Mostrar mensagens com a etiqueta poesia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta poesia. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 21 de abril de 2009

Passado e presente 12: "Cesário...hoje"


Que os rios, sim, que como touros mugem,

Transbordando atulhassem as regueiras!

 Chorassem de resina as laranjeiras!

 Enegrecessem outras com ferrugem!

 

As turvas cheias de Novembro, em vez

 Do nateiro subtil que fertiliza,

 Fossem a inundação que tudo pisa,

 No rebanho afogassem muita rês!"

 

Cesário Verde, in "nós" (O Livro de Cesário Verde)


(Publicado no meu desaparecido blog em 25 de Novembro de 2006)

 

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Ni - Ni

Eu quero, quando morrer, ser enterrada
Ao pé do Oceano ingénuo e manso,
Que reze à meia-noite em voz magoada
As orações finais em meu descanso…

Há-de embalar-me o berço derradeiro
O mar amigo e bom para eu dormir!
Velei na vida o meu viver inteiro,
E nunca mais tive um sonho a que sorrir!

E tu hás-de lá ir…bem sei que vais…
E eu do brando sono hei-de acordar
Para os teus olhos ver uma vez mais!

E a Lua há-de dizer-me em voz mansinha:
- Ai, não te assustes…dorme…foi o Mar
Que gemeu…não foi nada…’stá quietinha…

Florbela Espanca









Finalmente partiste! Sim, eu sei, já tinhas partido, mas ainda restava o teu corpo…
Agora posso finalmente, e na ausência desse corpo, recordar-te com serenidade.
Foste a minha companhia de meninice, com quem brincava e com quem “guerreava”.
Fomos dois confidentes até o mar nos separar e também de certa forma o teu casamento…
Apesar de tudo, sempre defendeste a minha “diferença”, perante a homofobia do teu ex-marido.
Venceste lá longe, duas grandes batalhas, e sozinha: o abandono do teu marido ao fim de 40 anos de casada, e (julgava eu), derrotaste a morte ao sobreviveres a um linfoma; afinal, apenas tinhas vencido uma batalha, pois a morte acabou por vencer o combate!
Quando comemorar o próximo aniversário, não voltas a dizer-me a frase de todos os anos: “Oi mano, estás quase a apanhar-me, outra vez.” E, em Julho não mais te direi “Oi mana, voltaste a fugir”.
Agora fugiste de vez…mas não do meu coração.
Reencontraste anos depois da tua separação um novo amor e não hesitaste em regressar aqui, para seres muito feliz, neste último ano; e como o merecias…
Foste para os nossos três irmãos a Ana Maria ou a Ana; nunca o foste para mim, porque sempre te tratei, até à última vez que te vi, já no hospital, pelo nome que me ensinaram a tratar-te: Ni- Ni!!!!

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Passado e presente: 11 - O Mar


Eu sou a onda branca, perdida no âmago do mar azul, que te acaricia e chama.
Eu sou o cheiro profundo, que brota da areia molhada, e se mistura às algas e detritos.
Eu sou um barco à deriva, de velas desfraldadas, pedindo-te, em socorro, um beijo.
Eu sou a Lua, no horizonte, e seus reflexos de prata, na quietude do lago adormecido.
Eu sou a tempestade súbita, grossas bátegas jorrando impetuosamente, de uns olhos que te querem ver.
Eu sou o mar!
Revoltado, sereno, liberto e...só!
Eu sou o mar!
Que te abraça e envolve.
Vem banhar-te em mim, bebe o Sol dourado das minhas cristas, ajuda-me a acalmar as fúrias, mergulha nas minhas águas, violando-me!
Eu sou o mar!
Peixe, sereia, Neptuno;
viagem de hoje, repetida sempre, sem cessar, sonho no Sol que me abrasa.
Navega-me, sente o meu murmúrio, que é grito, lamento e apelo,
sem medo, meu amor...
Mais um post da parte desaparecida do meu blog, publicado em 29 de Novembro de 2006, com um dos poemas escritos por mim, quando ainda os conseguia transmitir ao papel; agora continuo "a fazer" poesia, mas fica retida num canto de mim mesmo, e de lá não sai...

