terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

A tropa cá do João 12 - (Moçambique 6 – parte 2ª.)

Último pôr do Sol na Metarica

Ainda não eram 7 horas da manhã já eu e o Alferes Mendes, regressado de férias, estávamos na pista de Marrupa, aguardando a D.O. que não tardou a chegar; ao piloto, jovem oficial da Força Aérea, expliquei-lhe sucintamente a situação e disse-lhe que desconhecia qual seria a atmosfera que iríamos encontrar na Metarica (minha Companhia); pedi-lhe para não desligar os motores do avião enquanto estivesse lá, e que, mal estivesse dentro do avião um alferes (não aquele que iria comigo, claro), levantasse voo, logo que tal fosse possível, com ou sem tiros e o transportasse para Vila Cabral (hoje Lichinga).

Um silêncio sepulcral “ouvia-se” dentro do avião, durante a curta viagem, e quando aterrámos, vi que estava pràticamente toda a gente na pista, e foi então que me veio a estranha calma dos grandes momentos: pus a “minha cara nº.3” ( a mais dura que consigo) e vi soldados com armas a gritar “morte ao alferes”, e vi ao mesmo tempo o referido alferes, completamente enquadrado por vários furriéis, mais branco que a cal da parede, a dirigir-se-me; tentou começar a dar-me uma explicação e eu mandei-o calar, sem quase lhe deixar dizer uma palavra e disse-lhe de imediato para entrar no avião, e voltei costas, esperando que este “número” desse certo. Encaminhei-me na direcção do aquartelamento, dizendo alto e bom som, para toda a gente me seguir, pois precisava de falar com toda a Companhia – entretanto dei uma palavra a um dos furriéis que mais experiência (e cabedal) tinha, para ficar por ali e apenas se juntar a nós quando o avião já tivesse levantado voo.

Continuando sempre com a “cara nº.3,, quando tive os homens todos reunidos, mesmo os dos postos de sentinela, comecei por dizer-lhes que tudo o que se tinha passado no final da tarde e na noite anteriores fora muito grave, mas que iria saber pormenores do que havia acontecido, para poder tirar conclusões não precipitadas, mas que havia algo a fazer de imediato e ali mesmo, que era a entrega de todo o armamento, quer o que estava atribuído a cada um, quer aquele que havia sido retirado do paiol, e voltando a nova “encenação”, comecei por mandar buscar a minha arma, que foi a primeira a ser entregue; claro que lhes disse que ficariam apenas de fora oito G-3, uma para cada posto de sentinela e que iam passando de homem para homem, conforme as escalas de serviço, já que não poderíamos prescindir totalmente de uma defesa mínima do quartel, pois estávamos num teatro de operações; após o Alferes Mendes e os furriéis fazerem o mesmo, os homens começaram a entregar o armamento sem a mínima contestação, que ia sendo recebida pelos responsáveis do paiol; entretanto já tinha ouvido o avião descolar e o furriel que ficara para trás juntara-se a nós a dizer com um pequeno gesto que tudo estava bem.

O que tinha decidido fazer, desarmar a Companhia, era um enorme risco, eu estava perfeitamente consciente disso, mas fazia parte de algo mais vasto que já há tempos germinava na minha mente.

Após a entrega das armas, e antes de mandar dispersar a Companhia, sempre com a “cara nº.3” afivelada, disse-lhes que lhes queria perguntar algo, e que queria uma resposta sincera, pois não haveria qualquer sanção para qualquer resposta, mesmo que fosse apenas de um homem; e a pergunta era simples; seria possível que a situação passado com o Alferes pudesse no futuro acontecer em relação a mim? E voltei a frisar que se alguém pensasse que sim, que o dissesse, pois a única consequência seria eu pedir de imediato que me viessem buscar e me substituíssem , pois alguém não tinha confiança no meu comando; e devo dizê-lo que o faria, mesmo ignorando o efeito de tal decisão. Mas, a reacção, confesso que aguardada sem surpresa, foi um imenso grito “Viva o Capitão!”

Serenados os ânimos e resolvidos para já os dois grandes problemas de que falei no post anterior, convoquei uma outra reunião, só com o Alferes e os Sargentos (furriéis incluídos), a quem expliquei, que a partir daquele dia a nossa Companhia, deixava de fazer operações ofensivas, o mesmo é dizer que seriam ignoradas as directivas operacionais do Batalhão, dando no decorrer dos dias em que essas operações deveriam estar a ser efectuadas, as coordenadas dos pontos onde “estaríamos”, pois de tanto percorrermos aquelas zonas sabíamos as coordenadas, com o auxílio dos mapas muito bons que tínhamos; passaríamos a fazer apenas a defesa do aquartelamento; era tão confusa a situação dos comandos militares naquela altura, em que ninguém sabia bem quem era quem, que eu não tinha grande receio de eventuais reacções, e até duvidava que soubessem da minha decisão. Só não lhes disse a razão total desta decisão, pois eu tinha ainda um trunfo a jogar e o efeito desta decisão só surtiria realmente efeito após eu ter uma conversa com um homem ali, da minha Companhia: Era um cabo, africano, que fazia parte da secção de saúde, homem muito calado, tranquilo e que sempre cumpriu as ordens, mesmo quando por escala tinha que ir para o mato, nalguma operação, que levava sempre alguém de enfermagem; mas desde há muito que eu reparei que aquele homem com uma formação e cultura muito acima de quase toda a gente da Companhia, comungava de ideais que não se coadunavam com a sua inserção no exército colonial português, isto é, seria eventualmente apoiante da Frelimo, mas nunca me deu qualquer motivo para o questionar sobre o assunto e assim nada até então, foi por nós falado; pois tinha chegado a altura. Mandei-o chamar ao meu gabinete, e a sós com ele, disse-lhe que a conversa que iríamos ter, não seria entre um Capitão e um seu subordinado, mas sim de homem para homem; afirmei-lhe saber da sua condição de simpatizante da Frelimo e isso apenas por indução própria, como pensava que ele saberia o que eu tinha na minha mente sobre aquela guerra, sendo a minha posição a de cumprir ordens sim, mas acima de tudo zelar pela integridade física dos 200 homens que ali estavam, ele incluído; aquela “guerra” não era a minha, nem a do meu povo, mas a dos governantes do meu país, pelo menos até então. Ouviu-me atenta e interessadamente, sem nunca falar; disse-lhe mais, que tinha decidido, unilateralmente começar a “minha guerra” e que o desarme da Companhia tinha sido um dos passos dela, apenas assegurando a defesa do quartel com 8 postos de sentinela, apesar da vulnerabilidade a que passaríamos a estar expostos, até porque a Frelimo, para pressionar não Portugal, mas as autoridades militares da região, tinha começado a atacar quartéis, táctica que nunca tinham usado antes e que era comum, por exemplo na Guiné e até a aprisionar Companhias inteiras…

Sendo assim, pedia-lhe, e não me interessava como, que fizesse chegar a quem ele entendesse do “outro lado” esta nossa posição, para assim precaver eventuais ataques ao quartel; ele, nada negou e apenas me disse que iria fazer o possível ao seu alcance; selámos o “acordo” com um apertar de mãos.

Concluído este episódio, devo dizer que a totalidade das Companhias à volta da minha foram alvo de ataques, excepto a minha e foi a minha Companhia após grande pressão minha junto do Batalhão, por ser uma Companhia da guarnição normal, a abandonar o mato e a ir para Nampula, em Agosto de 1974; deixámos um grande pano nas instalações dizendo “Oferta da nossa Companhia ao povo de Moçambique”!Apenas para rematar, curiosamente, após algumas semanas desta minha decisão recebi uma directiva do MFA a solicitar, sempre que possível e aconselhável, procurar um entendimento, no terreno, com as forças da Frelimo, para se irem estabelecendo zonas de Paz. Eu já o havia feito antes e disso nunca me arrependerei.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

A tropa cá do João 11 (Moçambique 6 - parte 1ª.)

