o texto de "Quem tem medo de Virgínia Woolf "é considerado a quinta-essência do teatro "realista" - celebrizado num filme de Mike Nichols (com Elizabeth Taylor e Richard Burton), que alcançou um feito único na história de Hollywood, sendo nomeado para todas as categorias dos Óscares, e que ganhou quatro entre os quais os das melhores interpretações femininas - principal (Liz Taylor) e secundária (Sandy Dennis).
Em "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?", o público é convidado para a sala de estar de George e Martha,onde, numa proximidade perturbante, assiste a um intenso ritual de mortificação mútua e de desagregação progressiva das convenções matrimoniais - "O inferno pode ser uma sala de estar confortável e um casal insatisfeito", disse Albee sobre este texto aterrador e comovente, onde as personagens vão "descascando", impiedosamente e até à medula, as múltiplas camadas de mentira e ilusão que envolvem as suas vidas conjugais.
Apresenta-nos a relação de amor-ódio de um casal de meia idade, numa noite de agressões, jogos perigosos e revelações.É esta a peça em exibição no Teatro Nacional D. Maria II, com Maria João Luís e Virgílio Castelo na pele de um dos casais mais memoráveis da dramaturgia do século XX, numa encenação de Ana Luísa Guimarães.
A açção desenrola-se na sala de estar de George, e Martha - ele, professor do departamento de História de uma universidade, e ela, a filha do reitor - que, regressados de uma festa, esperam visitas: um casal mais novo, Nick (Romeu Costa), professor de Biologia recém-chegado à mesma universidade, e Honey (Sandra Faleiro), a sua mulher.
Ana Luísa Guimarães disse que "Quem tem medo de Virginia Woolf?" é uma peça "sobre os medos, sobre acabar com os medos, exorcizar os medos", sendo essa uma das razões porque decidiu encená-la, apesar da responsabilidade que é trabalhar um texto que integra o património dramático internacional.Sucedeu comigo algo incrível, durante quase toda a representação: ao ver representar Maria João Luís e Virgílio Castelo, parecia que estava a ver a Elizabeth Taylor e o Richard Burton, e claro que isto é um enorme elogio.
Eu já tinha visto a peça, em 1972, no Monumental, numa encenação de João Vieira e interpretações de Glória de Matos, Jacinto Ramos, Elisa Lisboa e Mário Pereira, e tinha gostado muito. Mas este versão supera-a em muitos aspectos, a começar na interpretação. Se já esperava um bom desempenho de Maria João Luís, uma das melhores actrizes portuguesas, a surpresa maior foi Virgílio Castelo, simplesmente fabuloso. O casal novo também esteve à altura, principalmente Sandra Faleiro.
A encenação cumpre, o cenário, de F.Ribeiro é muito interessante e o jogo de luzes, de Nuno Meira, muito conseguido.
Ao intervalo dei comigo a pensar como é possível numa peça tão densa, violenta no diálogo, e dramática, haver lugar a risos, mas eles são completamente normais, pois o texto está repleto de tiradas de autêntico humor negro, que curiosamente vão diminuindo, quanto mais se vai avançando no desenrolar da acção que vai num crescendo de violência.
Apenas no final, se consegue vislumbrar que no meio de tanto ódio, também há amor naquele casal…
Em dois domingos seguidos fui ver teatro, bom teatro e senti que devo ir mais, que tenho perdido excelentes peças, por inércia e algumas vezes por desconhecimento, pois há peças que estão em cartaz meia dúzia de dias e nada mais.
Faço um apelo: vão ao teatro! Vale a pena ver aquelas actrizes e actores a darem o seu melhor ali, em cena, tão perto de nós, a dar-nos a nós, espectadores, a sua Arte.
Afinal, quem tem medo de ir ao teatro???