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domingo, 11 de setembro de 2011

Um documento emocionante

Tinha pensado não fazer um post dedicado ao décimo aniversário dos acontecimentos verificados nos EUA em 11/9/2001.
No entanto ao ver este vídeo postado por Pedro Sales no "Arrastão", não me contive e quase fora do controle, aqui está o vídeo do Daily Show de Jon Stewart dessa data.
Tocante e extraordinário.

Uma referência e um sorriso

 Eu sei que hoje é uma data que não devemos esquecer, pois nos lembra um acto que veio a mudar em muitas coisas, o mundo: há dez anos, a 11 de Setembro de 2001, uma série de actos terroristas tiveram lugar em diversos pontos dos EUA, com destaque para Nova York. Poderia fazer um post apenas sobre isso, mas, apenas deixo esta referência, pois hoje toda a blogosfera vai falar neste assunto.
Assim, e porque tristezas não pagam dívidas, resolvi falar de algo mais leve e que nada tem a ver com o conteúdo atrás referido.

Vamos pois juntar o útil ao agradável...
http://www.gay-ville.com é um site interessante de uma agência de viagens gay que nos mostra alguns acontecimentos a realizar em diversas cidades e nos dá também a indicação de hotéis baratos em muitos locais.
Dentro da política publicitária desta empresa, foram feitos vários vídeos, todos eles com gente muito bonita e que são bem divertidos.
Seleccionei este que me fez rir, e que espero tenha o mesmo efeito em quem o vir

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Uma rua, uma casa, uma canção...


Esta rua é uma das mais importantes ruas de Belgrado, chama-se Kneza Milosa, o que significa Cavaleiro Milosa, um célebre herói da História sérvia e que tem uma pequena estátua num jardim lateral dessa rua, não visível na foto.
É a rua que traz o tráfego rodoviário para o centro da cidade, que começa no cimo dela, a 5 minutos a pé.
É a rua dos grandes edifícios governamentais, que se podem ver (alguns deles) à direita da foto, nomeadamente a residência do Primeiro Ministro e o Ministério dos Negócios Estrangeiros, situados em belíssimos edifícios muito bem iluminados durante a noite. E também se podem ver, mesmo à esquerda da foto, as ruínas do enorme Ministério da Defesa,completamente destruído pelos bombardeamentos da Nato e que assim permanecem como memória viva, apesar de por detrás se encontrar um moderno edifício com o actual Ministério.
É a rua das grandes embaixadas, entre as quais a americana, que ainda se vê, mal, no lado direito, ao fundo; da canadiana, da croata e outras, ficando mais umas tantas, importantes (Inglaterra, Itália, Rússia, Alemanha, Bulgária), em ruas adjacentes.
É a rua do melhor Irish Pub de Belgrado!
Mas, essencialmente é a rua onde mora o Déjan; sim, naquela casa pequenina, branca, que fica do lado esquerdo da foto, logo a seguir às ruínas do M. da Defesa. Foi dali que o Déjan assistiu à destruição de todos esses edifícios governamentais, com as bombas a caírem a 50/100 metros das suas janelas, que ele abria para não serem estilhaçadas; eram bombardeamentos cirúrgicos naquela zona,já que a casa do Déjan dista 150 metros da embaixada americana.
Mas não foram só estes os alvos dos bombardeamentos ordenados por Clinton: todas as pontes que ligam as duas margens do Sava (algumas vêm-se na foto), as grandes unidades industriais, a torre de comunicações, de que mostrei recentemente a nova, no monte Avala e muitos outros sítios que destruíram por completo a economia de uma nação, pois esses bombardeamentos não foram apenas em Belgrado, mas em toda a Sérvia; e este país tem vindo a recuperar e é um país de gente muito valorosa que muito admiro.

A música que ouvem é uma canção dalmantina, isto é da região da Dalmácia, uma região costeira hoje pertencente à Croácia e onde o Déjan nasceu, na linda cidade de Zadar.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Dia da Liberdade


Hoje, 37 anos passados, é mais importante que nunca, relembrar Abril. Agora, quando fruto de uma crise que a todos atinge, e que, em grande parte, se deve a uma crise mundial que pretende acima de tudo, destruir o euro, tanta voz se começa a levantar a pedir um novo Salazar, ou seja uma nova ditadura, das duas uma: ou se tem medo de perder regalias ou se é idiota chapado, caso deste palhaço

Pergunto a mim mesmo se este homem é digno de Abril?
Abril foi feito por homens de fibra, que apenas quiseram acabar com uma ditadura e uma guerra e entregar-nos a Liberdade de um país novo.
Na antítese desse palhaço está um grande militar e um grande Homem, que a morte ceifou cedo de mais, e que é, na realidade o rosto desta data que hoje se comemora: Salgueiro Maia.


Infelizmente, nos países democráticos da Europa Central e do Norte, começam a tomar uma força assustadora, alguns partidos da extrema direita, apologistas de políticas xenófobas e neo-nazis.
A Europa é um continente que está a perder a sua força, não só em relação aos EUA, mas e principalmente aos países chamados emergentes: Brasil, Índia, Rússia e principalmente China.
As novas gerações, que com honrosas excepções, quase desconhecem o que foi o 25 de Abril, e que sempre puderam expressar livremente as suas opiniões, decerto pensariam um pouco mais e com maior preocupação, se soubessem o que é viver em ditadura.

terça-feira, 15 de março de 2011

Mais uma do Sr. Silva


O sr. Silva continua a ser "brilhante" nos seus discursos recentes.
Hoje, na comemoração dos 50 anos do início da Guerra Colonial:

«Importa que os jovens deste tempo se empenhem em missões e causas essenciais ao futuro do país com a mesma coragem, o mesmo desprendimento e a mesma determinação com que os jovens de há 50 anos assumiram a sua participação na guerra do Ultramar.»