(foto: Agosto 1993-Grécia)
(poema: Setembro 1979-Serpa)



©Todos os direitos reservados
A utlilização dos textos deste blogue, qualquer que seja o seu fim, em parte ou no seu todo, requer prévio consentimento do seu autor.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Dor do pensamento


Este soneto de António Nobre retrata, de uma certa forma, o meu estado de espírito actual



E a Vida foi, e é assim, e não melhora.
Esforço inútil. Tudo é ilusão.
Quantos não cismam nisso mesmo a esta hora
Com uma taça, ou um punhal na mão!

Mas a Arte, o Lar, um filho, António? Embora!
Quimeras, sonhos, bolas de sabão.
E a tortura do Além e quem lá mora!
Isso é, talvez, a minha única aflição.

Toda a dor pode suportar-se, toda!
Mesmo a da noiva morta em plena boda,
Que por mortalha leva…essa que traz.

Mas uma não: é a dor do pensamento!
Ai quem me dera entrar nesse convento
Que há além da Morte e que se chama A Paz!

sábado, 13 de setembro de 2008

Passado e presente: 8 - Walt Withman




"A pé e de coração aberto lanço-me à estrada larga.


Saudável, livre, o mundo à minha frente,


À minha frente o longo trilho pardo conduzindo aonde quer que eu escolha.


Doravante não peço mais boa-sorte, eu próprio sou a boa-sorte,


Doravante não mais lamurio, não mais adio, de nada preciso,


Acabados os queixumes portas-dentro, bibliotecas, críticas lamentosas.


Forte e contente percorro a estrada larga.


A terra, eis o suficiente,


Não quero as constelações mais próximas,


Sei que estão muito bem onde estão,Sei que bastam aos que delas precisam."




(...)in "Cântico da estrada larga" (FOLHAS DE ERVA)
Este post dedicada ao maior poeta americano - opinião subjectiva - foi publicado neste blog, originalmente a 14 de Novembro de 2006.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Desejo-te tempo



Não te desejo um presente qualquer.
Desejo-te somente aquilo que a maioria não tem.
Tempo, para te divertires e para sorrir;
Tempo para que os obstáculos sejam sempre superados
E muitos sucessos comemorados.
Desejo-te tempo, para planear e realizar,
Não só para ti mesmo, mas também para doá-lo aos outros.
Desejo-te tempo, não para ter pressa e correr,
Mas tempo para encontrares a ti mesmo,
Desejo-te tempo, não só para passar ou para vê-lo no relógio,
Desejo-te tempo, para que fiques;
Tempo para te encantares e tempo para confiar em alguém.
Desejo-te tempo para tocar as estrelas,
E tempo para crescer, para amadurecer.
Desejo-te tempo para aprender e acertar,
Tempo para recomeçar, se fracassar.
Desejo-te tempo também para poder voltar atrás e perdoar.
Para ter novas esperanças e para amar.
Não faz mais sentido protelar.
Desejo-te tempo para ser feliz.
Para viver cada dia, cada hora como um presente.
Desejo-te tempo, tempo para a vida.
Desejo-te tempo.
Tempo.
Muito tempo!


(Autor: Giuseppe Tropi Somma)

quarta-feira, 9 de julho de 2008

For once in my life



FOR ONCE IN MY LIFE

I HAVE SOMEONE WHO NEEDS ME
SOMEONE I’VE NEEDED SO LONG
FOR ONCE UNAFRAID
I CAN GO WERE LIFE LEADS ME
AND SOMEHOW I KNOW I’LL BE STRONG
OH ! ONCE I CAN TOUCH
WHAT MY HEART USE TO DREAM OF
LONG BEFORE I KNEW, SOMEONE LIKE YOU
WOULD NEVER DREAM, OF MAKING MY DREAMS COME TRUE
OH ! ONCE IN MY LIFE
I WON’T LET SORRY HURT ME
NOT LIKE IT’S HURT ME BEFORE
OH ! FOR ONCE I HAVE SOMETHING
I KNOW WON’T DESERT ME
CAUSE I’M NOT ALONE ANYMORE
OH ! ONCE I CAN SAY
“THIS IS MINE YOU CAN’T TAKE IT”
AS LONG AS I KNOW I’VE GOT LOVE
I CAN’T MAKE IT
FOR ONCE IN MY LIFE
I’VE GOT THAT SOMEONE WHO NEEDS ME