Rio Lugenda



Quando regressei ao quartel no dia 26 de Abril de 1974, após uma desgastante operação na mata, durante doze dias, apenas me apetecia beber litros de água, tomar um duche prolongado, ler o correio e descansar. Mas um soldado da secção fluvial, que sempre nos ia buscar nos barcos pneumáticos à outra margem do Lugenda, disse-me no seu “pretoguês”, que lá, no Portugal, tinham prendido o rei, Marcelo, e andavam à porrada; quase que galguei a distância ao quartel e dirigi-me de imediato ao posto de transmissões, onde me confirmaram a existência de uma revolta militar em Lisboa, mas ainda tudo com contornos difusos, pois mensagens oficiais não havia ainda, só “bocas” na linguagem “cifrada” dos homens das transmissões; só pelo final do dia, recebi uma msg secreta do batalhão a informar laconicamente a situação.
É claro que fiquei em ebulição, a aguardar mais notícias, que apenas chegaram três dias depois e que me convocavam para ir a Marrupa, sede do Batalhão, no dia 1 de Maio, para uma reunião urgente. O comandante interino do Batalhão era um major de cavalaria, pouco simpático e bastante ligado ao regime, pelo que nunca esteve perto do movimento dos capitães que deu origem ao 25 de Abril. Tudo o que soube realmente do que se havia passado, foi por intermédio de capitães e alferes milicianos do Batalhão; claro que fiquei imensamente feliz, embora e naturalmente o meu primeiro pensamento não tivesse sido o da conquista da liberdade e democracia, mas sim a hipótese possível de um regresso antecipado a Portugal.
Longe estava de pensar que o 25 de Abril, me daria, ali em Moçambique, enquanto comandante de Companhia tantos problemas, devido essencialmente ao facto de que os homens sob o meu comando serem 95% pertencentes à guarnição local (isto é, viviam em Moçambique) e cerca de 90% serem negros, sendo que os brancos eram ou alferes e sargentos, ou especialistas (saúde, transmissões, administração, intendência, mecânica).
Fiquei a saber dias mais tarde que havia uma entidade nova chamada MFA, naquele caso, de Moçambique, e â qual deveria obedecer como militar, mas simultaneamente continuava a receber directivas operacionais do meu comando hierárquico, o Batalhão, que estranhamente me mandava intensificar as operações ( de carácter ofensivo); assim chegava-se ao absurdo de receber simultaneamente instruções, às quais devia dar cumprimento, completamente antagónicas, tais como reunir os meus homens e explicar-lhes que a Frelimo já não era o inimigo, e Portugal e Moçambique em breve seriam países irmãos, mas logo a seguir , mandá-los para o mato procurar “turras”…Era de ficar completamente desequilibrado e até ter tomado a resolução mais arriscada de todas as que tive de tomar, quase dei em maluco (sobre essa decisão falarei mais tarde).
Entretanto o correio familiar foi trazendo notícias mais concretas e eu assinava um jornal da metrópole que me ia pondo ao corrente, com muito atraso, claro, do que se ia passando. Vivia estes momentos difíceis que me causavam terríveis consequências no campo psicológico, quando o referido Major, foi naturalmente saneado e substituído, provisoriamente por um capitão meu amigo, que um dia , em trânsito no táxi aéreo, passou pela Companhia e ao ver-me assim abatido me obrigou, contra vontade, pois sentia não ser o momento próprio para abandonar o comando, a ir com ele passar ¾ dias a Marrupa a descansar um pouco de todo aquele stress; ficou a substituir-me no comando da Companhia, o alferes mais antigo, um sujeito de que os soldados não gostavam muito, até porque os explorava com um negócio de fotos que havia montado e que obrigava os soldados a pagar-lhe a revelação das fotos e a preços exagerados…
Chegado ao Batalhão, depois de um banho retemperador, de ter vestido roupas “decentes”, bebia um bom “scotch”, aguardando o jantar e uma boa partida de bridge, quando me vieram chamar para ir urgentemente ao posto de transmissões, onde me puseram em contacto com as transmissões da minha Companhia, de onde me informavam, o melhor possível sem cifras, pois o tempo urgia, que deveria regressar sem demoras, pois os soldados tinham-se revoltado contra o alferes, que havia fugido e estava algures escondido e protegido por furriéis, tinham assaltado o paiol do armamento, estavam de posse das armas e tinham invadido o bar de oficiais e sargentos e roubado tudo o que era álcool, pelo que estariam muitos embriagados a disparar a torto e a direito. Informei de imediato o comandante de Batalhão, o qual pediu a Vila Cabral uma avioneta D.O. para me vir buscar a Marrupa, mal clareasse, para me levar de volta à Companhia, e levaria comigo um outro alferes, este da metrópole e que aguardava transporte após as suas férias; é lógico que perdi o apetite do jantar e do bridge e fui incapaz de dormir, só a pensar em como iria resolver um grande problema duplo, no dia seguinte: acabar com aquela situação e reaver as armas, e também põr o alferes contestado a salvo.
Isso ficará para o próximo post, pois este vai longo e ainda há muito que contar sobre estas consequências locais e pontuais, mas difíceis, do 25 de Abril, para mim, enquanto militar numa frente de guerra.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Covilhã, cidade neve




Covilhã cidade neve
Fiandeira alegre e contente
És o gesto que descreve
O passado heróico e valente

És das beiras a rainha
O teu nome é nome de povo
És um beiral de andorinha
Covilhã tu és sangue novo

(Refrão)

De manhã quando te levantas
Que briosa vais para o tear
E os Hermínios tu encantas
Vestem lã para te namorar

E o pastor nos montes vagueia
Dorme à noite em lençol de neve
Ao serão teces longa teia
Ao teu bem que de longe te escreve

(Refrão)

Covilhã cidade flor
Corpo agreste de cantaria
Em ti mora o meu amor
E em ti nasce o novo dia

Covilhã és linda terra
És qual roca bailando ao vento
Em ti aura quando neva
Covilhã tu és novo tempo

(Refrão)

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Piadolas "arco-iris"

"VIVA o Guei"!!!!

Que taça tão merecida...


Este não é........nós é que somos.......



Em pleno Principe Real este terrorista gay vai fazer-se explodir no Brique, a mando do dr. Manuel Maria Martins.




domingo, 3 de fevereiro de 2008

Kosovo - as razões da História


“Uma das coisas que me faz espécie, aqui nos Balcãs, é haver bons de um lado e os sérvios serem sempre os maus”
Raul Cunha – oficial da missão da ONU no Kosovo in “Jornal de Negócios” de 18 de Dezembro de 2007