Senti-me, visado, e de uma maneira totalmente contrária; nem coragem, nem desprendimento e muito menos determinação. Era um jovem completamente "à rasca", como agora se diz.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Homossexuais no Estado Novo (1)


Acabei há dias de ler um livro muito interessante e que nos mostra como era difícil ser-se homossexual em Portugal nos últimos 100 anos, sendo um bom ponto de partida para a história dos movimentos LGBT no nosso país.
Trata-se de “Homossexuais no Estado Novo”, da autoria de São José Almeida, que cumprimento pelo seu trabalho de pesquisa e divulgação. Neste livro, colaboraram muitas pessoas, indirectamente, através dos seus testemunhos e documentação, entre os quais me permito destacar duas, sempre muito ligadas à história da homossexualidade em Portugal: o jornalista Fernando Dacosta e principalmente o Professor Universitário António Fernando Cascais.
Eu dividiria este livro em duas partes, muito subjectivamente: os anos que medeiam o início do Estado Novo e os meados da década de sessenta, e os posteriores, até ao 25 de Abril (embora no livro haja algumas referências ao imediato pós 25/4).
E isto porque foi nesse meio tempo que eu vim estudar e viver para Lisboa e comecei a viver a minha homossexualidade.
Dos tempos passados, se há figuras bem conhecidas, como António Botto, João Villaret e outros, também há nomes e histórias que eu não conhecia, principalmente no campo lésbico.
E há um muito apurado estudo de todo um processo legislativo da homossexualidade, ainda quando era considerada um crime e depois quando passou a ser considerada uma patologia. A documentação é grande e trabalhosa.
Há a descrição de episódios pessoais, que só por si valeriam a leitura; e há uma conclusão imediata: durante esses tempos a homossexualidade era vista de diferente maneira, conforme ela era passada numa elite burguesa e intocável, ou se era praticada pela sociedade em geral, o povo.
A partir de 1963, comecei a ver e a entender, enfim a “viver” as coisas de uma forma directa e portanto o livro tornou-se quase um álbum de recordações, de pessoas e lugares. Por isso e em próximas postagens irei dedicar alguma prosa a certas pessoas e locais desta Lisboa que eu conheci razoavelmente bem.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O Unicórnio de Porcelana

Vi este vídeo no blog " Felizes Juntos" e o impulso foi comentá-lo de imediato a dizer como tinha gostado dele; mas não havia comentários. Então liguei ao Paulo e pedi-lhe autorização para publicar aqui o vídeo, como que fosse um comentário de muita admiração.
Claro que o Paulo anuiu de imediato e ainda tive a grata surpresa de ver depois que os comentários tinham sido reactivados lá no seu blog, dele e do Zé!
Hoje, vi com satisfação que também a Smile, fazendo jus à sensibilidade que lhe reconheço, publicou o vídeo no seu blog.
Ainda bem, pois uma pequena obra de arte como esta merece ser partilhada.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

One Century of Pride


Uma excelente versão musicada que revisita, por assim dizer, todos os acontecimentos e pessoas importantes para o mundo LGBBT, durante um século.

(Este post destina-se à colaboração com o tema deste mês, da Fábrica das Letras, o Preconceito.