That’s for you, my love: this song, this poem, this post.
Thanks’ for all your support to me in the last days; you knows how much difficult was this last separation, the most difficult till now, perhaps because you have been in my house and now everything reminds me you…
After all, the pain to be so far and such a long time without you, I am really very happy, because our love; no, we must not think October is just coming, we must wait day by day, but we know, both of us, that it will be wonderful in Italy, my love.
I like this song very much and the poem is really what I wanted tell you, just now, but I NEVER can forget our song – “You raise me up”, because you do it, each moment…


(Este vídeo descobriu-o no excelente blog "Gritosmudos", a quem agradeço.)

quinta-feira, 26 de junho de 2008

sábado, 10 de maio de 2008

A meio de uma tão oca manhã de Março


Num velho papel, não datado, mas que sei ser de há bastante tempo, encontrei este meu poema, apenas com um dizer por baixo: - «a meio de uma tão oca manhã de Março».
Ponho este poema aqui no blog, com uma dedicatória especial ao meu amigo Sócrates da Silva, e também a um outro amigo anónimo, que me mandou dois amáveis mails, e que sei que me lê, a mim e a muitos dos blogs que visito, e pode ser que agora arranje coragem para um comentário, como primeiro passo…
O poema é fraquinho, mas revelava o que me ia na alma, no momento.


E as nuvens apareceram
toldando o Sol daquela tarde!
E os medos que sempre houve
ampliaram-se no outro eu que és tu!

Dá-me a tua mão,
e juntos, gritemos
a força que queremos possuir
para ir mais além,
vencer mentiras e silêncios,
conquistar o Sol e o Mar!

E quando amanhã recordares
o temor de hoje,
que seja num abraço terno
e não no vazio do teu próprio sofrer…

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Trova do vento que passa

Já está mais que ouvida esta música; inclusivamente já postei sobre ela e mais que uma vez; mas ao ouvir e ver aqui este vídeo, não resisti: a música de Adriano Correia de Oliveira, os versos de Manuel Alegre, a introdução, quase clássica, Vitorino a interpretar fado de Coimbra, as imagens de uma época que vivi intensamente (a crise académica de 1962), são mais do que razões para pôr este video no meu blog...e como eu gosto dele!

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Manta...Alegre...Zeca


Pergunto ao vento que passa

notícias do meu país

e o vento cala a desgraça

o vento nada me diz.


Pergunto aos rios que levam

tanto sonho à flor das águas

e os rios não me sossegam

levam sonhos deixam mágoas.


Levam sonhos deixam mágoas

ai rios do meu país

minha pátria à flor das águas

para onde vais? Ninguém diz.


Se o verde trevo desfolhas

pede notícias e diz

ao trevo de quatro folhas

que morro por meu país.


Pergunto à gente que passa

por que vai de olhos no chão.

Silêncio é tudo o que tem

quem vive na servidão.


Vi florir os verdes ramos

direitos e ao céu voltados.

E a quem gosta de ter amos

vi sempre os ombros curvados.


E o vento não me diz nada

ninguém diz nada de novo.

Vi minha pátria pregada

nos braços em cruz do povo.


Vi minha pátria na margem

dos rios que vão pró mar

como quem ama a viagem

mas tem sempre de ficar.


Vi navios a partir

(minha pátria à flor das águas)

vi minha pátria florir

(verdes folhas verdes mágoas).


Há quem te queira ignorada

e fale pátria em teu nome.

Eu vi-te crucificada

nos braços negros da fome.


E o vento não me diz nada

só o silêncio persiste.

Vi minha pátria parada

à beira de um rio triste.


Ninguém diz nada de novo

se notícias vou pedindo

nas mãos vazias do povo

vi minha pátria florindo.


E a noite cresce por dentro

dos homens do meu país.

Peço notícias ao vento

e o vento nada me diz.


Quatro folhas tem o trevo

liberdade quatro sílabas.

Não sabem ler é verdade

aqueles para quem eu escrevo.


Mas há sempre uma candeia

dentro da própria desgraça

há sempre alguém que semeia

canções no vento que passa.