O Kosovo foi o coração do reino medieval sérvio; os sérvios perderam a sua liberdade e estiveram 500 anos sob ocupação otomana, depois da grande batalha do Kosovo, em 1389, tendo sido apenas em 1830, que a autonomia da Sérvia foi proclamada de novo, após a expulsão do invasor. Se o Kosovo foi o coração da Sérvia medieval e se era apenas formada por sérvios até ao final do século XIV, como se chegou ao Kosovo de hoje, com uma população esmagadoramente albanesa?
Houve três grandes vagas de êxodo sérvio: a primeira, em 1690, durante a ocupação turca e que tem razões históricas que não são importantes para o momento actual; a segunda, durante a ocupação pelos fascistas italianos, durante a II GG, e a última, durante o governo de Tito. A segunda vaga aconteceu porque a ocupação italiana e albanesa (seus aliados) incluía juntar à Albânia, o Kosovo e parte da Macedónia, pois o resto do território foi ocupado pelos nazis germânicos; e com essa ocupação italiana se formou a “Grande Albânia”, e foi neste período que a população albanesa começou a perseguiu os sérvios, forçando a fuga de milhares deles, enquanto se estabeleciam ali cada vez mais albaneses; assim, no final da II GG (1948), havia no território do Kosovo, que entretanto tinha sido libertado pelos “partizans”, em 1944 e se tornou parte integrante da República Federal Democrática Jugoslava, cerca de 500.000 albaneses e 200.000 sérvios; a população albanesa expandia-se muito mais rapidamente, com famílias de 10/15 filhos, e em 1971, havia já mais de 900.000 albaneses, para 260.000 sérvios. Foi nesta altura que começou a saga separatista dos albaneses do Kosovo, que fez expulsar cada vez mais a população sérvia, a quem era feita uma guerra feroz pela população albanesa, política essa tolerada por Tito, que não era sérvio, mas sim croata.
Assim, a primeira razão para as tensões no Kosovo foi o explosivo crescimento da população albanesa. Apesar dos esforços de desenvolvimento da região por parte do governo jugoslavo, o Kosovo tornou-se a mais pobre das suas regiões; a autonomia extensiva dada por Tito aos albaneses do Kosovo (autonomia regional dada em 1945, mas não uma autonomia real, pois o Kosovo continuava a ser parte integrante da Jugoslávia), foi por estes ultrapassada, com a sucessiva expulsão do resto da população não albanesa – terceira vaga. Os albaneses kosovares nunca pretenderam juntar-se à Albânia, país atrasado, pobre e esquecido do mundo, governado por um regime comunista pró maoísta e não seguidor da ortodoxia soviética. Entretanto, esta população albanesa do Kosovo começou a ser o centro de importantes actividades ilegais de venda de droga para o Ocidente e a enriquecer com isso; o Ocidente, na sempre prática e eficaz política de “dividir para reinar”, não só fechava os olhos a tudo isto, como até fomentava tal situação, pois sabia, principalmente os EUA, o valor dos recursos minerais ainda não explorados, que a região terá; os terroristas albaneses sempre tiveram o apoio americano, sendo poderosíssimo nos EUA o “lobbie albanês” .
Voltando à questão da autonomia da província, durante o mandato de Tito, foi havendo sucessivos alargamentos das regalias dos albaneses, que pretenderam em 1970, ser reconhecidos como as outras “nações” que constituíam a Jugoslávia, e não estar incluídos na “nação” sérvia e os grupos mais extremistas começaram a pedir mesmo a independência; Tito não foi capaz de estancar estes acontecimentos. Após a morte de Tito e das naturais convulsões internas na Jugoslávia, chega ao poder o sérvio Milosevic e começa a guerra dos Balcãs, que levou à independência da Eslovénia em 1991, e mais tarde da Croácia, Bósnia e Macedónia; foi uma luta terrível, fratricida, com violência e actos cruéis de TODOS os beligerantes ( a independência da Macedónia foi pacífica).
Claro que Milosevic, com o cerco a Sarajevo, viu todo o mundo contra ele, e até os próprios sérvios, e começou a enviar para o Kosovo as populações sérvias que fugiram da Croácia e da Bósnia; foi forçado internacionalmente a assinar o Tratado de Dayton, em 1995, que pôs fim à guerra.
No Kosovo forma-se o Exército de Libertação do Kosovo – UÇK, que se envolve em ferozes combates com a população sérvia e as forças que Milosevic envia para sua defesa; para obrigar Milosevic a terminar com os combates, a NATO, por ordem de Clinton, bombardeia Belgrado e a Sérvia, nos seus órgãos vitais, durante 78 dias consecutivos, em 1999, ao fim dos quais, Milosevic capitula, pois também internamente a contestação aumentava dia a dia, tendo durado escassos meses no poder até ser afastado por dirigentes democráticos numa revolta em Belgrado, a 5 de Outubro de 1999. Embora Milosevic tivesse sido uma personagem sinistra, neste caso do Kosovo, limitou-se a defender os sérvios do extermínio e da expulsão de que estavam a ser alvo, pelos albaneses, no território sérvio do Kosovo. Os bombardeamentos castigaram a Sérvia por defender o seu povo e o seu território e levaram à criação de uma zona “tampão”, governada pelos albaneses, sob o controlo e vigilância das forças da ONU, situação que ainda hoje se mantém. Mas estas forças têm-se limitado a ver os albaneses kosovares fazerem uma operação de limpeza étnica, expulsando por todas as formas possíveis, os sérvios, para criar o primeiro narco-estado da Europa, completamente dedicado ao contrabando da droga, de pessoas (prostituição) e de armas.
Conhecida a história, convém agora reflectir sobre o dia de hoje, e no agudizar da crise, com a entrada em força nesta questão, dos EUA, com múltiplos interesses na região, como já referi.
A política externa norte-americana, nomeadamente após o comunismo na URSS, tem sido a de “guardião do mundo” e “vigilante da paz”, mas nunca uma política conduziu a tantas guerras, a tanta violência, como agora. Acresce que seria extremamente útil ter um estado “amigo” e ainda por cima muçulmano, naquela região europeia, não só para os fins ilícitos ali praticados (o Kosovo é conhecido como a Colômbia da Europa, no que respeita à droga), mas também para a lavagem de dinheiro, tráfico de carne branca e eventuais interesses económicos das suas minas. Mas é extremamente hipócrita esta política americana, pois para serem coerentes, deviam os EUA reconhecer o direito à independência do povo curdo, em relação à Turquia (mas é aliado e parceiro da NATO) ou à Palestina (mas Israel é demasiado importante para os americanos); os problemas, quando começarem a surgir, serão na Europa e não na América e como sempre o território americano sairá imune de qualquer futuro conflito, consequente deste precedente perigosíssimo.
Do lado europeu, a Alemanha foi historicamente , é ainda e será sempre um inimigo da Sérvia e todos sabemos o peso da Alemanha no seio da UE. Mas como reagirão estados como a Espanha (com os problemas autonómicos por resolver, principalmente do país basco), Chipre (com parte do seu território ocupado pela Turquia), a Bélgica, com evidentes dicotomias entre valões e flamengos, e até a Inglaterra, se fosse coerente, em relação ao Ulster, entre outros ? A Grécia sempre foi um fiel aliado da Sérvia; Hungria, Bulgária e Roménia são vizinhos territoriais…Haverá consenso nos 27 ??? Abrir um precedente destes na Europa, será amanhã legitimar a ETA; será dar luz verde à separação da Bélgica entre valões e flamengos; e porque não permitir a independência dos sérvios da Bósnia, que representam 50% da população deste país ? E porque não os portugueses que residem no Luxemburgo ( 1/3 da população do país), pedirem a sua autonomia ?
Finalmente, se por um absurdo da História, milhares de galegos se tivessem fixado entre o Douro e o Minho, e quisessem agora declarar um estado independente, com o apoio do estado espanhol, incluindo esse território, claro está, Guimarães, o berço da nacionalidade portuguesa ? Como reagiríamos nós?
Não é com chantagens políticas, oferecendo à Sérvia o imediato início de conversações para a sua integração na UE, que se consegue vergar um povo; os sérvios sentem-se, e são-no, realmente, enteados e não filhos, numa Europa cada vez mais unida; têm grande vontade e necessidade de integrar a UE, mas nunca o farão como moeda de troca de uma perda do deu território – uma pátria não se vende…
A consideração de uma autonomia quase geral, mas não uma independência, poderá estar nos planos de alguns políticos de Belgrado, mas nunca subjugar-se a uma posição de força. E convém não esquecer Putin e a Rússia de Putin, aliado de sempre dos sérvios , que NUNCA aceitará uma independência unilateral do Kosovo e todos sabemos a necessidade que o novo czar da Rússia tem, de se afirmar internacionalmente; além do mais, a Rússia tem muito mais a dar à Sérvia do que a EU.
Portanto, qualquer resolução via ONU está, a priori, condenada ao fracasso, devido aos mais que certos vetos da Rússia e da China, e os americanos sabem isso perfeitamente.
Houve demasiados erros, ao longo da História, nesta questão do Kosovo e bastantes culpados. Talvez Tito tivesse sido o mais culpado, pois nunca soube, ou nunca quis precaver o futuro da Federação Jugoslava, que assentava em si próprio, e isso levou à guerra dos Balcãs e a esta situação no Kosovo.
Como já afirmei antes, o precedente da independência do Kosovo será perigoso para o mundo, principalmente para a Europa, mas que importa isso ao senhor Bush e à senhora Condolezza Ricce, que lhes importa a História? São demasiado grandes e importantes para se preocuparem com isso e sabem que têm o apoio quase total da EU, que ainda não percebeu que, quer em termos económicos, quer em termos essencialmente políticos, não é, nem poderá vir a ser subserviente em relação ao “expansionismo” americano. Vários actores americanos (George Clooney, Robert de Niro, Sharon Stone, Johnnie Depp, entre outros), já publicamente declararam o seu apoio à Sérvia, aliás como o insuspeito Sean Connery, defensor da autonomia escocesa.
Claro que a situação actual não é a de há 8 anos atrás, pois já não está no poder Milosevic, nem a América, a NATO ou a EU recorrerão a meios violentos para forçar situações; mas o que acontecerá no terreno?
Para finalizar, gostaria de dizer que no passado dia 25 de Janeiro foi publicado um artigo no jornal “Público” sobre este assunto; li-o, em Belgrado, on line; e houve comentários, muitos, mais de 40, não de políticos, não de comentadores políticos ou de “fazedores de notícias”, mas sim de gente anónima; e fiquei feliz por ver que a gente do meu país não é tão inculta ou mal informada como às vezes parece, pois esses comentários, na sua esmagadora maioria, condenavam, com argumentos válidos a independência do Kosovo. Mas, infelizmente quem governa não é o povo e todos sabemos que a posição oficial portuguesa será na EU, a do habitual “yes, sir”!!!!



