamos dormir sem por telefone desejarmos com um beijo uma noite descansada um ao outro.
Esta a nossa rotina, “quebrada” aqui e ali, com um SMS ou um telefonema a dizer “Adoro-te”, de parte a parte ou por uma ou outra notícia mais urgente.
Agora, aprazado que estava o nosso próximo encontro para 2 de Fevereiro, novamente em Belgrado, há infelizmente uma quase certeza de que o mesmo não se irá efectivar nessa data o que acontece pela primeira vez; e, pior que isso, não há, nem pode haver, por ora, uma data certa, apenas a certeza do encontro aí e que será o mais breve possível. Esta desilusão, esta incerteza, traz-me angustiado. Mas há momentos na vida que nos fazem partidas e eu estou a viver um desses momentos; circunstâncias várias, impedem-me de me deslocar nessa data e esse facto apenas aumenta ainda mais os problemas que vou tendo. Sinto que da tua parte, também isto te afecta, embora o teu feitio seja muito diferente do meu; aliás somos mesmo muito diferentes e daí a nossa complementaridade. Eu tenho os meus problemas, variados e reais e tu tens os teus, necessariamente diferentes, mas também reais; daí a necessidade cada vez maior de nos termos, um ao outro.
Como tudo seria diferente para mim, se ao fim do dia, no terno abraço nocturno, te pudesse contar naquele tom de voz “baixinho”, tudo o que vai passando e tu sabes, mas que preciso de te sussurrar enquanto te sinto ao meu lado.
Preciso, mais que nunca, de ti, Déjan, da tua presença, do teu abraço, do teu calor, do teu cheiro… Nunca, ao longo de três anos, precisei tanto de ti, e, logo agora não posso contar os dias que faltam para te voltar ouvir chamar-me aqueles nomes amalucados que inventas para mim e que me fazem tão feliz. E sei que também tu precisas de mim, pois conheço-te como ninguém. Tu, além de mim, não tens ninguém que te conheça por inteiro, a quem possas falar de TUDO aquilo que és, e dos teus anseios; tens amigos fabulosos, conheço-os, mas no teu país, o peso de ser diferente é ainda maior do que aqui.
Preciso muito de ti; pela primeira vez, a distância torna-se insuportável…