Mesmo na noite mais triste

em tempo de servidão

há sempre alguém que resiste

há sempre alguém que diz não.
Manuel Alegre

sábado, 12 de abril de 2008

Meu fado meu

É já conhecida a versão portuguesa da canção "Oro", muito bela, que irá representar a Sérvia no Festival da Eurovisão, a realizar este ano em Belgrado, devido à justa vitória daquele país no ano passado; é curioso notar que as únicas versões feitas daquela canção foram em línguas de países que não reconheceram a independência do Kosovo: além da portuguesa, há versões em espanhol, grego e russo.
Pois, o Déjan indicou-me ontem uma outra canção, na voz de Jelena Radan, da Dalmácia, actualmente no território croata, e no qual está Zadar, a cidade natal do Déjan.
É um fado, e está muito bem cantado, embora se note a falta da guitarra portuguesa; foi com muita emoção que ouvi este fado, até porque a letra tem muito a ver connosco (o Déjan e eu).


terça-feira, 8 de abril de 2008

Poema com dedicatória


"Sem pedir licença, levar-te-ei até à cama…
Tocar-te-ei em todo o teu corpo e possuir-te-ei…
Vou-te deixar com uma enorme sensação de cansaço e entrega total…
Lentamente vou-te fazer sentir arrepios, fazer-te suar profundamente.
Deixar-te-ei ofegante, tirar-te-ei o ar…e a tua cabeça pulsará.
Da cama não conseguirás sair!
E quando terminar, irei embora sem me despedir, com a certeza que voltarei! "



(Este poema, cujo autor desconheço, quero dedicá-lo a dois amigos que escrevem bela poesia, quer em verso, quer em prosa - para o Manuel e para o SP.)

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!

Sempre gostei nuito desta canção com um dos poemas mais belos de Ary dos Santos; quando o poema se tornou realidade, tornou-se uma canção incontornável para mim.
Para ti, Déjan, minha "estrela da tarde"...

Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia

Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia

Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia

Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia


Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia

E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria

Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia

Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia


Meu amor, meu amor

Minha estrela da tarde

Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde

Meu amor, meu amor

Eu não tenho a certeza

Se tu és a alegria ou se és a tristeza

Meu amor, meu amor

Eu não tenho a certeza


Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram

Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram

Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram

E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram


Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram

Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam

Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram

E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram


Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto

É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto

Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto

Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto


Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Jacques Prévert


“Pai nosso que estais nos céus
Neles permanecei
E nós ficaremos sobre a terra
Que às vezes é tão bela.”


Estas palavras são de Jaques Prévert, o primeiro poeta que li na minha juventude, mesmo antes de Pessoa, Botto, Florbela Espanca e Cesário Verde ( a excepção terá sido Camões, por imperativos escolares); nessa fase eu devorava os “Le livre de poche”, que me deram a conhecer os grandes nomes da literatura francesa do século XX: André Gide, Albert Camus, Roger Peyrefitte, Boris Vian, Jean Paul Sartre, Marguerite Duras, Jean Cocteau, Françoise Sagan, Roger Vailland e tantos outros.
Li por diversas vezes “Paroles” aonde ainda hoje volto, assim como “La pluie et le beau temps”, “Spectacule” e “Histoires”.


Jacques Prévert nasce em 190o, em Neuilly-sur-Seine, França, onde passa a sua infância. Seu pai, André Prévert, crítico de dramaturgia, leva-o sempre ao teatro e sua mãe, Suzanne Catusse, inicia-o na leitura. Aos 15 anos, com o certificado de estudos básicos, ele sai da escola e começa a fazer pequenos trabalhos. Convocado para o serviço militar, ele vai para Saint-Nicolas-de-Port, onde encontra Yves Tanguy, antes de ser enviado para Istambul, onde conhece Marcel Duhamel.
Em 1925, participa do movimento surrealista, junto com seu grupo, formado por Marcel Duhamel, Raymond Queneau e Yves Tanguy. Mas Prévert, com seu espírito independente, não consegue permanecer por muito tempo em um mesmo grupo, seja ele qual for.
Escreveu os grandes filmes franceses realizados entre 1935-1945: Drôle de Drame, Le Quai des Brumes, Hotel du Nord, Le Jour se Lève, Les Enfants du Paradis de Marcel Carné. Os seus poemas são transformados em música por Joseph Kosma (Les Feuilles Mortes). Ele começa a escrever peças de teatro.
Sua filha Michele nasce em 1946. Casa-se com Janine Tricotet em 1947. Por iniciativa de sua esposa, que tenta afastá-lo das “tentações de uma vida dissoluta”, eles deixam Antibes para morar em Omonville-la-Petite, na Manche, onde morre aos 77 anos, de cancro do pulmão
Prévert revoluciona o discurso tradicional, através do jogo de palavras. A sua poesia é constantemente construída com jogos de linguagem (calembur, neologismos, lapsus propositais, invenções...) com os quais o poeta consegue efeitos cómicos inesperados (um humor por vezes negro), duplos significados e imagens insólitas.
Os seus poemas também são ricos em jogos sonoros, combinações que brincam com a audição (aliterações, rimas e ritmos variados) que podem parecer fáceis, mas que são habilmente utilizadas or Prévert.
Traços de surrealismo ajudam a compor o seu estilo: inventários, listas de objectos, metáforas e personificações.