Tadic, o candidato mais europeísta venceu, e agora? Fala-se que a proclamação unilateral da independência será feita esta semana… a ver vamos…

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Kneza Milosa


































Kneza Milosa é uma rua de Belgrado; não é a maior, pois o Boulevard Aleksander, por exemplo é muito maior; não é a mais animada, pois as diversas ruas piedonais no centro, têm uma imensidade de gente sempre, mas sobretudo no Verão; mas é talvez a mais importante rua da capital sérvia – para mim é de certeza, pois é lá que o Déjan mora - mas mesmo para toda a gente, pois esta rua com um movimento automóvel constante, que vem da auto-estrada até ao centro (termina no Parlamento), tem locais muito importantes, nomeadamente a residência oficial do primeiro ministro, vários ministérios (Negócios Estrangeiros, Interior, Defesa, Obras Públicas, entre outros), todos ele belos edifícios, tem muitas embaixadas, entre elas a americana e tem edifícios esventrados, destruídos completamente por bombas lançadas pela Nato, e sob a égide de Bill Clinton, para forçar o então todo poderoso e bastante odiado também pelos sérvios, Slobodan Milosevic a abandonar o Kosovo e a entregar essa província sérvia à guarda das Nações Unidas; nesses bombardeamentos os belos edifícios que agora vimos reconstruídos foram também arrasados, deixando as ruínas do então Ministério da Defesa e do Ministério do Interior, para mostrar a brutalidade dos efeitos das bombas.
Claro que foram bombardeamentos “cirúrgicos” e que visaram, não só em Belgrado, mas em todo o território sérvio, as grandes unidades de produção, as pontes e outros objectivos estratégicos.
Um apontamento para referir que a casa do Déjan é em frente das ruínas do M. da Defesa, pelo que ele, quando as bombas começavam a cair se limitava a abrir as janelas para o efeito das bombas não estilhaçar as vidraças; ainda bem que do outro lado da rua, a 170 metros da sua casa fica a embaixada dos americanos, que com certeza teria que ser poupada.
Por todas estas vicissitudes por que o povo sérvio foi passando, pelos muitos milhares de mortos que a guerra lhe levou, sempre com a ideia de que eles foram sempre os maus e os únicos maus, vale a pena voltar ao assunto do Kosovo.
Assim farei após saber o resultado das eleições presidenciais do próximo domingo, entre o europeísta e actual presidente Tadic e o nacionalista Nikolic, que embora ambos se oponham à independência do Kosovo, terão diferentes modos de agir, talvez.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Boris e Teka


Depois de ter recebido umas miadelas ameaçadoras, confesso, dei a mão à palmatória, e pronto, eles têm razão…
Eles, são o Boris e a Teka, também conhecidos aqui em casa por “pequeninos” (ele pesa quase 7 quilos), e protestaram veementemente, aqui junto à porta do blog, com um cartaz – QUEREMOS DIREITOS IGUAIS – pois sentem-se diminuídos ao verem o afecto e carinho que alguns dos meus amigos demonstram pelos seus bichanos, nomeadamente a Vitória, do Paulo e do Zé, e do Yorick, do X e do F, só para falar nos que ultimamente mais se referiram aos seus bichanos, e eles nem uma palavra minha aqui.
Pois aí estão: o Boris, grandalhão, que não dispensa afectos, antes os exige, com excepção ao desprezo que me devota no primeiro dia de um regresso meu, após ausência mais prolongada, ao jeito de “já que me abandonaste, agora quero que tu te lixes”; tem dois miares completamente distintos, um imperativo, forte e austero que significa “quero comer”; outro, mais implorativo, terno e manhoso, acompanhado de marradinhas, e que mostra necessidade de festas, que devem ser em cima da mesa da cozinha. Já não tem uma grande agilidade e passa a vida a dormir e a pedir carícias; chateia-se quando a Teka o importuna demasiado com pedido de brincadeiras e despacha-a com uma patadita bastante forte, embora na generalidade se deêm muito bem.
A Tekas é muito mais nova, super mexida, mas agora, depois de uma difícil adaptação aos meus métodos, pouco ortodoxos, de carícias, muito terna também; está atenta a tudo, mete o focinhito em tudo, tem que ver e saber tudo; é muda e a sua forma de pedir comida e afecto é um constante roçar nas minhas pernas…
Curiosamente, não me “despreza” depois das ausências e mostra-se muito contente e procura receber muitas festas. Foi uma gata traquinas, quando mais nova, e teve que ser “domesticada” nalgumas touradas que mereciam vídeos no You Tube (o que eu corria atrás dela para lhe dar uma palmada depois das muitas asneiras feitas…)
Adoro os meus gatos, adoro que durmam comigo, adoro dar-lhes mimos e receber mimos deles.
Com o Boris, chego a “conversar” algumas vezes…

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Este é o milagre


Obrigatòriamente, este post é para ti, Déjan, que depois de dias tão cheios e belos, viveste comigo, uma vez mais a dor, cada vez mais forte de uma nova separação.
Apesar de isso, vale a pena, meu amor, vale cada vez mais a pena e neste momento recordo uma frase bela do grande poeta alemão Rainer Maria Rilke (1875/1926):
“Este é o milagre que acontece a todos os que amam verdadeiramente – quanto mais dão, mais têm”.
Obrigado por me dares tanto.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Novi Sad






















Finalmente visitámos Novi Sad, uma cidade a cerca de 85 kms de Belgrado e na direcção da Hungria, com cerca de 400.000 habitantes e que é linda, verdadeiramente.
Banhada pelo Danubio, tem um castelo, que não visitámos, pois o tempo era escasso (anoitece ás 5 e pouco da tarde), o centro da cidade é belissimo, calmo e apetece mesmo ficar por ali, como podem observar pelas fotos que aqui ficam.
Este é o ultimo post que faço daqui, pois estou de regresso no domingo, a Colónia, e no dia seguinte a Lisboa.
Infelizmente, tem que ser...

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Ennis del Mar


Hesitei bastante antes de escrever este post, pois rompe o estabelecido de não postar nada sobre outros temas, durante a minha ausência; mas não consigo calar a minha estupefacção e tristeza perante a notíicia da morte de Heathe Ledge.
Antes de ver o filme „Brokeback Mountain“, apenas recordava Ledge na sua actuação em „O Patriota“, muito jovem, como filho de Mel Gibson e não me impressionou por aí além; por outro lado nos seus outros filmes também não foi um actor que me levasse a admirar muito.
O seu aspecto fisico tão pouco era muito apelativo para os meus gostos, embora reconheca que o seu rosto tinha algo que comunicava simplicidade, ternura e alguma tristeza..
Mas, na sua interpretação de Ennis del Mar, Heathr Ledge transformou-se por completo e deu-me uma das melhores interpretações que vi nos últimos anos, pois se pode ser difícil interpretar um grande drama, ou uma grande comédia, mais difícil é interpretar uma personagem tão fechada em si própria, que „falava“ por silêncios e que emocionava até às lágrimas algumas das cenas do filme.
Mais que Heathe Ledge, choro hoje a perda de Ennis del Mar!
O beijo que „arranca“ ao amigo, toda a cena em casa dos pais dele, e a cena final, com a comovente visita ao armário onde estava o seu vestuário, jamais me sairão da memória.
Recordo que fiquei sózinho na sala durante a passagem dos créditos do filme, a ouvir esta canção de Willie Nelson, que é só por si qualquer coisa de muito belo; e como então, não consigo suster uma lagrima...
Porquê, Ennis del Mar, partiste tão cedo?

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Belgrado em fotos

Confluência do rio Sava com o rio Danúbio, tirada da fortaleza de Kalemegdan. A ilha está no meio dos dois rios.
Rio Sava e Nova Belgrado.

Hotel Moscovo, no centro da cidade.


Catedral de S.Sava, a segunda maior do mundo, do culto ortodoxo.



Teatro Nacional e estátua equestre do Principe Mihailo, na principal praça de Belgrado.




Igreja de S. Marcos, para mim a mais bela da cidade.





domingo, 13 de janeiro de 2008

Dobro smo - Estamos bem


U Beogradu je vrlo hladno pa i nije najprihvatljivije šetati ulicom... Ipak, sva ostala mesta; kafići, restorani i prodavnoce su vrlo topli pa jako brzo zaboravimo na hladnoću spolja. Nismo izlazili mnogo, ali nam je zbog toga još "toplije". Sredinom nedelje predviđa se sneg i biće vrlo dobro izaći na ulice i to uslikati. Međutim to će najverovatnije i biti razlog za odlazak u Novi Sad sutra ili prekosutra jer nije daleko (80 km) te ćemo ići autobusom ujutro i vratiti se uveče. Dobro smo, ali tek će nam biti odlično!!!

Em Belgrado está muito frio e apetece pouco andar na rua...No entanto, todos os locais - cafés, restaurantes, lojas - estão aquecidos e lá dentro esquece-se o frio. Temos saído pouco, e assim o "calor" é ainda maior. Prevê-se um nevão para o meio da semana, o que será óptimo para ir para a rua tirar fotos. Mas isso leva-nos a antecipar a ida a Novi Sad para amanhã ou terça feira: é perto (80 kms), e iremos de autocarro, pela manhã e regressaremos à noite. Estamos bem, pensamos que estamos mesmo muito bem!!!



É o primeiro post cuja autoria não é apenas da minha exclusiva responsabilidade e é um post bilingue (sérvio e português).

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Rumo ao Danúbio, via Reno


Amanhã, parto para passar duas semanas e meia com o Déjan, em Belgrado.

Será o muito esperado reencontro desde Zadar, no passado mês de Setembro e só me reconfortará o regresso o aprazar de um novo encontro, pois pelo menos temos uma data á nossa espera...

É realmente muito difícil um relacionamento assim à distância, e apenas bases sólidas e um mútuo e grande afecto permite alimentá-la.

Mas nada disso agora importa; apenas sei que amanhã, por estas horas estarei a voar até Colónia, onde numas poucas horas poderei relembrar as margens do Reno, para no dia seguinte ir almoçar com o Déjan, nas margens do Danúbio, na sua bela confluência com o Sava.