sábado, 21 de agosto de 2010

Operação Vagô

"Dia 10 de Novembro de 1961, sexta-feira. O Super-constellation da TAP Mouzinho de Albuquerque descola à tabela do Aeroporto de Casablanca, em Marrocos. Eram 09h15. O comandante José Marcelino e o co-piloto Raul Teles Grilo ganham altitude, alinham o avião na rota para Lisboa e permitem aos passageiros desapertar os cintos e acender os cigarros. Estava bom tempo. A viagem, de cerca de hora e meia, prometia ser calma. Mal sabia a tripulação que entre os 18 passageiros seguiam seis guerrilheiros, inimigos jurados do regime, chefiados por Palma Inácio. A calma a bordo foi interrompida mal à meia hora de voo. Hermínio da Palma Inácio entra de surpresa pela cabina de pilotagem – e aponta o revólver à cabeça do comandante: “Isto é uma acção revolucionária. Não quero fazer mal a ninguém” – diz. Nunca, na história da aviação comercial, um avião fora tomado no ar. O plano dos revolucionários é arriscado: pretendem seguir na rota para Lisboa, simular a aterragem na Portela e voltar para trás, em voo rasante sobre a capital, Barreiro, Setúbal, Beja e Faro, para lançarem 100 mil panfletos com apelos à revolta popular contra a ditadura. Aterravam sãos e salvos em Tânger – onde Palma Inácio e companheiros esperavam asilo político. O co-piloto Teles Grilo, o mecânico-chefe António Coragem, o mecânico de voo Alberto Coelho não disseram palavra. Apenas o comandante Marcelino, ameaçado pelo revólver, tentou com serenidade demover o guerrilheiro. Disse que o avião não tinha combustível para regressar a Tânger. Mas Palma Inácio, que era mecânico de aviões e tirara nos Estados Unidos a licença de piloto de linha aérea, estava seguro do que fazia. Exigiu os registos de voo do Super-constellation – e verificou que os tanques tinham sido atestados em Casablanca. Havia gasolina à farta. O comandante tentou outro truque: “Como é que vai lançar os papéis? Eu não posso abrir as janelas do avião” – disse José Marcelino. A resposta de Palma calou-o: “Pode, pode. Voa o mais baixo possível, despressuriza as cabinas e abrimos as janelas de emergência.” Palma Inácio tinha a situação dominada. Lá atrás, a aventura também não podia correr melhor. Os outros cinco revolucionários nem sequer foram obrigados a levantar a voz e a mostrar as armas. O comissário de bordo Orloff Esteves e as duas assistentes, Maria del Pilar e Luísa Infante, aceitaram participar naquele momento histórico – e até ajudaram a lançar os panfletos. Nem todos os 13 pasageiros (americanos, espanhóis, belgas e dois portugueses) compreenderam que o avião fora tomado de assalto: só ficaram a saber depois da aterragem em Tânger. A cerca de meia hora de Lisboa, momentos antes de iniciar os procedimentos de descida, o comandante Marcelino contacta a torre de controlo – e recebe autorização para aterrar na pista 05. Faz a aproximação – mas, no último momento, acelera os quatro motores a hélice: o avião ‘borrega’ sobre a pista, ganha altura e afasta-se do aeroporto. José Marcelino volta a comunicar com a torre – e tenta explicar ao controlador, por meias palavras, que a bordo o obrigam a fazer um voo rasante sobre Lisboa e outras cidades a sul. “Repita lá?” – dizem-lhe da torre. A comunicação é interrompida pela voz de um general da Força Aérea, Costa Macedo – que pilotava um monomotor, percebeu tudo e deu o alerta. Minutos depois, dois caças F-84 levantam voo da Base de Monte Real: descolam com ordens para abaterem o avião da TAP caso não conseguissem obrigá-lo a aterrar em solo português. O Super-constellation iniciou então um perigoso jogo do gato e do rato. O avião teria de voar baixo, a escassos 100 metros de altura, para fugir aos radares e iludir os caças. A manobra era perigosa, só ao alcance de pilotos de elite. Os seis revolucionários tinham levado 100 mil panfletos, impressos em fino papel de seda, na bagagem de mão. O avião passou a rasar a estátua do Marquês de Pombal, sobrevoa a Baixa, guina sob Alcântara. Uma chuva de papéis cai sobre Lisboa – o mesmo no Barreiro, Setúbal, Beja, Faro. Cem mil panfletos voaram das janelas do avião. A missão estava cumprida. O Super-constellation, como estava previsto, aterrou no Aeroporto de Tânger, em Marrocos, às 12h50 de 10 de Novembro, sexta-feira. A operação mereceu honras da Imprensa internacional – era o que os revolucionários pretendiam. Salazar espumou de raiva.
Este texto foi transcrito do primeiro volume de uma pequena colecção de livros intitulada “As Grandes Operações da Guerra Colonial”, que está a acompanhar o Correio da Manhã todas as quintas feiras, mas que pode ser adquirida sem o jornal (começou a 8 de Julho e termina a 9 de Setembro).
E embora no texto, tal não venha referido, esta operação, a que foi dada o nome de “Operação Vagô”, foi planeada por Henrique Galvão.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

"O Império" ou a importância do "quarto poder"

Acabei de ler o terceiro livro seguido de Gore Vidal. Embora permaneça no romance histórico (há quem o considere o maior romancista histórico vivo), Vidal, desta vez localiza temporalmente a sua obra no virar do século XIX para o XX, e situa-a nos Estados Unidos da América, mais propriamente em Washington, capital do país e onde através de figuras públicas importantes, como os presidentes William McKinley e Theodore Roosevelt, o magnata da Imprensa William Randolph Hearst e outras menos conhecidas como o Secretário de Estado John Hay, o pensador Henry Adams e o escritor Henry James, misturadas com personagens de ficção, se mostra como foi o início da “construção” do grande Império norte-americano, afinal tão curiosamente fundamentado, na altura, numa política colonialista, o que partindo de uma ex-colónia inglesa, não deixa de ser interessante.
“O Império” recria de forma brilhante uma época cheia de possibilidades e promessas, um período que viria a ser recordado como a Idade de Ouro da América. Tudo se desenrola nos palcos da política e do jornalismo numa América de transição. E, enquanto o país luta para definir o seu destino, a bela e ambiciosa Caroline Sanford luta para afirmar a sua própria personalidade: ela é, afinal, a encarnação desta jovem e complexa nação. Dos escritórios do seu jornal em Washington, Caroline impulsiona-se para o meio político da capital e enfrenta os dois homens que ameaçam cercear a sua ambição: William R. Hearst (de quem se afirma ser o modelo de “Citizen Kane” de Orson Welles), por quem Caroline sente simultaneamente curiosidade e repulsa, e o incrivelmente ambicioso Blaise Sanford, seu meio-irmão e protegido de Hearst.
Os corredores do poder, principalmente depois do assassinato do presidente McKinley e a chegada ao poder de Teddy Roosevelt, um dos mais carismáticos presidentes que os EUA já tiveram (não confundir com Francklin Roosevelt, presidente durante a II GG), são perfeitamente dissecados e aqui se mostra o imenso poder da Imprensa na ascenção e queda de políticos; na altura apenas a imprensa escrita, mas hoje alargada às televisões e outros meios, não é por acaso que é conhecida como o “Quarto Poder” e na própria América, mais recentemente isso ficou provado, com a exoneração de Nixon, no caso Watergate, provocado por jornalistas do “Washington Post”.
E nós por cá, à nossa reduzida escala, é claro, também temos, e cada vez mais, a poderosa influência desse quarto poder na política; se por um lado, a Televisão Pública, faz, COMO SEMPRE FEZ, o favor de ir agradando ao poder , vemos hoje um ataque nunca visto, principalmente por parte de dois dos mais conhecidos jornais portugueses, “O Público” e “O Sol” e por parte da TVI a um político no poder, procurando denegri-lo da forma mais baixa, independentemente dos erros da sua governação. O famigerado caso Freeport é das maiores nojeiras existentes não só no nosso país, mas até mesmo internacionalmente, uma novela que estes dois jornais vêm alimentando, e que parte de uma denúncia “anónima” fabricada por colaboradores próximos de Santana Lopes e de personalidades ligadas ao CDS. Depois de anos e anos de “trabalho” com o caso juridicamente encerrado, vem agora a suspeição, para sempre, de fraudes sobre impossibilidades processuais POR FALTA DE TEMPO!!!!
Pode ser que um dia Gore Vidal se resolva a escrever um livro sobre a política portuguesa dos últimos anos; estou certo que muita “porcaria” viria ao de cima.