LE CANCRE

Il dit non avec la tête

mais il dit oui avec le coeur

il dit oui à ce qu’il aime

il dit non au professeur

il est debout

on le questionne

et tous les problèmes sont posés

soudain le fou rire le prend

et il efface tout

les chiffres et les mots

les dates et les noms

les phrases et les pièges

et malgré les menaces du maître

sous les huées des enfants prodiges

avec des craies de toutes les couleurs

sur le tableau noir du malheur

il dessine le visage du bonheur.



O CARANGUEJO *

Ele diz não com a cabeça

mas diz sim com o coração.

Ele diz sim só ao que ama

mas diz não ao professor.

Está de pé

e interrrogam-no

mas são problemas demais.

Morre de rir - de repente

-e apaga tudo o mais

os algarismos e os nomes

as datas e as palavras

e as frases de emboscada.

O professor ameaça-o

sob a vaia dos meninos

( os geniozinhos da classe)mas ele, ele trabalha

com giz de todas as cores

no quadro-negro das dores

desenha o rosto da felicidade.


(* Le cancre

o caranguejo, em linguagem familiar,designa também o menino preguiçoso ou vadio. )

domingo, 9 de dezembro de 2007

"Quem pode impedir a Primavera..."


“Quem pode impedir a Primavera

Se as árvores se vão cobrir de flores

E o homem se sentiu sorrir à Vida?

Quem pode impedir a surda guerra

Que vai nos campos deslocando as pedras

-Mudas comparsas no ritmo das estações-

E da terra inerte ergueu milhares de lanças

Que a tremer avançam, cintilantes, para o limite

Em que a luz aquosa se derrama

Como um mar infinito onde o arado

Abre caminhos misteriosos à seiva inquieta!

Quem pode impedir a Primavera

Se estamos em Maio e uma ternura

Nos faz abrir a porta aos viandantes

E o amor se abriga em cada um dos nossos gestos!

Quem?...

Se os sonhos maus do Inverno dão lugar à Primavera!”


(Ruy Cinatti)




quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Armando da Silva Carvalho


Armando da Silva Carvalho, nasceu, perto de Óbidos, em 28 de Março de 1938.

Frequentou um colégio particular nas Caldas da Rainha e, depois de passar pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, licenciou-se em Direito, na mesma Universidade.

Entretanto exerceu várias profissões: empregado de escritório, tradutor, jornalista, copy-writer numa agência publicitária e, finalmente, a advocacia em Lisboa.

Em 1962 foi-lhe atribuído o Prémio Revelação pela Sociedade Portuguesa de Autores, pelo seu livro “Lírica Consumível”.

Tem várias obras de poesia publicadas, entre elas “Alexandre Bissexto” (1983), “O uso e o abuso” (1976), “Técnicas de engate” (1979) e “Em nome da mãe” (1994).

Publicou também “A vingança de Maria de Noronha” (1988), “O homem que sabia a mar” (2001) e recentemente, em 2006, junto com Maria Velho da Costa, “O livro do meio”.

É um dos melhores poetas portugueses revelados nos anos 60.



Colocas mais palavras

sobre o corpo. Divagas

construindo os pés

de uma retórica

por vezes

fraudulenta.

Por vezes

só.

Sino de músculos

aos meus tão periféricos.

Tão oca. Tão sonora.

Tão perfeita.