Durante este tempo, este blog estará de férias...ou talvez haja alguma notícia de lá.

Até breve...

domingo, 6 de janeiro de 2008

Luís Pacheco


Não imagino que epitáfio gostaria Luís Pacheco gostaria de ter na sua sepultura, mas estou certo que seria o mais corrosivo, em todos os cemitérios.

Isto porque o homem e escritor que faleceu ontem, foi entre muitas outras coisas , sobretudo um homem corrosivo.

Foi alcooólico, surrealista, tinha problemas de visão que lhe deram uma imagem ímpar com aqueles óculos de graduação impossível, foi escritor, foi andrajoso, provocador, foi pedinte, foi ouvido e foi considerado, foi um homem como há poucos; nele se misturava o génio e o asco.

Foi desde sempre um opositor à ditadura e ecreveu, fartou-se de escrever: livros, folhetos, comunicados, provocações e simples folhas de papel.

Muitas vezes me cruzei com ele, velho antes de o ser, na rua, num café, com aquele ar de louco fugido do manicómio, mas sempre vi nele alguém que ia muito além da imagem que fazia passar.

Houve duas obras suas que me marcaram muito: o incontornável "Comunidade" (1964) e uma publicação, à altura quase clandestina que era "O Libertino passa por Braga, a Idoláctrica, o seu Esplendor"(1970).

Um ano e pouco depois de Cesariny, o surrealismo morreu de vez...

sábado, 5 de janeiro de 2008

Post Office

(clique para aumentar)


Bem ao estilo de Tom of Finland, mas mais abrangente, este boneco tem promenores deliciosos: a posição das pernas da "senhora" que está a aceder ao "guichet", o bebé, o cão e a ave, por exemplo.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

"purosex.com"


Aproveitei os curtos dias de ausência, pelo Natal, para ler o livro de Dennis Cooper “purosexo.com”, da editora Bico da Pena, e que havia comprado no S.Jorge, durante o festival de cinema gay.
Já tinha lido um texto do Miguel ( Innersmile), acerca do livro, mas como não conhecia o livro, confesso que me “passou um pouco ao lado”.
Devo desde já dizer que não gostei do livro, de uma forma geral, embora reconheça no autor uma capacidade imensa de jogar com a escrita, e de através dela “jogar” com o leitor. O tema é muito mais do que uma simples história ou conjunto de histórias, sobre conhecimentos travados na internet e nos chats afins; é um olhar muito perverso sobre um mundo muito particular da homossexualidade, e que parece ter cada vez mais simpatizantes, especialmente nos EUA: o mundo do sado-masoquismo levado ao extremo, à morte até, desejada quer pelo “carrasco” quer pela vítima.
Sou muito liberal, aceito qualquer acto que outrem deseje praticar, de sua livre vontade e que não moleste terceiros¸ mas actos que envolvam a morte e formas demasiado fortes de dor, para poderem ser consideradas apenas bizarras, isso não vai muito comigo, confesso.
Estive para abandonar a leitura do livro várias vezes, mas li até ao fim, na tentativa de encontrar algo que me minorasse o incómodo do que já havia lido, mas em vão.
Espero que o outro livro que comprei na altura me proporcione o prazer que este não me trouxe.

segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Paz




Que este ano nos traga não a PAZ, pois isso é pura utopia, nos tempos que correm, mas alguma PAZ. O mundo atravessa um período de guerras, de ódios, de ameaças, de extremismos e de violência, nas mais variadas regiões. O meu voto vai para que os homens que aí vêm governar o mundo ( não só nos EUA), sejam capazes de compreender que sem Paz, o mundo jamais será feliz.

Para todos os meus amigos, que essa Paz que falo se prolongue em vós, nas vossas vidas, e que assim, em paz possam realizar os anseios legítimos que tenham para os próximos 366 dias.

sábado, 29 de dezembro de 2007

29 December (2005/2007)




My love
two years ago, at 29 December 2005, we have change our first mails; it's impossible put here everything we passed meanwhile; i could try, but i prefer only to remember every moments, the good and the not so good in this song, our song "You raise me up"!
Thank's, my love for everything you give to me since then till now.
We will be together in two weeks, and the kiss I send you now, I will give it to you at 10 January.
I LOVE YOU - VOLIM TE - AMO-TE, Déjan!!!!!!!!

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Cinco filmes
























O amigo Papagueno lançou-me há dias um desafio (mais um), ao qual não poderia ficar indiferente, como ele já sabia, e como ele sentiu, quando foi desafiado. Trata-se de nomear os 5 filmes de que mais gostei até hoje; é uma tarefa impossível de cumprir em absoluto, pois nem cem chegariam…Haveria pois que escolher critérios, e assim resolvi “esquecer” o período mudo, do qual não tenho uma total informação para eleger um representante e depois escolher um filme da categoria comédia\sátira,, um musical, um filme europeu, um de ficção científica e um filme mais recente, já do século XXI. Aí começou o suplício, pois se havia três filmes que eu tinha hesitado pouco, embora pondo de lado outras obras primas, mas por mero gosto pessoal, já noutras duas categorias, a escolha foi tremenda.
Mas pronto a escolha está feita e vamos a ela.




Na categoria de musical, a decisão estava tomada, teria que ser “West Side Story” (1961), de Jerome Robbins e Robert Wise; foi um filme que me marcou muito, e durante muito tempo, o considerei o filme da minha vida; claro que deixar para trás os musicais de Gene Kelly, os duetos de Fred Astaire/Ginger Rogers e tantos outros não foi fácil; mas aquela coreografia magnífica, aquelas canções imortais, aquele argumento fantástico sempre me fascinaram e recordo a sua visão no ecrã de 70 mms do Monumental: arrebatador!
Quanto à ficção científica a luta foi mais restrita, mas a opção estava tomada: “2001, Odisseia no Espaço” (1968), de Stanley Kubrick ganhou aos pontos a “Blade Runner”, e ainda por cima é também uma homenagem a um cineasta que não fez um único filme menos bom ou desinterassante (não posso deixar de lembrar uma obra prima sua – “Barry Lindon”).
A terceira e última opção, mais ou menos imediata, foi na categoria dos filmes mais recentes; mesmo deixando para trás filmes fabulosos, como “Magnólia”, “Beleza Americana”, “Longe do Paraíso” e tantos outros, o eleito teria que ser “O Segredo de Brokeback Mountain” (2005), de Ang Lee, não por ser um filme gay, que até não era, pois sempre considerei este filme uma belìssima história de amor, que tinha a particularidade de ser entre dois homens, apenas isso; aquelas paisagens, a música, as interpretações, a contenção de um argumento que noutras mãos poderia ter resvalado para um filme banal e talvez até mal compreendido, tudo isso e duas ou três cenas que farão SEMPRE parte do meu imaginário, como o beijo do reencontro, a cena com os pais de Jack e a cena final, que é impossível não humedecer os olhos, não me fizeram hesitar.
Na categoria de comédia/sátira, após uma enorme batalha de várias frentes, em que o principal vencido foi “Quanto mais quente, melhor”, acabou por vencer um filme excepcional de um génio do cinema: “O Grande Ditador” (1940), de Charlie Chaplin, esse mago da Sétima Arte, que não poderia ser esquecido e também é o único filme dos 5 escolhidos a preto e branco; é uma sátira feroz, e nada é mais forte do que aquilo que se diz em geito de comédia: fabuloso!
Em relação ao filme europeu, foi onde a luta foi mais feroz, pois eu sou um amante do cinema europeu, por natureza; não esqueço a trilogia italiana de Felinni, Visconti e Antonionni, a fria mas admirável mensagem de Bergman, o encanto dos filmes de Wim Wenders, a descoberta de um cinema “diferente” em Almodôvar ( “Tudo sobre minha Mãe” é magnífico), alguns nomes da nouvelle vague francesa – Godard, Truffaut e outros, enfim, um manancial inesgotável de filmes magníficos; o eleito acabou por ser um “fresco” admirável de Visconti com a sua passagem ao cinema do livro de Lampedusa, “O Leopardo” (1963), de Luchino Visconti, um realizador que nos deu “O Grito”, “Rocco e os seus irmãos”, “Belíssima”, “Senso” e tantos outros, um homem ambíguo e magistral, quer na sua dualidade burguesia/comunista, quer na sua faceta de homossexual que sabia dosear sem explorar a sexualidade de alguns dos seus intérpretes masculinos (Bogard genial em “Morte em Veneza”, Delon e Helmut Berger, ambos algo mais que simples intérpretes dos seus filmes).