©Todos os direitos reservados. A utlilização dos textos deste blogue, qualquer que seja o seu fim, em parte ou no seu todo, requer prévio consentimento do seu autor.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

"Criação"

O protagonista deste romance,  um dos mais conhecidos e celebrados de entre a vasta obra de Gore Vidal, (de quem li há pouco o fabuloso”Juliano”), é Ciro Spitama, neto do profeta Zaratustra, que foi educado segundo
a disciplina militar da corte persa. Ainda jovem, recebeu o cargo de embaixador, o que o levou, em sucessivas missões oficiais, a transpor as fronteiras do seu reino, que então se estendia do Mediterrâneo até à India.
Fascinado pelas interrogações fundamentais que se colocam ao género humano (como é que foi criado o Universo? Por que motivo é que o aparecimento do mal é simultâneo ao do bem?), Ciro deslocou-se tanto às regiões para onde Buda se retirara, como ao lugar onde Confúcio costumava pescar, como à própria cidade de Atenas, onde chegou a encontrar-se com Sócrates.
O século V a.C. foi decerto um dos mais férteis períodos da história da Humanidade. Nele viveram Dario e Xerxes, reis da Pérsia, Buda, Confúcio, Heródoto, Anaxógoras, Sócrates e Péricles. E foi nessa mesma época que se concebeu todo um conjunto de ideias espirituais, filosóficas e políticas, sobre o qual assenta ainda em parte o mundo que conhecemos. É esse universo fascinante e só aparentemente um pouco longínquo que Gore Vidal nos descreve nas páginas deste livro, considerado um dos exemplos máximos do romance histórico contemporâneo.

Não é, de forma alguma, um livro fácil de ler, dado as várias teorias filosóficas nele insertas; mas, para mim supriu uma enorme lacuna no fascínio que a História sempre me envolveu. Ajudado por dois excelentes professores de História, que me incutiram com o seu entusiasmo, o gosto pela disciplina, sempre me questionei o porquê de na altura, e no que concerna às chamadas civilizações da Antiguidade, termos dado o natural relevo às civilizações grega e romana, termos focado o essencial do Egipto, da Fenícia, da Mesopotâmia e da Pérsia, e termos geograficamente, parado aí. Porquê o vazio sobre as civilizações desse tempo na Índia e na China (Catai era a sua denominação), bem como nada haver sobre os Maias, Incas ou Aztecas…
Agora fiquei mais elucidado sobre essa história dos vários reinos que constituíam a península indiana e a enorme confusão dos ducados e reinos do Catai; mas aprendi não só os factos políticos, as guerras e as intrigas, pois também fiquei com uma ideia bastante interessante sobre a economia e a sociedade daquelas terras nessa época, e posso dizer que fiquei maravilhado com muito do que aprendi.
E ainda por cima é difícil congregar numa só obra muito da doutrina de Buda, Confúcio e Zaratustra; isto para quem só se habitou nos manuais de estudo da Filosofia a saber algo sobre os clássicos filósofos gregos, nomeadamente Sócrates e Platão.


Como “aperitivo” para quem se atrever a ler esta complexa mas brilhante obra de Gore Vidal, aqui deixo, na visão de Confúcio, quais eram as “quatro coisas feias” da sua teoriasobre o ser humano:  
- Primeira, condenar um homem à morte sem primeiro lhe ensinar o que está certo; esta chama-se selvajaria. Segunda, esperar que uma tarefa esteja pronta numa data determinada, sem primeiro ter dado aviso ao operário; isto é opressão. Terceira, ser vago nas ordens dadas e ao mesmo tempo esperar meticulosidade; isto é ser perseguidor. E última, dar de má vontade a uma pessoa o que é seu de direito; isto é desprezível e mesquinho.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Os "antigos combatentes"

Pela sua importância, pelo oportuno da sua publicação, por ser eu um "antigo combatente"*, porque já tardava, porque é justo, aqui deixo o artigo de opinião do director do DN, João Marcelino, acerca do dia 10 de Junho.