Com seu motor erótico

posto em movimento.

Teus lábios

despegam-se

de uma boca harmónica.

Transitam cordiais

num espaço proibido

enriquecido

por límpidos sinais.

Por vezes

tão solene

que os meus olhos

se fundem

liturgidos

na água preciosa

dessa sucinta flor

tão especiosa.

Os meus vocábulos

Dou-tos.

Cruzam c’os teus

no parapeito histórico

em que debruças

o corpo já sem fraude

que mil e uma vezes

pronuncias.

Por vezes

Som.

Subindo na solidão doméstica

com seus talheres de sonho.

Inversa dessa boca transitória

que mastigava a minha

na meiga confusão

dos beijos

e da sesta.

Teu rosto

nesta ilha requintada

onde a chuva choca

os planos pacientes da tristeza

- teu rosto é um turista.

E um voo que se freta

num espaço doente

e a que eu liberto agora

toda a pista.

Por vezes

Sonho

com a matéria

magnífica

dos teus membros,

teus dentes incrustados

numa manha altiva.

E o mar

dá-me esta ilha

todas as manhãs.


segunda-feira, 15 de outubro de 2007

"Le temps des cerises"



Não, não modifiquei a estrutura do blog, nem fiquei "maluco" de repente.
Apenas encontrei uma canção linda, na voz bem original de um cantor, muito mais conhecido na sua vertente de actor, do que como cantor, Yves Montand, e achei uma ideia algo "original" , ilustrar essa canção com com fotos de outras "cerejas"...
Às vezes, é bom acompanhar com os olhos, vendo fotos nada chocantes, até porque são belas, uma música agradável e um poema tão maravilhoso.

"Quand nous chanterons le temps des cerises
Et gai rossignol et merle moqueur
Seront tous en fête
Les belles auront la folie en tête
Et les amoureux du soleil au cœur
Quand nous chanterons le temps des cerises
Sifflera bien mieux le merle moqueur

Mais il est bien court le temps des cerises
Où l'on s'en va deux cueillir en rêvant
Des pendants d'oreilles
Cerises d'amour aux robes pareilles
Tombant sous la feuille en gouttes de sang
Mais il est bien court le temps des cerises
Pendants de corail qu'on cueille en rêvant

Quand vous en serez au temps des cerises
Si vous avez peur des chagrins d'amour
Evitez les belles
Moi qui ne crains pas les peines cruelles
Je ne vivrai pas sans souffrir un jour
Quand vous en serez au temps des cerises
Vous aurez aussi des peines d'amour

J'aimerai toujours le temps des cerises
C'est de ce temps-là que je garde au cœur
Une plaie ouverte
Et Dame Fortune, en m'étant offerte
Ne saura jamais calmer ma douleur
J'aimerai toujours le temps des cerises
Et le souvenir que je garde au cœur"

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

A minha rosa branca


"Tarde
Tarde na tarde
Entrei no jardim proibido!
Com medo,
Medo de mim
Perdi-me no meio das flores!
Sôfrego
Sôfregamente
Ia bebendo aqui e ali!
Acariciei, picando-me
Belas plantas de variadas cores...
De súbito
Sem esperança
Vi uma rosa, no meio do jardim!
Era branca, como sonhara
Perdida, quiçás pisada
A chamar por mim!
Trémulo, mas com ternura
Aspirei o seu perfume
Revivi!
Não a corto, está no jardim
Rego-a, e ela sorri...a minha rosa branca!"

Este poema é dedicado a uma pessoa maravilhosa que me tem ensinado, apesar da sua juventude, a olhar o mundo de uma forma mais positiva. Alguém que me deu muito mais que simpatia, amizade, afectos ou sexo; deu-me alegria de viver, deu-me a certeza de que há sempre alguém à nossa espera.
O Déjan, é, objectivamente, penso eu, um homem bonito, com um rosto lindo e um corpo maravilhoso, mas é essencialmente de uma beleza interior que me fascina.
Obrigado por tudo o que me tens dado e por tanta coisa que temos compartilhado, e que estou certo continuaremos a partilhar, pese embora a distância que nos separa.
VOLIM TE, LJUBAV MOJA!!!

Este poema e texto são a minha contribuição para o tema livre da "Fábrica de Letras", do mês de Setembro