Agora resta-me endereçar o desafio a cinco pessoas que tenham verdadeiro prazer em explorar este tema; se há alguns amigos que tenho a certeza que gostarão do desafio, outros será um puro instinto: assim gostaria de ter o “depoimento” do Tonghzi, Maurice, Jasmim, Paulo (Felizes juntos) e Luís Galego (Infinito pessoal). Vamos lá, não sejam “desmancha-prazeres”…

sábado, 22 de dezembro de 2007

Um conto de Natal


Todos os anos, pelo Natal, eu ia a Belém. A viagem começava em Dezembro, no princípio das férias. Primeiro pela colheita do musgo, nos recantos mais húmidos do jardim. Cortava-se como um bolo, era bom sentir as grandes fatias despegarem-se da areia, dos muros ou dos troncos das árvores velhas, principalmente da ameixieira. Enchia-se a canastra devagar, enquanto a avó ia montando o que se chamaria hoje as estruturas, ou mesmo infraestruturas, junto da parede da sala de jantar que dava para o jardim. Eram caixotes, caixas de chapéus e de sapatos viradas do avesso, tábuas, que pouco a pouco ela ia cobrindo de musgo, ao mesmo tempo que fazia carreiros e caminhos com areia e areão. Mais tarde os rios e os lagos, com bocados de espelhos antigos, de vidros ou mesmo de travessas cheias de água. Até que todos os caixotes, caixas e tábuas desapareciam. Ficavam montanhas, planícies, rios, lagos. Era uma nova criação do mundo. Aqui e ali uma casinha ou um pastor com suas cabras. E todos os caminhos iam para Belém. Não era como o presépio da Igreja que estava sempre todo pronto, mesmo antes de o Menino nascer. A cabana, a vaca, o burro, os três reis do Oriente. Maria, José, Jesus deitado nas palhinhas. Via-se logo que era a fingir. Não o da avó, que era mais do que um presépio, era uma peregrinação, uma jornada mágica ou, se quiserem, um milagre. Nós estávamos ali e não estávamos ali. De repente era a Judeia, passeávamos nas margens do Tiberíades, andávamos pelo Velho Testamento, João Baptista baptizava nas águas do Jordão e aquele monte, ao longe, podia ser o Sinai ou talvez o último lugar de onde Moisés, sem lá entrar, viu finalmente a terra onde corria o leite e o mel. Mas agora era o Novo Testamento. A avó ia buscar as figuras ao sótão, eram bonecos de barro comprados nas feiras, alguns mais antigos, de porcelana inglesa, como aquele caçador que a avó colocava à frente dizendo: Este é o pai. Seguia-se a mãe, de vestido comprido, dir-se-ia que ia para o baile, mas não, saía de cima de uma mesinha da sala de visitas e agora estava ao lado do pai, olhando levemente para trás onde, entretanto, a avó já tinha colocado figuras mais toscas, eu, a minha irmã, os primos, alguns amigos, todos a caminho de Belém. - E a avó?, perguntava eu. - Eu já estou velha para essas andanças. De dia para dia mudávamos de lugar. E todas as manhãs deparávamos com novas casas, mais rebanhos, pastores, gente que descia das serras, atravessava os rios e os lagos. Os caminhos ficavam cada vez mais cheios. E todos iam para Belém. À noite tremulavam luzes. Acendiam e apagavam. Mas ainda não se via a cabana, nem Maria, nem José. Então uma noite, entre as estrelas do céu, aparecia uma que brilhava mais que todas. - Esta é a estrela, dizia a avó. E era uma estrela que nos guiava. Na manhã seguinte lá estavam eles, os três reis do Oriente, Magos, explicava o pai, que também não dizia Pai Natal, dizia S. Nicolau, talvez por influência de uma misse de origem russa que em pequeno lhe falava de renas e trenós e de S. Nicolau atravessando as estepes. Cheirava a musgo na sala de jantar. Cheirava a musgo e a lenha molhada que secava em frente do fogão. E os Magos lá vinham, a pé, de burro, de camelo. Traziam o oiro, o incenso, a mirra. Às vezes nós, os mais pequenos, juntávamo-nos e cantávamos: “Os três reis do Oriente / Já chegaram a Belém.” - Não chegaram nada, atalhava a avó, ainda não. Estávamos cada vez mais perto. E também nervosos. Confesso que às vezes fazia batota. Empurrava-nos um pouco mais para a frente, para mais perto de Belém e do lugar onde eu sabia que mais tarde ou mais cedo a avó ia pôr a cabana. Mas ela descobria. - Não lucras nada com isso, podes apressar toda a gente, não podes apressar o tempo. Cada vez havia mais luzes na Judeia. Por vezes surgiam novos lagos, eram mistérios da minha avó. E a estrela lá estava, a grande estrela de prata que brilhava mais do que todas as outras, às vezes eu ia à janela e via a projecção daquela estrela, ficava confuso, já não sabia se era a estrela da sala ou uma estrela do céu, era uma estrela nova, uma estrela de prata, era uma estrela que nos guiava. No céu, na sala, na Judeia, talvez dentro de nós. Até que chegava o primeiro dos grandes momentos solenes. A avó chamava-nos ao sótão ( nós dizíamos forro ), abria uma velha arca e desempacotava a cabana. Depois, muito comovida, quase sempre com lágrimas nos olhos, as figuras de Maria e José. - Não há nada tão antigo nesta casa, já eram dos avós dos meus avós. Impressionava-me sobretudo o manto muito azul de Maria e o rosto magro, quase assustado, de José. A avó limpava-os com muito cuidado e mandava-nos sair. Nunca nos deixou ver o resto. À noite, quando regressávamos da missa do galo, a que a avó não ia, chegávamos a casa e finalmente estávamos em Belém. A estrela brilhava intensamente sobre a cabana, Maria e José debruçavam-se sobre o berço, onde Jesus, todo rosado, deitado nas palhinhas, agitava os braços e as pernas, envolvido pelo bafo quente dos animais, enquanto os três reis do Oriente, agora sim, chegavam a Belém para depositar aos pés do Menino o oiro, o incenso, a mirra. E vinham os pastores, e vinha o pai, de caçador, a mãe, de vestido de baile, e vínhamos nós, eu, a minha irmã, os primos, não éramos de porcelana nem de barro, estávamos ali em carne e osso, era noite de Natal, uma estrela nos guiava, brilhava sobre a Judeia e sobre o presépio, brilhava cá fora entre as estrelas, brilhava dentro de nós. Naquela noite, naquele momento, nós não estávamos na sala de jantar em frente do presépio, tínhamos chegado finalmente a Belém para adorar o Menino ao lado de Maria e José e dos três reis do Oriente, Magos, não conseguia deixar de corrigir o meu pai. Mas mágica, verdadeiramente mágica era a avó. Era ela que fazia o milagre da transfiguração, trazia o Natal para dentro de casa e levava-nos a todos até Belém. O cheiro a musgo e a lenha. Os montes, os vales, os rios, os lagos. Caminhos e caminhos que iam para Belém. E a estrela de prata, a estrela que nos guiava. Era uma estrela no céu, dentro de casa, dentro de nós. Pela mão da avó ela brilhava. Pela sua magia Belém estava dentro de casa. E a casa também ia até Belém. Mais tarde, muito mais tarde, eu estava no exílio. Na noite de Natal os revolucionários ficavam tristes e nostálgicos. Talvez recordassem outras avós, outros presépios, outros lugares. Reuniam-se em casa deste ou daquele, improvisava-se uma árvore de Natal, trocavam-se presentes. Mas ninguém, nem mesmo os mais duros, os que faziam gala em dizer que o Natal para eles não significava nada, nem mesmo esses conseguiam disfarçar uma sombra no olhar. Saudade, dir-se-á. Mas talvez fosse mais do que saudade e solidão e o pior de todos os exílios que é o de se sentir estrangeiro no mundo. Talvez fosse a consciência de que, para lá de todas as crenças ou não crenças, havia um irremediável sentimento de perda. Muitas vezes me perguntei o que seria. Mas não conseguia responder. Sentia o mesmo aperto, o mesmo buraco por dentro, o mesmo sentimento de algo para sempre perdido. Uma noite de Natal, em Paris, eu estava sozinho. Comprei uma garrafa de vinho do Porto, mas não fui capaz de bebê-la assim, completamente só, num quarto de criada de um sexto andar numa velha rua do Quartier Latin. Peguei na garrafa e fui até aos Halles. Procurei o bistrot onde costumava comer uma omelete de fiambre. Felizmente estava aberto. Pedi a omelete e abri a garrafa. Havia mais três solitários no bistrot, um velho de grandes barbas, um tipo com cara de eslavo, um africano. Convidei-os para partilharem comigo a garrafa de Porto, que não resistiu muito tempo. Encomendámos outras bebidas. - Conta uma história de Natal do teu país, pediu o velho. - Só se for a do presépio da minha avó. - Então conta. Eu contei. Era já muito tarde e o patrão disse-nos que queria fechar. Chegados à rua o africano apontou o céu e disse-me: Olha. E eu vi. Uma estrela que brilhava mais que as outras estrelas. Era uma estrela de prata. A estrela da avó. Brilhava no céu, brilhava outra vez dentro de mim, quase posso jurar que brilhava dentro dos outros três. Então eu perguntei ao africano como se chamava. E ele respondeu: - Baltazar. Perguntei ao velho e ele disse: - Melchior. E sem que sequer eu lhe perguntasse o eslavo disse: - O meu nome é Gaspar. Era noite de Natal e talvez ainda por magia da avó eu estava na rua, em Les Halles, com os três reis do Oriente, Magos, diria o meu pai. - E agora? perguntei a Baltazar. - Agora, respondeu o africano apontando a estrela, agora vamos para Belém."