* "antigo combatente" não significa ter andado a combater pela manutenção do colonialismo ou ter ideias fascistas e de direita; é tão simplesmente ter tido que optar por não emigrar, não ficar anos a fio separado da família; não se considera um "antigo combatente" como um ser amante da violência ou racista, nem sequer um português imbuído do dever de defender a pátria, porque aquelas regiões não eram a minha pátria...

(clicar para aumentar)

sábado, 8 de maio de 2010

De Juliano a Bento XVI

Acabei de ler um livro muito interessante de Gore Vidal, que escolhi mais pelo autor, do qual estou a iniciar a leitura de alguma da sua obra, e pelo facto de se reportar a páginas da História, matéria que nunca deixou de me seduzir. Trata-se de “Juliano”, um imperador romano, que viveu no século IV D.C., e que ficou conhecido como “o Apóstata”, pois foi o primeiro imperador romano, desde que Constantino transformou a religião oficial no Cristianismo, que lutou contra esse facto, tendo restabelecido o culto dos deuses, baseado no Helenismo, e considerando Cristo apenas como mais um deus e não como o Deus único.

O livro e as suas considerações é apaixonante e trouxe-me ao pensamento a minha posição, em relação à religião, ao Cristianismo, e essencialmente ao Catolicismo, no qual fui educado, no seio de uma família profundamente católica e praticante. Quando cheguei à idade de pensar por mim próprio, fui moldando o que me tinha sido transmitido com o que ia conhecendo através da leitura e essencialmente da vida real; passei, como noutras importantes decisões da minha vida, por conflitos pessoais, no que respeita à minha rebeldia com o que convencionalmente era suposto ser e cheguei, como também noutros assuntos a um patamar de paz interior, em que me encontro neste momento: nunca reneguei Cristo, a sua dimensão humana, que me faz, apesar de tudo, acreditar que a revolução cristã foi porventura a maior revolução do mundo, sob um ponto de vista até histórico; mas consegui abstrair-me dos mistérios da Santíssima Trindade, da concepção de Jesus Cristo e das cisões que levaram à génese das diferentes formas de viver e olhar o Cristianismo, conseguindo até pensar que há nessas diferentes formas, algumas razões mais legítimas do que as do Catolicismo comandado por Roma. Continuo a ter fé, a minha fé, mas a minha visão de Deus é baseada, talvez de uma forma demasiado simplista e cómoda, numa relação directa com Cristo, sem obediência a dogmas e principalmente não subjugado a um conjunto de seres humanos, que constituem, no sentido restrito, a Igreja, hierárquicamente constituída, desde a sua base á sua cúpula, o Papa!

Sou muito crítico a esta Igreja , pois sendo os seus membros , seres humanos, são naturalmente passíveis de errar, de serem pecadores…Que absurdo eu ir confessar os meus pecados (quem os não tem?) a um homem que pode ser mais pecador que eu; e que poderes tem ele para me “absolver”? Os meus pecados “confesso-os” pelo arrependimento, directamente a Cristo. E quantos pecados, ao longo dos séculos, tem tido esta Igreja!!! Basta históricamente pensar na “evangelização” do novo mundo, com o extermínio dos "ímpios" indigenas; na autêntica desgraça que foi a Inquisição, na devassidão dos papados renascentistas e para chegar aos tempos de hoje com os escândalos da pedofilia, da continuidade da não aceitação do uso do preservativo, de tanta coisa que é ocultada, e remetida para um canto de “coisas menores”, para uma ostentação escandalosa num mundo de miséria, eu sei lá…


E assim chegamos ao actual Papa, um cardeal alemão de seu nome Ratzinguer, com obscuras ligações passadas no tempo da guerra e que, com um ar profundamente hipócrita, na sua voz terrivelmente cínica, vai pedindo perdão disto e daquilo sem assumir os seus erros, de omissão de casos de pedofilia, de condenação, no próprio continente africano do uso do preservativo, sabendo que a SIDA dizima milhões de pessoas naqueles lugares e não prescindindo dos luxos do Vaticano. Já conheci vários Papas, desde o Cardeal Pacelli, depois Pio XII, que só a minha tenra idade não deu para perceber que foi um péssimo Papa (lembro-me de em criança, ter medo da sua cara), depois o bondoso Cardeal Roncalli, João XXIII, o único que recordo com sincera saudade, passando pelo astuto e político Cardeal Montini, que conquistou o Papado à custa de uma autêntica campanha eleitoral, tornando-se Paulo VI; depois , qual estrela cadente, pairou no Vaticano uma esperança que foi o Cardeal Luciani, João Paulo I e cuja morte ainda está encoberta em mistério até nos tempos mais modernos termos tido o polaco Woytilla, João Paulo II, que colmatou muito dos seus pragmatismos (preservativo, aborto, homossexualidade), com uma extrema bondade.