(Manuel Alegre)
Desejo a todos os meus Amigos, que nesta ápoca natalícia, encontrem uma estrela de prata e a sigam...até à Felicidade. Boas Festas!

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

"Vecchio Frak"



Mar_maria, como vês, não caíu "em saco roto" esta canção emocionante, de uma das mais belas vozes que a Itália já deu ao mundo, na canção ligeira, o "enorme" Domenico Modugno.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Quantos conheces tu?


O Catatau teve a amabilidade de me mandar esta fotomontagem, que acho interessantìssima. Com a sua amável autorização aqui a compartilho, pois é um interessante jogo, ir descobrindo, com a ajuda de alguma ampliação tantas personalidades, que à primeira vista nos passariam desapercebidas, e ao mesmo tempo recordar essas mesmas personagens, umas que ficaram na História por altos valores de vária ordem, outras, por actos infelizmente, pouco gratificantes, mas todas elas de reconhecido interesse nos diferentes aspectos que a Vida nos vai trazendo.

Divirtam-se e uma palavra de agradecimento a este "tipo" que teima em não ter um blog, mas devia ter, o Catatau.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Jacques Prévert


“Pai nosso que estais nos céus
Neles permanecei
E nós ficaremos sobre a terra
Que às vezes é tão bela.”


Estas palavras são de Jaques Prévert, o primeiro poeta que li na minha juventude, mesmo antes de Pessoa, Botto, Florbela Espanca e Cesário Verde ( a excepção terá sido Camões, por imperativos escolares); nessa fase eu devorava os “Le livre de poche”, que me deram a conhecer os grandes nomes da literatura francesa do século XX: André Gide, Albert Camus, Roger Peyrefitte, Boris Vian, Jean Paul Sartre, Marguerite Duras, Jean Cocteau, Françoise Sagan, Roger Vailland e tantos outros.
Li por diversas vezes “Paroles” aonde ainda hoje volto, assim como “La pluie et le beau temps”, “Spectacule” e “Histoires”.


Jacques Prévert nasce em 190o, em Neuilly-sur-Seine, França, onde passa a sua infância. Seu pai, André Prévert, crítico de dramaturgia, leva-o sempre ao teatro e sua mãe, Suzanne Catusse, inicia-o na leitura. Aos 15 anos, com o certificado de estudos básicos, ele sai da escola e começa a fazer pequenos trabalhos. Convocado para o serviço militar, ele vai para Saint-Nicolas-de-Port, onde encontra Yves Tanguy, antes de ser enviado para Istambul, onde conhece Marcel Duhamel.
Em 1925, participa do movimento surrealista, junto com seu grupo, formado por Marcel Duhamel, Raymond Queneau e Yves Tanguy. Mas Prévert, com seu espírito independente, não consegue permanecer por muito tempo em um mesmo grupo, seja ele qual for.
Escreveu os grandes filmes franceses realizados entre 1935-1945: Drôle de Drame, Le Quai des Brumes, Hotel du Nord, Le Jour se Lève, Les Enfants du Paradis de Marcel Carné. Os seus poemas são transformados em música por Joseph Kosma (Les Feuilles Mortes). Ele começa a escrever peças de teatro.
Sua filha Michele nasce em 1946. Casa-se com Janine Tricotet em 1947. Por iniciativa de sua esposa, que tenta afastá-lo das “tentações de uma vida dissoluta”, eles deixam Antibes para morar em Omonville-la-Petite, na Manche, onde morre aos 77 anos, de cancro do pulmão
Prévert revoluciona o discurso tradicional, através do jogo de palavras. A sua poesia é constantemente construída com jogos de linguagem (calembur, neologismos, lapsus propositais, invenções...) com os quais o poeta consegue efeitos cómicos inesperados (um humor por vezes negro), duplos significados e imagens insólitas.
Os seus poemas também são ricos em jogos sonoros, combinações que brincam com a audição (aliterações, rimas e ritmos variados) que podem parecer fáceis, mas que são habilmente utilizadas or Prévert.
Traços de surrealismo ajudam a compor o seu estilo: inventários, listas de objectos, metáforas e personificações.

LE CANCRE

Il dit non avec la tête

mais il dit oui avec le coeur

il dit oui à ce qu’il aime

il dit non au professeur

il est debout

on le questionne

et tous les problèmes sont posés

soudain le fou rire le prend

et il efface tout

les chiffres et les mots

les dates et les noms

les phrases et les pièges

et malgré les menaces du maître

sous les huées des enfants prodiges

avec des craies de toutes les couleurs

sur le tableau noir du malheur

il dessine le visage du bonheur.



O CARANGUEJO *

Ele diz não com a cabeça

mas diz sim com o coração.

Ele diz sim só ao que ama

mas diz não ao professor.

Está de pé

e interrrogam-no

mas são problemas demais.

Morre de rir - de repente

-e apaga tudo o mais

os algarismos e os nomes

as datas e as palavras

e as frases de emboscada.

O professor ameaça-o

sob a vaia dos meninos

( os geniozinhos da classe)mas ele, ele trabalha

com giz de todas as cores

no quadro-negro das dores

desenha o rosto da felicidade.


(* Le cancre

o caranguejo, em linguagem familiar,designa também o menino preguiçoso ou vadio. )

sábado, 15 de dezembro de 2007

Kosovo


Está a acabar a presidência portuguesa da União Europeia, a última, pois com o novo Tratado de Lisboa, deixará de haver presidências rotativas.
Não serei a pessoa indicada para fazer uma análise do modo como decorreu esta presidência, tendo no entanto bastado estar atento para entender que ela ficou marcada pelo acordo que deu origem ao Tratado de Lisboa, assinado esta semana, com pompa e circunstância; abstenho-me de o comentar, apenas dizendo que com ele, se saiu de um impasse político, que durava há anos, e obstava importantes desenvolvimentos da União Europeia, que congrega hoje a grande maioria dos estados europeus.
Também foi um ponto alto a cimeira (sem resultados práticos visíveis) EU – África, com todo o “folclore” e alarido de Kadhaffis e Mugabes.
Um outro tema, que estaria na agenda da nossa presidência e que irá transitar para a seguinte, da Eslovénia, é a questão do Kosovo, menos mediática, talvez, muito menos importante para nós, portugueses, pelo menos directamente, mas extremamente difícil de resolver.
Para mim, que tenho um relacionamento afectivo muito forte com um jovem sérvio – Déjan, este texto é-te dedicado – e que tenho por isso alguma maior informação, é mesmo um assunto muito importante e é o único, felizmente, ponto de eventual conflitualidade na Europa, hoje em dia. Não quero ser suspeito de simpatias e sempre me habituei a ver os factos objectivamente, e daí a análise que faço, ser racional e não emocional, pelo menos até que factos diversos me sejam apresentados.
Toda a gente conhece a fratricida guerra dos Balcãs, que levou ao desmembramento da antiga Jugoslávia num conjunto de países, alguns de uma forma não violenta, como a Eslovénia, a Macedónia e mais recentemente Montenegro; outros, com formas de rara violência, numa guerra que envolveu irmãos desavindos por credos e etnias, mais do que por outras razões: Bósnia- Herzegovínia e Croácia.
A questão das maiorias étnicas foi a causa de muitos massacres e atrocidades de todas as partes, mas o odioso, o papel de mau, recaiu sempre só para uma parte, para a Sérvia, e essencialmente por culpa de um homem, que encarnava em si próprio, tudo o que de mal e cruel um ser humano pode ser – Milosevic!
Mas do lado croata, maioritariamente católico, e desde sempre protegido pela EU, com a Alemanha à cabeça, e do lado muçulmano Bósnio, que soube capitalizar a seu favor todo um trágico cerco sérvio, ordenado por Milosevic a Serajevo, também muita violência e massacres haverá a assacar.
Assinada a paz em Dayton, restava o caso do Kosovo, uma região do território sérvio, cuja maioria populacional é de etnia albanesa, e que Milosevic sempre recusou entregar às mãos das Nações Unidas, tendo sido a isso forçado pelos bombardeamentos da Nato a Belgrado e outras cidades sérvias, dos quais ainda há hoje vestígios de prédios esventrados numa das principais avenidas de Belgrado. Ocupado o Kosovo por forças militares da ONU e que aí permanecem desde então (entre as quais, um contingente português), a paz tem sido mantida, assim como se mantém a disputa política entre kosovares e sérvios, pretendendo os primeiros a independência e apenas concedendo os sérvios uma determinada autonomia.
A razão apontada pelos kosovares de terem uma maioria demográfica significativa para obterem a independência, não a entendo totalmente, pois sendo albaneses, seria mais lógico una anexação à Albânia, que até tem fronteiras comuns, mas eles querem é a independência; e porque não, os sérvios reivindicarem parte do território bósnio, já que cerca de metade da população daquele país é sérvia?
Do lado da Sérvia, a razão é essencialmente histórica, além de geográfica, pois ser-lhes-ia amputado uma parte muito significativa do seu já não muito grande território (não esquecer que a independência recente de Montenegro, além da diminuição do território, lhes retirou o único acesso marítimo ao Mediterrânio), mas principalmente o “coração” desse território, já que a Sérvia nasceu aqui, no território que é hoje o Kosovo (ver foto do post com cena de batalha pela conquista do Kosovo, durante a formação da Sérvia); gostaríamos nós de ver o Minho, onde se situa Guimarães, o berço da nacionalidade portuguesa, tornar-se independente?
Há depois, a visão internacional do problema. Foi acordado, após a deposição de Milosevic, pela ONU e pela EU, que a Sérvia nunca seria privada do Kosovo, e agora esse acordo rasga-se…E porquê? Porque os EUA não querem e estão a forçar as Nações Unidas e principalmente a EU, no sentido da independência. Porquê este interesse americano por um território pobre, sem petróleo ou gás, ou outro qualquer produto essencial à sua economia? Porque existe nos EUA um poderoso “lobbie” pró-albanês, que tem por base o funcionamento naquele território de um centro de droga internacional muito importante, uma espécie de Colômbia europeia ( pode ler-se aqui), e porque desse “lobbie” fazem parte pessoas muito importantes, entre eles o do “insuspeito” e hoje herói ecológico Al Gore…
O único verdadeiro e importante apoio internacional da Sérvia é a Rússia, que sempre apoio Belgrado nesta questão, e apoio esse que será muito difícil de demover pela EU. A própria EU não consegue um consenso político sobre este assunto, com Chipre, a Espanha e a Eslovénia e Grécia, contra (recorde-se a parte turca da ilha de Chipre e as reivindicações das regiões autónomas espanholas, e ainda a proximidade geográfica da Eslovénia e Grécia); e ainda muitas reservas da Roménia e Bulgária.
Portugal passa assim esta “batata quente” para as mãos da Eslovénia, lavando as mãos, qual Pilatos, com um acordo de última hora, de todos os 27, na constituição de uma força civil (???), para a região, a manutenção da força militar da ONU e a continuação de conversações com Belgrado e Pristina (capital do Kosovo), e até “oferecem” facilidades na futura integração da Sérvia na EU, se este país abrir mão do Kosovo, o que é uma manifesta chantagem política; em contrapartida, obtiveram a garantia de que os kosovares não declararão unilateralmente a independência nos próximos tempos.
Por mim, agradeço, pois estarei em Belgrado de 10 a 27 de Janeiro, e a última coisa que gostaria, era de ser apanhado no meio de um conflito. Desejo e muito é ser apanhado nos braços do Déjan.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Abusos linguísticos