De Bento XVI, que agora nos visita, já se falou demais em tão pouco tempo, e por variadas e menos boas razões. Não vou “bater mais no ceguinho” e apenas reafirmo que é um homem que não honra o Papado e que só os católicos completamente dogmáticos aceitam com satisfação. A sua visita é para mim perfeitamente vazia de sentido. Apenas lamento que o Estado português, que é um estado (ou deveria ser) laico, tanto empenho mostre nesta visita, mormente pela parte do PR, que servilmente o acompanhará por onde ele passe.

Que passe muito bem, mas que passe depressa.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

"Hitler's Children"

Este é um filme documental, absolutamente impressionante com testemunhos de descedentes dos maiores nomes da nomenclatura do III Reich e que prepararam e executaram o Holocausto: Himmler, Goering, von Ribbentrop, Frank; e também com descendentes das vitimas do mesmo, sessenta anos depois.

Para ver aqui, e reflectir.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

"A Cidade"

No domingo passado, não vi apenas a peça de que falei no meu último post. Antes, durante a tarde, fui ver ao S.Luiz a última produção do Teatro da Cornucópia.
E antes de falar sobre a peça, gostaria de mostrar aqui o meu apreço por esta Companhia de Teatro, fundada em 1973 por Jorge Silva Melo, hoje à frente da Companhia “Artistas Unidos” e por Luís Miguel Cintra, ambos vindos do teatro universitário e que reuniram em torno do seu projecto um pequeno grupo de actores profissionais e que até ao 25/4 trabalhou sem sede própria e apenas apoiada esporadicamente pela Gulbenkian. Em 1975 participou nas campanhas de dinamização do M.F.A. e desde então tem vindo a ser subsidiada pelo Estado e conseguiu a sede onde ainda hoje apresenta a quase totalidade dos seus espectáculos, ali perto da Igreja de S.Mamede, entre o Rato e o Príncipe Real. Em 1980, Jorge Silva Melo saíu e entrou para a direcção Cristina Reis, responsável quase sempre dos cenários e do guarda-roupa das peças apresentadas. Embora com um núcleo de actores base, a Cornucópia sempre manteve a presença de convidados quer actores quer outros colaboradores. Seria injusto estar a falar de personalidades que foram marcantes nesta Companhia, ao longo destes 36 anos, pois algum nome poderia ficar injustamente esquecido. Com uma programação extremamente cuidada, a Cornucópia trouxe até nós textos até então nunca representados no nosso país, quer de novos autores como de clássicos, e a dramaturgia portuguesa nunca foi esquecida. Nos últimos anos tem estabelecido co-produções importantes com o Teatro Nacional D.Maria II, o Teatro Nacional S.João, o Teatro Nacional S.Carlos e outros Teatros Municipais (S.Luiz, Rivoli, Almada). A sua figura principal é indiscutivelmente Luís Miguel Cintra, uma personalidade a que o teatro português muito deve e uma das pessoas mais importantes da Cultura portuguesa do final do séc.XX e do séc. XXI.
A peça em causa chama-se “A Cidade” e baseia-se em peças cómicas de Aristófanes, escritas e representadas em Atenas, a cidade berço da democracia, no final do séc.V a.C. De notar que este dramaturgo é o autor de comédias mais antigo da História; são-lhe atribuídas 44 peças mas apenas 11 são conhecidas completamente e que foram traduzidas para a nossa língua pela Professora Maria de Fátima Sousa e Silva, tendo a partir desta tradução, Luís Miguel Cintra feito uma extraordinária colagem de 9 delas, dando assim origem a esta peça.

Peço desculpa do “plágio”, mas a forma mais concisa de falar sobre o conteúdo desta peça é a transcrição do texto da propria tradutora, destinada a este espectáculo:

“É um desafio trazer hoje à cena uma comédia de Aristófanes.Vinte e cinco séculos de distância, a Europa inteira a percorrer, eis o abismo de quem, no séc.V a.C., granjeou fama de génio teatral. O que fez a vitalidade da comédia desse tempo – a atenção ao quotidiano imediato, a reacção frontal, a alusão directa, a intervenção obre o colectivo – viria a ser também o obstáculo à sua pervivência. Como ressuscitar, hoje, esse quadro do passado?

Mas afinal, se vencida a barreira do contexto histórico, dos seus agentes concretos, à procura da essência profunda de cada criação, a descoberta é, para o Homem de hoje, compensadora. A Humanidade continua a ser a mesma, pouco mudou no que são os seus impulsos genéticos; e nem mesmo as alterações são radicais, numa vida colectiva que a chamada ‘cultura ocidental’ importou da velha Atenas democrática. E de repente, Aristófanes revela-se como inesperadamente moderno, compreensível, próximo; sem perder aquele exótico que lhe advém da mesma distância e do estatuto que lhe cabe de ‘clássico’.

É esta a constatação a que A Cidade nos convida. Não se trata do título de uma comédia em exclusivo, mas do que melhor convém à ‘comédia’ de Aristófanes. Ou não foi a sua vida de poeta, por inteiro, dedicada a tomar o pulso a cada experiência, crise, sucesso, de uma cidade, a sua Atenas? E não foi essa Atenas paradigma de todas as vivências que as cidades modernas bem conhecem?

Das onze comédias conservadas, nove estão presentes, de forma mais ou menos extensa, em A Cidade. A selecção de cenas seguiu um objectivo, e comecemos pelo essencial: que do conjunto avultasse o quadro realista de uma sociedade, sondada em cada face do seu quotidiano. Uma verdade suporta a coesão geral do espectáculo, fiel de resto ao processo histórico vivido pela velha Hélade: a de certeza de uma decadência que, sem tréguas, desmoronou a perfeição de um projecto – uma igualdade partilhada por todos os cidadãos.