Um homem chega ao restaurante, senta-se e, acenando com o braço, diz:
- Faz favor: frango frito, favas, farinheira...
- Acompanhado com quê?

- Feijão.
- Deseja beber alguma coisa?
- Fanta fresca.
- Um pãozinho antes da refeição?
- Fatias fininhas.
O empregado anota o pedido, já meio intrigado: "o tipo fala tudo com F's!"
Depois do homem terminar a refeição, o empregado pergunta-lhe:
- Vai querer sobremesa?
- Fruta.
- Tem alguma preferência?
- Figos.
Depois da sobremesa, o empregado:

- Deseja um café?
- Forte. Fervendo.
Quando o cliente termina o café:
- Então, como estava o cafézinho?
- Frio, fraco. Faltou filtrar formiguinha flutuando.
Aí o empregado pensa: "Vamos ver até aonde é que ele vai".
- Como é que o senhor se chama?
- Fernando Fagundes Faria Filho.
- De onde vem?
- Faro.
- Trabalha?

- Fui ferreiro.
- Deixou o emprego?
- Fui forçado.
- Por quê?
- Faltou ferro.
- E o que é que fazia?
- Ferrolhos, ferraduras, facas... ferragens.
- Tem um clube favorito?
- Fui Famalicense.
- E deixou de ser porquê?
- Futebol feio farta.
- Qual e o seu clube, agora?
- Farense.
- O senhor é casado?
- Fui.
- E sua esposa?
- Faleceu.
- De quê?
- Foram furúnculos, frieiras... ficou fraquinha... finou-se.
O empregado de mesa perde a calma:
- Olhe! Se você disser mais 10 palavras começadas com a letra F... não paga a conta. Pronto!
- Formidável, fantástico. Foi fácil ficar freguês falando frases fixes.
O homem levanta-se e dirige-se para a saída, enquanto o empregado ainda lança:
- Espere aí! Ainda falta uma!

O homem responde, sem se virar:
- Faltava.
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Pedro Paulo Pereira Pinto, pequeno pintor Português, pintava portas, paredes, portais. Porém, pediu para parar porque preferiu pintar Panfletos.

Partindo para Piracicaba, pintou prateleiras para poder progredir. Posteriormente, partiu para Pirapora. Pernoitando, prosseguiu para Paranavaí, pois pretendia praticar pinturas para pessoas pobres. Porém, pouco praticou, porque Padre Paulo pediu para pintar panelas, porém posteriormente pintou pratos para poder pagar promessas. Pálido, porém personalizado, preferiu partir para Portugal para pedir permissão para papai para permanecer praticando pinturas, preferindo, portanto, Paris.

Partindo para Paris, passou pelos Pirinéus, pois pretendia pintá-los. Pareciam plácidos, porém, pesaroso, percebeu penhascos pedregosos, preferindo pintá-los parcialmente, pois perigosas pedras pareciam precipitar-se, principalmente pelo Pico, porque pastores passavam pelas picadas para pedirem pousada, provocando provavelmente pequenas perfurações, pois, pelo passo percorriam, permanentemente, possantes potrancas.

Pisando Paris, pediu permissão para pintar palácios pomposos, procurando pontos pitorescos, pois, para pintar pobreza, precisaria percorrer pontos perigosos, pestilentos, perniciosos, preferindo Pedro Paulo precaver-se. Profunda privação passou Pedro Paulo. Pensava poder prosseguir pintando, porém, pretas previsões passavam pelo pensamento, provocando profundos pesares, principalmente por pretender partir prontamente para Portugal.

Povo previdente! Pensava Pedro Paulo... - Preciso partir para Portugal porque pedem para prestigiar patrícios, pintando principais portos portugueses. Paris! Paris! Proferiu Pedro Paulo. - Parto, porém penso pintá-la permanentemente, pois pretendo progredir.

Pisando Portugal, Pedro Paulo procurou pelos pais, porém Papai Procópio partira para Província. Pedindo provisões, partiu prontamente, pois precisava pedir permissão para Papai Procópio para prosseguir praticando pinturas. Profundamente pálido, perfez percurso percorrido pelo pai. Pedindo permissão, penetrou pelo portão principal.

Porém, Papai Procópio puxando-o pelo pescoço proferiu: - Pediste permissão para praticar pintura, porém, praticando, pintas pior. Primo Pinduca pintou perfeitamente prima Petúnia. Porque pintas porcarias? - Papai, - proferiu Pedro Paulo - pinto porque permitistes, porém, preferindo, poderei procurar profissão própria para poder provar perseverança, pois pretendo permanecer por Portugal.

Pegando Pedro Paulo pelo pulso, penetrou pelo patamar, procurando pelos pertences, partiu prontamente, pois pretendia pôr Pedro Paulo para praticar profissão perfeita: pedreiro!

Passando pela ponte precisaram pescar para poderem prosseguir peregrinando. Primeiro, pegaram peixes pequenos, porém, passando pouco prazo, pegaram pacus, piaus, piabas, piaparas, pirarucus. Partiram pela picada próxima, pois pretendiam pernoitar pertinho, para procurar primo Péricles primeiro.

Pisando por pedras pontudas, Papai Procópio procurou Péricles, primo próximo, pedreiro profissional perfeito. Poucas palavras proferiram, porém prometeu pagar pequena parcela para Péricles profissionalizar Pedro Paulo.

Primeiramente Pedro Paulo pegava pedras, porém, Péricles pediu-lhe para pintar prédios, pois precisava pagar pintores práticos. Particularmente Pedro Paulo preferia pintar prédios. Pereceu pintando prédios para Péricles, pois precipitou-se pelas paredes pintadas.

Pobre Pedro Paulo pereceu pintando...

Permita-me, pois, pedir perdão pela paciência, pois pretendo parar para pensar... Para parar preciso pensar.

Pensei. Portanto, pronto: Pararei!·

PORRA !