Ao criar a democracia, a Grécia detectou-lhe de imediato os defeitos, aqueles mesmos que se nos tornam no quotidiano, flagrantes. Que o cidadão justo seja a excepção e não a regra. Que o político ‘ideal’ seja o corrupto, o padrão refinado de todas as pechas da classe. Que a convivência entre homem e mulher em sociedade se não oriente pela cooperação, mas pelo conflito. Que a ruptura de fronteiras estimule não a coesão, mas a xenofobia. Que a educação e a cultura promovam a autonomia, o prestígio social, mas também a ambição e o oportunismo. Que a inovação condicione os valores e incentive os vícios. Que as artes, após um apogeu de excelência, mergulhem no exagero reformista.

Num lapso de tempo vertiginoso, o sonho dava lugar ao desencanto. A fuga da realidade estimulava a imaginação e a utopia. Soluções para a crise – que a cidade real se mostrava incapaz de pôr em prática – eram testadas num mundo virtual, o da ficção cómica. Lá, as mulheres impunham ordem no fracasso masculino, pela greve ao sexo ou pelo transplante, para o colectivo, de conhecidas credenciais domésticas. A felicidade voltava a Atenas, na ressurreição simbólica de uma Paz tão desejada ou no regresso, clarividente e justo, do Dinheiro ao convívio dos cidadãos. Ou mesmo, em última análise, a fantasia abria acesso à fuga, dos males irremediáveis da cidade real para as galáxias ideais, onde o retorno à Idade do Oiro parecia ainda possível.

Esforço baldado. A decadência era um mal sem retrocesso. A mesma Atenas que aplaudia os brados dos poetas, em incansável denúncia, insistia nas debilidades e nos erros. E, atrás dela, os milénios que a perpetuaram. Artes da inevitável imperfeição humana.

Da velha comédia, A Cidade capta também o tom, além da mensagem, a alma do espectáculo. O espaço continua a ser o do colectivo. As figuras, mais do que as comprometidas com o passado histórico, são sobretudo os tipos, humanos e sociais, com tradição perene. O cómico combina o sofisticado com o popular, num equilíbrio de sucesso. Não se hesitou perante as ousadias que enriquecem a cena, o disfarce, o voo, a dança, a música, a materialização do abstracto.

O texto, por seu lado, apostou na actualização coloquial. Seleccionou referências pontuais – para que um certo tom sobrevivesse. Sem abandonar a riqueza das nuances – o obsceno, o retórico, o poético – que o original proporcionava. Depois de desmontada e reconstruída, a Cidade, no espelho cómico que lhe dá vida, sobreviveu fiel à sua própria natureza: ‘política’ por definição, vigorosa, cáustica, realista sob um véu de fantasia. Mas sobretudo talentosa, como se exige de um produto de Arte.”

Resta-me acrescentar que o espectáculo é uma festa para os olhos e para os ouvidos: tão depressa estamos a ver deuses e grandes vultos da cultura grega, como temos a sensação que estamos a assistir a uma revista; nem sequer faltam os finais dos dois actos, como apogeu. A interpretação é notável e está a cargo de Bruno Nogueira, Carolina Villaverde Rosado, Dinarte Branco, Dinis Gomes, Duarte Guimarães, Gonçalo Waddington, José ManuelMendes, Luísa Cruz, Luís Lima Barreto, Luís Miguel Cintra, Márcia Breia, Maria Rueff, Marina Albuquerque, Nuno Lopes*, Ricardo Aibéu, Rita Durão, Rita Loureiro, Sofia Marques e Teresa Madruga. A encenação é, como habitualmente de Luís Miguel Cintra.

*Nuno Lopes actuou com canadianas, mostrando um enorme profissionalismo, pois fracturou um pé, dois dias antes, durante o espectáculo. E é um enorme actor…além de ter um belo corpo que desnuda quase integralmente…

domingo, 20 de dezembro de 2009

As "minhas" cidades - Florença

“Há momentos, especialmente à noite, em que um passeio pela Piazza della Signoria me deixa aturdido…A piazza tem os seus residentes permanentes. Perto do Palazzo Vecchio, Neptuno encharca-se numa fonte que não funciona a maior parte do tempo. A imitação de David parece pairar, com erro gotejando pelos seus longos dedos. Hércules ataca o derrotado Cacus. Poucos lugares no mundo são tão saturados de eventos históricos. Afinal de contas, foi nesta piazza que Savonarola queimou as vaidades e foi ele próprio queimado. (Um medalhão embutido no pavimento assinala o local.) Cellini descerrou o seu Perseu de bronze. Aqui foi erigido o David de Miguel Ângelo
e, umas centenas de anos depois, transferido para a Accademia através de carris de uma momentânea via férrea. A Rainha Vitória atravessou esta piazza numa carruagem. Aqui ocorreram tumultos, foi derramado sangue em quantidade e, na varanda do Palazzo Vecchio, em 1938, Hitler apertou a mão a Mussolini enquanto os Camisas Negras cantavam.
Hoje, algas verdes cobrem a barriga das pernas de Neptuno. As algas são o pé de atleta da história. A piazza é o chuveiro dos tempos, onde deuses e heróis se expõem nus, ostentam genitais de dimensões excessivas, se gabam de conquistas e exibem troféus. Não é um lugar para mulheres. As mulheres ocultas na estatuária figuram ali como fantasmas da histeria ou do desejo masculinos. Polixena e as Sabinas, sendo violadas, calcificam a fanfarronice sexual. Judite, agarrando Holoferne para lhe cortar a cabeça, calcifica o terror sexual. Tal como os avisos das mães, uma fila de Virtudes reduz-se à sombra da Loggia, ignorada. Uma Hermes, metade humana, metade árvore é a menina bonita da piazza. A sua folha de figueira preta atrai a si todas as atenções, qual ponto de fuga, a sua evasão à luxúria incitando aquilo que procura repelir.

À noite a impressão é ainda mais forte. Tochas assinalando o friso recortado do Palazzo Vecchio conferem às pedras um esplendor brilhante, como se a luz as fizesse derreter. A esta hora, a vista de Neptuno, a sua humidade escorregadia e branca bastam para fazer crescer água na boca. Olhando para ele, percebemos enfim por que os escultores lutavam por blocos de mármore branco de Carrara. Apetece-nos tirar os sapatos, patinhar pela fonte e raspar as algas verdes nos seus flancos com as unhas."

Este é um texto inserido no livro de David Leavitt - “Florença, Um Caso Delicado”, em que o autor descreve com minúcia o conjunto escultórico de uma das mais belas praças do mundo: a Piazza della Signoria, coração da mais bela das cidades italianas – Florença. O livro consagra muitas das suas páginas, não só à descrição dos principais locais da cidade, como o Duomo, a ponte sobre o Arno, a igreja de Santa Maria Novella, a Accademia, o Palácio Pitti e os Jardins de Boboli, como também a vida de tantos artistas e principalmente escritores ingleses que escolheram Florença para viver entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX.

Sendo Florença uma cidade que já visitei várias vezes, e sempre com crescente admiração, cabe-lhe a honra de inaugurar uma nova rubrica neste blog, sobre cidades que me fascinaram.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

sábado, 5 de setembro de 2009

"Bent"

Hoje falo sobre um filme que data já de 1997 e que terá passado algo desapercebido em Portugal, sendo mais conhecida a peça em que o mesmo se baseou, já representada mais de uma vez no nosso país; trata-se de “Bent”, um filme dirigido por Sean Mathias, com argumento do próprio autor da peça, Martin Sherman. Claro que para quem viu a peça e não viu o filme, poderá pensar que será demasiado lenta e repetitiva toda aquela imensa cena em que os dois prisioneiros vão deslocando as pedras de um local para outro, ao longo dos meses, debaixo de um sol escaldante ou de um frio terrível e quase sem dizerem uma palavra, na peça essa longa sequência preenche quase todo o tempo de representação, não sendo demasiado importante a história inicial, senão para nos situar perante a situação homossexual do protagonista, Max.

Já no filme, essa cena ou cenas que antecedem o que se passa no campo de concentração de Dachau, ganha um maior relevo e mostra-nos numa noite de orgia, algo exagerada, a condição homossexual de Max, mas também alguns aspectos interessantes sobre a Berlim desse tempo e dos métodos implacáveis da Gestapo. È nestas cenas que aparecem as personagens do sempre admirável e assumido Sir Ian McKallen e do surpreendente Mick Jagger num admirável travesti.

A história torna-se verdadeiramente interessante quando, se dá o encontro dos dois prisioneiros, ambos homossexuais, mas em que um, Max, interpretado pelo conhecido Clive Owen, esconde a sua homossexualidade e tem pois o triângulo amarelo de judeu, ao passo que o outro prisioneiro, Horst - Lothaire Bluteau - ostenta com orgulho o triângulo rosa que identificava os homossexuais.

Vivendo o seu dia a dia em silêncio, eram raras as ocasiões que trocavam palavras, mostram na sua monótona, árdua e completamente inútil tarefa, uma solidariedade que se vai desenvolvendo para lá das terríveis contingências em que se encontram laços mais profundos de amizade.

O final é dramático e algo previsível, mas de uma intensidade que nunca é gratuita e se ambos os actores têm um desempenho bom, o desconhecido Lothaire Bluteau supera-se e é fantástico.

Deixo aqui um vídeo com aquela que é para mim a cena mais bela do filme e que mostra a força da mente humana quando o “querer” é realmente forte.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

"Viajar pelo mundo!"

































Estas fotos que aqui deixo, sobre a cidade de Berlim, foram todas tiradas da última entrada de um blog que acompanho há tempos, da autoria de uma senhora brasileira e que se chama "Viajar pelo mundo!".
É um blog magnífico e que é de uma utilidade extrema para quem quiser viajar e encontrar nele uma postagem sobre a cidade que quer visitar.
A autora é de um preciosismo fabuloso e documenta-se de uma forma que nos sugere o melhor a visitar em cada sítio.
É um blog que eu aconselho VIVAMENTE!!!!
E houve a feliz coincidência de nele aparecer quase simultâneamente com o meu post anterior, esta entrada http://www.viajarpelomundo.com/2009/08/berlim-ano-vinte.html - claro que teria que aproveitar o conteúdo e a oportunidade de dar a conhecer este blog.
A blogosfera é partilha, não só do que escrevemos, mas também daquilo que os outros escrevem... e bem.